Brasil está pronto para possível baque econômico da guerra em Gaza?
A economia global observa atenta os atores que
podem se envolver militarmente, o que alteraria drasticamente o fluxo econômico
entre muitos países. Se for o caso, como fica o Brasil? A Sputnik Brasil
entrevistou especialistas para entender como a economia brasileira pode ser
afetada pela guerra entre Israel e Hamas.
Ao início do confronto entre Israel e Hamas, no dia
7 de outubro, os olhos do mundo também voltaram-se para a matéria prima mais
afetada durante guerras: o petróleo. O preço do barril de petróleo do tipo
brent, usado como referência global, aumentou 5,22% e chegou a US$ 89 [R$ 458]
no início deste mês. Hoje (27), o barril se encontra no mesmo valor. O preço
engloba diversos fatores: reação e envolvimento internacional na guerra,
preparação política dos países e capacidade de mediação dos produtores.
Dentro do panorama de produção, tanto Israel quanto
a Palestina não são produtores de óleo, mas nações como a Arábia Saudita e Irã,
que cada vez mais caminham para o rumo de intervenção armada no conflito, podem
afetar o mercado, fazendo uso do petróleo como uma forma de pressionar os
participantes do conflito.
No que isso afeta o Brasil? Há possibilidade de
crise? Em conversa com a Sputnik Brasil, a professora e coordenadora do
departamento de economia do Insper, Juliana Inhasz, observa o cenário com
cautela, assinalando que não há motivo para pânico.
"Não acho que exista hoje uma desestabilização
financeira internacional em curso. O conflito ainda é muito recente. Eu acho
que o Brasil, na verdade, está olhando o hoje e está entendendo que ele não
pode fazer sanções, pelo menos. Porque se ele fizer sanções, ele prejudica um
cenário econômico que já não é favorável", explica Juliana.
A política brasileira já vinha debatendo a questão
do preço da matéria prima e como isso afetava o cenário nacional, estipulando
uma nova política de preços. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em
declaração pública, pontuou que a nova política considera os gastos da empresa
com o uso de moeda nacional, "passando no teste", e defendeu o
recente reajuste no preço da gasolina, dizendo que "passou no teste".
Desde 2017, a estatal utilizava os preços de
paridade de importação (PPI), que se baseia em valores dolarizados, de empresas
que exportam combustíveis ao Brasil.
Agora, o preço dos combustíveis é calculado
principalmente observando o local de produção e o destino, entre milhares de
outras variáveis, dentre as quais constam também o PPI. Para o presidente da
Petrobras, o modelo foi resgatado por tornar mais justo o preço ao consumidor
final.
"[O modelo] envolve 40 mil equações
diferentes, com programação linear. Onde o cliente estiver é possível a gente
fazer simulação de qual o melhor modal, o melhor óleo pra colocar na refinaria
mais próxima… a Petrobras tem esse modelo desenvolvido há décadas e é para ser
usado", concluiu Prates.
O maior efeito da guerra deve ser, portanto, sobre
o diesel, mas a nova política de preços pode ajudar a conter uma possível
crise, já que se baseia longe da "paridade internacional", como
reafirmou o presidente.
·
Conflitos militares anteriores geram insegurança
para o futuro
A preocupação da possibilidade de expansão da
guerra é importante. Durante a Guerra dos Seis Dias (1967) ou na Guerra do Yom
Kippur (1973), por exemplo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP) se uniu contra o apoio americano e europeu a Israel e seus membros
impuseram corte na produção e embargo às exportações, elevando os preços do
petróleo a recordes para aquela época.
Porém, o contexto atual é diferente, o que gera
menos preocupações. À época, o Brasil importava cerca de 90% de seu consumo de
petróleo, o que não acontece hoje, visto que o país exporta mais petróleo do
que importa, com o petróleo sendo a segunda maior fonte de ingresso de receitas
do exterior para o Brasil, ficando atrás apenas da soja.
