quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Como Trump pode embaralhar o comércio global

Os órgãos de negociação multilateral, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), endossados por tratados internacionais e referendados pela legislação interna de seus membros, têm pouca importância para o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

O republicano tem reforçado que essas instituições são danosas aos interesses americanos, apesar de anos de domínio dos EUA nas decisões e no orçamento destes organismos. O mecanismo de apelações da OMC, por exemplo, está paralisado desde 2019devido à recusa de Washington em indicar novos juízes para assumi-lo.

Para o ex-embaixador alemão na China, Michael Schaefer, Trump considera qualquer compromisso com essas instituições "uma perda de tempo". Schaefer entende que a percepção do republicano sobre o mundo é radicalmente diferente daquela que os defensores de um sistema internacional baseado em regras apoiam.

Por isso, o primeiro mandato de Trump (2017-2021) pode parecer um "passeio no parque" em comparação com o que o presidente eleito planeja fazer agora, acrescenta. "Há uma grande diferença de filosofia em relação a como a comunidade internacional deve funcionar", afirmou Schaefer.

O ex-diploma argumenta que o sistema internacional construído sobre regras, obrigações e direitos mútuos foi cunhado na Europa para acabar com "séculos de conflitos e guerras".

Essa estrutura se estende hoje para outros continentes, com o objetivo de orientar as interações globais em política externa, de segurança e econômica. Os órgãos multilaterais permitem que negociações e disputas aconteçam em bloco, desdobrando benefícios e regras para todos os países que os compõem, destaca Schaefer.

A chamada abordagem política "America First" ("América Primeiro")  de Trump, no entanto, vai na contramão desta ideia. Ele prioriza "negociações diretas com parceiros comerciais, alavancando o poder dos EUA para obter vantagens", pontua Schaefer.

Um exemplo é a proposta já anunciada por Trump de renegociar o acordo de comércio entre EUA, México e Canadá, com o objetivo de impor maiores taxas aos produtos dos países vizinhos. Ele também prometeu impor alíquota de importações de qualquer país em 20% do valor da mercadoria. No caso de produtos chineses, a tarifa deve chegar a 60%.

A futura barreira tarifária também pode travar produtos brasileiros. Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (16/12), Trump disse que o "Brasil cobra muito" em imposto de importação. "Se eles querem nos cobrar, tudo bem, mas vamos cobrar a mesma coisa", disse.

<><> O fim das regras comerciais internacionais?

Heribert Dieter, especialista em comércio do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), acredita que o possível fim do multilateralismo na política internacional teria implicações graves, principalmente para as nações menores do chamado Sul Global.

"Após o colapso da União Soviética, presumimos que as soluções supranacionais eram viáveis. Mas na era atual dos blocos geopolíticos, esse não é mais o caso", disse ele à DW. Dieter acrescenta que a OMC é "uma sombra do que já foi" e está enfrentando dificuldades específicas.

"Seu mecanismo de resolução de disputas não funciona mais, e as perspectivas para a governança comercial multilateral são incertas", avalia. Sem um órgão de apelações ativo, os países não conseguem fazer valer seus direitos após disputas comerciais, de acordo com a legislação da OMC.

Um possível desmantelamento completo da OMC, interrompendo todos os acordos comerciais vigentes, traria consequências significativas mesmo para os países com maior poder econômico. Um estudo do Kiel Institute for the World Economy, sediado na Alemanha, e do Austrian Institute of Economic Research mostra que o colapso da organização atingiria a economia da União Europeia (UE) quatro vezes mais do que os aumentos de tarifas planejados por Trump.

Como resultado, segundo o relatório, o Produto Interno Bruto (PIB) real da UE poderia cair 0,5%. A Alemanha seria a principal impactada. Os EUA também, mas em menor grau. "A China enfrentaria as perdas mais acentuadas", diz o texto.

O estudo sugere ainda que um mundo dividido em blocos geopolíticos liderados pelos EUA e pela China resultaria em danos econômicos ainda maiores. No pior cenário, o PIB real da China poderia cair 6% e o da Alemanha, 3,2%, enquanto a economia dos EUA sofreria um impacto menor, de menos 2,2%.

<><> Luta contra a pobreza enfrentaria retrocesso

Embora a União Europeia seja o bloco comercial mais conectado do mundo, com um total de 45 acordos comerciais assinados com parceiros globais, os países menores são os que mais sofreriam com o colapso da OMC.

