sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Israel-Palestina: EUA podem ser arrastados para nova guerra no Oriente Médio, diz analista

O general de brigada Sayyed Razi Mousavi tinha mais de 40 anos de serviço na Guarda Revolucionária Iraniana quando foi morto por um bombardeio israelense na Síria, no último dia 25. Considerado o principal comandante iraniano na Síria, Mousavi foi apontado como uma das figuras-chave na logística de envio de armas iranianas para o país e para o Hezbollah, no Líbano, e foi considerado pelo falecido comandante iraniano Qassem Soleimani como “um dos mais experientes e efetivos comandantes da Guarda Revolucionária no Eixo de Resistência”.

Milhares de iranianos foram assistir a seu funeral na praça Imã Hossein, em Teerã, no passado 28 de dezembro, gritando os já conhecidos motes da Revolução Iraniana “Morte a Israel” e “Morte à América”. O líder supremo iraniano, aioatolá Ali Khamenei, se encontrou com a família do general e fez uma prece sobre seu corpo antes do funeral, e o porta-voz da Guarda Revolucionária do Irã, Ramezan Sharif, declarou que “nossa resposta ao assassinato de Mousavi será uma combinação de ação direta, bem como de [ações de] outros liderados pelo Eixo de Resistência”

Apesar da pouca atenção que o assasinato de Mousavi recebeu na imprensa ocidental, diversos analistas apontam que ela pode representar um ponto de virada na estratégia israelense em sua atual guerra contra Gaza. O co-fundador e vice-presidente executivo do Quincy Institute for Responsible Statecraft, um think-tank sediado nos EUA, Trita Parsi, trabalha dois possíveis cenários no artigo “Israel matou um comandante iraniano para provocar uma guerra mais ampla?”, no site do instituto. Para Parsi, o assassinato de Mousavi poderia ou ser um aviso de Israel ao Irã para que deixasse de apoiar os Houthis iemenitas, que têm realizado uma campanha bem-sucedida de ataques a navios ligados a Israel no Mar Vermelho, ou uma provocação direta com o objetivo de forçar uma resposta iraniana e expandir a guerra.

Segundo Parsi, “pode ser uma provocação deliberada para gerar uma resposta iraniana que daria a Israel o pretexto de expandir a guerra. Embora a administração Biden tenha dado autorização para que Israel bombardeie Gaza até os cacos, Biden se opõe a uma expansão da guerra, já que isso muito provavelmente poderia arrastar os EUA para ela. O debate dentro do governo israelense cada vez mais se volta para a expansão da guerra”, diz o analista. Parsi argumenta ainda que, pela importância de Mousavi na logística de envio de armas iranianas para a Síria e para o Hezbollah, “se Israel planeja atacar o Líbano, matar Mousavi seria um primeiro passo lógico para comprometer o armamento do Hezbollah, bem como suas linhas de suprimento. Dessa forma, o assassinato pode ser um movimento preparatório para expandir a guerra independentemente da resposta iraniana à morte de Mousavi”.

Ele finaliza: “todos os cenários apontam para uma realidade indiscutível: enquanto Biden se recusar a pressionar Israel para aceitar um cessar-fogo em Gaza, as tensões na região provavelmente continuarão a crescer e o Oriente Médio gravitará rumo a uma guerra regional que muito provavelmente envolverá os EUA. Biden pode até pensar que é possível controlar esses eventos e permitir que Israel mate o povo em Gaza mantendo um limite para o risco de escalada. Ele está errado – e o povo norte-americano pode em breve se ver em outra guerra desnecessária no Oriente Médio por conta da incompetência estratégica de Biden”.

A tese de expansão da atual guerra contra Gaza para uma guerra regional é reforçada por outros movimentos recentes de Israel. O assassinato de Saleh al-Arouri, vice-líder do Gabinete Político do Hamas e um dos fundadores do braço armado da organização palestina, em Beirute, na última terça-feira (2), seria outro sinal de que o país busca expandir o conflito: “o assassinato do oficial do Hamas Saleh Arouri em Beirute marca uma escalada de Israel no uso de força letal, não obstante o fato de Israel já vir conduzindo ataques militares para além de sua fronteira norte, incluindo no Líbano”, escreve Paul R. Pillar, membro associado do Geneva Center for Security Policy, em seu artigo “Israelenses intensificam táticas de assassinato fora de Gaza”.