Em conversa com a Sputnik Brasil, o coordenador do
curso de ciência política da UNICAP, Thales Castro, pontuou que a política
econômica depende crucialmente da definição da posição pública tomada pelo
Brasil, visto que o mundo se mostra cada vez mais "hiperpolarizado,
causando inflamação para todos os lados".
"Toda mediação de paz, ela tem
substancialmente o duplo significado, o político diplomático e o simbólico.
Quando o Brasil busca uma mediação, ele está, de fato, dando a sinalização de
sua orientação de política externa. E eu não vejo particularmente um contexto
específico de crise no campo econômico, não", completa Castro.
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Expansão dos BRICS+ e desejo de paz acalmam o
cenário brasileiro
A maior preocupação em relação ao conflito, para os
especialistas, é se a escalada de violência irá se manter restrita aos
territórios de Israel e dos palestinos (Faixa de Gaza e Cisjordânia) e se o
Irã, que tem papel fundamental na gestão no transporte da petróleo pelo
Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 30% do produto consumido no mundo,
se envolverá militarmente.
No caso do BRICS+, o cenário é de maior margem de
manobra, visto que, dada sua importância para a gestão da economia mundial,
fica difícil criar animosidades internacionais que, consequentemente, afetam a
economia.
"No caso [da China], por exemplo, é muito
difícil de fazer o que os Estados Unidos fizeram, a tentativa de criar espaços
e animosidades para que outros países cortassem relações com a China. Hoje,
todo mundo depende da China", completa Juliana Inhasz.
Para Castro, a "economia interna brasileira
deverá buscar meios de não ser impactada de forma extrema, coisa que pode
acontecer com qualquer país", visto que os BRICS+ "ainda não estão
muito coesos", mas se aproximam de forma forte, principalmente "a
Rússia e a China, que compõem um eixo de cooperação e fraternidade, como visto
na cúpula da Rota da Seda".
As eleições dos EUA podem afetar o cenário
internacional também, principalmente pela possibilidade de sanções e pressões
organizadas por países que observam os EUA como um adversário econômico direto.
O presidente Joe Biden enfrenta, com a ajuda contínua
do país a Israel, o maior déficit orçamentário fiscal do governo dos Estados
Unidos, que cresceu em US$ 320 bilhões (R$ 1,6 trilhão), um aumento de 23%,
atingindo o montante de US$ 1,7 trilhão (cerca de R$ 8,6 trilhões) em 2023.
A elevação do barril do petróleo, por exemplo,
traria danos à economia norte-americana, aumentando a inflação, o preço do
combustível, taxa de juros e baixa do crescimento da economia interna. Ao
Brasil, esse cenário não se aplica, visto que mantém boas relações tanto com a
Rússia quanto com a China. Do período de janeiro a agosto deste ano, por
exemplo, 74% do diesel importado pelo Brasil veio da Rússia, com descontos
significativos.
A produção de petróleo brasileiro, que bateu
recorde em cerca de 4,3 milhões de barris por dia em 2023, deverá ultrapassar a
marca dos 5 milhões na próxima década, segundo estimativas. De acordo com o
presidente da Petrobras, a gasolina e diesel podem ser afetados no Brasil, pois
o país depende da importações dos dois derivados.
Um preço do petróleo mais alto no mercado
internacional, portanto, pode elevar a inflação no Brasil, mesmo essa não sendo
a preocupação principal — ainda se considerado o preço do barril, que se mantém
estável e, dentro das estimativas esquematizadas pelo governo, ainda não variou
muito.
Segundo a professora Juliana Inhasz, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva "não tem margem de manobra o suficiente para
ousar" nas negociações de paz e posicionamentos internacionais, pois isso
afeta a política interna.
"A gente está numa economia que esse ano vai
crescer por volta de 3%, muito pelo aumento do gasto do governo, mas que para
ano que vem tem que se virar para conseguir ficar dentro das metas que eles
mesmos estabeleceram (...) O governo Lula deveria estar muito atento ao fato de
que o Lula é uma peça importante para essas negociações de bases de apoio. Se
ele sai dessa frente, estamos com um trem sem condutor", explica.
