sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Centrão usa máquina (por enquanto), mas não deverá apoiar Lula em 2026

Às vésperas da campanha de 2014, Aécio Neves lançou uma cantada indecorosa para os partidos que ocupavam ministérios de Dilma Rousseff. O tucano sugeriu que as siglas deveriam extrair o que pudessem e, depois, apoiar sua candidatura. “Eu digo para eles: façam isso mesmo, suguem mais um pouquinho e, depois, venham para o nosso lado.”

Lula tem alguns daqueles vampiros alojados na Esplanada dos Ministérios e em bancadas que, no papel, formam a base aliada de seu terceiro mandato. O Palácio do Planalto aceitou pagar um preço salgado pela ajuda do centrão em votações de interesse do governo, mas não comprou o apoio do grupo para 2026.

Dentro da coalizão de Lula, é considerada certa apenas a adesão das siglas de esquerda à reeleição, mas dirigentes do MDB e do PSD já manifestaram interesse numa aliança em torno do petista para mais um mandato. Já União Brasil, PP e Republicanos, bem alimentados por acordos com o governo, têm simpatia inequívoca pelo campo adversário.

As preferências expressas por esses três partidos nas votações do Congresso estão distantes da agenda de Lula. Não foram poucas as vezes em que legendas da base aliada deram sustentação a posições vinculadas ao bolsonarismo. É um comportamento que, na prática, limita as ações que o governo espera apresentar ao eleitor.

Além disso, a operação política desse grupo nos ministérios, sem surpresas, é dedicada ao fortalecimento de seus próprios interesses eleitorais.

O centrão pode manter o governo de pé, mas a rede de prefeitos e deputados beneficiados pela verba federal provavelmente estará a serviço de um candidato de oposição na próxima eleição presidencial.

A não ser que Lula chegue ao fim do mandato com uma popularidade arrasadora, sua base aliada corre risco considerável de sofrer uma desidratação em 2026.

Isso significa ter um ano final com instabilidade no Congresso e, pior ainda, ver uma máquina abastecida pelo governo trabalhar a favor de um rival.

 

Ø  MESMO COM LULA PRESIDENTE, PT GANHOU POUCOS FILIADOS EM 2023

 

O novo mandato de Lula (PT) na Presidência da República não serviu para aumentar a lista de filiados ao Partido dos Trabalhadores até o momento. Um dos fundadores e nome de maior destaque do partido, Lula assumiu o comando do governo federal pela terceira vez em 2023. Mas, no ano, o PT aumentou o seu número de filiados em somente 0,8%.

Ainda assim, a sigla de esquerda é a segunda maior do Brasil. Saiu de 1,60 milhão de filiados em janeiro para 1,62 milhão em novembro de 2023, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atualizados até 21 de dezembro.

O crescimento pequeno foi uma fuga positiva do padrão dos partidos com mais de um milhão de filiados. Todos os outros nesta categoria tiveram quedas, ainda que tímidas. A exceção é o PRD (Partido Renovação Democrática), que foi criado em novembro de 2023, com a fusão do Patriota e o PTB.

Por outro lado, o PL de Jair Bolsonaro cresceu 6% no primeiro ano do novo governo Lula. Saiu de 761 mil em janeiro para 807 mil em novembro. O partido comandado por Valdemar Costa Neto é de franca oposição à gestão petista, principalmente no Congresso.

Tanto PT quanto PL devem ser adversários diretos nas eleições municipais de 2024. O enfrentamento com a direita foi explicitado na resolução do Diretório Nacional do PT em 2023, segundo nota divulgada no início de dezembro.

"É nossa tarefa participar ativamente das eleições municipais de 2024, fazendo o embate contra a extrema-direita, para reeleger e aumentar as prefeituras em que estamos hoje, além de ampliar expressivamente nossa base de vereadores e vereadoras, incentivando a participação de mulheres, negros, jovens e LGBTQI+", diz o texto do partido comandado por Gleisi Hoffmann (PR).

Para o PT, a disputa pelas prefeituras e pelas vagas de vereadores será uma oportunidade para "organizar e consolidar a base popular necessária para mudar a correlação de forças políticas e mudar o Brasil"

Já o PL tem como objetivo conquistar mais de 1.500 prefeituras. Segundo Costa Neto, essa marca será atingida defendendo valores conservadores e mantendo a oposição ao PT, sem "a menor possibilidade de o Partido Liberal formar qualquer tipo de coligação ou acordo" com os petistas, segundo já divulgou em seu perfil nas redes sociais.

"Somos a legenda que mais cresce no Brasil, e com a força dos nossos parlamentares e de Bolsonaro, iremos fazer mais de 1500 prefeitos nas próximas eleições", afirmou o presidente do PL em junho de 2023.

·        Perfil do filiado petista

A maior parte dos filiados petistas fazem parte da base da sigla há mais de 10 anos. São 81,4% dos filiados, segundo o TSE. Nos últimos cinco anos, o PT conseguiu filiar pouco mais de 200 mil pessoas.

A maior parte dos filiados que moram no Brasil são da região sudeste, com 677,6 mil pessoas como integrantes do PT. A segunda região com mais petistas é um reduto importante da sigla: o Nordeste. Os nordestinos somam 401,8 mil filiados, segundo os dados até novembro.

Entre os filiados que vivem no Brasil, a maior parte da militância petista é masculina, concentrando 53,1% dos filiados. As mulheres são 46,7%, enquanto o restante não informou o gênero ao TSE.

