Alexandre Aragão de
Albuquerque: O Messias, quem diria, não declarou as luxuosas joias da Arábia
Um
dos objetivos sistemáticos visados pelos gestores da guerra híbrida brasileira
é o de submeter a opinião pública, por meio da produção da desinformação
construída continuamente pelas empresas de comunicação social, à ilusão da
percepção do tempo presente, buscando fulanizar os fatos como, por exemplo, o
Golpe de 2016 ou as falcatruas perpetradas pela assim chamada Operação Lava
Jato, como sendo resultado de atos de indivíduos isolados, tipo Sérgio Moro,
Deltan Dallagnol, Rodrigo Janot, Michel Temer, general Villas Bôas, general
Augusto Heleno (o pequeno), Jair Messias, Damares Alves, entre outros, e não
dos movimentos de estruturas de poder capitalistas produtoras das condições
materiais e espirituais para a consolidação de tais processos, como são as
frações das Forças Armadas, do Judiciário e Ministério Público com a Operação
Lava Jato, da Mídia-Pig com seu Instituto Millenium, das Igrejas cristãs de
tradição católica e evangélica com sua vinculação ideológica-teológica, do
Capital Financeiro e Agrário. Sobre o Golpe de 2016, o seu principal objetivo
foi o de enquadrar o Brasil na nova agenda neoliberal de acumulação, por meio
de uma maior concentração de renda, pelo desmantelamento do patrimônio
nacional, pela desorganização do Estado brasileiro, pela produção estrutural de
desemprego e arrocho salarial, com a desregulamentação das garantias sociais
previstas constitucionalmente. Neste escopo, a Mídia-Pig reveste-se como sendo
um 4º Poder, tratando de conduzir cirurgicamente a destruição de biografias, a
criminalização de políticas desenvolvimentistas inclusivas e redistributivas, a
demonização de partidos políticos progressistas e de empresas estatais
estratégicas, bem como a construção artificial de mitos e heróis de ocasião,
visando à geração de um consenso social que garanta ao bloco de poder o acúmulo
de riqueza sem ser importunado.
Um
dos “mitos” construídos artificialmente, pela Mídia-Pig, nestes últimos anos,
desde 2014, é o falastrão Messias, que da posição no baixo clero parlamentar
chegou a alcançar a presidência da República. A centralidade dessa construção
situou-se na forma comunicacional desenvolvida pelo capitão de extrema-direita,
fazendo-o deixar a condição de político insignificante para se tornar o
porta-voz do pensamento reacionário no Brasil, graças ao substrato autoritário
presente nas ações e concepções, nos corações e mentes de grande parte da
população brasileira, corroborado pela relutância histórica em não querer
reduzir nossas injustiças e desigualdades sociais.
A
Mídia-Pig identificou nesse político neofascista a possibilidade de
espetacularizar mensagens semióticas a seu favor, auferindo-lhe grande
audiência. Com um enredo muito bem arquitetado de desrespeitos, de ataques
selecionados a pessoas e a direitos humanos, e de mentiras, sem que houvesse
correspondentes punições devidas, o falastrão Messias, nome escolhido pelo Alto
Comando Militar para ser seu candidato à presidência da República em 2018,
conseguiu escalar sua popularidade política, sem sofrer sanções, podendo assim,
continuamente, editar e reeditar suas violências e sadismos. Entretanto, como
nos ensina a interface entre psicanálise e história, as experiências de traumas
históricos e sociais, quando recalcadas, em vez de serem elaboradas,
refletidas, assimiladas e corrigidas, impondo-lhes sanções sempre que
necessárias, produzem repetições: o retorno de suas causas, sintomas e
consequências.
