Congelamento de óvulos: como e até quando usar um óvulo congelado?
Cada vez menos mulheres precisam se preocupar com o
relógio biológico para se tornar mãe. Isso porque o congelamento de óvulos, que
se tornou popular entre famosas como Grazi Massafera, Claudia Raia, Adriana
Ferreyr e Paolla Oliveira, permite estender o tempo em que é possível gerar uma
vida.
A atriz, produtora, roteirista e empreendedora
Adriana Ferreyr, 40, tomou a decisão de congelar seus óvulos aos 39 anos.
Atualmente ela não tem um parceiro, mas quer ter a opção de ter um filho
biológico se encontrar a pessoa certa no futuro. "Os homens têm essa
escolha, e as mulheres frequentemente sentem-se pressionadas a entrar em relacionamentos
apenas para evitar o relógio biológico", opina.
Ela não se arrepende do procedimento, mas gostaria
de ter tido a oportunidade de fazê-lo mais cedo. Quando congelou os seus
óvulos, com 39 anos de idade, as chances de sucesso eram muito menores do que
se tivesse congelado mais cedo.
"Por esse motivo, eu fiz o procedimento duas
vezes. Mas isso não garante o sucesso, apenas aumenta um pouco as minhas
chances por ter mais óvulos congelados. Eu gostaria muito de ter tido essas
informações quando era mais jovem. Com certeza teria congelado meus óvulos
quando estava na casa dos 20 anos", avalia.
• O
tempo como desvantagem
A preocupação da atriz é válida, uma vez que a
qualidade dos óvulos diminui com o passar do tempo. Portanto, quanto mais jovem
a mulher, melhor a qualidade. Após os 39 anos, a probabilidade de conceber uma
criança diminui consideravelmente.
Por exemplo, uma mulher com menos de 35 anos tem
uma chance de 49,6% de ter um filho através de fertilização in vitro (FIV),
enquanto uma mulher entre 38 e 40 anos tem uma chance de apenas 24,8%, e
aquelas com mais de 42 anos têm apenas 2,4%.
Portanto, congelar óvulos não garante que uma
mulher será capaz de ter filhos no futuro, mas oferece uma oportunidade. Muitas
mulheres, mesmo cientes do risco de que o processo pode não funcionar,
sentem-se satisfeitas com essa escolha, já que pelo menos têm a sensação de
terem feito o possível e mantém a esperança.
• Congelamento
de óvulos
De acordo com a especialista em reprodução humana
Dra. Maria do Carmo Borges de Souza, diretora-médica da Fertipraxis Centro de
Reprodução Humana, para realizar o congelamento de óvulos, de modo geral, é
preciso avaliar previamente a reserva ovariana.
"Ou seja, faz-se uma estimativa da quantidade
de óvulos existentes nos ovários num determinado momento da vida da mulher.
Esta avaliação se faz basicamente através de uma exame de sangue hormonal, o
Hormônio Anti Mulleriano (AMH) e uma contagem através da ultrassonografia
transvaginal dos pequenos folículos (bolinhas pretas entre 2 e 10mm) presentes
nos ovários nos primeiros 5 dias a partir de um fluxo menstrual. Esta avaliação
nos dá uma ideia do que podemos esperar, qual a melhor medicação a utilizar,
doses, etc" explica a médica.
A partir daí, com exames sorológicos exigidos para
a segurança da preservação, de hepatites, sífilis, HIV e outros, se procede a
uma estimulação dos ovários, para melhor aproveitamento dos folículos que se
apresentam a cada ciclo da mulher.
"São de modo geral de 8 a 10 dias de estímulo
do crescimento, com a definição do horário que vai ocorrer a ovulação ao final.
Isso possibilita o momento correto da aspiração dos folículos que cresceram,
através de um procedimento vaginal guiado pela ultrassonografia"., afirma.
Segundo ela, o momento do início se faz nos
primeiros dias da menstruação, mas podemos hoje fazê-lo a qualquer instante,
"quebrando" o momento fisiológico, como nos casos de urgência
oncológica - em que a paciente recebeu o diagnóstico de câncer.
• O
procedimento é válido para quem?
"Se formos pensar no ideal, vamos planejar
para as mulheres entre 30 e 35 anos, que estão trabalhando, estudando, buscando
outras prioridades, quando não tem ainda um parceiro com quem planejam formar
uma família, ou este projeto não está definido para ambos, nas homoafetivas,
para os homens trans. É o que chamamos de infertilidade social', diz Maria do
Carmo. Conforme a médica, a partir dos 35 anos, congelar é a escolha certa
quando o tempo está passando, o projeto parental não se define e a pressão
biológica se faz sobre a mulher.
A especialista em reprodução humana destaca que a
medicina não é uma ciência exata. Afinal, mesmo que grandes séries estatísticas
norteiam a conduta dos médicos, pessoas são pessoas, e cada indivíduo é
exatamente único. Portanto, cada projeto parental vai então, ao se realizar,
ter uma contribuição de outros 50% da história que virão do espermatozóide.
"Prefiro conversar e esclarecer que existem
muitos números e estatísticas sobre quantos óvulos seria necessário guardar e,
ao mesmo tempo, se não é bom ter alguns, melhor que nenhum", comenta
Maria.
