sábado, 21 de dezembro de 2024

Problemas na tireoide podem acontecer sem sintomas; entenda

Imagina realizar um exame de rotina e descobrir que está com problemas na tireoide, mesmo se sentindo bem e sem sintomas aparentes. Isso acontece nas chamadas disfunções subclínicas da tireoide, caracterizadas pelo desequilíbrio nos níveis dos hormônios produzidos pela glândula.

 “As disfunções subclínicas da tireoide referem-se a condições em que há um ligeiro desequilíbrio nos níveis dos hormônios tireoidianos ou do hormônio estimulante da tireoide (TSH), que é o hormônio produzido na hipófise que regula a tireoide. Essas disfunções são detectáveis em exames laboratoriais, mas sem sintomas clínicos evidentes ou característicos”, explica Erivelto Volpi, médico-cirurgião de cabeça e pescoço e especialista em doenças da tireoide e paratireoide.

tireoide é responsável por produzir hormônios que regulam o metabolismo do corpo, como a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4).

“O T3 e o T4 aumentam a taxa metabólica basal, influenciando a velocidade com que o corpo utiliza energia e consome oxigênio; no crescimento e desenvolvimento, pois eles são essenciais no sistema nervoso central em crianças; na regulação da temperatura corporal, pois aumentam a produção de calor no organismo e ajudam a manter a temperatura corporal estável; na regulação do ritmo circadiano, influenciando a frequência e a força das contrações cardíacas; e na manutenção de outras funções corporais, pois afetam digestão, saúde muscular, função reprodutiva e manutenção da pele e cabelos entre tantas outras funções”, explica o especialista.

Diante disso, desequilíbrios nos níveis desse hormônio podem levar a complicações de saúde, quando não detectados precocemente, como problemas cardiovasculares, alterações no metabolismo e no peso, mudanças de humor, entre outras.

Quais são os tipos de disfunções subclínicas da tireoide?

<<<< De acordo com Volpi, existem dois principais tipos de disfunções subclínicas da tireoide:

  • Hipotireoidismo subclínico: caracterizado por níveis elevados de TSH, enquanto os níveis de T3 e T4 permanecem dentro da faixa normal;
  • Hipertireoidismo subclínico: ocorre quando os níveis de TSH são inferiores ao normal, mas os níveis de T3 e T4 estão na faixa de normalidade.

“O hipotireoidismo subclínico pode indicar que a tireoide está começando a ter dificuldade em produzir hormônios adequadamente, enquanto o hipertireoidismo subclínico pode indicar que a tireoide está produzindo hormônios em excesso, mesmo que os níveis dos hormônios tireoidianos não sejam elevados o suficiente para causar sintomas”, afirma o especialista.

Geralmente, essas condições não apresentam sintomas evidentes. No entanto, algumas pessoas podem ter sintomas leves e que não necessariamente estão associados à tireoide, como fadiga, mudanças de humor ou leve alteração no peso.

“Esses sintomas podem ser bastante sutis e, muitas vezes, não são diretamente atribuídos à tireoide sem confirmação laboratorial. Devido à possibilidade de evolução para uma disfunção tireoidiana mais significativa ou pelo impacto em outras condições de saúde, é importante realizar o acompanhamento regular com um profissional de saúde se uma disfunção subclínica for identificada”, ressalta Volpi.

<><> Quais complicações as disfunções subclínicas da tireoide podem causar?

O principal risco que as disfunções subclínicas da tireoide apresentam é a progressão para uma doença tireoidiana clínica. “Essas disfunções podem evoluir para hipotireoidismo ou hipertireoidismo clínico, que apresentam sintomas mais evidentes e requerem tratamento”, afirma o especialista.

