Carnes
processadas elevam risco de hipertensão, mostra estudo brasileiro
O consumo moderado das
chamadas carnes processadas é suficiente para aumentar o risco de hipertensão
arterial, segundo estudo publicado no periódico científico Nutrition. Entre os
integrantes desse grupo estão linguiça, salsicha, mortadela, presunto,
hambúrguer, copa, salame, bacon e, inclusive, itens considerados “inofensivos”,
caso do blanquet e do peito de peru.
Para estabelecer a
relação, o estudo utilizou
dados vindos do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), pesquisa
que acompanha, desde 2008, mais de 15 mil servidores públicos e aposentados de
universidades e instituições localizadas nos estados da Bahia, Espírito Santo,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.
Além de informações –
obtidas por meio de questionários – sobre estilo de vida, com destaque para
hábitos alimentares, foram esmiuçados dados de exames clínicos, como a medida
da pressão arterial, e análises de níveis de colesterol, potássio e sódio, por exemplo.
Entre os grandes
consumidores de carnes processadas, observou-se uma maior incidência de hipertensão arterial. “Também
avaliamos a ingestão de carnes vermelhas, mas não encontramos essa relação”,
comenta a autora do estudo, a enfermeira Michelle Izabel Ferreira Mendes,
da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Segundo Maria del Carmen
Bisi Molina, nutricionista e orientadora do trabalho, trata-se do primeiro
estudo longitudinal – que usa dados de indivíduos seguidos por longos períodos
– a investigar tal associação no país. “As descobertas reforçam o papel da
dieta na prevenção de doenças”, afirma Molina.
Sobre os mecanismos por
trás do elo, a principal hipótese é a alta concentração de sódio encontrada
nesses alimentos. Apesar de desempenhar funções essenciais, inclusive ao
sistema nervoso, extrapolar a quantia desse mineral favorece a retenção de água
e, quanto maior o volume líquido na corrente sanguínea, maior a probabilidade
de a pressão arterial subir.
“E há indícios de que a
ingestão crônica e excessiva favorece a disfunção endotelial”, relata Mendes. A
pesquisadora refere-se ao revestimento celular envolvido na dilatação e
relaxamento das artérias. Não bastasse o acúmulo de sódio, as carnes processadas
costumam carregar gordura saturada, mais um nutriente que, em excesso, pode
causar danos cardiovasculares.
Saindo das questões do
coração, vale mencionar que o exagero, especialmente de embutidos – salsichas,
linguiças, salames – está associado ao aumento no risco de câncer. “Existem
evidências bem consolidadas, sobretudo em relação aos tumores de intestino”,
avisa a nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e
Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.
Por tudo isso, não há
recomendação de consumo segura. “A sugestão é degustar em eventos esporádicos,
seja um pedaço de linguiça no churrasco ou um cachorro-quente na festa de
aniversário”, exemplifica Molina.
Mas a população
brasileira é bastante fã desses alimentos e, segundo as especialistas,
pesquisas mostram um crescimento na ingestão desses produtos, até pela questão
do preço, que tende a ser mais baixo.
<><> Os
aliados cardiovasculares
Voltando às artérias,
além de evitar as carnes processadas, algumas estratégias alimentares são
bem-vindas para combater a hipertensão e todos os prejuízos atrelados.
A nutricionista do
Einstein aponta alguns nutrientes-chave, que se destacam em estudos. “O
potássio ajuda no equilíbrio de níveis de sódio no organismo e promove a
dilatação dos vasos sanguíneos”, explica. Banana, abacate e batata são fontes.
Magnésio e cálcio também são minerais envolvidos na regulação da pressão, e as
castanhas, feijões, verduras, leite e seus derivados oferecem a dupla.
“A literatura científica
aponta ainda a atuação dos antioxidantes”, lembra Modenezi. Compostos
fenólicos, carotenoides, entre outras famílias de substâncias, presentes em
frutas, verduras e legumes, aparecem em artigos pelo papel em prol das
artérias. Fibras reforçam a proteção, isso porque existem evidências de que
zelar pela microbiota intestinal afasta inflamações, feito essencial para a
saúde cardiovascular.
É possível juntar todos
esses ingredientes protetores em algumas dietas. Saiba mais sobre algumas
delas:
<><> DASH
Trata-se da sigla para
Dietary Approaches to Stop Hypertension ou Dieta para Combater a Hipertensão,
em bom português. O plano alimentar foi desenvolvido por cientistas dos Estados
Unidos há mais de duas décadas, justamente para ajudar no controle da pressão
arterial.
