Problemas
na tireoide podem acontecer sem sintomas; entenda
Imagina realizar um
exame de rotina e descobrir que está com problemas na tireoide, mesmo se
sentindo bem e sem sintomas aparentes. Isso acontece nas chamadas disfunções subclínicas da tireoide, caracterizadas pelo desequilíbrio nos níveis dos hormônios
produzidos pela glândula.
“As disfunções subclínicas da tireoide
referem-se a condições em que há um ligeiro desequilíbrio nos níveis dos
hormônios tireoidianos ou do hormônio estimulante da tireoide (TSH), que é o
hormônio produzido na hipófise que regula a tireoide. Essas disfunções são
detectáveis em exames laboratoriais, mas sem sintomas clínicos evidentes ou
característicos”, explica Erivelto Volpi, médico-cirurgião de cabeça e pescoço
e especialista em doenças da tireoide e paratireoide.
A tireoide é
responsável por produzir hormônios que regulam o metabolismo do corpo, como a
triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4).
“O T3 e o T4 aumentam a
taxa metabólica basal, influenciando a velocidade com que o corpo utiliza
energia e consome oxigênio; no crescimento e desenvolvimento, pois eles são
essenciais no sistema nervoso central em crianças; na regulação da temperatura
corporal, pois aumentam a produção de calor no organismo e ajudam a manter a
temperatura corporal estável; na regulação do ritmo circadiano, influenciando a
frequência e a força das contrações cardíacas; e na manutenção de outras
funções corporais, pois afetam digestão, saúde muscular, função reprodutiva e
manutenção da pele e cabelos entre tantas outras funções”, explica o especialista.
Diante disso,
desequilíbrios nos níveis desse hormônio podem levar a complicações de saúde,
quando não detectados precocemente, como problemas cardiovasculares, alterações no metabolismo e no peso, mudanças de humor, entre
outras.
Quais são os tipos de
disfunções subclínicas da tireoide?
<<<< De
acordo com Volpi, existem dois principais tipos de disfunções subclínicas da
tireoide:
- Hipotireoidismo subclínico: caracterizado por níveis elevados de TSH, enquanto os níveis
de T3 e T4 permanecem dentro da faixa normal;
- Hipertireoidismo subclínico: ocorre quando os níveis de TSH são inferiores ao normal, mas
os níveis de T3 e T4 estão na faixa de normalidade.
“O hipotireoidismo
subclínico pode indicar que a tireoide está começando a ter dificuldade em
produzir hormônios adequadamente, enquanto o hipertireoidismo subclínico pode
indicar que a tireoide está produzindo hormônios em excesso, mesmo que os
níveis dos hormônios tireoidianos não sejam elevados o suficiente para causar
sintomas”, afirma o especialista.
Geralmente, essas
condições não apresentam sintomas evidentes. No entanto, algumas pessoas podem
ter sintomas leves e que não necessariamente estão associados à tireoide, como
fadiga, mudanças de humor ou leve alteração no peso.
“Esses sintomas podem
ser bastante sutis e, muitas vezes, não são diretamente atribuídos à tireoide
sem confirmação laboratorial. Devido à possibilidade de evolução para uma
disfunção tireoidiana mais significativa ou pelo impacto em outras condições de
saúde, é importante realizar o acompanhamento regular com um profissional de
saúde se uma disfunção subclínica for identificada”, ressalta Volpi.
<><> Quais
complicações as disfunções subclínicas da tireoide podem causar?
O principal risco que as
disfunções subclínicas da tireoide apresentam é a progressão para uma doença
tireoidiana clínica. “Essas disfunções podem evoluir para hipotireoidismo ou
hipertireoidismo clínico, que apresentam sintomas mais evidentes e requerem
tratamento”, afirma o especialista.