Além disso, as condições podem levar às seguintes complicações:

  • Problemas cardiovasculares: o hipotireoidismo subclínico pode estar associado a um aumento do colesterol LDL e hipertensão, elevando o risco de doenças cardíacas;
  • Alterações no metabolismo e no peso: contribuindo potencialmente para o ganho ou a perda de peso não intencional, causando problemas relacionados a estas variações;
  • Impacto na saúde mental: pode haver uma relação entre disfunções tireoidianas e alterações de humor, ansiedade e depressão, mesmo em estágios subclínicos;
  • Complicações na gravidez: uma vez que mulheres grávidas com disfunções tireoidianas subclínicas podem enfrentar complicações como pré-eclâmpsia, parto prematuro ou problemas no crescimento fetal;
  • Impacto em condições crônicas, como diabetes e patologias relacionadas à saúde cardiovascular.

<><> Como é feito o tratamento?

O tratamento das disfunções subclínicas da tireoide varia de acordo com o tipo de disfunção, dos níveis hormonais, da presença de sintomas e do risco de complicações, de acordo com Volpi.

“No caso do hipotireoidismo subclínico, especialmente quando os níveis de TSH são apenas levemente elevados e não há sintomas, o médico pode optar por um acompanhamento periódico sem intervenção imediata”, explica. “Se os níveis de TSH forem significativamente elevados, ou se houver sintomas associados, pode ser recomendado o uso de hormônios tireoidianos sintéticos, como a levotiroxina (T4). A dose é ajustada com base nos níveis de TSH e outros hormônios tireoidianos”, completa.

Já no caso do hipertireoidismo subclínico, pessoas que não apresentam sintomas podem ser monitoradas sem tratamento por um período. “Mas, se houver sintomas ou complicações, o tratamento pode incluir medicações antitireoidianas, que reduzem a produção de hormônios tireoidianos, terapia com iodo radioativo, que destrói parte do tecido da tireoide, e cirurgia (em casos mais raros e específicos)”, afirma.

<><> É possível prevenir?

Não é possível prevenir as disfunções tireoidianas subclínicas, de acordo com Volpi. No entanto, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco ou atrasar o desenvolvimento, como:

  • Fazer a ingestão adequada de nutrientes, como o iodo, essencial para a produção de hormônios tireoidianos, e o selênio, que desempenha um papel na função da tireoide e na conversão do T4 em T3 e está presente nas castanhas;
  • Manter uma alimentação saudável, rica em frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais;
  • Evitar exposição a toxinas potencialmente prejudiciais, como pesticidas e compostos químicos industriais;
  • Manter atividade física regular;
  • Gerenciar o estresse;
  • Realizar o acompanhamento regular com médicos especialistas, principalmente para quem tem histórico familiar de doenças tireoidianas ou condições autoimunes.

 

¨      Conheça as substâncias químicas que estão desregulando seus hormônios

Uma classe de substâncias químicas –– provavelmente presentes em produtos em muitas residências –– pode estar afetando sua saúde hormonal. A questão é: quão preocupadas as pessoas deveriam estar com esses materiais que atuam disruptores endócrinos (EDCs, na sigla em inglês), como ftalatos, BPA ou bisfenol A, e retardantes de chama bromados?

A literatura científica sobre EDCs ainda está em desenvolvimento, mas associações têm sido sugeridas entre a exposição e problemas de saúde, incluindo desenvolvimento cerebral, fertilidade e puberdade, disse o Dr. Michael Bloom, professor de saúde global e comunitária na Faculdade de Saúde Pública da Universidade George Mason em Fairfax, no estado norte-americano da Virgínia.

E embora ainda existam muitas questões que os pesquisadores querem explorar sobre os EDCs, organizações como o Environmental Working Group, uma organização sem fins lucrativos que pesquisa e defende produtos mais seguros, estão incentivando as pessoas a tomar medidas para evitar a exposição.

Os químicos disruptores endócrinos afetam os hormônios, que são substâncias que desempenham o importante papel de carregar mensagens por todo o corpo para coordenar diferentes funções em órgãos, pele, músculos e outros tecidos, conforme a Cleveland Clinic.

