sábado, 28 de outubro de 2023

Brasil está pronto para possível baque econômico da guerra em Gaza?

A economia global observa atenta os atores que podem se envolver militarmente, o que alteraria drasticamente o fluxo econômico entre muitos países. Se for o caso, como fica o Brasil? A Sputnik Brasil entrevistou especialistas para entender como a economia brasileira pode ser afetada pela guerra entre Israel e Hamas.

Ao início do confronto entre Israel e Hamas, no dia 7 de outubro, os olhos do mundo também voltaram-se para a matéria prima mais afetada durante guerras: o petróleo. O preço do barril de petróleo do tipo brent, usado como referência global, aumentou 5,22% e chegou a US$ 89 [R$ 458] no início deste mês. Hoje (27), o barril se encontra no mesmo valor. O preço engloba diversos fatores: reação e envolvimento internacional na guerra, preparação política dos países e capacidade de mediação dos produtores.

Dentro do panorama de produção, tanto Israel quanto a Palestina não são produtores de óleo, mas nações como a Arábia Saudita e Irã, que cada vez mais caminham para o rumo de intervenção armada no conflito, podem afetar o mercado, fazendo uso do petróleo como uma forma de pressionar os participantes do conflito.

No que isso afeta o Brasil? Há possibilidade de crise? Em conversa com a Sputnik Brasil, a professora e coordenadora do departamento de economia do Insper, Juliana Inhasz, observa o cenário com cautela, assinalando que não há motivo para pânico.

"Não acho que exista hoje uma desestabilização financeira internacional em curso. O conflito ainda é muito recente. Eu acho que o Brasil, na verdade, está olhando o hoje e está entendendo que ele não pode fazer sanções, pelo menos. Porque se ele fizer sanções, ele prejudica um cenário econômico que já não é favorável", explica Juliana.

A política brasileira já vinha debatendo a questão do preço da matéria prima e como isso afetava o cenário nacional, estipulando uma nova política de preços. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em declaração pública, pontuou que a nova política considera os gastos da empresa com o uso de moeda nacional, "passando no teste", e defendeu o recente reajuste no preço da gasolina, dizendo que "passou no teste".

Desde 2017, a estatal utilizava os preços de paridade de importação (PPI), que se baseia em valores dolarizados, de empresas que exportam combustíveis ao Brasil.

Agora, o preço dos combustíveis é calculado principalmente observando o local de produção e o destino, entre milhares de outras variáveis, dentre as quais constam também o PPI. Para o presidente da Petrobras, o modelo foi resgatado por tornar mais justo o preço ao consumidor final.

"[O modelo] envolve 40 mil equações diferentes, com programação linear. Onde o cliente estiver é possível a gente fazer simulação de qual o melhor modal, o melhor óleo pra colocar na refinaria mais próxima… a Petrobras tem esse modelo desenvolvido há décadas e é para ser usado", concluiu Prates.

O maior efeito da guerra deve ser, portanto, sobre o diesel, mas a nova política de preços pode ajudar a conter uma possível crise, já que se baseia longe da "paridade internacional", como reafirmou o presidente.

·         Conflitos militares anteriores geram insegurança para o futuro

A preocupação da possibilidade de expansão da guerra é importante. Durante a Guerra dos Seis Dias (1967) ou na Guerra do Yom Kippur (1973), por exemplo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) se uniu contra o apoio americano e europeu a Israel e seus membros impuseram corte na produção e embargo às exportações, elevando os preços do petróleo a recordes para aquela época.

Porém, o contexto atual é diferente, o que gera menos preocupações. À época, o Brasil importava cerca de 90% de seu consumo de petróleo, o que não acontece hoje, visto que o país exporta mais petróleo do que importa, com o petróleo sendo a segunda maior fonte de ingresso de receitas do exterior para o Brasil, ficando atrás apenas da soja.

