Como Trump pode
embaralhar o comércio global
Os órgãos de
negociação multilateral, como a Organização Mundial
do Comércio (OMC),
endossados por tratados internacionais e referendados pela legislação interna
de seus membros, têm pouca importância para o presidente eleito dos Estados
Unidos, Donald Trump.
O republicano tem
reforçado que essas instituições são danosas aos interesses americanos, apesar
de anos de domínio dos EUA nas decisões e no orçamento destes organismos. O mecanismo de
apelações da OMC, por exemplo, está paralisado desde 2019devido à recusa de
Washington em indicar novos juízes para assumi-lo.
Para o
ex-embaixador alemão na China, Michael Schaefer, Trump considera qualquer
compromisso com essas instituições "uma perda de tempo". Schaefer
entende que a percepção do republicano sobre o mundo é radicalmente diferente
daquela que os defensores de um sistema internacional baseado em regras apoiam.
Por isso, o
primeiro mandato de Trump (2017-2021) pode parecer um "passeio no
parque" em comparação com o que o presidente eleito planeja fazer agora,
acrescenta. "Há uma grande diferença de filosofia em relação a como a
comunidade internacional deve funcionar", afirmou Schaefer.
O ex-diploma
argumenta que o sistema internacional construído sobre regras, obrigações e
direitos mútuos foi cunhado na Europa para acabar com "séculos de
conflitos e guerras".
Essa estrutura se
estende hoje para outros continentes, com o objetivo de orientar as interações
globais em política externa, de segurança e econômica. Os órgãos multilaterais
permitem que negociações e disputas aconteçam em bloco, desdobrando benefícios
e regras para todos os países que os compõem, destaca Schaefer.
A chamada
abordagem política
"America First" ("América Primeiro") de Trump, no
entanto, vai na contramão desta ideia. Ele prioriza "negociações diretas
com parceiros comerciais, alavancando o poder dos EUA para obter
vantagens", pontua Schaefer.
Um exemplo é
a proposta já
anunciada por Trump de
renegociar o acordo de comércio entre EUA, México e Canadá, com o objetivo de
impor maiores taxas aos produtos dos países vizinhos. Ele também prometeu impor alíquota de
importações de
qualquer país em 20% do valor da mercadoria. No caso de produtos chineses, a
tarifa deve chegar a 60%.
A futura barreira
tarifária também pode travar produtos brasileiros. Em coletiva de imprensa
nesta segunda-feira (16/12), Trump disse que o "Brasil cobra muito"
em imposto de importação. "Se eles querem nos cobrar, tudo bem, mas vamos
cobrar a mesma coisa", disse.
<><> O
fim das regras comerciais internacionais?
Heribert Dieter,
especialista em comércio do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de
Segurança (SWP), acredita que o possível fim do
multilateralismo na
política internacional teria implicações graves, principalmente para as nações
menores do chamado Sul Global.
"Após o
colapso da União Soviética, presumimos que as soluções supranacionais eram
viáveis. Mas na era atual dos blocos geopolíticos, esse não é mais o
caso", disse ele à DW. Dieter acrescenta que a OMC é "uma sombra do
que já foi" e está enfrentando dificuldades específicas.
"Seu mecanismo
de resolução de disputas não funciona mais, e as perspectivas para a governança
comercial multilateral são incertas", avalia. Sem um órgão de apelações
ativo, os países não conseguem fazer valer seus direitos após disputas
comerciais, de acordo com a legislação da OMC.
Um possível
desmantelamento completo da OMC, interrompendo todos os acordos comerciais
vigentes, traria consequências significativas mesmo para os países com maior
poder econômico. Um estudo do Kiel Institute for the World Economy, sediado na
Alemanha, e do Austrian Institute of Economic Research mostra que o colapso da
organização atingiria a economia da União Europeia (UE) quatro vezes mais do
que os aumentos de tarifas planejados por Trump.
Como resultado,
segundo o relatório, o Produto Interno Bruto (PIB) real da UE poderia cair
0,5%. A Alemanha seria a principal impactada. Os EUA também, mas em menor grau.
"A China enfrentaria as perdas mais acentuadas", diz o texto.
O estudo sugere
ainda que um mundo dividido em blocos geopolíticos liderados pelos EUA e pela
China resultaria em danos econômicos ainda maiores. No pior cenário, o PIB real
da China poderia cair 6% e o da Alemanha, 3,2%, enquanto a economia dos EUA
sofreria um impacto menor, de menos 2,2%.