Ainda conforme o presidente da Petrobras, o Brasil,
agora, precisa esperar, visto que "não tem que fazer muito mais do que a
gente já está fazendo". Para isso, segundo a autoridade, é necessário
"ter habilidade de ir acompanhando os preços, principalmente do diesel, e
ir se organizando de acordo com isso", pois "se tiver que haver
ajuste, a gente vai fazer ajuste", completou.
Ø No Vácuo de Lideranças, a Tragédia. Por Beto Faro
Há poucos dias, o presidente Lula, que neste mês de
outubro, também “preside” o Conselho de Segurança da ONU, destacou, em tom de
desabafo, que os atos terroristas que mataram e sequestraram cidadãos inocentes
em Israel, geraram resposta insana que bombardeia sem tréguas a população
palestina em Gaza. Condenados à morte ou outros infortúnios, os palestinos
encurralados em Gaza, sem direito à pão e água, estão sendo descartados da
proteção das Convenções de Genebra e da Declaração Universal dos Direitos
Humanos. A resposta impiedosa e desproporcional de Israel deslegitima o seu
direito inquestionável à autodefesa aos ataques terroristas. São 2.3 milhões de
seres humanos transformados em “alvo fixo” das bombas de Israel.
Esse quadro humanitário catastrófico em Gaza
sensibiliza todo o mundo democrático. Em particular, mobilizou 14 membros do
Conselho de Segurança da ONU a chancelarem (com duas abstenções) proposta de
Resolução apresentada pelo Brasil definindo ajuda e corredor humanitários, e
pausa humanitária nos bombardeios em Gaza.
Retratando realidade surreal da atual ‘governança’
mundial, a Resolução foi derrotada por 1 x 14. Mesmo a potência ocidental mais
fiel ao ‘império’ preferiu se abster. Enfim, está configurada situação em Gaza
desumana que será cobrada pela história!
A propósito, segundo informação do ex-chanceler
alemão Gerhard Schroeder ao jornal Berliner Zeitung, o governo dos
EUA teria impedido Kiev de negociar a paz com a Rússia em março de 2022. Em
meio a tanta loucura, de repente, o conflito Rússia/Ucrânia parece que deixou
de existir, pois totalmente eliminado da pauta da grande imprensa desde os atos
terroristas do Hamas. Putin, até então tratado diariamente como tirano e
terrorista pelos EUA e Europa, com ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal
Internacional, passou a difundir pregações pacifistas para o conflito
Israel/Hamas, exigindo imediato cessar-fogo pelas partes envolvidas. Ato
contínuo à eclosão da crise, o presidente Zelensky, acusado por muitos de
conivência com grupos neonazistas, parou de desfilar pelo mundo como um pop
star já que os holofotes viraram para o oriente médio. O que tem de
comum nas duas guerras? Sem dúvidas, ambas são protagonizadas por atores
extremistas em um contexto de inexistência de lideranças entre as grandes
potências econômicas com envergadura política para um papel de mediação e
contenção. O Presidente Biden, que por razões óbvias seria a autoridade do
planeta com maior poder para liderar ações globais para conter ou administrar
esses contenciosos, tem optado por ações unilateralistas e por pressões
sistemáticas sobre o Congresso pela autorização de bilhões de dólares para o
fomento às guerras. Inclusive, logo na sequência aos atos terroristas pelo
Hamas, a primeira atitude do presidente Biden, foi o deslocamento de dois porta
aviões e outros navios de guerra para a área. Dizem que como tática de
dissuasão para tentar evitar a regionalização do conflito. Outros preferiram
interpretar como demonstração de apoio incondicional a Israel. A China, um
gigante na economia, perde uma ótima oportunidade para “mostrar serviço” e se
firmar no jogo diplomático internacional. Mas prefere se manter um nanico
político; pensando somente na Nova Rota da Seda!
Extremismos e omissões à parte, e deixando claro a
irrestrita solidariedade às vítimas israelenses e palestinas dos atos de
terrorismo e insanidade, manifesto o meu orgulho com a atuação do Ministério
das Relações Exteriores, Ministério da Defesa e Força Aérea Brasileira, que sob
a orientação do presidente Lula têm trabalhado de modo frenético pela
repatriação imediata de brasileiras e brasileiros em situações de risco; pela
ajuda humanitária aos palestinos, e pelo restabelecimento da paz entre judeus e
palestinos. O Brasil de Volta!