Na
história recente temos que a Ditadura Militar de 1964 perseguiu, torturou e
assassinou adversários reais e imaginários, sem contudo sofrer sanção por esses
crimes de Estado. O não enfrentamento pela sociedade brasileira dessas
violações, com suas correspondentes elaboração e sanção históricas,
possibilitou o retorno de tais ameaças e violências, presentes na ação política
do falastrão Messias quando, por exemplo, proferiu o voto deplorável e abjeto,
na sessão da Câmara Federal, em 17 de abril de 2016, revivendo a tortura, num exercício
de sadismo de que pouca gente é capaz: “Nesse dia de glória para o povo
brasileiro, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de
Dilma Rousseff, o meu voto é sim!”. Ao dedicar seu voto favorável ao
impeachment à memória de um dos maiores torturadores da ditadura militar
brasileira (1964-1985), pronunciando euforicamente seu nome aos gritos, sílaba
por sílaba, o falastrão demonstrou, por um lado, o prazer de quem faz o outro
amargar o sofrimento, e, por outro lado, a dor e o desespero de quem sofreu a
tortura. Com enorme dose de crueldade e sadismo, bradou orgasticamente: “o
pavor de Dilma Rousseff!”.
Hoje,
30 de março, ele retornou ao Brasil intimado a prestar depoimento à Polícia
Federal no próximo dia 05 de abril sobre o caso das joias das Arábias não
declaradas na Alfândega. Emparedado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o
falastrão já devolveu, por meio de seus advogados, o segundo estojo de joias ao
Estado brasileiro. No início, segundo reportagem de O Estadão, ele, como de
costume, negou a existência de todas as joias: “Estou sendo crucificado no
Brasil por um presente que não recebi. Vi em alguns jornais, de forma maldosa,
dizendo que eu tentei trazer joias ilegais para o Brasil. Não existe isso”.
Como se demonstrou ao longo dos últimos anos, o negacionismo é uma receita
clássica utilizada pelo falastrão, buscando associar a negação com um apelo à
imagem de vítima religiosa (crucificado) da maldade alheia. Acontece que no dia
27, o Estadão revelou que o falastrão ficou ainda com um terceiro lote de joias
das Arábias. Além disso, dezenas de caixas foram escondidas numa fazenda de
Nelson Piquet, localizada numa região nobre de Brasília.
Portanto,
não é possível construir um futuro democrático seguro para as próximas gerações
de brasileiros e brasileiras se nosso passado, remoto e recentíssimo, não for
enfrentado, elaborado, compreendido em suas causas e consequências, acarretando
as punições necessárias aos responsáveis pelos diversos crimes cometidos. A
história recente aponta as evidências de perseguição do governo do falastrão
aos povos indígenas, como no caso dos Yanomamis, numa desenvoltura sádica de
biopoder letal e genocida. Além dos episódios públicos, apurados pela CPI do
Senado, envolvendo as falcatruas criminosas na gestão da política de saúde no
enfrentamento da Covid-19, que vitimou cerca de 700 mil famílias no Brasil. Sem
o devido enfrentamento e compreensão das causas e consequências de tais crimes,
com suas respectivas punições exemplares, nenhuma democracia conseguirá
firmar-se enquanto realidade segura e estável. Não se pode titubear uma vez
mais se de fato quisermos elevar o nível da democracia brasileira a um patamar
mínimo de dignidade, civilidade, respeitabilidade, fraternidade e justiça
social.
Joias para Bolsonaro valem mais que seis
anos de apreensões em Guarulhos
Dados
da Receita Federal obtidos pela CNN via Lei de Acesso à Informação revelam que
as joias oriundas da Arábia Saudita e que seriam para o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) valem mais do que todo o valor referente a joias e obras de arte
apreendidas no aeroporto de Guarulhos entre janeiro de 2017 e janeiro de 2023.
As
joias, cuja entrada está sob investigação da Polícia Federal, estão avaliadas
em R$ 16,5 milhões.
Em
seis anos, o aeroporto de Guarulhos –onde o conjunto foi apreendido– conseguiu
somar R$ 16,4 milhões em artigos de joalheria, obras de metais preciosos,
quadros e pinturas que tentaram ingressar no Brasil ilegalmente.
Um
colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em R$
16,5 milhões reais entraram com uma comitiva liderada pelo ex-ministro de Minas
e Energia Bento Albuquerque pelo aeroporto de Guarulhos em 2021.
Por
não terem sido declarados à Receita Federal, os bens foram retidos após inspeção
dos delegados da alfândega do aeroporto. A PF investiga como os objetos
entraram e se houve crime no episódio.
