quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

O custo da criminalidade na América Latina

O combate ao crime é, antes de tudo, uma questão de defesa de direitos fundamentais, a começar pelo direito à vida. Mas é também uma questão econômica. Há um círculo vicioso entre crime e pobreza. A degradação econômica incentiva o crime, e o crime deteriora a atividade econômica. Não por coincidência a América Latina é a região mais desigual e a mais homicida do mundo. Conforme o índice Gini de desigualdade, a região está 15% acima da segunda região mais desigual, a África Subsaariana, e 50% acima das regiões mais igualitárias, como a Europa. Com 8% da população do planeta, a América Latina responde por 40% de seus homicídios.

As relações de causa e efeito entre a redução do crime e o crescimento econômico, e vice-versa, são fáceis de inferir, mas difíceis de mensurar. Os custos diretos da violência incluem perdas de produção (de bens e serviços) e de recursos (a produtividade das vítimas e dos criminosos), além dos gastos com segurança que poderiam ser investidos em atividades produtivas. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o crime custa 3,6% do PIB dos países latino-americanos, duas vezes mais que nos países desenvolvidos e o equivalente aos gastos da região com infraestrutura e à renda dos 30% mais pobres. Fora os custos indiretos, como menos oportunidades de emprego, mais emigração, erosão das instituições, corrupção, e as consequentes perdas de investimentos. Tudo isso empobrece a população e estimula mais violência, perpetuando o já mencionado círculo vicioso.

O FMI estima que na América Latina um aumento de 30% nos homicídios reduz o crescimento em 0,14 ponto porcentual. Inversamente, se o crime fosse reduzido à média mundial, o crescimento anual aumentaria 0,5 ponto porcentual, cerca de um terço do crescimento atual.

Um dos motivos pelos quais o crime é tão prevalente na América Latina é porque ele compensa. Os ganhos são altos em relação à economia legal, e a chance de os criminosos serem pegos é pequena. Menos de 10% dos homicídios na região são solucionados. O contingente de jovens que não estuda nem trabalha é alto, o que pede mais programas de formação. O sistema de Justiça frequente falha em suas tarefas, o que pede mais capacitação da polícia e melhorias no sistema judiciário e prisional. A expansão do crime organizado agrava estes fatores. Países outrora seguros, como Equador, Chile ou Costa Rica, sofreram uma escalada da violência após se tornarem entrepostos do narcotráfico.

Mas a região também tem alguns dos países que reprimiram mais eficazmente a violência. Os homicídios são extraordinariamente concentrados: cerca de 80% das mortes violentas na América Latina ocorrem em 2% de suas ruas. Estatísticas podem ajudar a polícia a realizar prisões e prevenir crimes. Nos anos 90, a Colômbia era um dos países mais violentos da região. A prefeitura de Cali estabeleceu “observatórios da violência” para estudar como localidades e comportamentos favorecem assassinatos. Muitos resultam de rixas entre indivíduos embriagados. Restrições ao álcool e armas ajudaram a cortar os homicídios em 35%. Cidades como Medellín utilizaram esse policiamento baseado em evidências para reprimir cartéis de drogas. A Justiça puniu mais criminosos, os cidadãos sentiram que as ruas estavam mais seguras e as ruas mais povoadas desencorajaram os criminosos. Entre 1995 e 2017, a taxa de homicídios da Colômbia caiu de 70 por 100 mil habitantes para 24, a menor em 40 anos.

Uma das razões da violência exorbitante na América Latina é que a região se urbanizou uma geração antes de outras áreas em desenvolvimento. Agora a violência cresce nessas regiões também. Assim como a América Latina liderou a alta de homicídios no mundo, pode liderar a sua baixa. O fortalecimento do Estado de Direito beneficiará, a um tempo, o combate ao crime e o crescimento econômico. Com segurança pública baseada em evidências, os latino-americanos podem antecipar para outros países os antídotos e remédios para a doença do crime, evitar indizíveis tragédias de suas vítimas e enriquecer toda a sua população.

 

       Ministério diz que crime organizado teve prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2023

 

O Ministério da Justiça e Segurança Pública divulgou um balanço das ações da pasta em 2023 que apontou que uma operação feita nas fronteiras -com apreensão de armas e drogas- teria causado um prejuízo de R$ 2,6 bilhões ao crime organizado.

O MJSP atuou diretamente ou indiretamente em mais de 15 mil operações em 2023. Ainda segundo o levantamento oficial, as operações integradas entre os órgãos foram responsáveis pela redução no número de homicídios e aumento na apreensão de drogas.

A Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp/MJSP) executaram mais de 52 mil prisões e apreenderam 9.935 armas ilegais.

Durante a Operação PAZ, com o objetivo de diminuir o número de mortes violentas intencionais, houve uma redução de 3% nos homicídios. A ação teve como foco os estados com maior incidência desses crimes, e prendeu cerca de seis mil pessoas. Além disso, houve a apreensão de 1.419 armas de fogo e 30 toneladas de drogas.

A Operação Protetor, que teve atuação nas fronteiras, apreendeu 393 toneladas de drogas e 1.626 armas. Segundo o Ministério, somente essa força-tarefa causou um rombo de R$ 2,6 bilhões ao crime organizado.

Na atuação com foco no combate à violência doméstica, mais de 17 mil pessoas foram presas e 165 mil vítimas atendidas. Chamada de Átria e Shamar, a operação resultou em 71 mil medidas protetivas de urgência.

Voltada ao combate à exploração sexual infantojuvenil, a Operação Caminhos Seguros recolheu 6.185 materiais pornográficos digitais envolvendo crianças e adolescentes. Além disso, o MJSP aponta que mil adultos foram presos. Ainda houve a apreensão de 15 toneladas de drogas e 89 armas de fogo.

