Câmara aprova
limite a salário mínimo e desidrata trava a supersalários
Correndo contra o
tempo por conta do recesso legislativo, o Congresso voto na noite desta
quinta-feira (19/12) algumas propostas que fazem parte do pacote de ajuste fiscal proposto pelo
governo federal.
O recesso começa em
23 de dezembro.
No Senado, os
parlamentares aprovaram alguns pontos que já haviam sido chancelados pela
Câmara em um projeto de lei, como a possibilidade de congelar gastos com o pagamento
de emendas parlamentares não impositivas e a manutenção do fim do Seguro
Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT), o antigo
DPVAT.
Na Câmara dos
Deputados, foram aprovados textos que ainda precisam passar pelo Senado.
Uma proposta de
emenda à Constituição (PEC) aprovada pelos deputados estabelece medidas para
conter o gasto com supersalários, reduz repasses ao
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e limita o
reajuste do abono salarial (repasse previdenciário concedido anualmente a
trabalhadores com renda mensal de até dois salários mínimos).
Entretanto, com
mudanças feitas na Câmara relativas ao Fundeb e os supersalários, a economia deve
ser menor do que o previsto pelo governo.
A Câmara também
votou projeto de lei que impõe mais regras para o reajuste do salário mínimo e
para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com
deficiência de baixa renda.
Além do pacote
fiscal em votação no Congresso, o governo anunciou, em paralelo, uma reforma na
tabela do imposto de renda — mas essa proposta só será encaminhada ao Congresso
em 2025.
O objetivo das mudanças
nas despesas públicas, segundo o ministro da Fazenda Fernando Haddad, é cumprir
o arcabouço fiscal — regra que limita o crescimento dos gastos.
O governo tem
apresentado sucessivos anos de contas no vermelho, ou seja, está gastando mais
do que arrecada, o que tem aumentado a dívida pública.
Críticos dizem que
isso aumenta a desconfiança dos investidores na solidez fiscal do governo e
alimenta a alta do dólar, o que deve impactar a inflação no país. A moeda
americana atingiu novo recorde na quarta-feira (18/12), quando fechou a R$
6,26.
Nesta quinta-feira,
a moeda americana perdeu força, fechando a R$ 6,12, após intervenção do Banco
Central e diante da aprovação do pacote fiscal.
Confira as
principais medidas já aprovadas do pacote fiscal e o que ficou para 2025.
·
Salário
mínimo
A proposta do
governo, aprovada pela Câmara, limita a valorização real do salário mínimo à
mesma regra do arcabouço fiscal.
Isso significa que
o salário mínimo vai continuar tendo ganho acima da inflação, mas o crescimento
real será limitado a 2,5% por ano.
A regra atual
reajusta o piso nacional com a inflação do ano anterior e a variação do Produto
Interno Bruto (PIB) de dois anos antes, mas não estabelece um limite.
·
Benefício
de Prestação Continuada (BPC)
A proposta do
governo de restringir as regras de acesso ao Benefício de Prestação Continuada
(BPC) gerou forte reação da oposição e mesmo de parte da base do governo.
Com isso, a Câmara
modificou vários pontos da proposta.
O texto aprovado
pelos deputados impõe biometria obrigatória para novos benefíciários e
atualização cadastral a cada dois anos, no mínimo.
O BPC benefício
garante um salário mínimo por mês ao indivíduo com mais de 65 anos ou à pessoa
com deficiência de qualquer idade, desde que a renda por pessoa do grupo familiar
seja igual ou menor que um quarto do salário-mínimo.
Os beneficiários
não precisam ter contribuído com o INSS, mas também não ganham 13º salário e
não deixam pensão por morte.
Os gastos com BPC
têm apresentado forte crescimento nos últimos dois anos, refletindo fatores
como o envelhecimento da população, a valorização do salário mínimo e mudanças
nas regras que permitiram um maior acesso.
·
Abono
salarial
O abono salarial é
um benefício de até um salário mínimo pago a trabalhadores que atendem certos
requisitos.
Um dos critérios em
vigor limita o pagamento a abono pessoas que ganham até dois salários mínimos
(R$ 2.824).