Frutas e hortaliças têm
lugar garantido. Grãos e cereais, nas versões integrais, além de oleaginosas,
ou seja, castanhas e afins, bem como sementes, e a turma das leguminosas
(feijões, ervilha, grão-de-bico) marcam presença. Há ainda espaço para queijos,
iogurtes e leite, preferencialmente desnatados.
Na DASH, recomenda-se
redobrar o cuidado com o sal, tanto o vindo de produtos industrializados quanto
o que é colocado no preparo da comida. Uma sugestão saborosa é incrementar as
receitas com ervas e especiarias.
<><> Dieta mediterrânea
Aqui também há espaço
privilegiado para vegetais em
todas as formas. E, claro, um dos destaques é o azeite de oliva, cuja
formulação acumula substâncias protetoras.
Mas não é preciso buscar
opções estrangeiras para compor o prato. Afinal, dispomos de uma grande
diversidade de frutos, verduras e legumes.
Vale ressaltar que a
dieta vai muito além do cardápio: inclui atividade física ao ar livre, descanso
e o controle do estresse.
<><> Para
ter à mão
Além do aclamado Guia
Alimentar para a População Brasileira, o Ministério da Saúde desenvolveu uma
cartilha que traz informações sobre alimentação cardioprotetora, baseada nas
cores da bandeira do Brasil. Os itens do grupo verde são aqueles que podemos
consumir em maior quantidade. “Entram frutas, hortaliças, leguminosas e lácteos
desnatados”, diz Giuliana Modenezi, do Einstein.
Já no grupo amarelo, que
pede moderação, estão pães, macarrão e doces caseiros. No azul, a recomendação
é para ainda mais parcimônia: vale para queijos amarelos, farinhas, ovos, entre
outros.
Há também a cor
vermelha, que não consta na bandeira, e refere-se ao que deve ser evitado. “Aqui
são os alimentos ultraprocessados”, avisa Modenezi. Salgadinhos, comida
congelada pronta (lasanha, pizza etc.) e biscoitos recheados são exemplos.
Aliás, manter distância de produtos desse tipo protege não só as artérias, mas
todo o organismo.
¨ Ultraprocessados
podem dificultar luta do corpo contra células de câncer
De acordo com um novo
estudo, os alimentos que você consome
podem estar afetando a capacidade do seu corpo de combater células de
câncer no cólon. O possível culpado: um excesso de
certos ácidos graxos ômega-6 — talvez de alimentos ultraprocessados em sua
dieta — que pode prejudicar as propriedades anti-inflamatórias e antitumorais
de outro ácido graxo essencial, o ômega-3.
“Existem mutações todos os dias no trato
gastrointestinal e, normalmente, elas são eliminadas imediatamente pelo sistema
imunológico com a ajuda de moléculas ou mediadores dos ômega-3”, disse o
Timothy Yeatman, coautor sênior do estudo publicado na terça-feira (10) na revista
Gut, da Sociedade Britânica de Gastroenterologia.
“Mas se você tem um
corpo submetido há anos em um ambiente inflamatório crônico criado por um
desequilíbrio de ômega-6, o tipo comumente encontrado em alimentos ultraprocessados
e junk food, acredito que é mais fácil uma mutação se estabelecer e mais
difícil para o corpo combatê-la”, disse Yeatman, oncologista cirúrgico e
professor da Universidade do Sul da Flórida e do Instituto do Câncer do
Hospital Geral de Tampa.
Especialistas afirmam
que a dieta ocidental é frequentemente rica em ácidos graxos ômega-6, devido
aos óleos de sementes amplamente disponíveis, frequentemente usados para fritar
fast foods e fabricar alimentos ultraprocessados, que agora compõem cerca de
70% do suprimento alimentar dos EUA.
Muitas pessoas têm
um desequilíbrio significativo de ômega-6 para ômega-3 em seus corpos — um estudo de novembro de
2015 descobriu que os níveis de ácido linoleico aumentaram 136% no tecido
adiposo dos norte-americanos durante o último meio século.
“É precipitado dizer que os ômega-6 dos
alimentos ultraprocessados são a causa. Os norte-americanos têm poucos ômega-3
porque não gostam de peixes gordurosos como cavala, arenque e sardinha, que são
ótimas fontes”, disse o Bill Harris, professor de medicina interna da Escola de
Medicina Sanford da Universidade de Dakota do Sul, que não participou da nova
pesquisa.