<><> Luta
contra a pobreza enfrentaria retrocesso
Embora a União Europeia seja o bloco
comercial mais conectado do mundo, com um total de 45 acordos comerciais
assinados com parceiros globais, os países menores são os que mais sofreriam
com o colapso da OMC.
"A OMC é
significativamente mais importante para os países menores e menos poderosos,
com redes comerciais limitadas, que historicamente contam com o mecanismo de
solução de controvérsias da OMC para proteger seus interesses", afirma
Dieter. As nações menores são cada vez mais forçadas a "se curvar às
exigências muitas vezes questionáveis dos países maiores", completa
A
ex-economista-chefe do Banco Mundial Pinelopi Goldberg também considera que os
países menores são os "principais perdedores" do atual impasse na
OMC. "A integração internacional [no comércio] é essencial para porque
eles não têm grandes mercados domésticos", disse ela à DW.
"As pesquisas
mais recentes mostram que a redução da pobreza nas últimas três décadas ocorreu
principalmente nos países em desenvolvimento que estão intimamente ligados ao
comércio global", continua, destacando o papel do sistema multilateral em
possibilitar o progresso do Sul Global.
No entanto, até o
momento, muitos países da África não conseguiram desempenhar um papel
significativo no comércio global. A maioria acumula menos de cinco acordos
comerciais consolidados. Na América Latina, Venezuela, Equador e Bolívia estão
entre os países menos conectados ao comércio global. Na Ásia, nações como o
Afeganistão e a Mongólia continuam sub-representadas nos acordos comerciais.
<><> Alternativas
ao intervencionismo americano
Para Heribert
Dieter, o otimismo que acompanhou a fundação da OMC, em 1995, hoje parece
apenas "uma breve exceção na história". Ele acredita, porém, que o
colapso da organização não seria "necessariamente algo ruim". Isso
porque abriria espaço para a constituição de estruturas menores, capazes de
contornar o poder americano.
"Em estruturas
menores, a política comercial pode, na verdade, alcançar mais resultados do que
na OMC. Isso não significa o fim das relações econômicas internacionais e,
certamente, não significa o fim da globalização", opina.
No entanto, os
países menores do Sul Global terão tempos desafiadores pela frente, acredita o
ex-diplomata Michael Schaefer, e eles terão que "se preparar para o pior
que está por vir".
¨ Expectativa de aumento na produção de petróleo dos EUA
na gestão Trump deixa OPEP+ sob alerta
O retorno de Donald
Trump à Casa Branca deve dar novo impulso à produção de petróleo
norte-americana, inspirando cautela à OPEP+ já que esta produção prejudicaria
os esforços do grupo para dar suporte aos preços.
A Organização dos
Países Exportadores de Petróleo e associados (OPEP+) é responsável por cerca
da metade
do petróleo do mundo e
desde o início de dezembro tem adiado um plano para a retomada de
ampliação da produção para depois do primeiro trimestre de 2025 em função
da baixa demanda pelo combustível fóssil.
De acordo com a
Reuters, alguns delegados estão
mais otimistas agora
em relação ao petróleo dos EUA e dizem que a razão por trás disso é Trump,
entretanto, outras vozes — que já subestimaram a produção norte-americana após
o boom do petróleo de xisto antes — temem o impacto que essa produção pode
ter junto à organização, "o que não é bom pra nós", afirmou um
delegado à apuração sob condição de anonimato.
Neste momento,
o maior desafio da organização está em manter os cortes na produção, uma
vez que a demanda está baixa e é justamente na relação entre oferta e demanda
que está o poder de controlar os preços de mercado.
Tudo isso pode
mudar se a Rússia, um dos maiores produtores do mundo, ou os EUA resolverem
unilateralmente reduzir
os cortes colocando
mais petróleo no mercado, provocando uma desvalorização imediata dos preços.
Em mais de uma
ocasião, Trump afirmou que investiria em ampliar a produção, justamente
para cumprir promessas
de campanha relacionadas
aos preços de energia e combustíveis que atingiram os bolsos dos consumidores
norte-americanos que pela primeira vez experimentaram impactos significativos
da inflação no consumo das famílias.
A complicada
dinâmica deve trazer dificuldades para 2025, uma vez que não apenas
os preços do petróleo estão ameaçados pela gestão do próximo presidente
dos EUA, mas a influência
do grupo como
um todo, tornando-se necessário encontrar um meio termo em que possa negociar
seus interesses.
Atualmente, a OPEP+
está retendo 5,85 milhões de barris por dia de capacidade de produção após uma
série de cortes desde 2022.