Para Paul, “o Hezbollah não está buscando uma nova guerra total com Israel. Na última guerra desse tipo, em 2006, o Hezbollah e o Líbano sofreram perdas humanas e materiais significativas. No entanto, desde sua origem, a principal conquista do apoio popular do Hezbollah tem sido como protetor de todos os libaneses na luta contra Israel. Agora, o grupo pode estar mais próximo de concretizar as ameaças de retaliação que vem fazendo desde que Israel iniciou seu ataque a Gaza.” O analista diz ainda que “a comparação entre [o assassinato de Mousavi] e o assassinato de Arouri é muito óbvia para ser ignorada”, e “lembram da pouca prioridade que Israel está colocando nas negociações – nas quais Arouri estaria tendo um papel chave – para a futura libertação mútua de prisioneiros. A escalada de Israel também põe em perspectiva seu anúncio recente de que retiraria algumas de suas brigadas da Faixa de Gaza. Essa medida parece ter mais a ver com mitigar os efeitos que a mobilização de tropas de reservistas tiveram na economia israelense do que com qualquer intenção de desescalar o ataque contra Gaza”.

Já o Soufan Center, também sediado nos EUA, aponta em seu último relatório de inteligência para outros eventos ocorridos na Síria: “[além da morte de Mousavi, no dia 25] Israel continuou a desafiar Teerã ao realizar outro ataque significativo, em 28 de dezembro, que supostamente matou 11 oficiais de alto escalão da Guarda Revolucionária Iraniana no aeroporto de Damasco. Outros ataques israelenses naquele dia tiveram como alvo locais no sul da Síria e perto de Damasco. Em 29 de dezembro, de acordo com a mídia síria, um ataque aéreo aparentemente conduzido por Israel atingiu nove locais administrados pela Guarda Revolucionária Iraniana na cidade de Al Bukamal, no leste da Síria, incluindo um quartel-general, um depósito de armas e um comboio que cruzava a fronteira iraquiana com a Síria. O ataque teria causado a morte ou ferimentos graves em pelo menos 20 combatentes da milícia apoiada pelo Irã.”

 

Ø  Líder do Hezbollah faz ameaças a Israel mas não confirma sua entrada na guerra

 

Em discurso transmitido ao vivo nesta quarta-feira (03/01), o secretário-geral do partido xiita Hezbollah, Hassan Nasrallah, reagiu ao assassinato do vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, ocorrido no dia interior, na cidade de Beirute, capital do Líbano.

Em seu pronunciamento, Nasrallah fez ameaças a Israel, por considerar o país responsável pelo atentado que matou al-Arouri – apesar de Tel Aviv não ter assumido oficialmente a autoria do ataque –, mas não confirmou a entrada do grupo no conflito com o país vizinho.

“Lutamos com cálculos precisos. Se o inimigo [Israel] pensar em travar uma guerra contra o Líbano, a nossa luta será até o fim e sem regras. Eles sabem do que estou falando. Não temos medo da guerra. Aqueles que pensam em entrar numa guerra contra nós, vão se arrepender”, declarou o líder xiita.

Nasrallah também alertou que o Hezbollah está “mais preparado do que nunca” e que travaria uma “guerra total” com Israel, se preciso for. O líder do movimento libanês delineou que conta com maior poder de fogo do que no início do recente conflito no Oriente Médio, em outubro passado.

Após o assassinato de Saleh Al-Arouri, era aguardado um pronunciamento oficial do Hezbollah sobre o caso. As hostilidades entre o governo israelense e o movimento xiita não chegavam a esta magnitude desde 2006, quando ocorreu a Guerra do Líbano, Israel travou uma guerra contra os postos do Hezbollah no sul do país e na capital Beirute, via ar, mar e terra. 