“Não culpe os ômega-6,
não é culpa deles — é a falta de ácidos graxos ômega-3 que é o problema”, disse
Harris, que também é presidente e fundador do Instituto de Pesquisa de Ácidos
Graxos sem fins lucrativos em Sioux Falls, Dakota do Sul.
Tanto os ácidos graxos
poli-insaturados ômega-3, quanto os ômega-6, são essenciais para a saúde
humana. No entanto, seu corpo não pode produzi-los sozinho e deve criá-los a
partir dos alimentos que você consome.
<><> O que
são os ácidos graxos essenciais?
Os ômega-3 — encontrados
em grandes quantidades em peixes gordurosos como salmão, bem como em sementes
de linhaça e chia, nozes-pecã, nozes e pinhões — mantêm as células do seu
corpo, fornecem energia, mantêm a defesa imunológica e reduzem a inflamação
quando em níveis ideais (como a maioria das coisas, ômega-3 em excesso pode ser
prejudicial).
Os ômega-6 também são
necessários para manter uma boa saúde. Essas moléculas estimulam o crescimento
do cabelo e da pele, regulam o metabolismo, aumentam a saúde óssea e, em alguns
casos, podem até ser anti-inflamatórias. No entanto, os ômega-6 também são
convertíveis em moléculas como prostaglandinas que sinalizam o início da
inflamação — não é algo ruim quando seu corpo está tentando repelir rapidamente
um invasor ou tumor, mas devastador se deixado latente por longos períodos sem
resolução.
O câncer colorretal era
tradicionalmente uma doença dos idosos, mas não mais. O câncer do reto e do
intestino grosso está em uma marcha mortal entre pessoas com apenas 20 anos,
com casos diagnosticados continuando a aumentar entre aqueles com menos de 50
anos em todo o mundo.
<><> Uma
tendência perigosa
Os millennials, que
nasceram entre 1981 e 1996, têm o dobro do risco de câncer colorretal em
comparação com aqueles nascidos em 1950, de acordo com um estudo de fevereiro
de 2017. Para homens mais jovens, este tipo de câncer é o mais mortal; para
mulheres mais jovens, o câncer colorretal vem em terceiro lugar, depois do
câncer de mama e de pulmão, afirma o Instituto Nacional do Câncer dos Estados
Unidos em seu site.
“Casos de câncer em
pessoas mais jovens estão aumentando drasticamente. Aqui estão algumas medidas
preventivas a serem tomadas. Os especialistas não têm certeza absoluta sobre o
que está por trás do aumento do risco: a genética tem um papel importante, mas
a doença está aparecendo em pacientes mais jovens sem histórico familiar”,
disse a gastroenterologista Robin Mendelsohn à CNN em uma
entrevista anterior.
O aumento da obesidade
pode explicar o crescimento, mas alguns pacientes jovens são vegetarianos e
fanáticos por exercícios, disse Mendelsohn, codiretora do Centro para Câncer
Colorretal e Gastrointestinal de Início Precoce no Memorial Sloan Kettering
Cancer Center em Nova York.
<><> Resolver
a inflamação para que o corpo possa se curar
Evidências crescentes,
no entanto, mostram uma ligação entre uma dieta pouco saudável rica em
alimentos ultraprocessados, carne vermelha e carnes processadas como presunto,
bacon, linguiça, cachorro-quente e frios — assim como a falta de frutas e
vegetais frescos — ao câncer colorretal de início precoce, segundo o Instituto
Nacional do Câncer.
No novo estudo,
pesquisadores utilizaram tecido de câncer colorretal coletado de 80 pacientes
nos EUA e compararam o tumor com tecido normal do cólon retirado do mesmo
paciente. O objetivo: identificar mediadores pró-resolução especializados,
produzidos pelo corpo a partir de ácidos graxos ômega-3, incluindo ácido
eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA), durante a fase de
resolução da inflamação aguda.
Estes mediadores
pró-resolução especializados incluem resolvinas, lipoxinas, protectinas e
maresinas, que têm potentes efeitos anti-inflamatórios que ajudam os tecidos
inflamados a retornarem ao normal uma vez que a necessidade de uma resposta
inflamatória termina.