¨ Restrição dos EUA a chips chineses 'não impedirá
desenvolvimento da indústria'
Enquanto o governo
dos EUA busca atingir um número cada vez maior de empresas chinesas,
restringindo o comércio de componentes e chips, a China tem investido no
fortalecimento do setor nacional como resposta à intensificação da disputa
comercial entre Pequim e Washington.
De acordo com o Global
Times (GT), Tu Xinquan, reitor do Instituto Chinês de Estudos da Organização
Mundial do Comércio (OMC) na Universidade de Negócios Internacionais e Economia
e consultor da Associação da Indústria de Semicondutores da China (CSIA, na
sigla em inglês), as declarações de repúdio à postura
norte-americana das
associações industriais chinesas mostraram uma "atitude mais forte do
que antes".
Após o recente
anúncio de mais uma rodada de restrições às vendas de chips para empresas
chinesas, em uma demonstração de intensificação das medidas de repressão e um
aprofundamento da guerra comercial entre Washington e Pequim,
"devemos tomar algumas medidas necessárias para proteger firmemente
nossos direitos e interesses legítimos", disse Tu.
Para o
secretário-geral adjunto da Sociedade da Internet da China (ISC, na sigla em
inglês), Pei Wei, citado em entrevista ao GT, "elas [as
empresas] precisam diversificar o layout da cadeia de suprimentos,
especialmente para a aquisição
de tecnologias e
componentes-chave, para reduzir a dependência de uma única fonte".
"Pedimos ao
governo chinês que apoie o desenvolvimento estável de fornecedores confiáveis
de semicondutores; também pedimos às empresas de semicondutores em países
e regiões relevantes que se esforcem para se tornarem fornecedores confiáveis
da indústria de semicondutores", disse Pei, lembrando que a repressão não
deve impedir o desenvolvimento das capacidades produtivas, em sua opinião,
"[...] as indústrias chinesas se tornarão mais fortes e mais confiantes em
nosso desenvolvimento".
Segundo especialistas
do setor ouvidos pela apuração, as indústrias
chinesas também
devem permanecer abertas para cooperação com suas contrapartes
estrangeiras para enfrentar a campanha de repressão do governo dos EUA.
De forma ainda mais
pragmática, analistas do setor consideram que políticas de governo podem
mudar e não refletem a disposição
o mercado,
cujos avanços são obtidos a partir do ganho com a competição e cooperação
saudáveis.
Princípios
de abertura de mercado, cooperação "ganha-ganha" e iniciativas
empresarias podem reverter o quadro atual, mas as lideranças
governamentais precisam
alcançar um
território comum sobre como pretendem estabelecer novos laços que compartilhem
os resultados deste desenvolvimento.
¨ Proibição de exportar minerais chineses afetará mais de
mil empresas militares nos EUA
A proibição imposta
pela China à exportação de certos minerais para os Estados Unidos afetará mais
de mil fábricas de armas dos EUA, informou o jornal South China Morning Post,
citando um relatório da empresa de análise Govini.
No início de
dezembro, o Ministério do Comércio da China informou que o país reforçou os
controles de exportação de produtos
de uso duplo para
os Estados Unidos.
Eles incluíram a
proibição de exportações de produtos relacionados
a gálio, germânio, antimônio e materiais superduros.
O relatório da
Govini informa que esses
materiais são usados na produção de uma ampla variedade de produtos: de
baterias para veículos elétricos a armas nucleares.
Segundo o artigo, o
primeiro a ser afetado deverá ser a Marinha dos EUA que conta muito
com os minerais em seus armamentos.
O setor
de mísseis nucleares também pode ser atingido pela medida chinesa.
"Um porta-voz
da Casa Branca disse que os EUA estão avaliando a última medida da China e vão
tomar as 'medidas
necessárias' em
resposta."
O problema também é
alimentado pelas ameaças do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de
aumentar as tarifas para os produtos
chineses.
A proibição afetará
a produção de mais de 20.000 componentes usados pelo Exército dos
EUA, que vai ser tangível para Washington, conclui a publicação.
Trump diz que, se
precisar, vai gastar bilhões de dólares para concluir muro no México
O presidente eleito
dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (16), que o seu
governo gastará bilhões de dólares para concluir o muro na fronteira com o
México, a fim de impedir a entrada ilegal de imigrantes.
Durante uma
coletiva de imprensa, realizada junto de sua residência na Flórida, o
republicano manifestou descontentamento ao afirmar que, devido às políticas da
administração Biden, o muro fronteiriço custará até duas ou três vezes
mais do que custou em seu primeiro mandato presidencial.
Trump explicou que
a administração Biden "está vendendo partes do muro" a pessoas
que pagaram míseros valores em dinheiro por ele e agora querem revendê-lo por
milhões de dólares.
