César
Fonseca: Tripé neoliberal colapsou
O câmbio flutuante, a meta
inflacionária e o superávit primário, tripé neoliberal, base essencial da
macroeconomia brasileira, sob neoliberalismo imposto pelo mercado, sempre na
corda bamba, desde que foi criado na Era FHC, pelo Consenso de Washington,
vigente até hoje, está entrando em colapso.
A especulação desenfreada,
nesta semana, com o dólar fora de controle, sob efeito de câmbio prá lá de
doido, superior a R$ 6, resistente à queda, chegou para ficar nessa faixa,
batendo recordes.
O BC neoliberal, sob comando
do bolsonarista Campos Neto, na véspera de entregar o posto para Gabriel
Galípolo, faz várias intervenções, mas não resolve.
Pode até minar as reservas
cambiais de 350 bilhões de dólares, se continuar tal instabilidade, num prazo
de curto para médio, sem falar no longo prazo, quando poderiam ser destruídas?
Consequentemente, a meta
inflacionária, prevista para 3,5%, com margem de 1,5 para baixo e para cima,
com esse câmbio ultra instável, sujeito ao terror especulativo, manipulado nas
redes sociais via fake News, fica comprometida.
Como, diante de tal
circunstância volátil, equilibrar o orçamento, para alcançar o déficit zero,
prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, herdeiro do colapso
bolsonarista deixado pelo ultraneoliberal Paulo Guedes?
Para piorar, a direita e a
ultra direita, majoritárias no Congresso, agora, politizam o debate sobre gasto
social, para tentar faturar politicamente, com desgaste da situação governista
minoritária, objetivando vitória eleitoral em 2026.
Haddad, pressionado por
todos os lados, tenta acalmar a Faria Lima jogando água na fervura dizendo que
o câmbio flutua e não está nas cogitações o câmbio fixo ou algo parecido,
câmbio com bandas, convencido de que a maré alta vai baixar de nível, com
aprovação do pacote fiscal.
Os críticos da política
econômica forçam o argumento de que Lula tem que tomar as rédeas da economia,
para flexibilizar metas inflacionárias, de modo a fugir da restrição monetária
ultraneoliberal.
Os governistas,
esperançosos, tais como "Cândido, o otimista" de Voltaire, contam com
novo panorama à vista, previsto com a chegada de Gabriel Galípolo à frente do
Banco Central, a partir de janeiro.
Galípolo daria mais atenção
ao presidente Lula ou ao mercado, para controlar o touro bravo dos juros altos
manipulados, atualmente, por Campos Neto?
O fato visível é que o tripé
neoliberal entrou em estresse com a descoordenação dos seus pressupostos: meta
inflacionária fora da meta, câmbio flutuante que flutua demais,
incontrolavelmente, e não obedece aos comandos do BC, e déficit, igualmente,
resistente às tentativas da Fazenda de controlá-lo conforme as previsões
abstratas fixadas previamente ao largo da realidade.
É nesse contexto que se
antecipa debate sobre sucessão presidencial nas cogitações gerais da classe
política.
Os oposicionistas de direita
e ultradireita, maioria parlamentar, preocupados em somente assegurar emendas
parlamentares aprovadas por eles, mesmos, predispostos à chantagem, em rebelião
contra o STF, que tentam enquadrá-los, preocupam com o próprio umbigo.
Sabem que a conta do ajuste
fiscal sobre os mais pobres, forçado pela Faria Lima, enquanto são preservados
os privilégios dos mais ricos, garantidos pelos juros altos, tem que ser jogada
nas costas do presidente Lula, para diminuir sua popularidade.
Por isso, fazem jogo duro
com o Planalto, considerando, como diz o presidente da Câmara, não ter certeza
de aprovação do ajuste fiscal, de modo a deixar o panorama indefinido.
ATAQUE CERTEIRO
O presidente Lula, por sua
vez, fez o ataque ao centro do problema, bem ainda não havia saído do hospital,
depois de duas cirurgias na cabeça, cuja evolução entrou no ritmo da
instabilidade da própria economia.
Considerar que o principal
problema da economia é o juro Selic que o BC Independente neoliberal colocou,
especulativamente, nas alturas dos 12,25%, prevendo que outras duas pancadas
juristas devem acontecer em janeiro e fevereiro, é ou não o mesmo que
reconhecer que a pressão sobre o déficit público decorre dos gastos financeiros
e não dos gastos sociais?
Lula está ou não consciente
do que está falando?
