domingo, 28 de janeiro de 2024

As revelações bombásticas de Alberto Youssef contra Sérgio Moro

Se as revelações de Tony Garcia sobre a Lava Jato são suficientes para complicar a vida do ex-juiz Sérgio Moro e seus companheiros procuradores, o inquérito do doleiro Alberto Youssef tem um potencial de estrago muito maior.

Isso porque parte relevante dos crimes atribuídos a Moro, no caso de Tony Garcia, já prescreveu. Serão relevantes para comprovar as práticas criminosas cometidas na Lava Jato. Já o processo de Alberto Youssef é recente.

Sérgio Moro rescindiu unilateralmente acordo firmado com Youssef e decretou prisão de ofício – prisão preventiva decretada pelo juiz, sem requerimento das partes ou do Ministério Público.

O escritório Figueiredo Bastos, que defende Youssef, foi o primeiro a sustentar que Moro não poderia julgar a Lava Jato, por ser suspeito, parcial e sem competência para o caso. Bastos teve aval de cortes superiores e levou o caso para o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavaski, mas que manteve o processo.

Na época, Teori aceitou uma reclamação, soltando Paulo Roberto Costa, mas mantendo Youssef preso, devido a um blefe de Sérgio Moro. Este alegou que a decisão de Teori poderia beneficiar traficantes, e o blefe foi acatado. Ali, quebrou-se definitivamente a espinha dorsal da hierarquia, e o Supremo se curvou à Lava Jato dali por diante, até o impeachment de Dilma Roussef.

A primeira medida de Moro foi a decretação de quatro prisões de ofício.

O caso mais grave foi a interceptação de uma escuta clandestina na cela em que Youssef estava detido. Foi aberto um inquérito e houve uma perseguição implacável contra um delegado profissional que tocou o caso. A pressão foi comandada pelo juiz Sérgio Moro e pelo procurador Januário Paludo. Na sindicância, esse fato foi expressamente admitido pelo delegado Moscardo Grillo, principal suspeito de ter colocado o gravador na cela..

Um primeiro juiz recusou-se a arquivar o caso. Um segundo, Nivaldo Brunoni arquivou, a pedido de Paludo. A defesa de Youssef só teve acesso a partir do curto período em que o juiz Eduardo Appio assumiu a 13a Vara.

Agora, o advogado Figueiredo Bastos afirma ter plena confiança no trabalho que está sendo tocado pela PF.  Não por coincidência, Moscardo Grillo pediu afastamento da PF.

Antes da Lava Jato, os dois padrinhos de Moro eram o Ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça e o próprio Teori Zavaski. Mais tarde, Dipp arrependeu-se do espaço aberto para Moro. Dipp chegou a abrir representação na corregedoria do TRF4 para investigar Moro. Mas foi arquivada.

O inquérito arquivado tem, pelo menos, uma bomba de alto teor: os grampos efetuados pelo advogado Roberto Bertholdo no telefone de Moro, que comprovaria as relações obscuras entre ele e Carlos Zucolotto, compadre e sócio de Rosângela Moro em um escritório de advocacia.

 

       Tony Garcia cita suposto agente da Abin como interlocutor de Moro

 

Em depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-deputado e empresário Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia, cita um nome que pode ser o elo para se desvendar toda a ação da suposta "organização criminosa" comandada por Sergio Moro (União-PR) para coação, chantagem e constrangimento ilegal de autoridades que não coadunassem com os métodos da Lava Jato.

Ao relatar que aceitou atuar como agente infiltrado de Moro, ao assinar o acordo de delação premiada, o ex-deputado contou que o então juiz listou algumas tarefas que ele deveria cumprir.

No entanto, para não levantar suspeitas, Moro teria orientado que a interlocução com o ex-deputado seria feita por um suposto "agente da Abin", a Agência Brasileira de Informação.

"Tony Garcia revelou que Sergio Moro o orientou a se encontrar com uma pessoa que se dizia agente da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), que se nominava como Wagner, porém, ostentava outros documentos com nomes diferentes".