Entre
2017 e 2023 os aeroportos brasileiros apreenderam quase R$ 27 milhões em joias,
obras de arte e outros itens de valor que não foram declarados por passageiros
na chegada ao Brasil. 61% dos bens ingressaram no país via aeroporto de
Guarulhos; outros 20% pelo Galeão, no Rio de Janeiro.
No
total, nos últimos seis anos, a Receita Federal apreendeu R$ 1 bilhão em bens
que entraram ilegalmente no Brasil via aeroportos. Equipamentos eletrônicos,
cigarros e peças de vestuário foram os itens identificados mais apreendidos no
período.
PF colherá 10 depoimentos, incluindo de
Bolsonaro, sobre o caso das joias em 5 de abril
A
Polícia Federal (PF) colherá na próxima quarta-feira (5) dez depoimentos,
incluindo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu ex-ajudante de ordens
tenente-coronel Mauro Cesar Lourena Cid, sobre o caso das joias entregues pelo
governo da Arábia Saudita.
Bolsonaro
e os outros intimados devem comparecer presencialmente, e os depoimentos devem
acontecer a partir das 14h30. A determinação para que o ex-chefe de Estado fosse
ouvido aconteceu nesta quarta-feira (29).
Um
dos estojos foi recebido por Bolsonaro em 2019, quando esteve no país do
Oriente Médio. Os outros dois foram presentes recebidos pelo então ministro de
Minas e Energia, Bento Albuquerque, em 2021, quando representou o ex-presidente
em agenda na Arábia.
O
coronel Marcelo Costa Câmara também será ouvido pela PF. Conforme fontes
disseram a Larissa Rodrigues e Teo Cury, da CNN, ele seria o operador de um
gabinete paralelo de inteligência e segurança a serviço do ex-presidente.
Outros nomes são mantidos em sigilo pelas autoridades.
O
primeiro depoimento sobre o caso foi prestado em 8 de março por um membro da
comitiva de Albuquerque que foi à Arábia. As autoridades haviam dito que era
“relevante”, mas não deram maiores detalhes, visto que o processo está sob
sigilo.
A
comitiva era composta ao menos por esse assessor e um diplomata.
A
PF quer saber ao certo qual o envolvimento de Jair Bolsonaro e o nível de
conhecimento do ex-chefe de Estado sobre o caso. Do outro lado, o ex-presidente
fez a contratação de um escritório de advocacia especializado em questões
alfandegárias.
Além
do inquérito na Polícia Federal, um outro processo está correndo no Tribunal de
Contas da União (TCU) sobre o caso das joias. A Comissão de Ética Pública da
Presidência da República também apura o caso.
Veja
o que sabemos sobre o caso e as investigações nesta matéria.
• Bolsonaro diz à CNN que “nada foi
escondido”
Em
entrevista exclusiva à CNN nesta quarta-feira (29) no aeroporto de Orlando, nos
Estados Unidos, antes de embarcar de volta ao Brasil, o ex-presidente Jair
Bolsonaro negou irregularidades com as joias e afirmou que os objetos estavam
cadastrados.
“Se
houvesse má fá por parte de alguém, não teria sido cadastrado. (…) Nada foi
escondido. Se a imprensa divulga, é porque tem um cadastro dizendo que foi
recebido”, explicou, adicionando que todos os itens estão “a disposição”,
disse.
“Deixo
bem claro: em 2021, um ministro nosso foi na região (sic) da Arabia Saudita e
ganhou dois presentes, um pra mim, um pra primeira-dama. O pra mim, tomei
conhecimento no final do ano passado que tinha chegado. A primeira-dama (sic)
ficou na alfândega. Ela tomou conhecimento, e eu também, pela imprensa”,
ressaltou.
“Foi
buscado, documentalmente, com ofícios, nós buscamos recuperar esse material
para o acervo, por ofício, ninguém quis buscar na mão grande. Não teve avião da
força aérea especificamente pra tentar buscar esse material em São Paulo. O
garoto lá prometeu uma carona pra ir pra lá”, complementou.
Sobre
o depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente pontuou que não há problema e
que seguirá a orientação de seus advogados.
Fonte:
Brasil 247/CNN Brasil
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