A proposta do
governo, aprovada na Câmara, fixa uma renda de até R$ 2.640 para se ter direito
ao abono salarial e institui uma cláusula para que o valor seja corrigido
anualmente pela inflação até chegar em 1,5 salário mínimo.
A projeção, segundo
o governo, é que isso aconteça em 2035.
Fundo da Educação
Básica
O Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) redistribui recursos
para a educação básica pública.
A proposta original
enviada pelo Executivo previa que 20% do que a União transfere aos Estados,
Distrito Federal e municípios para o Fundeb deveria ser investido na educação
em tempo integral.
O relator na Câmara
reduziu o percentual para 10% em 2025. Com a mudança, a economia gerada deverá
ser menor do que a originalmente estimada.
A partir de 2026,
Estados e municípios terão de destinar 4% de aportes próprios ao Fundeb para o
ensino integral.
Com isso, o governo
federal repassa aos governos locais a responsabilidade pelo programa,
economizando recursos.
·
Limites
aos supersalários
O pacote do governo
inclui limites para os supersalários no serviço público, que ocorrem quando
servidores e autoridades conseguem driblar o limite constitucional, hoje em R$
44 mil.
Isso geralmente é
feito como pagamento de benefícios enquadrados como indenizações, que ficam de
fora do teto remuneratório — algo especialmente comum no Poder Judiciário.
Uma proposta de
emenda constitucional (PEC) aprovada na Câmara prevê que somente poderão ser
pagos valores acima do limite quando forem indenizações previstas em lei
ordinária, aplicadas nacionalmente a todos os Poderes.
Isso visa impedir
decisões administrativas criadas pelos órgãos de forma a beneficiar suas
categorias.
O texto aprovado na
Câmara, no entanto, teve uma mudança em relação à versão enviada originalmente
pelo governo.
A proposta inicial
falava em lei complementar em vez de lei ordinária — como a aprovada por
deputados.
A diferença é que a
lei complementar é mais difícil de ser aprovada. Além disso, permite que
eventuais benefícios já previstos em leis ordinárias sejam mantidos.
As mudanças
atenderam à pressão de categorias afetadas e foram criticadas por parlamentares
que entenderam que elas enfraquecem a possibilidade de limitar os supersalários
do funcionalismo público.
"Com a
aprovação da proposta de emenda com o texto atual, todas as resoluções do CNJ
[Conselho Nacional de Justiça] e do CNMP [Conselho Nacional do Ministério
Público] que garantem salários ilegais, inconstitucionais, com impacto de mais
de R$ 12 bilhões ao ano no bolso do trabalhador mais pobre, vão ser
mantidas", disse o deputado Kim Kataguiri (União-SP).
·
Limites
para gastos com pessoal e benefícios tributários
Dentro do pacote
fiscal, a Câmara e o Senado aprovaram um projeto de lei para estabelecer travas
para o crescimento de despesas com pessoal e para incentivos tributários.
Essas travas serão
acionadas se for registrado déficit primário — quando o governo gasta mais do
que arrecada, considerando receitas e despesas não financeiras.
O texto aprovado
também permite o congelamento de até 15% do valor destinado a emendas
parlamentares não impositivas (que não são de liberação obrigatória).
A proposta do
governo autorizava congelar até 15% de todas as emendas, mas os parlamentares,
que controlam a destinação desses recursos, reduziram o impacto dessa medida.
Além disso, o texto
autoriza o uso de superávit de cinco fundos nacionais para pagar a dívida
pública por seis anos (2025 a 2030).
A proposta original
previa oito fundos, mas foram excluídos no Congresso o Fundo da Marinha
Mercante, o Fundo Nacional Antidrogas e o Fundo Nacional de Aviação Civil.
Para o governo
aprovar esse projeto de lei, houve um acordo para derrubar o Seguro Obrigatório
para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT), antigo DPVAT, que
tinha sido recriado em maio.
·
Aposentadoria
de militares
Segundo a proposta
do governo, alguns benefícios para militares serão extintos, como a
transferência de pensão e a morte ficta — que permite que parentes de militares
desligados continuem a receber pensão, como se o militar estivesse falecido.
Também será fixada,
em 3,5% da remuneração, a contribuição do militar para o Fundo de Saúde. Além
disso, será estabelecida uma idade mínima de aposentadoria para militares, aos
55 anos.