Os químicos disruptores endócrinos não são produzidos pelo corpo humano, mas influenciam a maneira como seus hormônios funcionam, disse Bloom. Os hormônios são essenciais para muitos processos biológicos no corpo, como puberdade, reprodução e desenvolvimento cerebral.

Alguns desses químicos podem imitar os hormônios que seu corpo produz, como estrogênio ou testosterona. Outros EDCs afetam a síntese hormonal, fazendo com que o corpo produza mais ou menos de um hormônio, ou alterando como ele é decomposto, acrescentou.

Os ftalatos, por exemplo, são químicos sintéticos que os fabricantes frequentemente usam em centenas de produtos, como recipientes para alimentos e bebidas e filme plástico. Esses EDCs interferem na produção de testosterona, de acordo com a Sociedade de Endocrinologia.

Os retardantes de chama bromados são usados em eletrônicos, roupas e móveis, e estão associados à função anormal da tireoide, que tem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, disse a sociedade.

“Os químicos disruptores endócrinos afetam de alguma forma a comunicação hormonal”, disse Bloom. “E a comunicação hormonal é uma via crítica pela qual nosso cérebro se comunica com os tecidos, e os tecidos se comunicam entre si, e o funcionamento diário que nos mantém vivendo, esperamos que com alta eficiência.”

A exposição crônica a uma substância que bloqueia ou altera a atividade hormonal pode ter consequências sérias, acrescentou Alexa Friedman, cientista sênior da equipe de vida saudável do Environmental Working Group.

“Qualquer coisa que afete seus hormônios é muito provável que afete outros resultados de saúde”, disse ela.

A crescente literatura científica sugere que os disruptores endócrinos podem desempenhar um papel em condições como transtorno de déficit de atenção e transtornos de controle de impulsos, acrescentou Bloom.

“Os hormônios desempenham um papel enorme no desenvolvimento do cérebro e no funcionamento normal do cérebro, então ser exposto a esses EDCs no início da vida pode alterar seu desenvolvimento”, disse Friedman.

Esses químicos também podem estar ligados à tendência de puberdade precoce em meninas, que “está associada a um risco aumentado de problemas psicossociais, obesidade, diabetesdoenças cardiovasculares e câncer de mama“, disse a Dra. Natalie Shaw, chefe do Grupo de Neuroendocrinologia Pediátrica no Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental.

Estudos também mostraram preocupações em torno da sensibilidade à insulina e diabetes, obesidade e fertilidade, disse Bloom.

O problema em aprofundar a pesquisa investigativa é que é difícil estudar os EDCs e seus impactos prejudiciais no corpo humano, acrescentou. A maior parte das evidências vem do uso de modelos celulares, nos quais tecidos ou células em uma placa são expostos a altas concentrações dos químicos –– mais altas do que a maioria das pessoas jamais entraria em contato naturalmente, disse Bloom.

Para entender o que um nível de exposição mais “biologicamente realista” faria, os pesquisadores podem analisar amostras de urina, checar se há presença de EDCs e comparar os níveis com diferentes marcadores de saúde, disse ele.

Mas a literatura científica atual é controversa, conforme apontou Bloom. Alguns estudos dizem que sim, a exposição a EDCs é um fator de risco significativo para piores resultados de saúde, enquanto outros relatórios contradizem isso.

“Estamos em uma posição em que é como, “é melhor prevenir do que remediar?””, acrescentou.

Pesquisadores, órgãos reguladores e indivíduos estão lutando para decidir se vale a pena fazer mudanças agora, caso a pesquisa mostre que é necessário eliminar os EDCs, ou esperar para evitar o custo e o esforço que vêm com a substituição de produtos para aqueles que têm menor risco de exposição aos químicos, disse Bloom.

Pode ser desafiador eliminar totalmente a exposição a disruptores endócrinos, disse Friedman.

“O maior problema com os EDCs é que eles são tão onipresentes no ambiente e em tudo o que usamos”, acrescentou.