"A OMC é significativamente mais importante para os países menores e menos poderosos, com redes comerciais limitadas, que historicamente contam com o mecanismo de solução de controvérsias da OMC para proteger seus interesses", afirma Dieter. As nações menores são cada vez mais forçadas a "se curvar às exigências muitas vezes questionáveis dos países maiores", completa

A ex-economista-chefe do Banco Mundial Pinelopi Goldberg também considera que os países menores são os "principais perdedores" do atual impasse na OMC. "A integração internacional [no comércio] é essencial para porque eles não têm grandes mercados domésticos", disse ela à DW.

"As pesquisas mais recentes mostram que a redução da pobreza nas últimas três décadas ocorreu principalmente nos países em desenvolvimento que estão intimamente ligados ao comércio global", continua, destacando o papel do sistema multilateral em possibilitar o progresso do Sul Global.

No entanto, até o momento, muitos países da África não conseguiram desempenhar um papel significativo no comércio global. A maioria acumula menos de cinco acordos comerciais consolidados. Na América Latina, Venezuela, Equador e Bolívia estão entre os países menos conectados ao comércio global. Na Ásia, nações como o Afeganistão e a Mongólia continuam sub-representadas nos acordos comerciais.

<><> Alternativas ao intervencionismo americano

Para Heribert Dieter, o otimismo que acompanhou a fundação da OMC, em 1995, hoje parece apenas "uma breve exceção na história". Ele acredita, porém, que o colapso da organização não seria "necessariamente algo ruim". Isso porque abriria espaço para a constituição de estruturas menores, capazes de contornar o poder americano.

"Em estruturas menores, a política comercial pode, na verdade, alcançar mais resultados do que na OMC. Isso não significa o fim das relações econômicas internacionais e, certamente, não significa o fim da globalização", opina.

No entanto, os países menores do Sul Global terão tempos desafiadores pela frente, acredita o ex-diplomata Michael Schaefer, e eles terão que "se preparar para o pior que está por vir".

¨      Expectativa de aumento na produção de petróleo dos EUA na gestão Trump deixa OPEP+ sob alerta

O retorno de Donald Trump à Casa Branca deve dar novo impulso à produção de petróleo norte-americana, inspirando cautela à OPEP+ já que esta produção prejudicaria os esforços do grupo para dar suporte aos preços.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e associados (OPEP+) é responsável por cerca da metade do petróleo do mundo e desde o início de dezembro tem adiado um plano para a retomada de ampliação da produção para depois do primeiro trimestre de 2025 em função da baixa demanda pelo combustível fóssil.

De acordo com a Reuters, alguns delegados estão mais otimistas agora em relação ao petróleo dos EUA e dizem que a razão por trás disso é Trump, entretanto, outras vozes — que já subestimaram a produção norte-americana após o boom do petróleo de xisto antes — temem o impacto que essa produção pode ter junto à organização, "o que não é bom pra nós", afirmou um delegado à apuração sob condição de anonimato.

Neste momento, o maior desafio da organização está em manter os cortes na produção, uma vez que a demanda está baixa e é justamente na relação entre oferta e demanda que está o poder de controlar os preços de mercado.

Tudo isso pode mudar se a Rússia, um dos maiores produtores do mundo, ou os EUA resolverem unilateralmente reduzir os cortes colocando mais petróleo no mercado, provocando uma desvalorização imediata dos preços.

Em mais de uma ocasião, Trump afirmou que investiria em ampliar a produção, justamente para cumprir promessas de campanha relacionadas aos preços de energia e combustíveis que atingiram os bolsos dos consumidores norte-americanos que pela primeira vez experimentaram impactos significativos da inflação no consumo das famílias.

A complicada dinâmica deve trazer dificuldades para 2025, uma vez que não apenas os preços do petróleo estão ameaçados pela gestão do próximo presidente dos EUA, mas a influência do grupo como um todo, tornando-se necessário encontrar um meio termo em que possa negociar seus interesses.

Atualmente, a OPEP+ está retendo 5,85 milhões de barris por dia de capacidade de produção após uma série de cortes desde 2022.