A informação consta no relatório da PF, citado na decisão do ministro Dias Toffoli que autorizou a abertura de inquérito para investigar Moro, a esposa, a deputada Rosângela Wolf Moro (União-SP) e procuradores da Lava Jato sobre as denúncias feitas por Garcia.

No depoimento, o ex-deputado diz ter se encontrado com Wagner "umas sessenta vezes". "Ocasiões em que 'cumpria' como parte das 'missões' dadas por Sergio Moro, no mais das vezes, entregando números de telefones de pessoas a serem investigadas, as quais seriam objetos de interceptação telefônica".

Segundo a PF, Garcia diz ter presenciado "Wagner" registrando em filmagem encontro entre investigados e teria entregado mídias com provas.

"[Garcia] Também apontou a necessidade de diligências no sentido de se identificar a pessoa que se apresentou como Wagner e quais os atos investigativos por ele praticados", diz a PF.

A polícia diz ainda que Garcia entregou uma "vasta documentação" como prova, que tem mais de 7 mil páginas.

Os investigadores dizem ainda que os relatos de Garcia narram a prática de diversos crimes cometidos no âmbito da Operação Lava Jato, como:

Suposta existência de medidas invasivas no âmbito da Operação Lava Jato, como a determinação de tarefas ilícitas a Tony Garcia constantes de seu termo de colaboração premiada, tais como a determinação para realização de escutas ambientais e a exigência de entrega de gravações clandestinas de eventos que não guardam relação com o objeto de seu acordo;

Suposta cooptação de colaboradores pré-selecionados;

Existência de supostas negociações espúrias visando a homologação de acordos de colaboração premiada direcionados

Eventual existência de chantagens, coações, ameaças e constrangimentos para manutenção do acordo de colaboração premiada de Antônio Celso Garcia.

Sobre o último item, o ex-deputado relatou que "a todo momento havia intimidações de que, caso ele não colaborasse da maneira exigida, o acordo seria rescindido, com a consequente prisão de Tony Garcia e de seus familiares, além da expropriação de seus bens".

A PF ainda afirma que "pontuou que os fatos narrados por Tony Garcia é consonante com o narrado por Alberto youssef, que envolveu a alocação de uma escuta ambiental clandestina na cela que ocupava na Superintendência da Polícia Federal no Paraná, ao que tudo indica, para gravá-lo em conversas com seus advogados".

O processo contra Moro, Rosângela e procuradores da Lava Jato foi mantido em segredo de Justiça por Dias Toffoli.

•        Moro infiltrou policial em escritório de Tony Garcia

De acordo com a denúncia do ex-deputado Tony Garcia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) em uma decisão datada de 15 de dezembro de 2004, que sucedeu a assinatura do acordo de colaboração de Garcia, o ex-juiz Sergio Moro determinou a instalação de escutas no escritório do empresário e que um policial federal atuasse infiltrado no local, como se fosse um secretário do ex-parlamentar. As informações são da jornalista Daniela Lima, na Globo News.

Segundo a denúncia de Tony Garcia, tal estrutura permitiu que o ex-juiz grampeasse autoridades com foro, incluindo o então presidente do Tribunal de Contas em 2005.

Ao G1, Sergio Moro refutou as acusações e afirmou que nenhuma autoridade com foro foi investigada e que nunca solicitou gravações.

No entanto, na decisão do ex-juiz Sergio Moro, está detalhado todo o aparato fornecido a Tony, que alega ter sido usado por Moro para obter informações sobre ministros do STJ, conselheiros do TCE e também desembargadores do TRF-4.

Na decisão, Moro determina:

"a) instalação de equipamento de escuta ambiental, preferivelmente áudio e vídeo, com capacidade para gravação por períodos longos, em duas salas e em estabelecimentos distintos".

"b) A provável utilização, por um período de cerca de seis meses, de um agente policial infiltrado como secretário de escritório de prestação de serviços".

De acordo com informações dos investigadores que atuam com o ministro Dias Toffoli, o conteúdo das gravações era entregue em mãos a Moro e tais gravações não passavam pelo Ministério Público.

