sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Licitação milionária de merenda levanta suspeitas em Feira de Santana

A expressiva evolução de valores na compra de merenda escolar em Feira de Santana despertou desconfiança entre os opositores. Quantias milionárias expressas no pregão eletrônico realizado no dia 22 de dezembro de 2023, levantam várias questões que carecem de esclarecimento por parte da secretária de educação municipal, Anaci Paim, e do prefeito Colbert Martins (MDB).

O valor global, que foi de R$ 15.918.910,00 no ano que se encerrou, saltou para impressionantes R$ 83.899.764,00, para o fornecimento de 21.553.200 refeições durante os 200 dias letivos nas 218 escolas do município. 

O impacto é ainda maior quando calculado o custo por aluno. De acordo com o pregão, serão R$ 1.526,78 gastos em merenda para cada um dos 54.952 estudantes matriculados na rede municipal,. Uma despesa mais de cinco vezes superior aos R$ 298,68 pagos no último exercício.

Para efeito de comparação, esse valor corresponde a R$ 7,63 por dia letivo. Entre os valores definidos pelo Ministério da Educação após o reajuste promovido ano passado, o maior de todos é de R$ 1,37 ao dia, para alunos de creches e ensino integral, que são menos de 4 mil em Feira. 

Para o ensino fundamental, onde o município tem 39.708 alunos matriculados, o valor definido pelo Governo Federal é de R$ 0,50, mais de 25 vezes menos que o valor contratado pela Prefeitura de Feira de Santana. Resta saber, de onde está vindo a complementação desta verba.

Além disso, a contratação de uma empresa para fornecer a merenda de toda a rede escolar, segundo fontes da APLB, entidade que representa os professores, fere a autonomia do gestor de cada escola de decidir as compras de alimentos, bem como compromete o cumprimento da cota de 30% de aquisição de produtos da agricultura familiar, conforme preconizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

 

Ø  MP investiga mais de 60 policiais de 16 cidades baianas por envolvimento com milícia

 

Em pouco mais de três anos, 67 policiais foram alvos do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público da Bahia (MP-BA) em operações por integrar milícias ou grupos de extermínio. 

Segundo levantamento feito pelo O Globo junto ao MP-BA, as quadrilhas de agentes de segurança estão espalhadas por 16 cidades de Norte a Sul do estado, do interior à Região Metropolitana de Salvador, e dominam desde grandes municípios a pequenos povoados em áreas rurais. São elas: Acajutiba, Água Fria, Barreiras, Camaçari, Cansanção, Feira de Santana, Inahmpube, Itabuna, Juazeiro, Lamarão, Paulo Afonso, Piatã, Santaluz, Santa Maria da Vitória, Santo Estevão e Valente. 

O cenário é alarmante. Conforme a apuração, o número de policiais acusados de integrar milícias explodiu em 2023: foram 23 agentes alvos em sete operações diferentes – número maior do que a soma dos dois anos anteriores. 

O aumento coincide com a escalada de mortes em operações da polícia baiana nos últimos anos. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública confirmam que de 2019 a 2022, homicídios decorrentes de ações policiais passaram de 773 para 1.464 na Bahia. 

CASOS

Em abril de 2021, o mototaxista Alex Cirino foi interceptado em um sinal de trânsito na cidade de Paulo Afonso. Suspeitos que ocupavam uma Amarok, autores da abordagem, desceram do veículo e colocaram Cirino à força na caminhonete. 

Para o MP-BA, o mototaxista foi sequestrado e morto por uma milícia formada por PMs do batalhão da cidade. Ele era a principal testemunha de acusação de um processo contra a quadrilha. Atualmente, um capitão e um soldado respondem pelo assassinato e pela ocultação de cadáver do mototaxista. Outros 14 policiais do batalhão da cidade respondem por crimes relacionados à atuação da milícia.

No caso de Paulo Afonso, a investigação revelou também que homicídios cometidos em operações do batalhão local eram, na verdade, ações de extermínio da milícia.

Em agosto do ano passado, a Justiça determinou que quatro policiais militares e um policial civil fossem afastados por integrarem uma quadrilha suspeita de mais de uma dezena de homicídios nos municípios de Santaluz, Valente e Cansanção. 

No começo do mês de dezembro, o Gaeco e a Polícia Federal deflagraram operação contra uma das milícias mais antigas do estado, que atua há quase 20 anos em Feira de Santana. A investigação aponta que o chefe do grupo é o deputado estadual Binho Galinha. Três PMs foram presos, acusados de serem o braço armado do político.

Outras investigações mostram que empresas de segurança são usadas como fachada para a ação de milícias de policiais no estado. A exemplo de Piatã, onde o grupo paramilitar local passou a assaltar comerciantes para forçá-los a contratar os serviços de segurança particular da empresa do chefe da milícia, um sargento da PM. Quem não paga ao grupo, tem seu comércio roubado. 

Já em Santa Maria da Vitória, um investigador da Polícia Civil é réu sob a acusação de formar uma milícia com funcionários de sua firma de vigilância. Conforme investigação, em junho de 2022, o investigador Marcelo Gonçalo Dantas e seus capangas passaram a ameaçar moradores de uma comunidade tradicional e um mês depois, mais de dez homens armados e com rostos cobertos com toucas entraram na região dando tiros para o alto e atearam fogo nas casas, onde havia até idosos.

Ao O Globo, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) destacou que o órgão criado pelo governo para investigar policiais realizou, em 2023, 19 operações, em que 108 pessoas foram alvos de mandados de prisão ou de busca e apreensão.

 

Fonte: A Tarde/BN

 

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