sábado, 21 de dezembro de 2024

Carnes processadas elevam risco de hipertensão, mostra estudo brasileiro

O consumo moderado das chamadas carnes processadas é suficiente para aumentar o risco de hipertensão arterial, segundo estudo publicado no periódico científico Nutrition. Entre os integrantes desse grupo estão linguiça, salsicha, mortadela, presunto, hambúrguer, copa, salame, bacon e, inclusive, itens considerados “inofensivos”, caso do blanquet e do peito de peru.

Para estabelecer a relação, o estudo utilizou dados vindos do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), pesquisa que acompanha, desde 2008, mais de 15 mil servidores públicos e aposentados de universidades e instituições localizadas nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

Além de informações – obtidas por meio de questionários – sobre estilo de vida, com destaque para hábitos alimentares, foram esmiuçados dados de exames clínicos, como a medida da pressão arterial, e análises de níveis de colesterol, potássio e sódio, por exemplo.

Entre os grandes consumidores de carnes processadas, observou-se uma maior incidência de hipertensão arterial. “Também avaliamos a ingestão de carnes vermelhas, mas não encontramos essa relação”, comenta a autora do estudo, a enfermeira Michelle Izabel Ferreira Mendes, da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais.

Segundo Maria del Carmen Bisi Molina, nutricionista e orientadora do trabalho, trata-se do primeiro estudo longitudinal – que usa dados de indivíduos seguidos por longos períodos – a investigar tal associação no país. “As descobertas reforçam o papel da dieta na prevenção de doenças”, afirma Molina.

Sobre os mecanismos por trás do elo, a principal hipótese é a alta concentração de sódio encontrada nesses alimentos. Apesar de desempenhar funções essenciais, inclusive ao sistema nervoso, extrapolar a quantia desse mineral favorece a retenção de água e, quanto maior o volume líquido na corrente sanguínea, maior a probabilidade de a pressão arterial subir.

“E há indícios de que a ingestão crônica e excessiva favorece a disfunção endotelial”, relata Mendes. A pesquisadora refere-se ao revestimento celular envolvido na dilatação e relaxamento das artérias. Não bastasse o acúmulo de sódio, as carnes processadas costumam carregar gordura saturada, mais um nutriente que, em excesso, pode causar danos cardiovasculares.

Saindo das questões do coração, vale mencionar que o exagero, especialmente de embutidos – salsichas, linguiças, salames – está associado ao aumento no risco de câncer. “Existem evidências bem consolidadas, sobretudo em relação aos tumores de intestino”, avisa a nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.

Por tudo isso, não há recomendação de consumo segura. “A sugestão é degustar em eventos esporádicos, seja um pedaço de linguiça no churrasco ou um cachorro-quente na festa de aniversário”, exemplifica Molina.

Mas a população brasileira é bastante fã desses alimentos e, segundo as especialistas, pesquisas mostram um crescimento na ingestão desses produtos, até pela questão do preço, que tende a ser mais baixo.

<><> Os aliados cardiovasculares

Voltando às artérias, além de evitar as carnes processadas, algumas estratégias alimentares são bem-vindas para combater a hipertensão e todos os prejuízos atrelados.

A nutricionista do Einstein aponta alguns nutrientes-chave, que se destacam em estudos. “O potássio ajuda no equilíbrio de níveis de sódio no organismo e promove a dilatação dos vasos sanguíneos”, explica. Banana, abacate e batata são fontes. Magnésio e cálcio também são minerais envolvidos na regulação da pressão, e as castanhas, feijões, verduras, leite e seus derivados oferecem a dupla.

“A literatura científica aponta ainda a atuação dos antioxidantes”, lembra Modenezi. Compostos fenólicos, carotenoides, entre outras famílias de substâncias, presentes em frutas, verduras e legumes, aparecem em artigos pelo papel em prol das artérias. Fibras reforçam a proteção, isso porque existem evidências de que zelar pela microbiota intestinal afasta inflamações, feito essencial para a saúde cardiovascular.

É possível juntar todos esses ingredientes protetores em algumas dietas. Saiba mais sobre algumas delas:

<><> DASH

Trata-se da sigla para Dietary Approaches to Stop Hypertension ou Dieta para Combater a Hipertensão, em bom português. O plano alimentar foi desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos há mais de duas décadas, justamente para ajudar no controle da pressão arterial.