Em conversa com a Sputnik Brasil, o coordenador do curso de ciência política da UNICAP, Thales Castro, pontuou que a política econômica depende crucialmente da definição da posição pública tomada pelo Brasil, visto que o mundo se mostra cada vez mais "hiperpolarizado, causando inflamação para todos os lados".

"Toda mediação de paz, ela tem substancialmente o duplo significado, o político diplomático e o simbólico. Quando o Brasil busca uma mediação, ele está, de fato, dando a sinalização de sua orientação de política externa. E eu não vejo particularmente um contexto específico de crise no campo econômico, não", completa Castro.

·         Expansão dos BRICS+ e desejo de paz acalmam o cenário brasileiro

A maior preocupação em relação ao conflito, para os especialistas, é se a escalada de violência irá se manter restrita aos territórios de Israel e dos palestinos (Faixa de Gaza e Cisjordânia) e se o Irã, que tem papel fundamental na gestão no transporte da petróleo pelo Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 30% do produto consumido no mundo, se envolverá militarmente.

No caso do BRICS+, o cenário é de maior margem de manobra, visto que, dada sua importância para a gestão da economia mundial, fica difícil criar animosidades internacionais que, consequentemente, afetam a economia.

"No caso [da China], por exemplo, é muito difícil de fazer o que os Estados Unidos fizeram, a tentativa de criar espaços e animosidades para que outros países cortassem relações com a China. Hoje, todo mundo depende da China", completa Juliana Inhasz.

Para Castro, a "economia interna brasileira deverá buscar meios de não ser impactada de forma extrema, coisa que pode acontecer com qualquer país", visto que os BRICS+ "ainda não estão muito coesos", mas se aproximam de forma forte, principalmente "a Rússia e a China, que compõem um eixo de cooperação e fraternidade, como visto na cúpula da Rota da Seda".

As eleições dos EUA podem afetar o cenário internacional também, principalmente pela possibilidade de sanções e pressões organizadas por países que observam os EUA como um adversário econômico direto.

O presidente Joe Biden enfrenta, com a ajuda contínua do país a Israel, o maior déficit orçamentário fiscal do governo dos Estados Unidos, que cresceu em US$ 320 bilhões (R$ 1,6 trilhão), um aumento de 23%, atingindo o montante de US$ 1,7 trilhão (cerca de R$ 8,6 trilhões) em 2023.

A elevação do barril do petróleo, por exemplo, traria danos à economia norte-americana, aumentando a inflação, o preço do combustível, taxa de juros e baixa do crescimento da economia interna. Ao Brasil, esse cenário não se aplica, visto que mantém boas relações tanto com a Rússia quanto com a China. Do período de janeiro a agosto deste ano, por exemplo, 74% do diesel importado pelo Brasil veio da Rússia, com descontos significativos.

A produção de petróleo brasileiro, que bateu recorde em cerca de 4,3 milhões de barris por dia em 2023, deverá ultrapassar a marca dos 5 milhões na próxima década, segundo estimativas. De acordo com o presidente da Petrobras, a gasolina e diesel podem ser afetados no Brasil, pois o país depende da importações dos dois derivados.

Um preço do petróleo mais alto no mercado internacional, portanto, pode elevar a inflação no Brasil, mesmo essa não sendo a preocupação principal — ainda se considerado o preço do barril, que se mantém estável e, dentro das estimativas esquematizadas pelo governo, ainda não variou muito.

Segundo a professora Juliana Inhasz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não tem margem de manobra o suficiente para ousar" nas negociações de paz e posicionamentos internacionais, pois isso afeta a política interna.

"A gente está numa economia que esse ano vai crescer por volta de 3%, muito pelo aumento do gasto do governo, mas que para ano que vem tem que se virar para conseguir ficar dentro das metas que eles mesmos estabeleceram (...) O governo Lula deveria estar muito atento ao fato de que o Lula é uma peça importante para essas negociações de bases de apoio. Se ele sai dessa frente, estamos com um trem sem condutor", explica.

