domingo, 29 de outubro de 2023

Pix milionário: Bolsonaro recebeu doação de 18 mil servidores federais

Um relatório elaborado por técnicos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos do 8 de janeiro, ao qual o Metrópoles teve acesso, mostra que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu doação de recursos via Pix de 18.082 servidores federais já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A somatória de todos os valores recebidos por doação passa de R$ 18 milhões.

A análise usou como base de dados a quebra de sigilo bancário do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, que acabou atingindo Bolsonaro porque Cid constava como procurador das contas do ex-presidente.

Técnicos da comissão analisaram todas as transações via Pix de 20 de junho a 31 de julho e fizeram um raio-x das pessoas que doaram ao ex-presidente em duas contas diferentes. Segundo eles, o valor chega a R$ 18,1 milhões em 809,8 mil transações feitas por 770,2 mil pessoas.

O valor é oriundo da campanha de doação feita por aliados do ex-presidente no fim de junho deste ano, sob alegação de que Bolsonaro era vítima de um “assédio judicial” e que precisava angariar recursos para pagar multas. Ainda em julho, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à comissão já havia mostrado que Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões via Pix neste ano, até 4 de julho.

Técnicos da CPMI que examinaram todas as transações via Pix apontaram que, já no governo do presidente Lula (PT), servidores públicos federais doaram valores significativos, que chegaram a 5,7% do total arrecadado. Observando apenas quantias acima de R$ 1 mil, 60 servidores realizaram doações que chegaram a R$ 272,6 mil.

Os servidores federais que mais fizeram doação para a “vaquinha” do ex-presidente são do Ministério da Saúde, com 1.589 doadores.

Já no âmbito estadual, o número chega a 60.258 servidores — a maior parte é do estado de São Paulo, governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro. Os servidores paulistas foram os que mais doaram: 3.689 servidores, a maioria policiais militares, com o valor estimado em R$ 78,3 mil.

Houve, ainda, 135 servidores de gabinetes de deputados federais que colaboraram com a “vaquinha” do ex-presidente. A campanha teve início no dia 23 de junho, uma sexta-feira, e o maior número de doações ocorreu no fim de semana, chegando ao montante de R$ 12,5 milhões.

Entre os doadores, estão algumas figuras conhecidas, como deputados federais e ex-ministros de Bolsonaro. O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, por exemplo, doou R$ 500, e o ex-ministro de Desenvolvimento Regional e atual senador Rogério Marinho (PL-RN) doou R$ 1.022,22.

O ex-comandante da Aeronáutica Antônio Carlos Moretti Bermudez doou R$ 200. Ele pediu demissão do cargo de comando em 2021, junto com os então comandantes do Exército, general Edson Pujol, e da Marinha, almirante Ilques Barbosa, depois que Bolsonaro demitiu o então ministro general Fernando Azevedo.

O ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-SP) doou um valor menor, R$ 22,17, em referência ao número do Partido Liberal, que é 22, e ao número que foi usado por Bolsonaro na campanha de 2018, o 17 do então Partido Social Liberal.

Houve doação também do senador Magno Malta (PL-ES), de R$ 222,22, e do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), de R$ 1.022.

Os técnicos também observaram que 4.222 militares das Forças Armadas fizeram doações, um número pouco expressivo. O documento mostrou, ainda, que 129 doadores foram presos no 8 de janeiro e 49 foram identificados como invasores do Congresso Nacional. A quantia doada por essas pessoas é pequena, e a soma não chega a R$ 4 mil.

Este documento não foi incluído no relatório final da CPI, elaborado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e votado na semana passada, mas foi encaminhada a alguns parlamentares que integraram a comissão. A análise é de pagamentos feitos de 20 de junho a 31 de julho

O montante doado via Pix a Bolsonaro na vaquinha feita entre junho e julho tem tido repercussões até hoje. Na semana passada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu que a Polícia Federal (PF) investigue o caso.

•        Distribuição territorial

De acordo com o relatório dos técnicos da CPMI do 8 de janeiro, o estado com o maior valor em doações é São Paulo. Mais de 152 mil pessoas na unidade da federação dirigiram um montante de cerca de R$ 3,7 milhões à conta do ex-presidente.

O próximo da lista é Minas Gerais, já que 70,5 mil doadores destinaram R$ 1,6 milhão à vaquinha de Bolsonaro. Em seguida, figura o Rio de Janeiro, com um volume de R$ 1,4 milhão em doações, vindos de 70,8 mil doadores.

O relatório ainda apresenta um índice de estados mais atuantes — uma taxa que considera o valor arrecadado na unidade em relação a sua proporção populacional. Nesse recorte, lidera o estado de Goiás, que é seguido por Distrito Federal, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Rondônia.

Os técnicos ainda se debruçaram sobre uma análise das cidades em que estão os doadores. Da capital paulista, partiram R$ 1,1 milhão, de mais de 39 mil doadores. As contribuições da capital carioca somaram R$ 788 mil e Brasília, R$ 714 mil.

O relatório destaca que, entre os municípios que lideram o ranking, não houve concentração atípica, já que está proporcional à distribuição populacional. Ainda assim, o texto ressalta ser possível notar regiões de concentração específicas que nem sempre condizem com as regiões mais populosas.

Exemplo disso são as doações originadas de Brasília. Enquanto a região administrativa mais populosa é Ceilândia, o texto dá destaque para o grande volume de doações partindo do Plano Piloto, especialmente na Asa Sul, e na região acima da Asa Norte.

