Israel-Palestina: EUA podem ser arrastados para nova guerra no Oriente
Médio, diz analista
O general de brigada Sayyed Razi Mousavi tinha mais
de 40 anos de serviço na Guarda Revolucionária Iraniana quando foi morto por um
bombardeio israelense na Síria, no último dia 25. Considerado o principal
comandante iraniano na Síria, Mousavi foi apontado como uma das figuras-chave
na logística de envio de armas iranianas para o país e para o Hezbollah, no
Líbano, e foi considerado pelo falecido comandante iraniano Qassem Soleimani
como “um dos mais experientes e efetivos comandantes da Guarda Revolucionária
no Eixo de Resistência”.
Milhares de iranianos foram assistir a seu funeral
na praça Imã Hossein, em Teerã, no passado 28 de dezembro, gritando os já
conhecidos motes da Revolução Iraniana “Morte a Israel” e “Morte à América”. O
líder supremo iraniano, aioatolá Ali Khamenei, se encontrou com a família do
general e fez uma prece sobre seu corpo antes do funeral, e o porta-voz da
Guarda Revolucionária do Irã, Ramezan Sharif, declarou que “nossa resposta ao
assassinato de Mousavi será uma combinação de ação direta, bem como de [ações de]
outros liderados pelo Eixo de Resistência”
Apesar da pouca atenção que o assasinato de Mousavi
recebeu na imprensa ocidental, diversos analistas apontam que ela pode
representar um ponto de virada na estratégia israelense em sua atual guerra
contra Gaza. O co-fundador e vice-presidente executivo do Quincy
Institute for Responsible Statecraft, um think-tank sediado nos EUA, Trita
Parsi, trabalha dois possíveis cenários no artigo “Israel
matou um comandante iraniano para provocar uma guerra mais ampla?”, no site
do instituto. Para Parsi, o assassinato de Mousavi poderia ou ser um aviso de
Israel ao Irã para que deixasse de apoiar os Houthis iemenitas, que têm
realizado uma campanha bem-sucedida de ataques a navios ligados a Israel no Mar
Vermelho, ou uma provocação direta com o objetivo de forçar uma resposta
iraniana e expandir a guerra.
Segundo Parsi, “pode ser uma provocação deliberada
para gerar uma resposta iraniana que daria a Israel o pretexto de expandir a
guerra. Embora a administração Biden tenha dado autorização para que Israel
bombardeie Gaza até os cacos, Biden se opõe a uma expansão da guerra, já que
isso muito provavelmente poderia arrastar os EUA para ela. O debate dentro do
governo israelense cada vez mais se volta para a expansão da guerra”, diz o
analista. Parsi argumenta ainda que, pela importância de Mousavi na logística
de envio de armas iranianas para a Síria e para o Hezbollah, “se Israel planeja
atacar o Líbano, matar Mousavi seria um primeiro passo lógico para comprometer
o armamento do Hezbollah, bem como suas linhas de suprimento. Dessa forma, o
assassinato pode ser um movimento preparatório para expandir a guerra independentemente
da resposta iraniana à morte de Mousavi”.
Ele finaliza: “todos os cenários apontam para uma
realidade indiscutível: enquanto Biden se recusar a pressionar Israel para
aceitar um cessar-fogo em Gaza, as tensões na região provavelmente continuarão
a crescer e o Oriente Médio gravitará rumo a uma guerra regional que muito
provavelmente envolverá os EUA. Biden pode até pensar que é possível controlar
esses eventos e permitir que Israel mate o povo em Gaza mantendo um limite para
o risco de escalada. Ele está errado – e o povo norte-americano pode em breve
se ver em outra guerra desnecessária no Oriente Médio por conta da
incompetência estratégica de Biden”.
A tese de expansão da atual guerra contra Gaza para
uma guerra regional é reforçada por outros movimentos recentes de Israel.
O assassinato
de Saleh al-Arouri, vice-líder do Gabinete Político do Hamas e um dos fundadores do braço
armado da organização palestina, em Beirute, na última terça-feira (2), seria
outro sinal de que o país busca expandir o conflito: “o assassinato do oficial
do Hamas Saleh Arouri em Beirute marca uma escalada de Israel no uso de força
letal, não obstante o fato de Israel já vir conduzindo ataques militares para
além de sua fronteira norte, incluindo no Líbano”, escreve Paul R. Pillar,
membro associado do Geneva Center for Security Policy, em seu artigo “Israelenses
intensificam táticas de assassinato fora de Gaza”.