Além disso, as condições
podem levar às seguintes complicações:
- Problemas cardiovasculares: o hipotireoidismo subclínico pode estar associado a um
aumento do colesterol LDL e hipertensão,
elevando o risco de doenças cardíacas;
- Alterações no metabolismo e no peso: contribuindo potencialmente para o ganho ou a perda de peso
não intencional, causando problemas relacionados a estas variações;
- Impacto na saúde mental: pode haver uma relação entre disfunções tireoidianas e
alterações de humor, ansiedade e depressão, mesmo em estágios subclínicos;
- Complicações na gravidez: uma vez que mulheres grávidas com disfunções tireoidianas
subclínicas podem enfrentar complicações como pré-eclâmpsia, parto
prematuro ou problemas no crescimento fetal;
- Impacto em condições crônicas, como diabetes e patologias relacionadas à saúde
cardiovascular.
<><> Como é
feito o tratamento?
O tratamento das
disfunções subclínicas da tireoide varia de acordo com o tipo de disfunção, dos
níveis hormonais, da presença de sintomas e do risco de complicações, de acordo
com Volpi.
“No caso do
hipotireoidismo subclínico, especialmente quando os níveis de TSH são apenas
levemente elevados e não há sintomas, o médico pode optar por um acompanhamento
periódico sem intervenção imediata”, explica. “Se os níveis de TSH forem
significativamente elevados, ou se houver sintomas associados, pode ser
recomendado o uso de hormônios tireoidianos sintéticos, como a levotiroxina
(T4). A dose é ajustada com base nos níveis de TSH e outros hormônios
tireoidianos”, completa.
Já no caso do
hipertireoidismo subclínico, pessoas que não apresentam sintomas podem ser
monitoradas sem tratamento por um período. “Mas, se houver sintomas ou
complicações, o tratamento pode incluir medicações antitireoidianas, que
reduzem a produção de hormônios tireoidianos, terapia com iodo radioativo, que
destrói parte do tecido da tireoide, e cirurgia (em casos mais raros e
específicos)”, afirma.
<><> É
possível prevenir?
Não é possível prevenir
as disfunções tireoidianas subclínicas, de acordo com Volpi. No entanto,
algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco ou atrasar o desenvolvimento,
como:
- Fazer a
ingestão adequada de nutrientes, como o iodo, essencial para a produção de
hormônios tireoidianos, e o selênio, que desempenha um papel na função da
tireoide e na conversão do T4 em T3 e está presente nas castanhas;
- Manter
uma alimentação saudável, rica em frutas, vegetais, proteínas magras e
grãos integrais;
- Evitar
exposição a toxinas potencialmente prejudiciais, como pesticidas e
compostos químicos industriais;
- Manter
atividade física regular;
- Gerenciar
o estresse;
- Realizar
o acompanhamento regular com médicos especialistas, principalmente para
quem tem histórico familiar de doenças tireoidianas ou condições
autoimunes.
¨ Conheça
as substâncias químicas que estão desregulando seus hormônios
Uma classe de
substâncias químicas –– provavelmente presentes em produtos em muitas residências
–– pode estar afetando sua saúde hormonal. A questão é: quão preocupadas as
pessoas deveriam estar com esses materiais que atuam disruptores endócrinos
(EDCs, na sigla em inglês), como ftalatos, BPA ou bisfenol A, e retardantes de
chama bromados?
A literatura científica
sobre EDCs ainda está em desenvolvimento, mas associações têm sido sugeridas
entre a exposição e problemas de saúde, incluindo desenvolvimento cerebral,
fertilidade e puberdade, disse o Dr. Michael Bloom, professor de saúde global e
comunitária na Faculdade de Saúde Pública da Universidade George Mason em
Fairfax, no estado norte-americano da Virgínia.
E embora ainda existam
muitas questões que os pesquisadores querem explorar sobre os EDCs,
organizações como o Environmental Working Group, uma organização sem fins
lucrativos que pesquisa e defende produtos mais seguros, estão incentivando as
pessoas a tomar medidas para evitar a exposição.
Os químicos disruptores
endócrinos afetam os hormônios, que são substâncias que desempenham o importante papel de carregar
mensagens por todo o corpo para coordenar diferentes funções em órgãos, pele,
músculos e outros tecidos, conforme a Cleveland Clinic.