No exterior, essa tendência se inverte. A maioria das filiadas se identificam com o gênero feminino: são 56,4%. Já os homens chegam a 43,52%. O PT conta com 2.075 pessoas filiadas que não moram no Brasil.

 

Ø  FUSÃO DE PATRIOTA E PTB CRIA TERCEIRO MAIOR PARTIDO DO BRASIL EM NÚMERO DE FILIADOS

 

Nome pouco conhecido ainda para o eleitorado geral, o Partido Renovação Democrática (PRD) é o terceiro maior partido do Brasil em número de filiados. São 1,3 milhão de pessoas que fazem parte da mais nova sigla brasileira.

O PRD foi fundado em novembro de 2023, depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou a fusão do Patriota e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Ovasco Resende, que fazia parte da cúpula do Patriota, assumiu o comando do novo partido. A direção nacional da sigla não conta com familiares de Roberto Jefferson, que já foi um dos principais nomes do PTB nos últimos anos.

A fusão de um partido em crise depois das eleições, o PTB, e outro pequeno em representação, o Patriota, acabou criando mais um partido gigante em filiados. O PRD conseguiu desbancar o PSDB como o terceiro maior partido do país nessa métrica.

Os tucanos ficam logo atrás da nova sigla, com 1,31 milhão de filiados. O PSDB tenta encontrar uma identidade para voltar a crescer nas eleições de 2024.

A fusão das duas siglas veio como consequência da cláusula de barreira. Nenhum dos dois partidos conseguiu eleger número suficiente de congressistas para alcançar a cláusula de desempenho para ter acesso ao Fundo Partidário. Com a fusão, o novo partido deve poder acessar esta verba pública, considerando o número de votos válidos que ambas as siglas receberam em todo o Brasil na eleição de 2022.

No pleito, o PTB conseguiu eleger somente um deputado. Já o Patriota conseguiu eleger quatro deputados nas eleições gerais. Atualmente, a Câmara dos Deputados conta com quatro deputados do Patriota, mas nenhum do PTB.

O PTB teve um candidato à Presidência nas eleições de 2022, o Padre Kelmon. Para além de enfrentamentos que chamaram a atenção do eleitor, o candidato não conseguiu uma votação significativa no pleito e ficou em 7º lugar, com 81.129 votos.

Outro problema do PTB nas eleições anteriores foi Roberto Jefferson, ex-deputado e ex-presidente da sigla, que contava com muita influência no partido. Jefferson foi preso pela Polícia Federal em outubro de 2022 depois de atirar em policiais ao ter sua prisão decretada.

Com a fusão, o PRD terá acesso ao Fundo Partidário decorrente da soma dos votos que PTB e Patriota receberam. O TSE havia bloqueado esses valores até que o procedimento de fusão fosse confirmado. Agora, o PRD contará com verba para tentar aumentar o número de eleitos nas eleições de 2024.

 

Ø  COM INCORPORAÇÃO DO PSC, PODEMOS QUASE DOBRA FILIADOS EM ANO PRÉ-ELEITORAL

 

O partido Podemos entra em 2024 com 98% mais filiados do que tinha em janeiro de 2023. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, a legenda comandada pela deputada Renata Abreu (SP) conta com 802,4 mil integrantes. É o nono maior partido em filiados do Brasil.

O crescimento de filiados não se deu organicamente, mas sim com a incorporação do Partido Social Cristão (PSC). O TSE aprovou a medida de forma unânime em junho de 2023.

O PSC contava com 407 mil filiados no início de 2023. No entanto, nas eleições gerais, não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira para ter acesso aos recursos do Fundo Partidário. O partido conseguiu a eleição de um senador, Cleitinho – que migrou para o Republicanos – e seis deputados.

Como a incorporação funciona com a absorção de um partido por outro, o Podemos ganhou os filiados do PSC. O crescimento se dá logo antes das eleições municipais, que devem ser realizadas em outubro de 2024.

O Podemos entrará na disputa com o Fundo Partidário a que já tinha direito por ter conseguido cumprir a cláusula de desempenho, além das verbas que seriam do PSC. O TSE havia bloqueado esse valor para direcionar ao Podemos, caso a incorporação realmente fosse aprovada.

As verbas do Fundo Partidário considera a soma dos votos dos partidos para indicar o montante que terão direito para as eleições.

O Podemos não apresentou alterações em seu estatuto depois da incorporação do PSC ao TSE. A sigla conta com uma composição diversa em relação a posicionamentos políticos no Congresso Nacional.

Entre seus integrantes está o senador Marcos do Val (Podemos-SE), que é contrário ao governo Lula (PT) e só votou de acordo com a gestão petistas em 37% das vezes, segundo a ferramenta do Congresso em Foco, Radar do Congresso. Mas também conta com os deputados Romero Rodrigues (PB) e Raimundo Costa (BA), que votaram 92% e 93% das vezes com o governo, respectivamente.

De forma geral, segundo o Radar do Congresso, o Podemos na Câmara é mais governista do que os integrantes da sigla no Senado. Entre os deputados, o alinhamento médio no plenário chega a 82%. Já com os senadores é de 60%.

A maior liberdade para votações fez com que a bancada do partido crescesse no Senado em 2023. No início da legislatura, eram quatro senadores do Podemos. Agora, são sete. Na Câmara, também houve alta, de 12 deputados eleitos para 15 integrantes atualmente.

 

Fonte: FolhaPress/Congresso em Foco

 

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