Para Paul, “o Hezbollah não está buscando uma nova
guerra total com Israel. Na última guerra desse tipo, em 2006, o Hezbollah e o
Líbano sofreram perdas humanas e materiais significativas. No entanto, desde
sua origem, a principal conquista do apoio popular do Hezbollah tem sido como
protetor de todos os libaneses na luta contra Israel. Agora, o grupo pode estar
mais próximo de concretizar as ameaças de retaliação que vem fazendo desde que
Israel iniciou seu ataque a Gaza.” O analista diz ainda que “a comparação entre
[o assassinato de Mousavi] e o assassinato de Arouri é muito óbvia para ser
ignorada”, e “lembram da pouca prioridade que Israel está colocando nas
negociações – nas quais Arouri estaria tendo um papel chave – para a futura
libertação mútua de prisioneiros. A escalada de Israel também põe em
perspectiva seu anúncio
recente de que retiraria algumas de suas brigadas da Faixa de Gaza. Essa
medida parece ter mais a ver com mitigar os efeitos que a mobilização de tropas
de reservistas tiveram na economia israelense do que com qualquer intenção de
desescalar o ataque contra Gaza”.
Já o Soufan Center, também sediado nos EUA, aponta
em seu último relatório de inteligência para outros eventos ocorridos na Síria:
“[além da morte de Mousavi, no dia 25] Israel continuou a desafiar Teerã ao
realizar outro ataque significativo, em 28 de dezembro, que supostamente matou
11 oficiais de alto escalão da Guarda Revolucionária Iraniana no aeroporto de
Damasco. Outros ataques israelenses naquele dia tiveram como alvo locais no sul
da Síria e perto de Damasco. Em 29 de dezembro, de acordo com a mídia síria, um
ataque aéreo aparentemente conduzido por Israel atingiu nove locais
administrados pela Guarda Revolucionária Iraniana na cidade de Al Bukamal, no
leste da Síria, incluindo um quartel-general, um depósito de armas e um comboio
que cruzava a fronteira iraquiana com a Síria. O ataque teria causado a morte
ou ferimentos graves em pelo menos 20 combatentes da milícia apoiada pelo Irã.”
Ø Líder do
Hezbollah faz ameaças a Israel mas não confirma sua entrada na guerra
Em discurso transmitido ao vivo nesta quarta-feira
(03/01), o secretário-geral do partido xiita Hezbollah, Hassan Nasrallah,
reagiu ao assassinato do vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, ocorrido no dia
interior, na cidade de Beirute, capital do Líbano.
Em seu pronunciamento, Nasrallah fez ameaças a
Israel, por considerar o país responsável pelo atentado que matou al-Arouri –
apesar de Tel Aviv não ter assumido oficialmente a autoria do ataque –, mas não
confirmou a entrada do grupo no conflito com o país vizinho.
“Lutamos com cálculos precisos. Se o inimigo
[Israel] pensar em travar uma guerra contra o Líbano, a nossa luta será até o
fim e sem regras. Eles sabem do que estou falando. Não temos medo da guerra.
Aqueles que pensam em entrar numa guerra contra nós, vão se arrepender”,
declarou o líder xiita.
Nasrallah também alertou que o Hezbollah está “mais
preparado do que nunca” e que travaria uma “guerra total” com Israel, se
preciso for. O líder do movimento libanês delineou que conta com maior poder de
fogo do que no início do recente conflito no Oriente Médio, em outubro passado.
Após o assassinato de Saleh Al-Arouri, era
aguardado um pronunciamento oficial do Hezbollah sobre o caso. As hostilidades
entre o governo israelense e o movimento xiita não chegavam a esta magnitude
desde 2006, quando ocorreu a Guerra do Líbano, Israel travou uma guerra contra
os postos do Hezbollah no sul do país e na capital Beirute, via ar, mar e
terra.