Os químicos disruptores
endócrinos não são produzidos pelo corpo humano, mas influenciam a maneira como
seus hormônios funcionam, disse Bloom. Os hormônios são essenciais para muitos
processos biológicos no corpo, como puberdade, reprodução e desenvolvimento
cerebral.
Alguns desses químicos
podem imitar os hormônios que seu corpo produz, como estrogênio ou
testosterona. Outros EDCs afetam a síntese hormonal, fazendo com que o corpo
produza mais ou menos de um hormônio, ou alterando como ele é decomposto,
acrescentou.
Os ftalatos, por
exemplo, são químicos sintéticos que os fabricantes frequentemente usam em
centenas de produtos, como recipientes para alimentos e bebidas e filme
plástico. Esses EDCs interferem na produção de testosterona, de acordo com a
Sociedade de Endocrinologia.
Os retardantes de chama
bromados são usados em eletrônicos, roupas e móveis, e estão associados à
função anormal da tireoide, que tem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, disse a
sociedade.
“Os químicos disruptores
endócrinos afetam de alguma forma a comunicação hormonal”, disse Bloom. “E a
comunicação hormonal é uma via crítica pela qual nosso cérebro se comunica com
os tecidos, e os tecidos se comunicam entre si, e o funcionamento diário que
nos mantém vivendo, esperamos que com alta eficiência.”
A exposição crônica a
uma substância que bloqueia ou altera a atividade hormonal pode ter
consequências sérias, acrescentou Alexa Friedman, cientista sênior da equipe de
vida saudável do Environmental Working Group.
“Qualquer coisa que
afete seus hormônios é muito provável que afete outros resultados de saúde”,
disse ela.
A crescente literatura
científica sugere que os disruptores endócrinos podem desempenhar um papel em
condições como transtorno de déficit de atenção e transtornos de controle de
impulsos, acrescentou Bloom.
“Os hormônios
desempenham um papel enorme no desenvolvimento do cérebro e no funcionamento
normal do cérebro, então ser exposto a esses EDCs no início da vida pode
alterar seu desenvolvimento”, disse Friedman.
Esses químicos também
podem estar ligados à tendência de puberdade precoce em meninas, que “está
associada a um risco aumentado de problemas psicossociais, obesidade, diabetes, doenças
cardiovasculares e câncer de
mama“, disse a Dra. Natalie Shaw, chefe do Grupo de
Neuroendocrinologia Pediátrica no Instituto Nacional de Ciências da Saúde
Ambiental.
Estudos também mostraram
preocupações em torno da sensibilidade à insulina e diabetes, obesidade e
fertilidade, disse Bloom.
O problema em aprofundar
a pesquisa investigativa é que é difícil estudar os EDCs e seus impactos
prejudiciais no corpo humano, acrescentou. A maior parte das evidências vem do
uso de modelos celulares, nos quais tecidos ou células em uma placa são
expostos a altas concentrações dos químicos –– mais altas do que a maioria das
pessoas jamais entraria em contato naturalmente, disse Bloom.
Para entender o que um
nível de exposição mais “biologicamente realista” faria, os pesquisadores podem
analisar amostras de urina, checar se há presença de EDCs e comparar os níveis
com diferentes marcadores de saúde, disse ele.
Mas a literatura
científica atual é controversa, conforme apontou Bloom. Alguns estudos dizem
que sim, a exposição a EDCs é um fator de risco significativo para piores
resultados de saúde, enquanto outros relatórios contradizem isso.
“Estamos em uma posição
em que é como, “é melhor prevenir do que remediar?””, acrescentou.
Pesquisadores, órgãos
reguladores e indivíduos estão lutando para decidir se vale a pena fazer
mudanças agora, caso a pesquisa mostre que é necessário eliminar os EDCs, ou
esperar para evitar o custo e o esforço que vêm com a substituição de produtos
para aqueles que têm menor risco de exposição aos químicos, disse Bloom.
Pode ser desafiador
eliminar totalmente a exposição a disruptores endócrinos, disse Friedman.