Gastos sociais, Lula está
cansado de dizer, são investimentos que dão retorno em forma de desenvolvimento
sustentável, enquanto gastos financeiros somente enchem as burras dos
especuladores, sem dar retorno algum para a população, que, com eles, se
empobrece.
Lula, com sua afirmação,
agitou ainda mais o mercado, deixando claro que está sabendo de que enquanto o
governo estiver gastando perto de R$ 900 bilhões/ano em juros e amortizações da
dívida, ficará enxugando gelo.
Cada puxada de 1 ponto
percentual na Selic joga no ralo da especulação cerca de R$ 60 bilhões,
aproximadamente.
Zera, dessa forma, toda a
economia que se faz em forma de corte de gastos sociais para manter o teto
neoliberal.
Se, previsivelmente, outros
2 pontos percentuais ocorrerem, como defende o mercado, a pressão para cortar
despesas primárias, sem mexer nas despesas nominais (juros e amortizações), vai
aumentar, elevando a especulação para subida ainda mais forte da Selic.
Já se fala abertamente na
Faria Lima que a Selic alcançará os 14% no primeiro semestre do próximo ano e
os 15% ou 16% no segundo semestre.
REELEIÇÃO AMEAÇADA
A especulação está em nível
estratosférico, admitiu o líder governista, no Senado, Jacques Wagner, e o
ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicações, denuncia fake News para
incriminar declarações forjadas nas redes sociais pelo futuro presidente do BC.
Em véspera de ano eleitoral,
o desgaste político do presidente Lula tende a ser exponencial, esgarçando,
consequentemente, sua base de sustentação no Congresso, que já é minoritária.
Vai crescer, portanto, na
base governista, a defesa em favor de o presidente, logo no início de janeiro
de 2025, convocar o Conselho Monetário Nacional, para rever o tripé neoliberal,
que se mostra em colapso, embora a economia esteja demonstrando
indicadores positivos, como desemprego em baixa, investimento em alta, inflação
sob controle relativo, crescimento do PIB etc.
A especulação desenfreada
produz pressão inflacionária, que afeta preços dos alimentos, da energia
elétrica e dos combustíveis, os que mais preocupam os consumidores, forçando
redução dos salários e pressão sobre o salário mínimo contra sua valorização
para não afetar os gastos com previdência e programas sociais.
Depois da intervenção
cirúrgica na cabeça, Lula retorna ao trabalho mais consciente do real problema
que não o deixa governar e promover sustentavelmente a economia, para
fortalecer as forças sociais que garantem sua reeleição em 2026.
¨ Revisão
constante de gastos e foco em reformas: Haddad faz balanço de 2024 e projeta
futuro da economia
O ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, recebeu, nesta sexta-feira (20), jornalistas que acompanham o
dia a dia do órgão para um café da manhã em Brasília. Durante quase duas horas
de conversa, Haddad fez um balanço das principais entregas do Governo Federal
na área econômica em 2024, destacou os avanços obtidos no Congresso Nacional e
apresentou perspectivas sobre contas públicas, arcabouço fiscal e reformas
estruturais.
No encontro, o ministro defendeu que o governo
federal adote, permanentemente, práticas de revisão de gastos. “Eu acredito que o Executivo, em qualquer esfera de
governo, tem que ter como prática a revisão de gastos. Isso tem que ser uma
rotina. Não deveria ser algo extraordinário ou surpreendente”, afirmou.
Segundo Haddad, a meta é garantir que as contas públicas se harmonizem com as
projeções da receita e com as demandas sociais, “sem
comprometer demasiadamente a atividade econômica”.
<><> Arcabouço fiscal e
responsabilidade nas contas
Haddad avaliou que o arcabouço fiscal — conjunto de
regras para as contas públicas — é fundamental para a sustentabilidade
financeira do país. “Estamos corrigindo aquilo
que parecia discrepante para fortalecer os parâmetros do arcabouço, que não
foram alterados”, destacou. Em sua visão, o maior mérito do modelo atual é
olhar, simultaneamente, para despesas e receitas, diferentemente do antigo teto
de gastos: “O planejamento da Fazenda no ano
passado foi impecável, do ponto de vista do arcabouço fiscal”.
O ministro ainda relembrou que, caso todas as
medidas propostas pelo governo tivessem sido aprovadas, haveria a possibilidade
de um superávit primário inédito desde 2013. “Teríamos
hoje uma situação superavitária pela primeira vez desde 2013, que foi o último
superávit primário consistente”, pontuou.