O Metrópoles entrou em contato com o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, para saber do interesse em falar a respeito do caso, mas não houve retorno. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.

•        Girão pediu doações para Bolsonaro, mas só mandou R$ 1 em Pix

Investigação da Polícia Federal apontou que o deputado federal General Girão (PL-RN) fez postagens em redes sociais questionando os resultados das urnas e incitando um golpe de Estado. Além dos crimes analisados em inquéritos, uma das publicações chamou a atenção de investigadores. O relatório final foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (18/10).

O parlamentar pediu abertamente Pix em benefício do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com a legenda “o dinheiro é meu e faço o que quiser”. Em depoimento à PF, contudo, alegou que doou apenas R$ 1 ao ex-mandatário.

“Que enviou um real via Pix para auxiliar o ex-presidente Bolsonaro com pagamento de multas”, destacou a defesa do deputado, aos questionamentos da Polícia Federal. O inquérito policial contra General Girão foi aberto pela PF após autorização do ministro do STF Alexandre de Moraes, em 6 de julho de 2023.

Girão foi investigado por incitar o uso de violência após não concordar com os resultados das eleições de 2022.”O Estado brasileiro entrega aos militares o direito de usar a violência em seu nome para a defesa do Estado brasileiro”, gritava em frente ao 16º Batalhão do Exército em Natal.

•        Apoio a Bolsonaro

O discurso de Girão foi gravado em vídeo e publicado nas redes sociais nas últimas semanas de dezembro – próximo ao feriado religioso de Natal. Aproveitando a ocasião, Girão destacou que apoiadores de Bolsonaro deveriam acreditar em Papai Noel, que neste ano chegaria camuflado.

Apesar das falas, em depoimento, o general Girão disse que não tinha como dizer efetivamente o que as pessoas em frente aos quartéis queriam, mas, que no seu entendimento, “não era intervenção militar que elas pediam”.

O militar ainda afirmou que as postagens nas redes sociais não eram incentivo para o povo provocar ruptura institucional e que se tratavam apenas de opiniões de um parlamentar em uso das redes sociais para externar seu descontentamento de ativismo judicial praticado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em mais de uma publicação, o general negou transparência nas urnas, das quais ele mesmo foi eleito. “Se não bastasse as eleições não terem sido limpas e transparentes”. O parlamentar defendeu que voltaria com a pauta do voto impresso e auditável no Congresso Nacional a partir do ano legislativo.

Em nota enviada pela defesa, Girão diz que “não vê nenhuma surpresa no relatório da Polícia Federal, tendo em vista ser mais uma etapa do processo a ser analisada pelo Ministério Publico Federal se caberá denúncia ou não.”

“Ratifica, ainda, que acredita na verdade e que as meras publicações que fez em suas redes sociais em novembro de 2022, não seriam suficientes para desencadear qualquer ato e tampouco o ocorrido no dia 08 de janeiro de 2023.”

 

       Após relatório da CPI, Bolsonaro e Eliziane Gama batem boca

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) de "desqualificada" ao falar sobre o relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro nesta sexta-feira, 27, em um evento realizado em Goiânia. A senadora, que foi relatora do colegiado, respondeu que o ex-presidente "está com medo de ser preso e por isso fala tanta bobagem".

Com agendas em Goiânia neste final de semana, Bolsonaro participou de uma palestra para apoiadores em um hotel da cidade. Ao falar o texto final da CPMI, o ex-presidente afirmou que tanto o relatório quanto Eliziane seriam "desqualificados". O ex-chefe do Executivo também acusou a senadora de supostamente atuar à mando do ministro da Justiça, Flávio Dino.

"Golpe? Desde quando assumi me acusavam de querer dar um golpe. Uma CPMI cujo relatório é tão desqualificado quanto a senadora relatora daquela CPMI, a serviço do Ministro da Justiça", afirmou Bolsonaro.

•        Eliziane diz que palavras de Bolsonaro 'não valem nada'

Por meio de uma nota, Eliziane respondeu que as palavras de Bolsonaro "não valem nada" e que o ex-presidente estaria "com medo de ser preso". A senadora também ressaltou as conclusões do seu relatório final, que aponta a participação do ex-chefe do Executivo em uma tentativa de golpe de Estado após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições do ano passado.

"Bolsonaro foi o pior presidente da história do Brasil. Suas palavras ditas em ato hoje em Goiânia não valem nada, não me atingem. Mulher e nordestina sempre foram um alvo preferido pra ele, já agredira antes a imprensa livre, os negros e os pobres, e tentou liderar um golpe no Brasil. Bolsonaro está inelegível por 8 anos. O relatório da CPMI foi incorporado em sua totalidade às investigações do STF. Está com medo de ser preso e por isso fala tanta bobagem", afirmou a senadora.

•        Senadora apontou Bolsonaro como autor intelectual dos ataques em Brasília

No relatório final da CPMI, que foi aprovado no último dia 18 por 20 votos a 11, Eliziane sugeriu o indiciamento de Bolsonaro nos crimes de associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Juntas, as penas máximas somam 29 anos de prisão.

A relatora também propôs o indiciamento da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), de militares como o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, e agentes da segurança pública do Distrito Federal e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Também estão na lista o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Nesta quarta-feira, 25, Gama e parlamentares governistas entregaram o relatório final para os órgãos competentes por dar encaminhamento às denúncias. A última parada foi no Tribunal de Contas da União (TCU), onde o presidente Bruno Dantas garantiu que as informações do documento serão esmiuçadas para eventualmente instaurar novos processos de investigação.

 

Fonte: Agencia Estado

 

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