“O maior problema com os
EDCs é que eles são tão onipresentes no ambiente e em tudo o que usamos”,
acrescentou.
Produtos para cuidados
com a pele e produtos de cuidados pessoais são fontes de exposição tanto para
crianças quanto para adultos, tanto na composição química dos próprios produtos
quanto na embalagem plástica em que estão, disse Bloom. Pesticidas usados na
agricultura e encontrados em produtos agrícolas podem ter disruptores
endócrinos, e a água subterrânea também pode estar contaminada, acrescentou
Friedman.
A CNN entrou em contato com a Associação
Nacional de Manejo de Pragas e o Conselho de Produtos de Cuidados Pessoais dos
Estados Unidos para comentários.
“Acredite ou não,
concentrações bastante significativas são encontradas na poeira doméstica”,
acrescentou Bloom. A presença na poeira é especialmente preocupante quando se
trata de bebês e crianças pequenas que passam muito tempo perto do chão, disse
ele.
Muitas pessoas de cor
são expostas a níveis mais altos de disruptores endócrinos, disse Bloom. Alguns
pesquisadores especularam que isso ocorre porque os produtos comercializados
para eles, incluindo produtos para cuidados com os cabelos, têm concentrações
mais altas, disse Bloom.
“Alguém que está
seguindo sua rotina regular usando seus produtos de cuidados pessoais
favoritos, bebendo água da torneira, comendo produtos agrícolas — pode estar
exposto a níveis realmente, realmente pequenos de EDCs de muitas maneiras
diferentes que se acumulam ao longo da vida”, disse Friedman.
Pode ser difícil dizer
quais produtos podem expô-lo a mais disruptores endócrinos apenas olhando o
rótulo, disse Bloom. Os componentes de muitos produtos são proprietários, o que
significa que são protegidos pela propriedade da empresa, então nem sempre são
claramente rotulados, acrescentou.
“Não há requisitos
claros de rotulagem, e a indústria pode mudar o que usa ao longo do tempo”,
disse Bloom. Isso significa que um produto testado há dois anos pode ser
fabricado de maneira diferente agora e introduzir níveis diferentes de exposição,
acrescentou.
“Investigadores
científicos, cientistas de saúde ambiental, estão constantemente tentando
acompanhar os produtos usados pela indústria”, disse Bloom.
Há medidas que as
agências governamentais estão tomando para ajudar a proteger os consumidores e
mais pesquisas ainda sendo feitas, de acordo com uma declaração por e-mail da
Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
“A EPA tomou medidas
para regular esses químicos no ambiente e fornece escrutínio adicional para
químicos, incluindo pesticidas, por meio do Programa de Triagem de Disruptores
Endócrinos”, dizia a declaração.
A prevalência de EDCs e
a falta de clareza na rotulagem não significam que não há nada que você possa
fazer, no entanto.
Friedman recomenda
encontrar mudanças gerenciáveis que você possa fazer que ainda se encaixem em
seu orçamento, prioridades e estilo de vida. Substituir gradualmente produtos
de cuidados pessoais um de cada vez à medida que você usa produtos individuais
é um ótimo lugar para começar, disse ela. Filtrar os EDCs do abastecimento de
água também é uma maneira gerenciável de começar, acrescentou.
Não se trata de mudar
tudo –– Friedman tem cabelos cacheados, então ela mantém o mesmo shampoo e
condicionador, mas encontra produtos que ela não se importaria em trocar e faz
mudanças lá, disse ela.
O EWG também tem um
banco de dados de água da torneira para que as pessoas possam pesquisar a
qualidade da água potável por CEP e usar um guia de filtração de água para
escolher um sistema adequado para elas.
“Pode não ser tão fácil
(para as pessoas) mudar onde moram, talvez até mesmo sua água –– esse tipo de
fontes ambientais que são apenas parte de sua vida: o ar que você respira, as
coisas a que você está exposto no trabalho, etc.”, disse ela. “Mas produtos de
cuidados pessoais são uma coisa em que acho que as pessoas têm muita autonomia
e no que estão comprando dentro do razoável.”
Fonte: CNN Brasil
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