<><> Balanço legislativo e parcerias no
Congresso
Outro ponto de destaque do café da manhã foi o
extenso conjunto de propostas encaminhadas e aprovadas pelo Congresso Nacional.
“Há poucos momentos na história da Fazenda em
que se tenha produzido tanto em termos legislativos e de forma ampla.
Praticamente todas as secretarias da Fazenda tinham uma agenda, e essa agenda,
em todos os casos, avançou”, ressaltou.
Entre as conquistas citadas estão o Plano de
Transformação Ecológica, a regulamentação de créditos de carbono e a aguardada
Reforma Tributária do consumo, que, para Haddad, só foi possível porque “todos os seus princípios foram respeitados pelas
partes”. Em 2025, o Ministério da Fazenda terá papel de protagonismo na normatização
operacional dessa Reforma, o que vai exigir um amplo debate com a sociedade e
com o Congresso.
<><> Reforma Tributária: novos passos
A pasta também se prepara para tratar da Reforma
Tributária da renda, etapa que, segundo o ministro, deve respeitar o princípio
da neutralidade para “corrigir distorções do
sistema” sem onerar o contribuinte de forma injusta. “Firmamos
um compromisso (com o Congresso Nacional) de que a reforma da renda só seria
feita na condição de um acordo sobre a neutralidade. O objetivo não é arrecadar
nem renunciar receita”, esclareceu Haddad.
O cenário externo, marcado por taxas de juros
elevadas nos Estados Unidos e uma reacomodação geopolítica, também foi
abordado. Na análise de Haddad, o governo deve se manter atento para não perder
oportunidades. Sobre a política monetária, o ministro reafirmou a autonomia do
Banco Central e defendeu o novo regime de meta contínua de inflação, que, na
sua visão, “vai produzir resultados melhores do
que o modelo anterior”.
¨ Haddad diz
que governo vai corrigir a "escorregada" do dólar, mas descarta
patamar ideal para a moeda
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (19/12) que não
existe um patamar ideal para o dólar, apesar das sucessivas altas que levaram a
cotação a superar a marca dos R$ 6. Em encontro com jornalistas na sede da
pasta, em Brasília, Haddad salientou a importância de o Banco Central (BC)
intervir quando houver desequilíbrio ou “disfuncionalidade” no mercado cambial.
Segundo o Metrópoles, o ministro comentou sobre a recente “escorregada” do
dólar, ressaltando ser fundamental “corrigir” a trajetória ascendente da moeda
norte-americana no Brasil. Ainda segundo Haddad, a correção não deve ser
motivada pela busca de uma cotação específica:
“Nós temos de corrigir essa escorregada que o dólar deu aqui [no Brasil]
não no sentido de buscar o nível de dólar, não no sentido de mirar uma meta,
não é nesse sentido que eu penso que nós deveríamos atuar.”
O
ministro reconheceu, porém, que houve um problema de comunicação ao final do
ano, o que intensificou a valorização do dólar. Ele frisou a necessidade de uma
“correção” nessa forma de comunicar e pontuou que o fortalecimento da moeda
norte-americana ocorre em vários lugares do mundo. Para Haddad, o Banco Central
deve promover ajustes “sempre que houver uma disfuncionalidade por incerteza,
insegurança, seja lá o que for que gere uma disfuncionalidade no mercado de
câmbio e no mercado de juros”.
Questionado
se o valor da moeda deveria voltar ao patamar de R$ 5, Haddad se absteve de
sugerir um número:
“Não vou cometer o equívoco de dizer qual é a meta de câmbio que o Banco
Central tem que mirar. Ele [BC] tem hoje uma meta contínua e precisa
estabelecer um calendário para trazer a inflação para a meta no espaço de tempo
adequado para a política monetária funcionar.”
Em
seguida, o ministro reforçou que a autoridade monetária deverá manter a taxa de
juros em nível restritivo até que a inflação retorne ao intervalo estabelecido
pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Na visão de Haddad, a atuação conjunta
do BC e do Tesouro Nacional, aliada à maior clareza acerca das medidas de
revisão de gastos, tende a reduzir a tensão no mercado e a recolocar as coisas
“na normalidade”.
“O cenário externo continua desafiador”, salientou Haddad, fazendo
referência à posse de Donald Trump nos Estados Unidos em janeiro de 2025, como
mais um fator de incerteza no âmbito global.
¨ Até onde o
projeto Lula 2026 ameaça o próprio governo Lula? Por Thomaz Milz
O poder vicia, muitos dizem.