Frutas e hortaliças têm lugar garantido. Grãos e cereais, nas versões integrais, além de oleaginosas, ou seja, castanhas e afins, bem como sementes, e a turma das leguminosas (feijões, ervilha, grão-de-bico) marcam presença. Há ainda espaço para queijos, iogurtes e leite, preferencialmente desnatados.

Na DASH, recomenda-se redobrar o cuidado com o sal, tanto o vindo de produtos industrializados quanto o que é colocado no preparo da comida. Uma sugestão saborosa é incrementar as receitas com ervas e especiarias.

<><> Dieta mediterrânea

Aqui também há espaço privilegiado para vegetais em todas as formas. E, claro, um dos destaques é o azeite de oliva, cuja formulação acumula substâncias protetoras.

Mas não é preciso buscar opções estrangeiras para compor o prato. Afinal, dispomos de uma grande diversidade de frutos, verduras e legumes.

Vale ressaltar que a dieta vai muito além do cardápio: inclui atividade física ao ar livre, descanso e o controle do estresse.

<><> Para ter à mão

Além do aclamado Guia Alimentar para a População Brasileira, o Ministério da Saúde desenvolveu uma cartilha que traz informações sobre alimentação cardioprotetora, baseada nas cores da bandeira do Brasil. Os itens do grupo verde são aqueles que podemos consumir em maior quantidade. “Entram frutas, hortaliças, leguminosas e lácteos desnatados”, diz Giuliana Modenezi, do Einstein.

Já no grupo amarelo, que pede moderação, estão pães, macarrão e doces caseiros. No azul, a recomendação é para ainda mais parcimônia: vale para queijos amarelos, farinhas, ovos, entre outros.

Há também a cor vermelha, que não consta na bandeira, e refere-se ao que deve ser evitado. “Aqui são os alimentos ultraprocessados”, avisa Modenezi. Salgadinhos, comida congelada pronta (lasanha, pizza etc.) e biscoitos recheados são exemplos. Aliás, manter distância de produtos desse tipo protege não só as artérias, mas todo o organismo.

 

¨      Ultraprocessados podem dificultar luta do corpo contra células de câncer

De acordo com um novo estudo, os alimentos que você consome podem estar afetando a capacidade do seu corpo de combater células de câncer no cólon. O possível culpado: um excesso de certos ácidos graxos ômega-6 — talvez de alimentos ultraprocessados em sua dieta — que pode prejudicar as propriedades anti-inflamatórias e antitumorais de outro ácido graxo essencial, o ômega-3.

 “Existem mutações todos os dias no trato gastrointestinal e, normalmente, elas são eliminadas imediatamente pelo sistema imunológico com a ajuda de moléculas ou mediadores dos ômega-3”, disse o Timothy Yeatman, coautor sênior do estudo publicado na terça-feira (10) na revista Gut, da Sociedade Britânica de Gastroenterologia.

“Mas se você tem um corpo submetido há anos em um ambiente inflamatório crônico criado por um desequilíbrio de ômega-6, o tipo comumente encontrado em alimentos ultraprocessados e junk food, acredito que é mais fácil uma mutação se estabelecer e mais difícil para o corpo combatê-la”, disse Yeatman, oncologista cirúrgico e professor da Universidade do Sul da Flórida e do Instituto do Câncer do Hospital Geral de Tampa.

Especialistas afirmam que a dieta ocidental é frequentemente rica em ácidos graxos ômega-6, devido aos óleos de sementes amplamente disponíveis, frequentemente usados para fritar fast foods e fabricar alimentos ultraprocessados, que agora compõem cerca de 70% do suprimento alimentar dos EUA.

Muitas pessoas têm um desequilíbrio significativo de ômega-6 para ômega-3 em seus corpos — um estudo de novembro de 2015 descobriu que os níveis de ácido linoleico aumentaram 136% no tecido adiposo dos norte-americanos durante o último meio século.