¨      Restrição dos EUA a chips chineses 'não impedirá desenvolvimento da indústria'

Enquanto o governo dos EUA busca atingir um número cada vez maior de empresas chinesas, restringindo o comércio de componentes e chips, a China tem investido no fortalecimento do setor nacional como resposta à intensificação da disputa comercial entre Pequim e Washington.

De acordo com o Global Times (GT), Tu Xinquan, reitor do Instituto Chinês de Estudos da Organização Mundial do Comércio (OMC) na Universidade de Negócios Internacionais e Economia e consultor da Associação da Indústria de Semicondutores da China (CSIA, na sigla em inglês), as declarações de repúdio à postura norte-americana das associações industriais chinesas mostraram uma "atitude mais forte do que antes".

Após o recente anúncio de mais uma rodada de restrições às vendas de chips para empresas chinesas, em uma demonstração de intensificação das medidas de repressão e um aprofundamento da guerra comercial entre Washington e Pequim, "devemos tomar algumas medidas necessárias para proteger firmemente nossos direitos e interesses legítimos", disse Tu.

Para o secretário-geral adjunto da Sociedade da Internet da China (ISC, na sigla em inglês), Pei Wei, citado em entrevista ao GT, "elas [as empresas] precisam diversificar o layout da cadeia de suprimentos, especialmente para a aquisição de tecnologias e componentes-chave, para reduzir a dependência de uma única fonte".

"Pedimos ao governo chinês que apoie o desenvolvimento estável de fornecedores confiáveis de semicondutores; também pedimos às empresas de semicondutores em países e regiões relevantes que se esforcem para se tornarem fornecedores confiáveis da indústria de semicondutores", disse Pei, lembrando que a repressão não deve impedir o desenvolvimento das capacidades produtivas, em sua opinião, "[...] as indústrias chinesas se tornarão mais fortes e mais confiantes em nosso desenvolvimento".

Segundo especialistas do setor ouvidos pela apuração, as indústrias chinesas também devem permanecer abertas para cooperação com suas contrapartes estrangeiras para enfrentar a campanha de repressão do governo dos EUA.

De forma ainda mais pragmática, analistas do setor consideram que políticas de governo podem mudar e não refletem a disposição o mercado, cujos avanços são obtidos a partir do ganho com a competição e cooperação saudáveis.

Princípios de abertura de mercado, cooperação "ganha-ganha" e iniciativas empresarias podem reverter o quadro atual, mas as lideranças governamentais precisam alcançar um território comum sobre como pretendem estabelecer novos laços que compartilhem os resultados deste desenvolvimento.

¨      Proibição de exportar minerais chineses afetará mais de mil empresas militares nos EUA

A proibição imposta pela China à exportação de certos minerais para os Estados Unidos afetará mais de mil fábricas de armas dos EUA, informou o jornal South China Morning Post, citando um relatório da empresa de análise Govini.

No início de dezembro, o Ministério do Comércio da China informou que o país reforçou os controles de exportação de produtos de uso duplo para os Estados Unidos.

Eles incluíram a proibição de exportações de produtos relacionados a gálio, germânio, antimônio e materiais superduros.

O relatório da Govini informa que esses materiais são usados na produção de uma ampla variedade de produtos: de baterias para veículos elétricos a armas nucleares.

Segundo o artigo, o primeiro a ser afetado deverá ser a Marinha dos EUA que conta muito com os minerais em seus armamentos.

O setor de mísseis nucleares também pode ser atingido pela medida chinesa.

"Um porta-voz da Casa Branca disse que os EUA estão avaliando a última medida da China e vão tomar as 'medidas necessárias' em resposta."

O problema também é alimentado pelas ameaças do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de aumentar as tarifas para os produtos chineses.

A proibição afetará a produção de mais de 20.000 componentes usados pelo Exército dos EUA, que vai ser tangível para Washington, conclui a publicação.

Trump diz que, se precisar, vai gastar bilhões de dólares para concluir muro no México

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (16), que o seu governo gastará bilhões de dólares para concluir o muro na fronteira com o México, a fim de impedir a entrada ilegal de imigrantes.

Durante uma coletiva de imprensa, realizada junto de sua residência na Flórida, o republicano manifestou descontentamento ao afirmar que, devido às políticas da administração Biden, o muro fronteiriço custará até duas ou três vezes mais do que custou em seu primeiro mandato presidencial.