Em nota, Moro nega e afirma que Tony Garcia é um "criminoso". "Tony Garcia é um criminoso condenado. Não existe, nem nunca existiu, gravação de magistrados, nem nunca foi solicitado por ele gravações de autoridades com foro. As suspeitas eram principalmente de tráfico de influência, envolvendo terceiros que haviam pedido dinheiro a pretexto de entregá-lo a autoridades sem que estas participassem dos ilícitos. Uma das pessoas investigadas, aliás, foi condenada exatamente por este crime. Nenhuma autoridade com foro foi investigada. É oportuno lembrar que os depoimentos foram colhidos perante a autoridade judiciária na presença de representantes do Ministério Público e de defesa. Vale ressaltar que esses fatos ocorreram em 2004 e 2005, portanto, há mais de 17 anos."

Sergio Moro mandou instalar escutas no escritório do ex-deputado Tony Garcia e que um policial federal atuasse infiltrado no local. A estrutura permitiu que ele grampeasse autoridades com foro, como o então presidente do Tribunal de Contas do Estado.pic.twitter.com/0mCcE4Qslq — Lázaro Rosa ???? (@lazarorosa25) October 2, 2023

Por meio de suas redes sociais, Sergio Moro atacou a Globo News e afirmou que o canal "reverbera as mentiras de um condenado".

O G1 reverbera as mentiras de um criminoso condenado, Tony Garcia, para fabricar um falso escândalo sobre supostos fatos de 2004 e 2005, ou seja DE QUASE 20 ANOS ATRAS! As investigações conduzidas pelo MPF e executadas pela PF foram sobre tráfico de influência e escuta ilegal e… — Sergio Moro (@SF_Moro) October 2, 2023

•        Tony Garcia: "há mais provas"

 O empresário e ex-deputado estadual paranaense Tony Garcia, que alega ter desempenhado o papel de "agente infiltrado" de Sergio Moro durante o período em que o senador era juiz em Curitiba (PR), disse em entrevista exclusiva ao Jornal da Fórum, da TV Fórum, nesta sexta-feira (29), que há "muito mais" provas contra o ex-magistrado no "depósito" da 13ª Vara Federal.

"Vivia com a faca no pescoço (...) Eu era um agente infiltrado contrato ilegalmente pela Justiça", disparou Tony Garcia em conversa com os jornalistas Renato Rovai e Miguel do Rosário.

Recentemente, Tony Garcia entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um conjunto de documentos explosivos que revelam uma suposta tentativa de Moro de investigar ilegalmente desembargadores, juízes e ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), incluindo o uso de grampos.

Os documentos em questão fazem parte de um acordo de colaboração premiada firmado entre Tony Garcia e Sergio Moro em 2004, logo após o empresário ser preso no âmbito de uma investigação contra o Consórcio Garibaldi. O acordo serviria para Garcia se livrar da prisão. Até recentemente, esses documentos estavam sob sigilo na 13ª Vara Federal de Curitiba, mas o juiz Eduardo Appio decidiu levantar este sigilo, permitindo que Tony Garcia tivesse acesso. Agora, esses materiais foram entregues pelo ex-deputado estadual ao STF com o objetivo de anular as ações de Moro contra ele.

No conjunto de documentos estão registradas cerca de 30 tarefas que foram designadas a Tony Garcia por Moro como parte do acordo para evitar sua prisão. Estas tarefas incluíam investigações de autoridades paranaenses com foro privilegiado, utilizando métodos questionáveis, uma vez que essas investigações estavam, legalmente, fora da alçada de atuação de Moro enquanto juiz. O material entregue ao STF inclui até mesmo registros de conversas telefônicas entre Moro e Garcia, nas quais o ex-juiz pressiona pela execução das tarefas consideradas ilegais.

•        Mais provas contra Moro

Na entrevista ao Jornal da Fórum, Tony Garcia disse que esta é apenas uma parte das provas contra Moro, pois outros materiais que provariam as missões ilegais que o ex-juiz designou a ele estariam "no depósito" da 13ª Vara Federal - e o acesso a esta outra leva de documentos não teria sido liberado.

"Isso estava nas gavetas da Vara do Moro e Gabriela [Hardt, também juíza]. Não tiramos tudo deste esqueleto, tem muita coisa no depósito físico da vara deles que a gente não conseguiu acesso ainda. E a gente sabe que tem disquetes, tem um monte de coisas dessas tarefas que fiz", revelou o ex-deputado.