Poucos conseguem largá-lo, e até mesmo os grandes nomes muitas vezes perdem o
momento certo de sair do palco.
Alguns ditados sábios podem
ser encontrados também na cultura pop, como o de que "apenas os bons
morrem cedo" – uma referência ao "Clube 27", das
lendas da música que morreram aos 27 anos, como Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis
Joplin, Brian Jones, Kurt Cobain e Amy Winehouse. A morte no auge os poupou da
decadência inevitável.
Luiz Inácio Lula da Silva encerrou
em 2010 seus dois mandatos como presidente com mais de 80% de aprovação. A
Constituição do Brasil não permite um terceiro mandato consecutivo. Assim, Lula
nomeou como sua sucessora sua cria política Dilma Rousseff. Não há melhor maneira de deixar o palco político, não é mesmo?
<><> Anos
traumáticos
Segundo rumores da época,
Lula bem que gostaria de ter concorrido novamente em 2014, mas Dilma insistiu
em uma nova candidatura. Lula foi pego depois no turbilhão da Lava Jato e não
concorreu nas eleições de 2018 por estar na prisão após ser condenado por
corrupção. Fernando Haddad assumiu seu lugar na corrida pelo PT – e perdeu para Jair Messias Bolsonaro.
O fato de as conquistas de
sua própria presidência terem sido colocadas em risco em meio à crise econômica
do governo Dilma, antes de sua reputação ser finalmente destruída pela Lava Jato, deve
ter sido traumático para Lula naqueles anos.
Portanto, concorrer
novamente em 2022 foi provavelmente uma tentativa de fazer com que ele fosse
absolvido pelo povo de todas as acusações com ajuda de uma vitória eleitoral, para
que depois pudesse finalmente deixar o cargo de alma lavada.
Essa seria sua última
eleição, disse Lula durante a campanha eleitoral de 2022, acrescentando que, se ganhasse, não pensava em concorrer novamente em
2026.
Mas recentemente as coisas
parecem ter mudado. Lula afirmou que está preparado para concorrer novamente se
necessário – isto é, se não houver outro nome capaz de salvar o Brasil da
extrema direita. Mas a decisão sobre isso só seria tomada em 2026, disse. Como
Lula sempre vê a si mesmo como o melhor candidato possível, é difícil acreditar
que um nome mais adequado surgirá até 2026.
Os observadores acreditam
que Lula ainda não anuncia sua candidatura para 2026 porque seus índices nas
pesquisas não são bons o suficiente para garantir uma vitória. Pesquisas têm
mostrado índices de aprovação de seu governo muito próximos dos níveis de
reprovação. Recentemente, o Datafolha apontou 35% de aprovação, contra 34%
de desaprovação.
Nesse contexto, parece
estranha a declaração de Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação
Social da Presidência, de que Lula definitivamente concorrerá em 2026. Isso
pelo menos explicaria por que atualmente o governo vem gastando tanto dinheiro.
<><> Risco de
crise econômica
Especialistas já estão
alertando sobre o aumento do déficit e da dívida estatal. Eles culpam os gastos
excessivos de Lula pelo fato de o real estar se desvalorizando como quase
nenhuma outra moeda. As metas fiscais do governo para os próximos anos estão
ameaçadas.
Será que Lula está
arriscando uma crise econômica para aumentar suas chances em 2026? Se der
errado, Lula pode botar a perder tanto sua candidatura em 2026 quanto sua
reputação de político responsável.
Enquanto a planejada isenção de imposto de renda para quem
ganha até R$ 5 mil vem causando dor de cabeça aos especialistas,
que duvidam de sua viabilidade financeira, Lula recebe 70% de aprovação para a
proposta, de acordo com o Datafolha. Um imposto mais alto para os ricos, que
fecharia a lacuna da receita tributária, é apoiado até mesmo por 77% dos
entrevistados. Tudo isso cheira a uma campanha eleitoral antecipada.
De acordo com uma pesquisa
Quaest de meados de dezembro, Lula venceria em 2026 contra todos os candidatos
imagináveis da direita e da extrema direita: Jair Messias Bolsonaro, Tarcísio
de Freitas, Pablo Marçal ou Ronaldo Caiado. Além disso, o apoio a uma nova
candidatura do presidente aumentou de 40% em outubro para 45%, de acordo com a
pesquisa Quaest. Isso deve incentivá-lo a tentar novamente em 2026.
É desejável para Lula que
ele ainda encontre o momento certo para deixar o grande palco.
Fonte: Brasil 247/DW Brasil
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