Esquecimento
ou sinal de Alzheimer? Entenda as diferenças
É comum pensar que,
mediante a recorrentes queixas sobre falhas de memória, o breve
esquecimento seja sinal para a doença de Alzheimer. No
entanto, nem sempre o lapso mental
significa um alerta ao diagnóstico.
Resumidamente, o Alzheimer trata-se
de uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta o cérebro,
comprometendo funções cognitivas, como memória, linguagem, raciocínio e
comportamento.
“É a causa mais comum de demência em idosos e,
até o momento, acredita-se ser causada pelo acúmulo anormal de proteínas
beta-amiloide e tau no cérebro, levando à perda de neurônios e atrofia
cerebral”, explica a geriatra Simone de Paula Pessoa Lima à CNN.
Enquanto isso, os lapsos
de memória são episódios
transitórios e momentâneos, geralmente
causados por distração, cansaço ou estresse.
“Normalmente, ocorre
falha na atenção ou no armazenamento temporário da informação, e
frequentemente não está
associado a doenças neurológicas,
sendo comum em alguns momentos da
vida de toda população”, define a neurologista
Rayssa Garibe à CNN.
“Já os esquecimentos representam uma incapacidade de
recuperar informações previamente armazenadas na memória, que pode variar de leve a grave. Podem ser normais, associado à
idade, ou patológicos, ou seja, doenças neurológicas, como Alzheimer, outras
demências ou distúrbios neurológicos”, acrescenta.
<><> O que potencializa
a doença de Alzheimer?
Segundo Simone, diversos
são os fatores que contribuem para o desenvolvimento ou progressão do
diagnóstico. Entre eles, há destaque para o próprio envelhecimento, histórico
familiar, presença de genes específicos, doenças cardiovasculares, diabetes,
sedentarismo, alimentação inadequada e isolamento social.
“Além disso, infecções,
traumas cranianos e baixa reserva cognitiva também podem desempenhar um papel
importante”, acrescenta.
Rayssa também diz que,
naturalmente, o envelhecimento leva a algumas alterações na memória, como o
esquecimento ocasional de nomes ou compromissos, mas isso não deve prejudicar as funções cotidianas.
“Doenças
neurodegenerativas cursam com problemas de memórias que começam a afetar a vida diária, e são acompanhados por outros déficits cognitivos. Contudo, quando
a perda de memória começa a interferir nas atividades diárias, a pessoa perde a
capacidade de realizar tarefas simples ou começa a se perder frequentemente,
isso pode ser indicativo de um quadro mais sério, como o comprometimento
cognitivo leve (MCI) ou até mesmo demência”, conta.
<><> Os
primeiros sinais que podem levar ao diagnóstico
Segundo a neurologista
Garibe, um sinal importante é a progressão rápida da perda de memória. “Por exemplo, se os esquecimentos se tornam mais frequentes ou são
associados a outros sintomas, como perda de atenção, alteração no nível de
consciência ou mudanças comportamentais, isso pode ser um sinal de gravidade,
indicando a necessidade de investigação diagnóstica”.
Simone também adiciona a dificuldade em encontrar palavras ou se orientar no tempo e espaço,
além de alterações sutis no
comportamento ou humor, como
irritabilidade e apatia. “Esses sintomas podem parecer leves no início, mas
progridem para dificuldades significativas”, garante.
Ainda que o Alzheimer
seja mais comum em pessoas acima dos 65 anos, ele pode se manifestar precocemente,
entre 40 e 60 anos, na forma conhecida como Alzheimer de início precoce. “É mais rara. O risco aumenta significativamente com o avanço da
idade, especialmente após os 85 anos. No entanto, o impacto de fatores
genéticos e ambientais pode antecipar ou retardar os sintomas”, diz a geriatra.
<><> Prevenindo
o diagnóstico de Alzheimer
Embora não exista uma
prevenção garantida, adotar um estilo de vida saudável pode reduzir
significativamente o risco de desenvolver a doença. Os exemplos práticos
incluem:
- Alimentação
equilibrada baseada na dieta mediterrânea com consumo de frutas, vegetais,
peixes e azeite de oliva;
- Praticar
atividades físicas regulares;
- Estimular
o cérebro com leituras, jogos ou aprendizado de novas habilidades;
- Manter-se
socialmente ativo;
- Controlar
condições crônicas – como diabetes, hipertensão e colesterol alto;
- Evitar
o consumo de tabaco e excesso de álcool;
- Realizar
a manutenção da saúde mental, incluindo o tratamento de depressão e a
gestão do estresse.