Ainda conforme o presidente da Petrobras, o Brasil, agora, precisa esperar, visto que "não tem que fazer muito mais do que a gente já está fazendo". Para isso, segundo a autoridade, é necessário "ter habilidade de ir acompanhando os preços, principalmente do diesel, e ir se organizando de acordo com isso", pois "se tiver que haver ajuste, a gente vai fazer ajuste", completou.

 

Ø  No Vácuo de Lideranças, a Tragédia. Por Beto Faro

 

Há poucos dias, o presidente Lula, que neste mês de outubro, também “preside” o Conselho de Segurança da ONU, destacou, em tom de desabafo, que os atos terroristas que mataram e sequestraram cidadãos inocentes em Israel, geraram resposta insana que bombardeia sem tréguas a população palestina em Gaza. Condenados à morte ou outros infortúnios, os palestinos encurralados em Gaza, sem direito à pão e água, estão sendo descartados da proteção das Convenções de Genebra e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A resposta impiedosa e desproporcional de Israel deslegitima o seu direito inquestionável à autodefesa aos ataques terroristas. São 2.3 milhões de seres humanos transformados em “alvo fixo” das bombas de Israel.

Esse quadro humanitário catastrófico em Gaza sensibiliza todo o mundo democrático. Em particular, mobilizou 14 membros do Conselho de Segurança da ONU a chancelarem (com duas abstenções) proposta de Resolução apresentada pelo Brasil definindo ajuda e corredor humanitários, e pausa humanitária nos bombardeios em Gaza.

Retratando realidade surreal da atual ‘governança’ mundial, a Resolução foi derrotada por 1 x 14. Mesmo a potência ocidental mais fiel ao ‘império’ preferiu se abster. Enfim, está configurada situação em Gaza desumana que será cobrada pela história!

A propósito, segundo informação do ex-chanceler alemão Gerhard Schroeder ao jornal Berliner Zeitung, o governo dos EUA teria impedido Kiev de negociar a paz com a Rússia em março de 2022. Em meio a tanta loucura, de repente, o conflito Rússia/Ucrânia parece que deixou de existir, pois totalmente eliminado da pauta da grande imprensa desde os atos terroristas do Hamas. Putin, até então tratado diariamente como tirano e terrorista pelos EUA e Europa, com ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional, passou a difundir pregações pacifistas para o conflito Israel/Hamas, exigindo imediato cessar-fogo pelas partes envolvidas. Ato contínuo à eclosão da crise, o presidente Zelensky, acusado por muitos de conivência com grupos neonazistas, parou de desfilar pelo mundo como um pop star já que os holofotes viraram para o oriente médio. O que tem de comum nas duas guerras? Sem dúvidas, ambas são protagonizadas por atores extremistas em um contexto de inexistência de lideranças entre as grandes potências econômicas com envergadura política para um papel de mediação e contenção. O Presidente Biden, que por razões óbvias seria a autoridade do planeta com maior poder para liderar ações globais para conter ou administrar esses contenciosos, tem optado por ações unilateralistas e por pressões sistemáticas sobre o Congresso pela autorização de bilhões de dólares para o fomento às guerras. Inclusive, logo na sequência aos atos terroristas pelo Hamas, a primeira atitude do presidente Biden, foi o deslocamento de dois porta aviões e outros navios de guerra para a área. Dizem que como tática de dissuasão para tentar evitar a regionalização do conflito. Outros preferiram interpretar como demonstração de apoio incondicional a Israel. A China, um gigante na economia, perde uma ótima oportunidade para “mostrar serviço” e se firmar no jogo diplomático internacional. Mas prefere se manter um nanico político; pensando somente na Nova Rota da Seda!