"É uma conduta
quase criminosa", disse Trump, que relatou ter conversado com o
procurador-geral do Texas, Ken Paxton, e com
senadores daquele estado, para travar estas políticas da administração Biden em
relação ao muro fronteiriço.
À época de sua
candidatura, Trump criticou repetidamente as políticas de imigração do governo
de Joe Biden, prometendo, se fosse reeleito, reforçar os controles
fronteiriços e
restaurar a construção do muro na fronteira com o México.
Durante o mandato
do presidente Biden,
houve mais de oito milhões de tentativas ou entradas ilegais de
imigrantes em todo o país, 6,7 milhões das quais foram na fronteira
sudoeste, de acordo com um relatório conjunto do Comitê de Supervisão e
Responsabilidade da Câmara dos EUA e do Comitê de Segurança Interna da Câmara
divulgado no início de 2024.
¨ Trump pode acabar com o conflito na Ucrânia com uma
promessa a Putin, sugere acadêmico dos EUA
O presidente eleito
dos EUA, Donald Trump, pode acabar com o conflito na Ucrânia com uma única
chamada telefônica ao líder russo Vladimir Putin, prometendo se opor
publicamente à expansão da OTAN, sugeriu o economista norte-americano e
acadêmico da Universidade de Columbia Jeffrey Sachs em entrevista com o
jornalista americano Tucker Carlson.
"O conflito
na Ucrânia pode
ser resolvido literalmente com uma única chamada telefônica. […] Ele [Trump]
basta ligar para Putin e dizer: sabe, esta política de 30 anos de expansão
da OTAN na Ucrânia e Geórgia [...] foi uma provocação [...] tola. […] Sou
contra, e vou dizer isso publicamente", disse o professor.
Na sua opinião,
após tal promessa, todas as negociações sobre as fronteiras
da Ucrânia serão
apenas um refinamento dos detalhes do futuro acordo.
Sachs também
enfatizou que o presidente eleito dos EUA não deve escutar aqueles que propõem
uma trégua para congelar
o conflito.
O cessar-fogo não resolverá a verdadeira causa do conflito, que se baseia
na ameaça de implantação de armas dos EUA no território do regime de
Kiev, explicou.
"Basta uma
chamada telefônica para acabar com isso – uma que tocaria a causa raiz da
guerra, começando com a decisão de Bill Clinton em 1994 [...] de expandir a
OTAN", concluiu o especialista.
¨ Enviado especial de Trump para a Ucrânia visitará Kiev
no início de janeiro, diz mídia
O candidato ao
cargo de enviado especial para a Ucrânia, escolhido pelo presidente eleito dos
Estados Unidos, Donald Trump, Keith Kellogg, visitará Kiev e várias capitais
europeias no início de janeiro, informou a agência Reuters nesta terça-feira
(17) citando fontes.
"O novo enviado
do presidente eleito Donald Trump para a Ucrânia visitará Kiev e várias outras
capitais europeias no início de janeiro, enquanto a nova administração tenta
encerrar o conflito o mais rápido possível", diz a publicação.
De acordo com as
fontes da agência, Kellogg não planeja visitar Moscou. Na última segunda (16),
o porta-voz
do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a equipe do presidente eleito dos EUA,
Donald Trump, ainda não está no comando da Casa Branca ao comentar relatos de
que estaria pronta para discutir a proposta do primeiro-ministro húngaro,
Viktor Orbán, para um cessar-fogo na Ucrânia.
A autoridade russa
também pontuou que é prematuro falar sobre o envio de forças de paz
ao país. Na semana passada, a mídia noticiou que os líderes
europeus planejam
se reunir com Vladimir Zelensky e o secretário-geral da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, a fim de discutir planos de paz.
Durante as
eleições, Trump prometeu que conseguiria resolver o conflito
ucraniano por meio de negociações e afirmou várias vezes que alcançaria
uma solução em um único dia. Já a Rússia declarou que a situação é
muito complexa para uma negociação tão simples.
Além disso, Moscou
considera que o fornecimento de armas à Ucrânia atrapalha a resolução do
conflito, já que envolve diretamente os países da OTAN e representa um
"jogo perigoso".
O ministro
das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, destacou que qualquer
carregamento com armas destinadas à Ucrânia se tornará alvo legítimo para a
Rússia. Segundo Lavrov, os EUA e a OTAN participam diretamente do conflito, não
apenas com o envio de armas, mas também com o treinamento de tropas
no Reino Unido, na Alemanha, na Itália e em outros países.
Fonte: DW Brasil/Sputnik
Brasil
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