• Até
quando é possível utilizar um óvulo congelado?
O Conselho Federal de Medicina orienta que a partir
de 50 anos da mulher é preciso ter um parecer clínico sobre suas condições de
saúde. Em um caso recente de gravidez tardia, uma mulher engravidou aos 60
anos. Esses casos mostram que pouco importa a idade, contanto que a gestante
esteja bem fisicamente e tenha patologias sob controle, que não representem risco para a própria saúde ao
conduzir uma gestação por 9 meses, além de não
sobrepor riscos ao bebê.
Quatro
fatos sobre o congelamento de óvulos
Entre o início e meados dos 30 anos de idade, o
relógio biológico de muitas mulheres começa a alarmar. Não é hora de ter
filhos? Por outro lado, seria o momento ideal para tal na minha carreira?
Continuarei a ter uma vida própria, com amigos e hobbies? Onde está o parceiro
ideal para ser o pai da criança? Talvez ainda não seja o momento certo...?
Apesar das dúvidas, o relógio biológico não para.
Confira quatro fatos sobre o congelamento de óvulos:
• 1.
Óvulos também envelhecem
A partir dos 35 anos, a fertilidade feminina
diminui devido ao processo natural de envelhecimento. Isso não significa que é
impossível engravidar naturalmente sem problemas nos anos seguintes. Mas a
probabilidade de que nem todos os óvulos sejam férteis aumenta
significativamente.
Isso ocorre porque as mulheres já nascem com toda a
sua reserva de óvulos. Após o nascimento, uma menina possui entre 1 e 2 milhões
de óvulos. Na puberdade, restam apenas cerca de 300 mil – muitos dos quais
nunca vão amadurecer e regridem.
Apenas cerca de 400 óvulos amadurecem durante os
anos férteis. Geralmente, um óvulo por ciclo pode ser fertilizado. No entanto,
quanto mais velha a mulher fica, mais propenso a erros se torna o processo de
maturação, a chamada meiose.
A meiose é o processo de divisão celular que
assegura que cada óvulo tenha exatamente 23 cromossomos, que transportam a
informação genética da mãe. Erros podem acontecer durante esse processo, e um
óvulo pode no fim acabar com cromossomos a mais ou a menos do que o esperado.
Isso dificulta a concepção, além de aumentar as taxas de abortos espontâneos.
• 2.
Congelamento de óvulos permite ganhar tempo
O processo de envelhecimento dos óvulos pode ser
paralisado se essas células forem retiradas da mulher e congeladas.
Originalmente, a chamada criopreservação de óvulos não fertilizados era
destinada a mulheres com doenças graves, como câncer. A técnica agora passou a
ser aplicada sem a necessidade médica.
Muitas mulheres esperam assim enganar o relógio
biológico e engravidar num momento posterior. O principal motivo que leva
mulheres a buscar essa técnica é a falta de um parceiro, escreveram as
ginecologistas Janna Pape e Sibil Tschudin num artigo publicado na revista
especializada Endocrinologia Ginecológica.
• 3.
Procedimento caro
Antes da retirada e congelamento dos óvulos, as
mulheres passam pelo chamado tratamento de estimulação ovariana, que consiste
na aplicação de injeções hormonais durante um determinado período para
estimular a maturação do maior número possível de óvulos nos ovários.
Esse tratamento pode ter efeitos colaterais, como
tonturas, ondas de calor e problemas de visão. Para o processo de congelamento,
geralmenze, são necessários de dois a quatro períodos de estimulação. De acordo
com Pape e Tschudin, no melhor dos cenários, cerca de 25 óvulos maduros são
coletados, mas o mais comum é entre dez e 15.
Os óvulos são coletados através da chamada punção
folicular. Nesse procedimento, os folículos que contêm os óvulos são perfurados
com uma agulha fina e o óvulo é aspirado. Esse procedimento é considerado de
baixo risco e demora entre dez e 15 minutos.
Logo após a retirada, os óvulos são congelados. A
uma temperatura de -197°C, eles podem ser armazenados por anos.
Na Alemanha, esse processo custa entre 2 mil e 4
mil euros (R$ 10 mil e R$ 21,3 mil). Além disso, há uma taxa anual de
congelamento que varia entre 200 e 300 euros (R$ 1 mil e R$ 1,5 mil). A
fertilização in vitro, ou seja, a inseminação artificial com um espermatozoide,
que se realizará posteriormente, tem um custo estimado em 2 mil euros (R$ 10
mil).
• 4.
Nenhuma garantia de gravidez futura
Apesar da complexidade e dos custos do
procedimento, o congelamento de óvulos não garante uma futura gravidez.
Após a fertilização dos óvulos congelados, a
maternidade é alcançada em cerca de 10% dos casos, segundo Pape e Tschudin.
Quando mais nova for a mulher na época da retirada dos óvulos, maiores as
chances de uma gravidez posterior.
A eficácia do congelamento dos óvulos sofre ainda
em outro aspecto: muitas mulheres acabam não utilizando os óvulos congelados.
De acordo com um estudo de 2017, isso ocorre principalmente porque elas não
encontraram um parceiro certo e têm receio de serem mães solteiras.
Fonte: Saúde em Dia/Deutsche Welle
Nenhum comentário:
Postar um comentário