Extremismos e omissões à parte, e deixando claro a irrestrita solidariedade às vítimas israelenses e palestinas dos atos de terrorismo e insanidade, manifesto o meu orgulho com a atuação do Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Defesa e Força Aérea Brasileira, que sob a orientação do presidente Lula têm trabalhado de modo frenético pela repatriação imediata de brasileiras e brasileiros em situações de risco; pela ajuda humanitária aos palestinos, e pelo restabelecimento da paz entre judeus e palestinos. O Brasil de Volta!

 

Ø  Veja os líderes mundiais que conversaram com Lula para paz no Oriente Médio

 

Nesta quarta-feira (25), o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani.

O diálogo é mais um dos diversos que o presidente brasileiro tem estabelecido com lideranças ao redor do mundo para tentar encontrar uma saída de paz para a situação entre Israel e Gaza.

·         Vladimir Putin

O presidente brasileiro conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, que tem sido um dos mais enfáticos países-membros do G20 e dos BRICS na defesa da causa palestina e contra Israel. 

·         Isaac Herzog

O primeiro foco de Lula para diálogo foram as lideranças envolvidas no conflito. O presidente brasileiro ainda não falou com Benjamin Netanyahu, chefe de governo israelense e primeiro-ministro, mas manteve diálogo desde o início da guerra, em 7 de outubro, com Isaac Herzog, presidente do país, com foco na retirada de brasileiros de Israel e da Cisjordânia com os aviões KC-30 da Força Aérea.

·         Mahmoud Abbas

Além de conversar com Herzog, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também foi um dos consultados por Lula sobre o conflito.

Apesar do Fatah, partido de Abbas, não estar diretamente relacionado ao conflito do Hamas, o presidente brasileiro também conversou com o palestino como forma de solidariedade.

·         Macron

Apesar de Emmanuel Macron não ter tido nenhum grande sucesso diplomático nos últimos anos, o presidente francês possui alguma influência na região, em especial no Líbano e na Síria, que foram seus domínios coloniais.

O presidente Lula conversou com Macron dias antes do francês anunciar, em Israel, uma possível "coalizão internacional" contra o Hamas.

·         Emir al-Thani

O Emir al-Thani do Catar talvez seja um nome desconhecido para quem não está muito atento na questão israelo-palestina. Contudo, o chefe de estado catari é apontado como um dos principais financiadores do Hamas e possui longo histórico de apoio ao grupo que comanda a Faixa de Gaza. A sede oficial do Hamas fica em Doha, no Catar.

O diálogo de Lula com al-Thani é importante para entender quais são as demandas dos árabes nesse momento e tentar travar algum tipo de cessar-fogo imediato, assim como é defendido pelos cataris. 

·         Ebrahim Raisi

Ebrahim Raisi, presidente do Irã, é um dos nomes por trás da outra grande potência militar da região. Os persas são, possivelmente, os principais financiadores da Jihad Islâmica Palestina e o país da região com mais capacidade de confrontar Israel.

·         Al-Sisi

O presidente Abdel Fattah al-Sisi, do Egito, é uma das figuras mais cruciais do conflito. É ele que detém os portões de Rafah, principal passagem para a Faixa de Gaza. Lula tem travado conversas para operação de resgate dos brasileiros em Gaza pelo Egito.

Notório inimigo do Hamas e amigo de Israel, o presidente egípcio é importante para os diálogos de paz e para a articulação com outros países do Norte da África.

·         Erdogan

O presidente Erdogan, da Turquia, também conversou com Lula. O brasileiro pediu ajuda para o turco, que tem forte influência na região, para tentar articular uma operação de cessar-fogo na com Israel. A Turquia é um dos principais países muçulmanos que mantém relações diplomáticas com Israel.

·         Mohamed bin Zayed

Lula também conversou com o chefe de estado dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed bin Zayed. Os Emirados são o país do golfo arábico que conserva melhor relação com os israelenses, depois de uma articulação feita por Donald Trump em 2020. 

 

Fonte: Sputnik Brasil/Brasil 247/Fórum

 

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