No combate à violência contra idosos, 11,5 mil vítimas atendidas e mais de mil suspeitos conduzidos a delegacias. A Operação Virtude teve apoio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).

Ainda houve a descapitalização e recuperação de ativos do crime junto a Operação Impulse. Segundo as informações oficiais, R$ 2,2 milhões oram apreendidos em 2023 e R$ 652 mil bloqueados do crime organizado.

INVESTIMENTO EM OPERAÇÕES SUPEROU R$ 236 MI, SEGUNDO MINISTÉRIO

Ao todo, o Ministério relatou ter aportado mais de R$ 236 milhões em operações integradas. Esse dinheiro foi destinado para a atuação de policiais nos estados envolvidos, com pagamentos de passagens e diárias dos agentes.

 

       Registros de armas para defesa pessoal caem 82% no Brasil

 

Foram 20.822 novos registros do tipo em 2023, número mais baixo desde 2004. Polícia Federal atribui queda a regras mais restritivas adotadas neste ano.O número de novas armas registradas em nome de civis para defesa pessoal em 2023 no Brasil foi o mais baixo dos últimos 19 anos. Foram 20.822 novos registros do tipo, 82% a menos do que no ano anterior.

Os dados são do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), gerido pela Polícia Federal (PF), que associou a queda ao endurecimento dos critérios e regras para a compra de armas neste ano.

Um decreto editado em julho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema reverteu flexibilizações que haviam sido adotadas na gestão Jair Bolsonaro e alterou as regras de fiscalização.

A norma reduziu de quatro para duas a quantidade de armas para defesa pessoal que cada pessoa pode ter, e passou a exigir efetiva comprovação de necessidade.

Segundo a PF, houve uma queda dos novos pedidos de registro, e 75% dos pedidos de porte foram negados.

•        Decreto também endureceu regras para CACs

O decreto de julho também estabeleceu maior controle das armas registradas na modalidade de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs), que haviam sido flexibilizadas no governo anterior e registraram recordes de novos cadastros. Na gestão Bolsonaro, o número de pessoas com registro de CAC aumentou sete vezes.

Segundo levantamentos feitos pelo Instituto Igarapé, em 2017 existiam 63.137 pessoas com registros ativos de CACs, e em junho de 2022 esse número chegou a 673.88 pessoas, que acumulavam 1.006.725 de armas.

O decreto também modificou a responsabilidade sobra a fiscalização sobre armas compradas via CACs e dos clubes de tiro. Essa competência, que era do Exército, passou para a PF.

A mudança do Exército para a PF decorreu de uma percepção do governo e do resultado de uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) indicando que os militares não executavam essa função com eficiência.

Brasil lidera ranking de homicídios em 2023

Entidades da sociedade civil contrárias à flexibilização da compra de armas argumentam que o armamento da população não é uma solução eficaz para o combate da criminalidade e pode contribuir para o aumento do número de mortes violentas. Além disso, parcela das armas compradas legalmente com o tempo acaba por alimentar o mercado paralelo.

Em 2022, 76,5% das mortes violentas ocorridas no Brasil foram provocada por arma de fogo, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

O Brasil lidera o ranking mundial de homicídios em números absolutos, de acordo com dados do Estudo Global sobre Homicídios 2023. O país registrou 47.722 assassinatos em um ano, 10,4% do total mundial. Em homicídios per capita, tem 22,38 mortes a cada 100 mil habitantes – quase quatro vezes mais do que a média global, segundo o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC).

 

Ø  PM do Rio ocupa Cidade de Deus para combate ao crime organizado

 

A Polícia Militar do Rio de Janeiro ocupa nesta quarta-feira (3) a Cidade de Deus, na zona oeste da capital. Segundo a Secretaria de Estado da Polícia Militar, a operação, que começou no início da manhã e vai durar 24 horas tem o objetivo de retirar barricadas instaladas por criminosos para dificultar a entrada de agentes de segurança na comunidade, a apreensão de carros roubados ou clonados e o combate a ações criminosas.

A ocupação é feita por integrantes do 18º Batalhão de Polícia Militar (Jacarepaguá), com apoio do Grupamento Especial de Salvamento e Ações de Resgate (Gesar) e do Batalhão de Ação de Cães (BAC).

“O comando do 18º BPM iniciou, nesta manhã (3), uma operação excepcional na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, comunidade utilizada como base por um grupo criminoso para cometer uma série de delitos. A ação conta com apoio de outras unidades. O policiamento na região está reforçado”, disse a PM em seu perfil na rede social X, o antigo Twitter.

Policiais do BAC apreenderam cerca de 70 quilos de maconha na comunidade, na localidade conhecida como Caminho do Outeiro. Conforme a secretaria, a ação contou com apoio de cães farejadores, e o patrulhamento na comunidade continua.

Também na rede social, a PM informou que um olheiro do tráfico de drogas foi preso no momento em que monitorava e repassava informações para o grupo criminoso responsável pelo crime organizado na Cidade de Deus. “Ele monitorava a ação de policiais militares que estão atuando no dia de hoje no interior da comunidade”. A mensagem no X inclui a imagem do radiocomunicador apreendido com o olheiro, que segundo a secretaria, foi preso na Travessa do Sal, na localidade Novo Mundo.

Ainda na rede social, a PM postou vídeo mostrando a retirada de barricadas pelos agentes no interior da comunidade, com o auxílio de uma retroescavadeira. Antes de começar o trabalho, criminosos atearam fogo a barricadas utilizando pneus. Essa é uma das formas que eles usam para impedir a ação dos policiais.

 

Fonte: Agencia Estado/Agencia Brasil

 

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