Trump explicou que a administração Biden "está vendendo partes do muro" a pessoas que pagaram míseros valores em dinheiro por ele e agora querem revendê-lo por milhões de dólares.

"É uma conduta quase criminosa", disse Trump, que relatou ter conversado com o procurador-geral do Texas, Ken Paxton, e com senadores daquele estado, para travar estas políticas da administração Biden em relação ao muro fronteiriço.

À época de sua candidatura, Trump criticou repetidamente as políticas de imigração do governo de Joe Biden, prometendo, se fosse reeleito, reforçar os controles fronteiriços e restaurar a construção do muro na fronteira com o México.

Durante o mandato do presidente Biden, houve mais de oito milhões de tentativas ou entradas ilegais de imigrantes em todo o país, 6,7 milhões das quais foram na fronteira sudoeste, de acordo com um relatório conjunto do Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos EUA e do Comitê de Segurança Interna da Câmara divulgado no início de 2024.

¨      Trump pode acabar com o conflito na Ucrânia com uma promessa a Putin, sugere acadêmico dos EUA

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, pode acabar com o conflito na Ucrânia com uma única chamada telefônica ao líder russo Vladimir Putin, prometendo se opor publicamente à expansão da OTAN, sugeriu o economista norte-americano e acadêmico da Universidade de Columbia Jeffrey Sachs em entrevista com o jornalista americano Tucker Carlson.

"O conflito na Ucrânia pode ser resolvido literalmente com uma única chamada telefônica. […] Ele [Trump] basta ligar para Putin e dizer: sabe, esta política de 30 anos de expansão da OTAN na Ucrânia e Geórgia [...] foi uma provocação [...] tola. […] Sou contra, e vou dizer isso publicamente", disse o professor.

Na sua opinião, após tal promessa, todas as negociações sobre as fronteiras da Ucrânia serão apenas um refinamento dos detalhes do futuro acordo.

Sachs também enfatizou que o presidente eleito dos EUA não deve escutar aqueles que propõem uma trégua para congelar o conflito. O cessar-fogo não resolverá a verdadeira causa do conflito, que se baseia na ameaça de implantação de armas dos EUA no território do regime de Kiev, explicou.

"Basta uma chamada telefônica para acabar com isso – uma que tocaria a causa raiz da guerra, começando com a decisão de Bill Clinton em 1994 [...] de expandir a OTAN", concluiu o especialista.

¨      Enviado especial de Trump para a Ucrânia visitará Kiev no início de janeiro, diz mídia

O candidato ao cargo de enviado especial para a Ucrânia, escolhido pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, Keith Kellogg, visitará Kiev e várias capitais europeias no início de janeiro, informou a agência Reuters nesta terça-feira (17) citando fontes.

"O novo enviado do presidente eleito Donald Trump para a Ucrânia visitará Kiev e várias outras capitais europeias no início de janeiro, enquanto a nova administração tenta encerrar o conflito o mais rápido possível", diz a publicação.

De acordo com as fontes da agência, Kellogg não planeja visitar Moscou. Na última segunda (16), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a equipe do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ainda não está no comando da Casa Branca ao comentar relatos de que estaria pronta para discutir a proposta do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, para um cessar-fogo na Ucrânia.

A autoridade russa também pontuou que é prematuro falar sobre o envio de forças de paz ao país. Na semana passada, a mídia noticiou que os líderes europeus planejam se reunir com Vladimir Zelensky e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, a fim de discutir planos de paz.

Durante as eleições, Trump prometeu que conseguiria resolver o conflito ucraniano por meio de negociações e afirmou várias vezes que alcançaria uma solução em um único dia. Já a Rússia declarou que a situação é muito complexa para uma negociação tão simples.

Além disso, Moscou considera que o fornecimento de armas à Ucrânia atrapalha a resolução do conflito, já que envolve diretamente os países da OTAN e representa um "jogo perigoso".

ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, destacou que qualquer carregamento com armas destinadas à Ucrânia se tornará alvo legítimo para a Rússia. Segundo Lavrov, os EUA e a OTAN participam diretamente do conflito, não apenas com o envio de armas, mas também com o treinamento de tropas no Reino Unido, na Alemanha, na Itália e em outros países.

 

Fonte: DW Brasil/Sputnik Brasil

 

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