“Existem dois
componentes para a cura de lesões ou infecções”, disse Yeatman. “Primeiro, o
sistema imunológico combate a infecção com inflamação, como febre, e depois
resolve essa inflamação com mediadores pró-resolução especializados criados a
partir de derivados de ômega-3.”
No entanto, os
mediadores de ômega-3 só entram em ação quando o corpo está combatendo a inflamação
e, portanto, são frequentemente difíceis de detectar durante o início da
inflamação, disse o coautor do estudo Ganesh Halade, professor associado de
medicina interna da Universidade do Sul da Flórida.
Para superar esse
obstáculo, Halade disse que usou uma técnica analítica altamente sensível para
identificar quantidades traço de diferentes mediadores do ômega-3 nas amostras
de tumor canceroso, enquanto também media os níveis de ômega-6.
“Este é o primeiro
estudo a ver de maneira abrangente como as moléculas provenientes do ômega-3 e
ômega-6 se comportam no tumor canceroso e no tecido normal de controle do mesmo
paciente”, disse Halade.
“Descobrimos que o
tecido de controle tem um equilíbrio perfeitamente adequado de moléculas de
ômega-6 e ômega-3”, disse ele. “No entanto, encontramos um tremendo
desequilíbrio no microambiente do tumor — as gorduras ômega-6 provenientes de
alimentos ultraprocessados estavam produzindo mais moléculas pró-inflamatórias
dentro do tumor canceroso, mas não no tecido de controle”.
Em resumo: sem ômega-3
suficiente disponível para ajudar a controlar a reação inflamatória criada pela
resposta do corpo ao câncer, a inflamação continua a se intensificar,
danificando ainda mais o DNA das células e prolongando um ambiente propício ao
crescimento do câncer.
“Os pesquisadores estão
basicamente dizendo que há tanto ômega-6 ao redor que dá ao tumor canceroso a
chance de simplesmente disparar, e eu acho que isso provavelmente está
correto”, disse o químico analítico Tom Brenna, professor de pediatria da Dell
Medical School da Universidade do Texas em Austin, que não esteve envolvido no
novo estudo.
“À medida que o ácido
linoleico aumenta no corpo, ele diminui a quantidade de dois ômega-3s, EPA e
DHA, no tecido do corpo”, disse Brenna. “E os norte-americanos já não consomem
ômega-3 suficiente, então a implicação do estudo é que se uma pessoa tem muito
ômega-6, eles provavelmente precisam aumentar seu ômega-3 para contrabalançar
esse impacto”.
<><> Aumentando
o ômega-3 na sua dieta
Tente obter o máximo de
ômega-3 possível de sua dieta, dizem os especialistas. Os ômega-3s EPA e DHA
são encontrados em peixes gordurosos como anchova, salmão, cavala, arenque,
sardinha, robalo, atum azul e truta. Ostras e mexilhões também são boas fontes,
segundo a Associação Americana do Coração (AHA).
Coma duas porções por
semana de aproximadamente 85 gramas, ou cerca de ¾ de xícara, de peixe em
lascas, recomenda a AHA. Alguns tipos de peixes, geralmente espécies maiores
como o atum, contêm níveis mais elevados de mercúrio ou outros contaminantes
ambientais, portanto, certifique-se de variar os tipos de frutos-do-mar que
você consome para reduzir o risco.
Outro importante
ômega-3, o ácido alfa-linolênico ou ALA, é encontrado em sementes como nozes,
sementes de linhaça e sementes de chia — sendo que a linhaça moída e o óleo de
linhaça fornecem as maiores quantidades, segundo o site da Escola de Medicina
de Harvard.
Tente polvilhar linhaça
moída ou sementes de chia em granola e iogurte, e consuma pequenas quantidades
de nozes durante o dia. Um suplemento de óleo de peixe de boa qualidade também
pode ajudar.
Pode haver efeitos
colaterais da suplementação, como mau hálito, suor com odor desagradável e
dores de cabeça, além de problemas digestivos como azia, náusea ou diarreia,
afirma o site de Harvard.
Como os ômega-3s têm
efeitos anticoagulantes, os especialistas dizem ser melhor consultar seu médico
antes de começar a tomar ômega-3s (ou qualquer suplemento). Os limites
sugeridos para vários ômega-3s variam conforme a idade e as condições de saúde
— outro bom motivo para consultar seu médico.
Fonte: CNN Brasil
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