O impacto das
medidas que afetam os militares, segundo o governo, é de cerca de R$ 2 bilhões
por ano.
No entanto, Haddad
afirmou na quarta-feira (18/12) que o Congresso não deve votar nesta semana o
projeto de lei que altera a previdência dos militares.
Assim, expectativa
agora é de que a discussão da mudança fique para 2025, devido ao recesso.
·
Imposto
de Renda
Em paralelo ao
corte de gastos, o governo anunciou mudanças na tabela do Imposto de Renda a
partir de 2026. Essas propostas ainda serão enviadas ao Congresso em 2025.
Uma delas é a isenção do imposto de renda para quem
ganha até R$ 5 mil por mês. Atualmente, o limite de isenção é de R$ 2.824 (dois
salários mínimos).
Além disso, aqueles
que ganham de R$ 5 mil até R$ 7,5 mil mensais pagarão uma alíquota menor.
Para compensar a
queda na arrecadação com a medida, que deve ter um impacto de R$ 35 bilhões,
contribuintes que têm uma renda superior a R$ 50 mil por mês vão passar a pagar
um pouco mais. Será estipulada uma alíquota mínima de 10%.
Além disso, a
isenção do imposto de renda por razões de saúde será limitada àqueles que
ganham até R$ 20 mil por mês.
Não haverá mudanças
nas deduções de gastos com saúde no imposto de renda, que continuam sendo
permitidas em todas as faixas de renda.
Essas mudanças,
segundo Haddad, garantem que a perda estimada na arrecadação de R$ 35 bilhões
seja compensada.
O ministro da
Fazenda ressaltou que o objetivo da reforma do imposto de renda é manter uma
neutralidade fiscal.
"Não visa nem
aumentar e nem diminuir arrecadação, mas busca justiça tributária",
declarou.
¨ Haddad
minimiza impacto de mudanças no pacote fiscal e anuncia novas medidas
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta sexta-feira (20) que o
governo planeja adotar novas medidas de contenção de despesas públicas a partir
de 2025. Segundo ele, a revisão de gastos será uma política contínua,
independentemente das mudanças feitas pelo Congresso Nacional no pacote fiscal
atual.
"Revisar
despesas públicas não pode ser algo extraordinário. Deve ser uma prática
constante na administração fiscal", afirmou Haddad durante um encontro com
jornalistas em Brasília. Ele ressaltou a criação de uma secretaria específica
no Ministério do Planejamento para supervisionar essa tarefa.
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Medidas previstas para 2025
Embora
não tenha detalhado as novas medidas, Haddad indicou que o governo já está
estruturando um pacote complementar para assegurar a sustentabilidade das
contas públicas. "Há ajustes adicionais sendo preparados para fortalecer
nossa estratégia fiscal", afirmou.
Especialistas
alertam que, mesmo com as mudanças feitas pelo Congresso no pacote fiscal
anterior, a economia pode ser compensada por despesas discricionárias — aquelas
que não são obrigatórias e podem ser ajustadas pelo governo conforme sua
prioridade.
"Nosso
foco é garantir que as contas públicas sejam ajustadas sem comprometer o
crescimento econômico. Isso passa por decisões responsáveis e
sustentáveis", acrescentou Haddad.
Entre
as medidas já discutidas e aprovadas pelo Congresso, destacam-se:
·
Abono Salarial: Limitação da faixa de renda para
recebimento do benefício de R$ 2.824 para R$ 2.640.
·
Fundeb: Limitação da contribuição federal para
escolas em tempo integral a 10%, válida somente até 2025.
·
Desvinculação de Receitas da União (DRU):
Prorrogação até 2032.
·
Subsídios e Subvenções: Corte estimado em R$ 18
bilhões.
·
Fundo Constitucional do Distrito Federal: Exclusão
da regra que previa reajustes automáticos pela inflação.
·
Salário Mínimo: Crescimento real limitado a 2,5% ao
ano.
·
Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada:
Novas regras para cadastro, biometria e concessão de benefícios sociais, com
critérios mais rigorosos para pessoas com deficiência.
A
expectativa do governo é que o Senado conclua a votação das matérias ainda
nesta semana, consolidando o novo arcabouço fiscal projetado para os próximos
anos.
Fonte: BBC News
Brasil/Brasil 247
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