Produtos para cuidados com a pele e produtos de cuidados pessoais são fontes de exposição tanto para crianças quanto para adultos, tanto na composição química dos próprios produtos quanto na embalagem plástica em que estão, disse Bloom. Pesticidas usados na agricultura e encontrados em produtos agrícolas podem ter disruptores endócrinos, e a água subterrânea também pode estar contaminada, acrescentou Friedman.

CNN entrou em contato com a Associação Nacional de Manejo de Pragas e o Conselho de Produtos de Cuidados Pessoais dos Estados Unidos para comentários.

“Acredite ou não, concentrações bastante significativas são encontradas na poeira doméstica”, acrescentou Bloom. A presença na poeira é especialmente preocupante quando se trata de bebês e crianças pequenas que passam muito tempo perto do chão, disse ele.

Muitas pessoas de cor são expostas a níveis mais altos de disruptores endócrinos, disse Bloom. Alguns pesquisadores especularam que isso ocorre porque os produtos comercializados para eles, incluindo produtos para cuidados com os cabelos, têm concentrações mais altas, disse Bloom.

“Alguém que está seguindo sua rotina regular usando seus produtos de cuidados pessoais favoritos, bebendo água da torneira, comendo produtos agrícolas — pode estar exposto a níveis realmente, realmente pequenos de EDCs de muitas maneiras diferentes que se acumulam ao longo da vida”, disse Friedman.

Pode ser difícil dizer quais produtos podem expô-lo a mais disruptores endócrinos apenas olhando o rótulo, disse Bloom. Os componentes de muitos produtos são proprietários, o que significa que são protegidos pela propriedade da empresa, então nem sempre são claramente rotulados, acrescentou.

“Não há requisitos claros de rotulagem, e a indústria pode mudar o que usa ao longo do tempo”, disse Bloom. Isso significa que um produto testado há dois anos pode ser fabricado de maneira diferente agora e introduzir níveis diferentes de exposição, acrescentou.

“Investigadores científicos, cientistas de saúde ambiental, estão constantemente tentando acompanhar os produtos usados pela indústria”, disse Bloom.

Há medidas que as agências governamentais estão tomando para ajudar a proteger os consumidores e mais pesquisas ainda sendo feitas, de acordo com uma declaração por e-mail da Agência de Proteção Ambiental dos EUA.

“A EPA tomou medidas para regular esses químicos no ambiente e fornece escrutínio adicional para químicos, incluindo pesticidas, por meio do Programa de Triagem de Disruptores Endócrinos”, dizia a declaração.

A prevalência de EDCs e a falta de clareza na rotulagem não significam que não há nada que você possa fazer, no entanto.

Friedman recomenda encontrar mudanças gerenciáveis que você possa fazer que ainda se encaixem em seu orçamento, prioridades e estilo de vida. Substituir gradualmente produtos de cuidados pessoais um de cada vez à medida que você usa produtos individuais é um ótimo lugar para começar, disse ela. Filtrar os EDCs do abastecimento de água também é uma maneira gerenciável de começar, acrescentou.

Não se trata de mudar tudo –– Friedman tem cabelos cacheados, então ela mantém o mesmo shampoo e condicionador, mas encontra produtos que ela não se importaria em trocar e faz mudanças lá, disse ela.

O EWG também tem um banco de dados de água da torneira para que as pessoas possam pesquisar a qualidade da água potável por CEP e usar um guia de filtração de água para escolher um sistema adequado para elas.

“Pode não ser tão fácil (para as pessoas) mudar onde moram, talvez até mesmo sua água –– esse tipo de fontes ambientais que são apenas parte de sua vida: o ar que você respira, as coisas a que você está exposto no trabalho, etc.”, disse ela. “Mas produtos de cuidados pessoais são uma coisa em que acho que as pessoas têm muita autonomia e no que estão comprando dentro do razoável.”

 

Fonte: CNN Brasil

 

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