 “É precipitado dizer que os ômega-6 dos alimentos ultraprocessados são a causa. Os norte-americanos têm poucos ômega-3 porque não gostam de peixes gordurosos como cavala, arenque e sardinha, que são ótimas fontes”, disse o Bill Harris, professor de medicina interna da Escola de Medicina Sanford da Universidade de Dakota do Sul, que não participou da nova pesquisa.

“Não culpe os ômega-6, não é culpa deles — é a falta de ácidos graxos ômega-3 que é o problema”, disse Harris, que também é presidente e fundador do Instituto de Pesquisa de Ácidos Graxos sem fins lucrativos em Sioux Falls, Dakota do Sul.

Tanto os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3, quanto os ômega-6, são essenciais para a saúde humana. No entanto, seu corpo não pode produzi-los sozinho e deve criá-los a partir dos alimentos que você consome.

<><> O que são os ácidos graxos essenciais?

Os ômega-3 — encontrados em grandes quantidades em peixes gordurosos como salmão, bem como em sementes de linhaça e chia, nozes-pecã, nozes e pinhões — mantêm as células do seu corpo, fornecem energia, mantêm a defesa imunológica e reduzem a inflamação quando em níveis ideais (como a maioria das coisas, ômega-3 em excesso pode ser prejudicial).

Os ômega-6 também são necessários para manter uma boa saúde. Essas moléculas estimulam o crescimento do cabelo e da pele, regulam o metabolismo, aumentam a saúde óssea e, em alguns casos, podem até ser anti-inflamatórias. No entanto, os ômega-6 também são convertíveis em moléculas como prostaglandinas que sinalizam o início da inflamação — não é algo ruim quando seu corpo está tentando repelir rapidamente um invasor ou tumor, mas devastador se deixado latente por longos períodos sem resolução.

O câncer colorretal era tradicionalmente uma doença dos idosos, mas não mais. O câncer do reto e do intestino grosso está em uma marcha mortal entre pessoas com apenas 20 anos, com casos diagnosticados continuando a aumentar entre aqueles com menos de 50 anos em todo o mundo.

<><> Uma tendência perigosa

Os millennials, que nasceram entre 1981 e 1996, têm o dobro do risco de câncer colorretal em comparação com aqueles nascidos em 1950, de acordo com um estudo de fevereiro de 2017. Para homens mais jovens, este tipo de câncer é o mais mortal; para mulheres mais jovens, o câncer colorretal vem em terceiro lugar, depois do câncer de mama e de pulmão, afirma o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos em seu site.

“Casos de câncer em pessoas mais jovens estão aumentando drasticamente. Aqui estão algumas medidas preventivas a serem tomadas. Os especialistas não têm certeza absoluta sobre o que está por trás do aumento do risco: a genética tem um papel importante, mas a doença está aparecendo em pacientes mais jovens sem histórico familiar”, disse a gastroenterologista Robin Mendelsohn à CNN em uma entrevista anterior.

O aumento da obesidade pode explicar o crescimento, mas alguns pacientes jovens são vegetarianos e fanáticos por exercícios, disse Mendelsohn, codiretora do Centro para Câncer Colorretal e Gastrointestinal de Início Precoce no Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova York.

<><> Resolver a inflamação para que o corpo possa se curar

Evidências crescentes, no entanto, mostram uma ligação entre uma dieta pouco saudável rica em alimentos ultraprocessados, carne vermelha e carnes processadas como presunto, bacon, linguiça, cachorro-quente e frios — assim como a falta de frutas e vegetais frescos — ao câncer colorretal de início precoce, segundo o Instituto Nacional do Câncer.

No novo estudo, pesquisadores utilizaram tecido de câncer colorretal coletado de 80 pacientes nos EUA e compararam o tumor com tecido normal do cólon retirado do mesmo paciente. O objetivo: identificar mediadores pró-resolução especializados, produzidos pelo corpo a partir de ácidos graxos ômega-3, incluindo ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA), durante a fase de resolução da inflamação aguda.

Estes mediadores pró-resolução especializados incluem resolvinas, lipoxinas, protectinas e maresinas, que têm potentes efeitos anti-inflamatórios que ajudam os tecidos inflamados a retornarem ao normal uma vez que a necessidade de uma resposta inflamatória termina.