<><> Quando
buscar um ajuda especializada?
Para Rayssa, os sinais
de esquecimento que justificam a procura por um neurologista geralmente envolvem
mudanças significativas na memória e no cotidiano do paciente.
“Os esquecimentos se
tornam preocupantes quando há uma evolução rápida e progressiva passando a
interferir no dia a dia e nas funções básicas. Muitos apresentam dificuldade em
realizar tarefas habituais, como cozinhar ou dirigir em locais conhecidos,
repetem perguntas ou histórias várias vezes, sem perceber”, comenta.
“Outros sinais de alerta
podem ser observados quando os pacientes apresentam outros sintomas associados
aos esquecimentos como dores de cabeça persistentes,
confusão mental ou dificuldade de concentração, perda de força, formigamento ou
alterações sensoriais”, conclui.
¨ Fases da doença de Alzheimer
Podemos identificar
três fases de evolução na doença de Alzheimer: fase ligeira (1), fase moderada
(2) e fase severa (3).
<<< 1.
Fase Ligeira
Nos estádios
iniciais, os défices de memória começam a aparecer, manifestando-se sobretudo
na aprendizagem de informação nova ou informações relativas a momentos
recentes. À medida que a demência avança, os prejuízos tornam-se mais claros e
a pessoa começa a evidenciar desorientação no espaço e no tempo.
O desempenho
cognitivo diminui e acentuam-se as dificuldades em recordar nomes de pessoas;
podem observar-se também outras dificuldades do funcionamento cognitivo, tais
como concentração e linguagem: o doente pode manifestar dificuldade em
encontrar palavras comuns para se expressar durante uma conversa. Alterações de
humor são também observadas: a pessoa começa a dar-se conta de que está a ter
perdas mnésicas (“falhas de memória”) o que resulta num aumento dos níveis de
ansiedade.
# Nesta fase, pode
observar-se:
- Esquecer-se de
coisas com maior frequência do que era habitual;
- Apatia (menor
vivacidade);
- Dificuldade em
fazer e aprender coisas novas;
- Dificuldade em
fazer escolhas e tomar decisões;
- Dificuldade em
compreender ideias mais complexas;
- Propensão para
esquecimento de detalhes e acontecimentos recentes;
- Dificuldade em
executar tarefas do dia-a-dia e lidar com dinheiro;
- Dificuldade em
ordenar as ações que acontecem ao longo do dia;
- Repetir frases ou
história durante uma conversa;
<<<< 2.
Fase moderada
Nesta fase, ao
nível do funcionamento cognitivo, os prejuízos na função linguagem podem
acentuar-se: a pessoa exibe dificuldade em nomear objetos ou escolher termos
adequados para expressar uma ideia. Surgem também dificuldades acentuadas de
orientação no tempo e no espaço. Os défices de memória também se intensificam:
deixam de se reportar apenas a acontecimentos/ informações recentes para se
estenderem a acontecimentos da história passada da pessoa.
Manifestam-se
alterações de humor que podem incluir ansiedade, tristeza, depressão,
frustração, hostilidade, apatia ou agitação; sentimento de perda ou de
insegurança;
As alterações de
comportamento também se tornam mais frequentes e incluem inquietude
(deambular); perguntas e atos repetidos; alucinações (ver, ouvir, cheirar ou
sentir algo que não existe), delírios (acreditar em algo que não é verdadeiro),
desinibição (desinibição sexual, desinibição no vocabulário usado,
agressividade). O doente passa a requerer alguma assistência nas atividades de
vida diária, existindo também alterações de sono, alterações de apetite, entre
outros.