Ø Veja os líderes mundiais que conversaram com Lula para paz no Oriente
Médio
Nesta quarta-feira (25), o presidente da
República Luiz
Inácio Lula da Silva conversou com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani.
O diálogo é mais um dos diversos que o presidente
brasileiro tem estabelecido com lideranças ao redor do
mundo para tentar encontrar uma saída de paz para a situação entre Israel e Gaza.
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Vladimir Putin
O presidente brasileiro conversou com o
presidente russo, Vladimir
Putin, que tem sido um dos mais enfáticos países-membros
do G20 e dos BRICS na defesa da causa palestina e contra Israel.
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Isaac Herzog
O primeiro foco de Lula para diálogo foram as
lideranças envolvidas no conflito. O presidente brasileiro ainda não falou com
Benjamin Netanyahu, chefe de governo israelense e primeiro-ministro, mas manteve diálogo desde o início da
guerra, em 7 de outubro, com Isaac Herzog, presidente do país, com foco na
retirada de brasileiros de Israel e da Cisjordânia com os aviões KC-30 da Força
Aérea.
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Mahmoud Abbas
Além de conversar com Herzog, o presidente da
Autoridade Palestina, Mahmoud
Abbas, também foi um dos consultados por Lula sobre o
conflito.
Apesar do Fatah, partido de Abbas, não estar
diretamente relacionado ao conflito do Hamas, o presidente
brasileiro também conversou com o palestino como forma de solidariedade.
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Macron
Apesar de Emmanuel Macron não ter tido nenhum
grande sucesso diplomático nos últimos anos, o presidente francês possui alguma
influência na região, em especial no Líbano e na Síria, que foram seus domínios
coloniais.
O presidente Lula conversou com Macron dias antes
do francês anunciar, em Israel, uma possível "coalizão internacional"
contra o Hamas.
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Emir al-Thani
O Emir al-Thani do Catar talvez seja um nome
desconhecido para quem não está muito atento na questão israelo-palestina.
Contudo, o chefe de estado catari é apontado como um dos principais
financiadores do Hamas e possui longo histórico de apoio ao grupo que comanda a
Faixa de Gaza. A sede oficial do Hamas fica em Doha, no Catar.
O diálogo de Lula com al-Thani é importante para
entender quais são as demandas dos árabes nesse momento e tentar travar algum
tipo de cessar-fogo imediato, assim como é defendido pelos cataris.
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Ebrahim Raisi
Ebrahim Raisi, presidente do Irã, é um dos nomes
por trás da outra grande potência militar da região. Os persas são,
possivelmente, os principais financiadores da Jihad Islâmica Palestina e o país
da região com mais capacidade de confrontar Israel.
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Al-Sisi
O presidente Abdel Fattah al-Sisi, do Egito, é uma
das figuras mais cruciais do conflito. É ele que detém os portões de Rafah,
principal passagem para a Faixa de Gaza. Lula tem travado conversas para
operação de resgate dos brasileiros em Gaza pelo Egito.
Notório inimigo do Hamas e amigo de Israel, o
presidente egípcio é importante para os diálogos de paz e para a articulação
com outros países do Norte da África.
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Erdogan
O presidente Erdogan, da Turquia, também conversou
com Lula. O brasileiro pediu ajuda para o turco, que tem forte influência na
região, para tentar articular uma operação de cessar-fogo na com Israel. A
Turquia é um dos principais países muçulmanos que mantém relações diplomáticas
com Israel.
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Mohamed bin Zayed
Lula também conversou com o chefe de estado dos
Emirados Árabes Unidos, Mohamed bin Zayed. Os Emirados são o país do golfo
arábico que conserva melhor relação com os israelenses, depois de uma
articulação feita por Donald Trump em 2020.
Fonte: Sputnik Brasil/Brasil 247/Fórum
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