"Demos um passo (...), mas precisava pegar o resto de provas que estavam no depósito. Prova física que nem a Gabriela e nem o Moro nos deram acesso. Pode ter a gravação da festa da cueca, todos os procedimentos ilegais que eu fiz de gravar deputados. Procedimentos totalmente comandados pelo Moro, e não pelo Ministério Público", prosseguiu.

•        Quem é Tony Garcia

O empresário e político paranaense Tony Garcia decidiu se rebelar contra Sergio Moro (UB-PR) após fazer revelações bombásticas sobre a atuação do senador em sua época de juiz.

O playboy paranaense era conhecido por seus investimentos e por suas campanhas políticas ousadas: ele quebrava a cabeça de manequins em peças publicitárias e chegou a concorrer à Prefeitura de Curitiba. Na prática, foi deputado estadual em dois mandatos pelo Paraná.

A vida luxuosa de Tony sempre foi acompanhada de grandes figuras e celebridades, como Ayrton Senna, Pelé e Xuxa. Mais noventista que isso, é difícil.

Mas Tony não ficou na memória dos eleitores paranaenses. Na verdade, foi justamente em 2023 que talvez tenha tomado sua principal decisão política.

Garcia era um delator da Lava Jato. Seu primeiro contato com Moro e com os agentes do Ministério Público foi em 2004, quando foi preso após ser acusado de fraudes do extinto Consórcio Nacional Garibaldi.

Considerado um 'megadelator', Tony esteve envolvido nas delações contra Beto Richa, Eduardo Cunha e outros figurões da política brasileira.

Contudo, em entrevista recente a diversos portais de notícias, Tony decidiu revelar as ilegalidades cometidas por Sergio Moro durante a Operação Lava Jato.

“Eu fui agente infiltrado do Ministério Público, eu trabalhei por dois anos e meio, diuturnamente, com 24 horas tendo um agente da inteligência da Polícia Federal ao meu dispor para eu pedir segurança, para pedir interceptação de telefones, de tudo que colaborasse com a Justiça”, afirmou Tony em entrevista à Veja.

Ele fez um depoimento à juíza Gabriella Hardt na 13ª Vara Federal de Curitiba afirmando ter criado provas ilegais contra diversas pessoas, incluindo o ex-governador Beto Richa.

Além disso, também relata ter sido pivô em um esquema que chantageou os juízes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) com imagens de desembargadores de cueca em festas (e que Moro teria se beneficiado destes vídeos).

Agora, ele aguarda a possibilidade de relatar suas denúncias contra o ex-juiz e atual senador oficialmente. "Eu estou esperando até agora que a PGR ou que alguém de direito me intime para eu poder falar", disse Garcia. "Tem coisas que posso provar, mas o farei na Justiça. Para cada desmentido deles, eu vou mostrar duas verdades."

Garcia disse ser "agente infiltrado, que eu recebia as ordens diretas do Moro, que ele pedia para eu ir sem advogado. Eu fui 40 vezes ao MPF, fiquei trabalhando para eles, me fizeram de funcionário”, contou o ex-deputado, em entrevista à CNN. “Ela [Hardt] passou por cima de tudo", completou.

Depois, o juiz afastado da 13ª Vara, Eduardo Appio, que tem um caráter garantista, analisou o conteúdo do depoimento e enviou a fala de Tony para o STF. Segundo Garcia, Appio foi retirado do cargo após essa relação.

O ex-governador Beto Richa (PSDB-PR) afirma ter sido vítima de um complô. "Em relação ao contexto geral das declarações do sr. Tony Garcia, resta mais uma vez comprovado que houve, como tenho dito desde o início, um conluio de versões para tentar criminalizar alvos pré-escolhidos. Fui uma das vítimas dessas narrativas criminosas produzidas no interior da Lava Jato", completou.

Sergio Moro nega que as declarações de Tony Garcia sejam verdadeiras e disse que não existem provas que sustentam a ação do empresário como um "agente infiltrado" da Lava Jato dentro da política.

 

Fonte: Jornal GGN/Fórum

 

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