“Existem dois componentes para a cura de lesões ou infecções”, disse Yeatman. “Primeiro, o sistema imunológico combate a infecção com inflamação, como febre, e depois resolve essa inflamação com mediadores pró-resolução especializados criados a partir de derivados de ômega-3.”

No entanto, os mediadores de ômega-3 só entram em ação quando o corpo está combatendo a inflamação e, portanto, são frequentemente difíceis de detectar durante o início da inflamação, disse o coautor do estudo Ganesh Halade, professor associado de medicina interna da Universidade do Sul da Flórida.

Para superar esse obstáculo, Halade disse que usou uma técnica analítica altamente sensível para identificar quantidades traço de diferentes mediadores do ômega-3 nas amostras de tumor canceroso, enquanto também media os níveis de ômega-6.

“Este é o primeiro estudo a ver de maneira abrangente como as moléculas provenientes do ômega-3 e ômega-6 se comportam no tumor canceroso e no tecido normal de controle do mesmo paciente”, disse Halade.

“Descobrimos que o tecido de controle tem um equilíbrio perfeitamente adequado de moléculas de ômega-6 e ômega-3”, disse ele. “No entanto, encontramos um tremendo desequilíbrio no microambiente do tumor — as gorduras ômega-6 provenientes de alimentos ultraprocessados estavam produzindo mais moléculas pró-inflamatórias dentro do tumor canceroso, mas não no tecido de controle”.

Em resumo: sem ômega-3 suficiente disponível para ajudar a controlar a reação inflamatória criada pela resposta do corpo ao câncer, a inflamação continua a se intensificar, danificando ainda mais o DNA das células e prolongando um ambiente propício ao crescimento do câncer.

“Os pesquisadores estão basicamente dizendo que há tanto ômega-6 ao redor que dá ao tumor canceroso a chance de simplesmente disparar, e eu acho que isso provavelmente está correto”, disse o químico analítico Tom Brenna, professor de pediatria da Dell Medical School da Universidade do Texas em Austin, que não esteve envolvido no novo estudo.

“À medida que o ácido linoleico aumenta no corpo, ele diminui a quantidade de dois ômega-3s, EPA e DHA, no tecido do corpo”, disse Brenna. “E os norte-americanos já não consomem ômega-3 suficiente, então a implicação do estudo é que se uma pessoa tem muito ômega-6, eles provavelmente precisam aumentar seu ômega-3 para contrabalançar esse impacto”.

<><> Aumentando o ômega-3 na sua dieta

Tente obter o máximo de ômega-3 possível de sua dieta, dizem os especialistas. Os ômega-3s EPA e DHA são encontrados em peixes gordurosos como anchova, salmão, cavala, arenque, sardinha, robalo, atum azul e truta. Ostras e mexilhões também são boas fontes, segundo a Associação Americana do Coração (AHA).

Coma duas porções por semana de aproximadamente 85 gramas, ou cerca de ¾ de xícara, de peixe em lascas, recomenda a AHA. Alguns tipos de peixes, geralmente espécies maiores como o atum, contêm níveis mais elevados de mercúrio ou outros contaminantes ambientais, portanto, certifique-se de variar os tipos de frutos-do-mar que você consome para reduzir o risco.

Outro importante ômega-3, o ácido alfa-linolênico ou ALA, é encontrado em sementes como nozes, sementes de linhaça e sementes de chia — sendo que a linhaça moída e o óleo de linhaça fornecem as maiores quantidades, segundo o site da Escola de Medicina de Harvard.

Tente polvilhar linhaça moída ou sementes de chia em granola e iogurte, e consuma pequenas quantidades de nozes durante o dia. Um suplemento de óleo de peixe de boa qualidade também pode ajudar.

Pode haver efeitos colaterais da suplementação, como mau hálito, suor com odor desagradável e dores de cabeça, além de problemas digestivos como azia, náusea ou diarreia, afirma o site de Harvard.

Como os ômega-3s têm efeitos anticoagulantes, os especialistas dizem ser melhor consultar seu médico antes de começar a tomar ômega-3s (ou qualquer suplemento). Os limites sugeridos para vários ômega-3s variam conforme a idade e as condições de saúde — outro bom motivo para consultar seu médico.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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