O discurso do de Nasrallah foi inicialmente
planejado para marcar o quarto aniversário da morte do ex-comandante militar
iraniano, general Qassem Soleimani, morto por um ataque aéreo dos Estados
Unidos no Iraque há exatos quatro anos, em 3 de janeiro de 2020.
Na abertura, o líder do Hezbollah recordou o fato e
mencionou o ataque terrorista que aconteceu nesta mesma quarta-feira, em Kerman
no Irã, durante um ato que homenageava Soleimani.
·
'Um ataque flagrante da agressão israelense'
Em outro momento do discurso, Nasrallah ofereceu
condolências ao vice-líder do Hamas e considerou o atentado em Beirute um
"ataque flagrante da agressão israelense contra o Líbano" e disse
ainda que "o seu sangue, os seus sacrifícios (…) terão resultados
positivos para a Palestina, o Líbano, o Iraque, a Síria, o Iêmen e toda a
região".
A respeito da coalizão de apoio à Palestina,
Nasrallah afirmou que as organizações de resistência são independentes.
"Nós nos comunicamos, mas todos tomam suas decisões com base em seus
interesses e nos de sua população" e continuou dizendo que "o maior
desafio para o eixo de resistência tem sido, durante os últimos meses, Operação
Tempestade de Al-Aqsa".
Ele citou alguns desafios enfrentados pelo
movimento de resistência libanês, como baixas, deslocamentos, exílios e
destruição. Contudo, delineou que o apoio à causa palestina aumentou
consideravelmente na região do Oriente Médio e no mundo. "O Hamas tem o
mais alto nível de apoio da sua história entre a população palestina, e esta é
uma grande conquista. A imagem de Israel no mundo também entrou em
colapso" afirmou o líder.
Para o partido político libanês, "Israel
falhou totalmente" e classificou Israel, como o país com o "título de
maior genocídio da história moderna" e destacou a baixa popularidade das
IDF entre o povo israelense.
'Israel não alcançou seu objetivo'
Na metade do discurso, o líder do Hezbollah
direcionou suas palavras ao ministro do gabinete de guerra israelense (Yoav)
Gallant "eu digo: você não conseguirá alcançar seus objetivos de guerra ,
se Deus quiser. A terra da Palestina, do rio ao mar, pertence exclusivamente ao
povo palestino, Israel não conseguiu libertar os próprios reféns e não
conseguiu controlar a Faixa de Gaza".
Nasrallah disse ainda que o que aconteceu em Gaza
mostrou uma comunidade internacional inerte e o direito internacional como uma
força nula em defesa dos direitos humanos. "Não podem proteger as
populações. Eles não podem proteger ninguém. Lembrem-se disso" com isso,
ele reitera que apenas a soberania do país atacado é capaz de se defender
"se você é forte, você impõe o respeito dos outros. É a sua força e os
seus mísseis que o protegem".
O líder também assegurou que Israel sofrerá novos
ataques da resistência palestina "o que aconteceu desde 7 de outubro até
hoje, enfraqueceu Israel e acontecerá novamente no futuro (…) e está no caminho
da extinção. Ninguém será capaz de defender Israel".
"Israel convocou seus reservistas e usou todas
as suas armas, pedindo também ajuda aos americanos da região. Os israelenses
acreditam que esta é uma oportunidade para acabar com o Hezbollah no Líbano,
dizendo que o mundo atualmente o apoia. Mas a resistência fez com que Israel
perdesse o elemento surpresa ao abrir a ofensiva". Para ele, o único
empecilho de uma guerra no Líbano provocada por Israel é a existência do
Hezbollah.
O líder xiita do partido do Hezbollah, finalizou o
seu discurso com a promessa de que o assassinato de um dos líderes do Hamas,
Saleh "não ficará impune".
Ainda hoje, o Hezbollah anunciou que atingiu um
grupo de soldados israelenses perto de Jal el-Alam com mísseis. O partido
também anunciou a morte de dois dos seus combatentes: Abbas Thaher e Hassan
Daqiq. De acordo com a contagem oficial do grupo, 142 membros do Hezbollah
foram mortos desde o início do conflito em Gaza. Segundo o jornal
israelense Haaretz o exército israelense disse que foguetes
caíram em campo aberto no norte de Israel.
Fonte: Opera Mundi
Nenhum comentário:
Postar um comentário