O discurso do de Nasrallah foi inicialmente planejado para marcar o quarto aniversário da morte do ex-comandante militar iraniano, general Qassem Soleimani, morto por um ataque aéreo dos Estados Unidos no Iraque há exatos quatro anos, em 3 de janeiro de 2020.

Na abertura, o líder do Hezbollah recordou o fato e mencionou o ataque terrorista que aconteceu nesta mesma quarta-feira, em Kerman no Irã, durante um ato que homenageava Soleimani.

·        'Um ataque flagrante da agressão israelense'

Em outro momento do discurso, Nasrallah ofereceu condolências ao vice-líder do Hamas e considerou o atentado em Beirute um "ataque flagrante da agressão israelense contra o Líbano" e disse ainda que "o seu sangue, os seus sacrifícios (…) terão resultados positivos para a Palestina, o Líbano, o Iraque, a Síria, o Iêmen e toda a região". 

A respeito da coalizão de apoio à Palestina, Nasrallah afirmou que as organizações de resistência são independentes. "Nós nos comunicamos, mas todos tomam suas decisões com base em seus interesses e nos de sua população" e continuou dizendo que "o maior desafio para o eixo de resistência tem sido, durante os últimos meses, Operação Tempestade de Al-Aqsa". 

Ele citou alguns desafios enfrentados pelo movimento de resistência libanês, como baixas, deslocamentos, exílios e destruição. Contudo, delineou que o apoio à causa palestina aumentou consideravelmente na região do Oriente Médio e no mundo. "O Hamas tem o mais alto nível de apoio da sua história entre a população palestina, e esta é uma grande conquista. A imagem de Israel no mundo também entrou em colapso" afirmou o líder.

Para o partido político libanês, "Israel falhou totalmente" e classificou Israel, como o país com o "título de maior genocídio da história moderna" e destacou a baixa popularidade das IDF entre o povo israelense.

'Israel não alcançou seu objetivo'

Na metade do discurso, o líder do Hezbollah direcionou suas palavras ao ministro do gabinete de guerra israelense (Yoav) Gallant "eu digo: você não conseguirá alcançar seus objetivos de guerra , se Deus quiser. A terra da Palestina, do rio ao mar, pertence exclusivamente ao povo palestino, Israel não conseguiu libertar os próprios reféns e não conseguiu controlar a Faixa de Gaza". 

Nasrallah disse ainda que o que aconteceu em Gaza mostrou uma comunidade internacional inerte e o direito internacional como uma força nula em defesa dos direitos humanos. "Não podem proteger as populações. Eles não podem proteger ninguém. Lembrem-se disso" com isso, ele reitera que apenas a soberania do país atacado é capaz de se defender "se você é forte, você impõe o respeito dos outros. É a sua força e os seus mísseis que o protegem".

O líder também assegurou que Israel sofrerá novos ataques da resistência palestina "o que aconteceu desde 7 de outubro até hoje, enfraqueceu Israel e acontecerá novamente no futuro (…) e está no caminho da extinção. Ninguém será capaz de defender Israel".

"Israel convocou seus reservistas e usou todas as suas armas, pedindo também ajuda aos americanos da região. Os israelenses acreditam que esta é uma oportunidade para acabar com o Hezbollah no Líbano, dizendo que o mundo atualmente o apoia. Mas a resistência fez com que Israel perdesse o elemento surpresa ao abrir a ofensiva". Para ele, o único empecilho de uma guerra no Líbano provocada por Israel é a existência do Hezbollah. 

O líder xiita do partido do Hezbollah, finalizou o seu discurso com a promessa de que o assassinato de um dos líderes do Hamas, Saleh  "não ficará impune". 

Ainda hoje, o Hezbollah anunciou que atingiu um grupo de soldados israelenses perto de Jal el-Alam com mísseis. O partido também anunciou a morte de dois dos seus combatentes: Abbas Thaher e Hassan Daqiq. De acordo com a contagem oficial do grupo, 142 membros do Hezbollah foram mortos desde o início do conflito em Gaza. Segundo o jornal israelense Haaretz o exército israelense disse que foguetes caíram em campo aberto no norte de Israel.

 

Fonte: Opera Mundi

 

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