quinta-feira, 27 de abril de 2023

Lula: 'não adianta ficar dizendo quem está certo ou errado' na guerra Ucrânia-Rússia

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, criticado pelos países ocidentais, que consideram tímida sua posição a respeito de Moscou, insistiu nesta quarta-feira (26) em Madri que Rússia e Ucrânia têm que negociar a paz e "não adianta ficar dizendo quem está certo ou errado" na guerra entre os dois países.

"Ninguém pode ter dúvida que nós brasileiros condenamos a violação territorial que a Rússia fez contra a Ucrânia. O erro aconteceu e a guerra começou", afirmou Lula em uma entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, durante uma visita de dois dias à Espanha.

Porém, em seguida, ele acrescentou: "Agora não adianta ficar dizendo quem está certo ou errado. O que precisa é fazer a guerra parar".

"Eu acho que não tem ninguém falando em paz no mundo. Não tem ninguém falando em paz a não ser eu, que estou gritando paz como se tivesse isolado no deserto".

Sánchez, no entanto, afirmou que é necessário recordar que o conflito começou com a invasão russa, em fevereiro de 2022.

"É importante que todos nos envolvamos para acabar com a guerra", afirmou Sánchez, mas "sem esquecer que nesta guerra há um agressor e há um agredido: o agressor é (o presidente russo Vladimir) Putin e o agredido, neste caso, é um povo que a única coisa que faz é lutar pela integridade territorial, por sua soberania nacional e por sua liberdade".

Lula entrou em uma divergência com várias potências depois de - após uma reunião com o presidente chinês Xi Jinping - acusar o governo dos Estados Unidos de "incentivar a guerra" na Ucrânia e pedir à UE para "começar a a falar de paz".

Antes, ele declarou que as responsabilidades da guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 são compartilhadas entre os dois países.

O governo dos Estados Unidos não demorou a acusar a Lula de repetir a "propaganda russa e chinesa, sem levar em consideração os fatos". O governo da Ucrânia o convidou a visitar o país para "compreender as causas reais e a essência" da guerra.

·         Lula pede que caminhos diplomáticos em guerra Rússia-Ucrânia não sejam fechados

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu mais uma vez nesta quarta-feira que o Brasil condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo que pediu que os caminhos diplomáticos que possam levar a negociações de paz não sejam fechados.

Em discurso antes de almoço com o rei Felipe, da Espanha, onde está em visita oficial, Lula também disse que não existe sustentabilidade em um mundo em guerra e defendeu a necessidade de um cessar-fogo na Ucrânia.

“Não haverá sustentabilidade sem justiça social, tampouco haverá sustentabilidade em um mundo em guerra”, disse Lula.

“O Brasil condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, defendemos a carta da ONU e o direito internacional, mas queremos abrir caminhos para o diálogo e não obstruir as saídas que a diplomacia oferece. Sem o cessar-fogo não é possível avançar”, acrescentou.

Mais cedo, em entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, Lula voltou a defender a criação de um grupo de países para mediar as negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.

“Essa guerra no coração da Europa é uma tragédia para a humanidade. O mundo precisa de paz”, disse o presidente antes do almoço com o rei espanhol.

·         "Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia", diz Lula

Apesar de defender a integridade territorial da Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou nesta quarta-feira (26/04) a dizer a quem ele considerava que os territórios ucranianos da Crimeia e de Donbass pertenciam.

"Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia. Não sou eu que vou discutir isso, quem discute isso são os russos e ucranianos. Primeiro para a guerra e depois resolve. Tem que parar primeiro a guerra", afirmou Lula ao ser questionado por jornalistas durante coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, em Madri.

"Estou incomodado com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Condenamos a violação territorial da Ucrânia. Mas agora não adianta dizer quem está certo e está errado, a guerra precisa parar", disse o presidente um pouco antes, durante o discurso.

Na coletiva que ocorreu após o encontro entre os dois líderes, Lula pontuou várias vezes que o Brasil defendia a integridade territorial da Ucrânia e sugeriu novamente a criação de uma espécie de G20 da paz para negociar o fim do conflito, que teve início com a invasão russa.

Ele voltou a afirmar que o Brasil sempre condenou a ocupação territorial da Ucrânia e disse ser o único líder mundial que estaria buscando negociações de paz. "Não tem ninguém falando em paz, a não ser eu que estou gritando paz, como se estivesse isolado no deserto."

Lula também disse que a ONU já deveria ter convocado sessões extraordinárias para debater a guerra e falou da recusa do Brasil em fornecer armamentos para a Ucrânia. "Não vamos vender porque, se a Ucrânia usar um míssil e matar um russo, o Brasil vai entrar na guerra, e o Brasil não quer entrar na guerra."

Já Sánchez parabenizou o Brasil pela inciativa de paz e destacou que o país defende a integridade territorial da Ucrânia. "Isso é importante. O Brasil respeita soberania de povo que está sendo agredido, que é o ucraniano", ressaltou.

·         Acordo comercial entre União Europeia e Mercosul

O acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul também foi tema do encontro entre os líderes. Tanto Sánchez quanto Lula mostraram otimismo de que o pacto seja concluído em breve.

