domingo, 29 de outubro de 2023

Congelamento de óvulos: como e até quando usar um óvulo congelado?

Cada vez menos mulheres precisam se preocupar com o relógio biológico para se tornar mãe. Isso porque o congelamento de óvulos, que se tornou popular entre famosas como Grazi Massafera, Claudia Raia, Adriana Ferreyr e Paolla Oliveira, permite estender o tempo em que é possível gerar uma vida.

A atriz, produtora, roteirista e empreendedora Adriana Ferreyr, 40, tomou a decisão de congelar seus óvulos aos 39 anos. Atualmente ela não tem um parceiro, mas quer ter a opção de ter um filho biológico se encontrar a pessoa certa no futuro. "Os homens têm essa escolha, e as mulheres frequentemente sentem-se pressionadas a entrar em relacionamentos apenas para evitar o relógio biológico", opina.

Ela não se arrepende do procedimento, mas gostaria de ter tido a oportunidade de fazê-lo mais cedo. Quando congelou os seus óvulos, com 39 anos de idade, as chances de sucesso eram muito menores do que se tivesse congelado mais cedo.

"Por esse motivo, eu fiz o procedimento duas vezes. Mas isso não garante o sucesso, apenas aumenta um pouco as minhas chances por ter mais óvulos congelados. Eu gostaria muito de ter tido essas informações quando era mais jovem. Com certeza teria congelado meus óvulos quando estava na casa dos 20 anos", avalia.

•        O tempo como desvantagem

A preocupação da atriz é válida, uma vez que a qualidade dos óvulos diminui com o passar do tempo. Portanto, quanto mais jovem a mulher, melhor a qualidade. Após os 39 anos, a probabilidade de conceber uma criança diminui consideravelmente.

Por exemplo, uma mulher com menos de 35 anos tem uma chance de 49,6% de ter um filho através de fertilização in vitro (FIV), enquanto uma mulher entre 38 e 40 anos tem uma chance de apenas 24,8%, e aquelas com mais de 42 anos têm apenas 2,4%.

Portanto, congelar óvulos não garante que uma mulher será capaz de ter filhos no futuro, mas oferece uma oportunidade. Muitas mulheres, mesmo cientes do risco de que o processo pode não funcionar, sentem-se satisfeitas com essa escolha, já que pelo menos têm a sensação de terem feito o possível e mantém a esperança.

•        Congelamento de óvulos

De acordo com a especialista em reprodução humana Dra. Maria do Carmo Borges de Souza, diretora-médica da Fertipraxis Centro de Reprodução Humana, para realizar o congelamento de óvulos, de modo geral, é preciso avaliar previamente a reserva ovariana.

"Ou seja, faz-se uma estimativa da quantidade de óvulos existentes nos ovários num determinado momento da vida da mulher. Esta avaliação se faz basicamente através de uma exame de sangue hormonal, o Hormônio Anti Mulleriano (AMH) e uma contagem através da ultrassonografia transvaginal dos pequenos folículos (bolinhas pretas entre 2 e 10mm) presentes nos ovários nos primeiros 5 dias a partir de um fluxo menstrual. Esta avaliação nos dá uma ideia do que podemos esperar, qual a melhor medicação a utilizar, doses, etc" explica a médica.

A partir daí, com exames sorológicos exigidos para a segurança da preservação, de hepatites, sífilis, HIV e outros, se procede a uma estimulação dos ovários, para melhor aproveitamento dos folículos que se apresentam a cada ciclo da mulher.

"São de modo geral de 8 a 10 dias de estímulo do crescimento, com a definição do horário que vai ocorrer a ovulação ao final. Isso possibilita o momento correto da aspiração dos folículos que cresceram, através de um procedimento vaginal guiado pela ultrassonografia"., afirma.

Segundo ela, o momento do início se faz nos primeiros dias da menstruação, mas podemos hoje fazê-lo a qualquer instante, "quebrando" o momento fisiológico, como nos casos de urgência oncológica - em que a paciente recebeu o diagnóstico de câncer.

•        O procedimento é válido para quem?

"Se formos pensar no ideal, vamos planejar para as mulheres entre 30 e 35 anos, que estão trabalhando, estudando, buscando outras prioridades, quando não tem ainda um parceiro com quem planejam formar uma família, ou este projeto não está definido para ambos, nas homoafetivas, para os homens trans. É o que chamamos de infertilidade social', diz Maria do Carmo. Conforme a médica, a partir dos 35 anos, congelar é a escolha certa quando o tempo está passando, o projeto parental não se define e a pressão biológica se faz sobre a mulher.

A especialista em reprodução humana destaca que a medicina não é uma ciência exata. Afinal, mesmo que grandes séries estatísticas norteiam a conduta dos médicos, pessoas são pessoas, e cada indivíduo é exatamente único. Portanto, cada projeto parental vai então, ao se realizar, ter uma contribuição de outros 50% da história que virão do espermatozóide.

"Prefiro conversar e esclarecer que existem muitos números e estatísticas sobre quantos óvulos seria necessário guardar e, ao mesmo tempo, se não é bom ter alguns, melhor que nenhum", comenta Maria.