# Nesta fase, pode
observar-se
- Acentuação dos
défices de memórias recentes;
- As memórias mais
distantes e do passado começam a evidenciar-se confusas ou baralhadas;
- Desorientação no
tempo e/ou no espaço mais acentuada;
- Maior propensão
para se perder em espaços mais distantes ou menos familiares;
- Esquecimento do
nome de pessoas significativas e/ou confusão na identificação de familiares ou
pessoas significativas;
- Dificuldades em
realizar tarefas do dia-a-dia de forma segura (ex.: esquecer-se de uma panela
ao lume);
- Tendência para
descurar os cuidados de higiene e de alimentação;
- Comportamentos
socialmente desajustados ou diferentes dos habituais das pessoas;
- Reações
exageradas de zanga ou angústia perante situações de frustração.
<<<< 3.
Fase severa
As manifestações
clínicas associadas à doença de Alzheimer prendem-se com fatores ligados ao
sono; alterações comportamentais, como irritabilidade e agressividade; delírios
e alucinações; incapacidade de se deslocar, falar e realizar cuidados pessoais.
O grau de necessidade assistência torna-se considerável ou total nos cuidados
pessoais (inclui vestir/despir, tomar banho), até culminar numa fase terminal
em que o doente fica acamado, requerendo cuidado constante.
A perda de memória
acentua-se severamente, acompanhada de reduzida capacidade para processar
informação. Ocorre elevada desorientação no tempo e no espaço, elevadas
dificuldades de comunicação (muitas vezes o discurso torna-se ilógico e vazio
de significado). Observa-se ainda a perda da capacidade de andar sem ajuda e,
posteriormente, a capacidade de se sentar sem suporte, de sorrir ou controlar
os movimentos corporais.
# Nesta fase, pode
observar-se:
- Incapacidade para
recordar acontecimentos decorridos há poucos minutos (ex.: “ainda não
almocei”);
- Dificuldade em
comunicar verbalmente;
- Não reconhecer
pessoas significativas;
- Incapacidade em
reconhecer e nomear objetos ou as suas funções;
- Déficts de
memória severos com tendência para procura ou perguntar por pessoas que já
faleceram;
- Ter
comportamentos agressivos, particularmente em situações percepcionadas como
ameaçadoras;
- Perdas cognitivas
acentuadas que se traduzem na incapacidade de satisfação de necessidades
básicas como comer, andar, controlar os esfíncteres (controlo da urina e
fezes).
- Alterações do
comportamento na doença de Alzheimer
- Perante as perdas
significativas de memórias e de outras funções do cérebro, o doente demenciado
pode comporta-se de maneira incomum ou diferente daquela que
habitualmente exibia.
>>> Algumas
das alterações de comportamento decorrentes da demência:
- Comportamento
agressivo;
- Comportamento
ansioso;
- Comportamento
desinibido (ex. usar linguagem obscena; despir-se publicamente);
- Comportamento
repetitivo;
- Sundowning
(agitação ao entardecer);
- Deambulação
(andar de um lado para o outro sem razão aparente);
- Respostas
exaltadas;
- Acumulação de
coisas.
Alguns destes
comportamentos traduzem-se em necessidades básicas que não estão a ser
supridas, mas que o doente não tem capacidade de as comunicar (ex. fome,
aborrecimento, acumulação de energia).
Estar atento
às causas das alterações do comportamento pode ajudar os
familiares/cuidadores a lidar mais eficazmente com as situações que
vão surgindo no dia-a-dia da vida de um paciente com Doença de Alzheimer,
reduzindo a frequência ou intensidade dos comportamentos desafiantes.
Na maioria dos
casos, os cuidadores têm mais dificuldades em lidar com as alterações de
comportamento ou de personalidade de um doente de Alzheimer do que com as
perdas cognitivas associadas à demência. Isto é, um filho poderá mais
facilmente lidar com o facto de o seu pai não recordar a sua idade, do que
lidar com uma situação em que o seu familiar dispa as suas roupas ou exiba
comportamentos sexuais socialmente, porque é percecionado como uma perda de
identidade do doente.
<><> Estratégias
para lidar com um doente de Alzheimer
Cuidar de uma
pessoa com Doença de Alzheimer pode tornar-se uma tarefa muito desafiadora e
desgastante. É importante ter em consideração que as perdas cognitivas (perdas
de memória, orientação espacial e temporal, linguagem, capacidade de
raciocínio, concentração, entre outras) têm impacto na maneira como a pessoa
vive e se relaciona.