"Se fosse fácil o acordo, já teríamos feito. O acordo mexe com o interesse da sociedade. O Brasil também tem seus interesses. Com Sánchez na presidência da União Europeia, temos chances de fechar esse acordo", pontuou Lula.

O premiê espanhol disse que alguns parceiros europeus relutam em aprovar o acordo, mas ele prometeu tentar convencê-los a dar luz verde para o pacto. "Apesar dos obstáculos, temos uma oportunidade agora porque a Europa precisa de aliados. Vamos trabalhar para acabar com as dúvidas. E teremos uma conjuntura para atingir um acordo importante", pontuou.

Negociado desde 1999, o acordo criaria uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, com 700 milhões de pessoas. Após ter sido alcançado em 2019, o processo de implementação do pacto foi suspenso com as recusas do então presidente Jair Bolsonaro em combater o desmatamento da Amazônia em se comprometer na luta contra as mudanças climáticas.

A União Europeia espera avanços em breve, com o Brasil assumindo a presidência do Mercosul no segundo semestre deste ano, e a Espanha assumindo a presidência da União Europeia.

·         Viagem à Espanha

Sánchez recebeu o brasileiro no Palácio da Moncloa, sede do Executivo espanhol, e ambos se cumprimentaram e posaram para os fotógrafos antes de entrar na sala onde ocorreu o encontro com vários de seus respectivos ministros.

Lula chegou na terça-feira à capital espanhola, para sua primeira visita ao país em seu terceiro mandato, logo após ter saído de Lisboa, onde fez mais uma visita oficial.

Durante o encontro, foram ainda assinados acordos de cooperação entre os países nas áreas de educação, ciência e tecnologia e trabalho.

 

Ø  Lula confirma que enviará Celso Amorim à Ucrânia para encontro com Zelenski

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quarta-feira, 26, que enviará o assessor especial da Presidência e ex-chanceler Celso Amorim para um encontro com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski. Amorim foi à Rússia no início do mês e se reuniu com o presidente Vladimir Putin, dias antes de o chanceler russo, Serguei Lavrov, vir ao Brasil e ser recebido pelo próprio Lula. Na primeira visita à Europa em seu terceiro mandato, o chefe do Executivo brasileiro acabou ajustando o tom de posicionamentos que havia assumido sobre o confronto, provocando reação negativa da União Europeia e dos Estados Unidos.

Em viagem a China e Emirados Árabes Unidos, Lula declarou que Rússia e Ucrânia eram responsáveis pela guerra, e que americanos e europeus não vinham colaborando para o fim do conflito, pelo contrário. Cumprindo agenda em Madri e Lisboa, desde o dia 22, o mandatário brasileiro mudou de posição. Reconheceu a “agressão à integridade territorial” à Ucrânia e insistiu que o Brasil é neutro em relação ao conflito, mas que age para buscar a paz. “Estamos negociando para chegar aos dois (Rússia e Ucrânia) e tentar parar a guerra. Só eu falo em paz e procuro um grupo de pessoas dispostas a parar a guerra”, afirmou o presidente nesta quarta.

Na última sexta-feira, em Lisboa, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, recebeu representantes da sociedade ucraniana e anunciou que Lula havia ordenado a visita de Amorim.

 

Ø  Na Espanha, Lula e Pedro Sánchez assinam três acordos

 

Será assinado também um memorando de entendimento sobre cooperação entre o Ministério do Trabalho e Economia Social do Reino de Espanha e o Ministério do Trabalho e Emprego da República Federativa do Brasil.

Além disso, há uma carta de intenções na área de ciência, tecnologia e inovação entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação da República Federativa do Brasil, O Ministério de Ciência e Inovação do Reino da Espanha, a financiadora de estudos e projetos, o Centro Para o Desenvolvimento Tecnológico Industrial do Reino da Espanha. Os detalhes dos acordos serão divulgados ainda nesta quarta.

Depois de conversar com Sánchez, Lula e a primeira-dama Janja serão recebidos pelo rei Felipe VI, em almoço. No meio da tarde em Madri, Lula embarca de volta para o Brasil.

 

Ø  Lula já visitou 7 países e passou 16 dias no exterior este ano

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já visitou 7 países e passou 16 dias fora do Brasil desde o início do mandato. Em janeiro, foi à Argentina e ao Uruguai. Em fevereiro, esteve nos Estados Unidos. Neste mês de abril, foi à China, a Portugal e à Espanha. O chefe do Executivo volta na 4ª feira (26.fev.2023) ao Brasil, mas deve viajar ao exterior ao menos mais 6 vezes ainda neste ano. Lula vai participar da coroação do Rei Charles 3º em maio, no Reino Unido. No mesmo mês, também deve ir ao encontro do G7, que reúne as nações mais ricas do mundo, no Japão. No 2º semestre, deve ir à África do Sul, para reunião do Brics, voltar aos Estados Unidos, para a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas), e ir para a Índia no encontro do G20.

 

Fonte: AFP/Reuters/Deutsche Welle/Poder 360

 

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