•        Até quando é possível utilizar um óvulo congelado?

O Conselho Federal de Medicina orienta que a partir de 50 anos da mulher é preciso ter um parecer clínico sobre suas condições de saúde. Em um caso recente de gravidez tardia, uma mulher engravidou aos 60 anos. Esses casos mostram que pouco importa a idade, contanto que a gestante esteja bem fisicamente e tenha patologias sob controle, que não  representem risco para a própria saúde ao conduzir uma gestação por 9 meses, além de não  sobrepor riscos ao bebê.

 

       Quatro fatos sobre o congelamento de óvulos

 

Entre o início e meados dos 30 anos de idade, o relógio biológico de muitas mulheres começa a alarmar. Não é hora de ter filhos? Por outro lado, seria o momento ideal para tal na minha carreira? Continuarei a ter uma vida própria, com amigos e hobbies? Onde está o parceiro ideal para ser o pai da criança? Talvez ainda não seja o momento certo...?

Apesar das dúvidas, o relógio biológico não para. Confira quatro fatos sobre o congelamento de óvulos:

•        1. Óvulos também envelhecem

A partir dos 35 anos, a fertilidade feminina diminui devido ao processo natural de envelhecimento. Isso não significa que é impossível engravidar naturalmente sem problemas nos anos seguintes. Mas a probabilidade de que nem todos os óvulos sejam férteis aumenta significativamente.

Isso ocorre porque as mulheres já nascem com toda a sua reserva de óvulos. Após o nascimento, uma menina possui entre 1 e 2 milhões de óvulos. Na puberdade, restam apenas cerca de 300 mil – muitos dos quais nunca vão amadurecer e regridem.

Apenas cerca de 400 óvulos amadurecem durante os anos férteis. Geralmente, um óvulo por ciclo pode ser fertilizado. No entanto, quanto mais velha a mulher fica, mais propenso a erros se torna o processo de maturação, a chamada meiose.

A meiose é o processo de divisão celular que assegura que cada óvulo tenha exatamente 23 cromossomos, que transportam a informação genética da mãe. Erros podem acontecer durante esse processo, e um óvulo pode no fim acabar com cromossomos a mais ou a menos do que o esperado. Isso dificulta a concepção, além de aumentar as taxas de abortos espontâneos.

•        2. Congelamento de óvulos permite ganhar tempo

O processo de envelhecimento dos óvulos pode ser paralisado se essas células forem retiradas da mulher e congeladas. Originalmente, a chamada criopreservação de óvulos não fertilizados era destinada a mulheres com doenças graves, como câncer. A técnica agora passou a ser aplicada sem a necessidade médica.

Muitas mulheres esperam assim enganar o relógio biológico e engravidar num momento posterior. O principal motivo que leva mulheres a buscar essa técnica é a falta de um parceiro, escreveram as ginecologistas Janna Pape e Sibil Tschudin num artigo publicado na revista especializada Endocrinologia Ginecológica.

•        3. Procedimento caro

Antes da retirada e congelamento dos óvulos, as mulheres passam pelo chamado tratamento de estimulação ovariana, que consiste na aplicação de injeções hormonais durante um determinado período para estimular a maturação do maior número possível de óvulos nos ovários.

Esse tratamento pode ter efeitos colaterais, como tonturas, ondas de calor e problemas de visão. Para o processo de congelamento, geralmenze, são necessários de dois a quatro períodos de estimulação. De acordo com Pape e Tschudin, no melhor dos cenários, cerca de 25 óvulos maduros são coletados, mas o mais comum é entre dez e 15.

Os óvulos são coletados através da chamada punção folicular. Nesse procedimento, os folículos que contêm os óvulos são perfurados com uma agulha fina e o óvulo é aspirado. Esse procedimento é considerado de baixo risco e demora entre dez e 15 minutos.

Logo após a retirada, os óvulos são congelados. A uma temperatura de -197°C, eles podem ser armazenados por anos.

Na Alemanha, esse processo custa entre 2 mil e 4 mil euros (R$ 10 mil e R$ 21,3 mil). Além disso, há uma taxa anual de congelamento que varia entre 200 e 300 euros (R$ 1 mil e R$ 1,5 mil). A fertilização in vitro, ou seja, a inseminação artificial com um espermatozoide, que se realizará posteriormente, tem um custo estimado em 2 mil euros (R$ 10 mil).

•        4. Nenhuma garantia de gravidez futura

Apesar da complexidade e dos custos do procedimento, o congelamento de óvulos não garante uma futura gravidez.

Após a fertilização dos óvulos congelados, a maternidade é alcançada em cerca de 10% dos casos, segundo Pape e Tschudin. Quando mais nova for a mulher na época da retirada dos óvulos, maiores as chances de uma gravidez posterior.

A eficácia do congelamento dos óvulos sofre ainda em outro aspecto: muitas mulheres acabam não utilizando os óvulos congelados. De acordo com um estudo de 2017, isso ocorre principalmente porque elas não encontraram um parceiro certo e têm receio de serem mães solteiras.

 

Fonte: Saúde em Dia/Deutsche Welle

 

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