Os défices
ocorridos levam a que, muitas vezes, a pessoa se esqueça ou desaprenda a forma
como deve comportar-se, como pode executar uma ação rotineira, vestir-se
adequadamente, ou, até mesmo, comer.
Ao lidar/cuidar com
um doente de Alzheimer, é importante que o cuidador tenha em consideração que a
manifestação de comportamentos desafiantes (sejam eles, repetir muitas vezes
uma pergunta que evidencie uma preocupação, reagir agressivamente quando
anteriormente era uma pessoa gentil, manifestar comportamentos sexuais
socialmente, ou usar linguagem obscena e desapropriada ao momento) não é uma
escolha consciente e intencional do doente, mas sim consequência das alterações
do funcionamento do cérebro perante a doença.
>>>>>
Sugerem-se algumas estratégias para lidar eficazmente com as
alterações cognitivas e comportamentais em indivíduos com Doença de Alzheimer:
- Ter sempre uma
atitude afetuosa;
- Estabelecer o
contacto visual e ouvir atentamente;
- Manter um
ambiente calmo e sem ruídos;
- Recorrer à
linguagem corporal para facilitar a comunicação;
- Permanecer calmo
e falar de maneira clara e gentil;
- Utilizar frases
curtas e simples, focando uma ideia de cada vez;
- Dar tempo à
pessoa para compreender o que lhe transmitiu;
- Dizer previamente
o que pretende fazer antes de a abordar (no caso de prestação de cuidados
pessoais);
- Inverter frases
negativas, tornando-as afirmativas (substituir “Não faça isso” por “é melhor
fazer assim.”);
- Ser paciente.
>>>>>>
Existem ainda um conjunto de atitudes que nunca deverão ser exibidas com
um doente de Alzheimer:
# Discutir: a
pessoa não terá capacidade para perceber o que está errado e só irá agravar a
situação;
# Dar ordens à
pessoa;
# Dizer à pessoa o
que não pode fazer. Em vez disso, deve dizer-se aquilo que ela pode fazer;
# Utilizar modos
intransigentes;
# Um tom de voz
arrogante pode ser apreendido mesmo que a pessoa não compreenda as palavras, o
que a poderá deixar mais perturbada;
# Perguntas que
apelem à utilização da memória (já que irão causar um sentimento de maior frustração
no doente);
# Falar da pessoa
que está presente como se ela não estivesse presente.
Em caso de
persistência de dúvidas, um médico psiquiatra ou neurologista juntamente com um
psicólogo geriátrico poderão ajudá-lo.
<><> Tratamento
da Doença de Alzheimer
Embora a Doença de
Alzheimer seja, atualmente, irreversível e incurável, é possível tratar os
sintomas.
O tratamento é
feito com recurso a medicação e a diferentes tipos de terapia, no sentido de se
retardar a evolução dos sintomas da demência e de controlar as alterações de
comportamento associadas à doença de Alzheimer, tais como, agitação,
agressividade e alterações de humor. A prescrição de fármacos visa atenuar
alguns sintomas cognitivos e comportamentais da pessoa com demência, mas não a impedem
de evoluir.
Além da terapia
farmacológica, é recomendado fazer reabilitação cognitiva, tendo maior
eficácia nos estádios iniciais da demência.
A reabilitação
cognitiva é um tipo de intervenção em que pacientes e os seus familiares
trabalham em conjunto com os profissionais de saúde com o objetivo de restituir
ou compensar os défices do funcionamento cognitivo (“défices nas capacidades
que permitem ao cérebro prensar”) provocados pela demência, melhorando o
funcionamento do paciente no seu dia-a-dia. O seu principal objetivo passa por
ajudar o paciente e os familiares a lidar, conviver, contornar e superar os
danos que a doença de Alzheimer provoca, não só ao nível cognitivo, mas também
nos comportamentos e no estado emocional do doente.
Em fases mais avançadas,
em que se regista um maior declínio do funcionamento cognitivo, os cuidados
clínicos passam por psicoeducação, técnicas comportamentais, musicoterapia e
suporte do cuidador.
Fonte: CNN
Brasil/Neurolife/Saude Bem Estar
Nenhum comentário:
Postar um comentário