As revelações bombásticas de Alberto
Youssef contra Sérgio Moro
Se as revelações de
Tony Garcia sobre a Lava Jato são suficientes para complicar a vida do ex-juiz
Sérgio Moro e seus companheiros procuradores, o inquérito do doleiro Alberto
Youssef tem um potencial de estrago muito maior.
Isso porque parte
relevante dos crimes atribuídos a Moro, no caso de Tony Garcia, já prescreveu.
Serão relevantes para comprovar as práticas criminosas cometidas na Lava Jato.
Já o processo de Alberto Youssef é recente.
Sérgio Moro rescindiu
unilateralmente acordo firmado com Youssef e decretou prisão de ofício – prisão
preventiva decretada pelo juiz, sem requerimento das partes ou do Ministério
Público.
O escritório
Figueiredo Bastos, que defende Youssef, foi o primeiro a sustentar que Moro não
poderia julgar a Lava Jato, por ser suspeito, parcial e sem competência para o
caso. Bastos teve aval de cortes superiores e levou o caso para o Ministro do
Supremo Tribunal Federal, Teori Zavaski, mas que manteve o processo.
Na época, Teori
aceitou uma reclamação, soltando Paulo Roberto Costa, mas mantendo Youssef
preso, devido a um blefe de Sérgio Moro. Este alegou que a decisão de Teori
poderia beneficiar traficantes, e o blefe foi acatado. Ali, quebrou-se
definitivamente a espinha dorsal da hierarquia, e o Supremo se curvou à Lava
Jato dali por diante, até o impeachment de Dilma Roussef.
A primeira medida de
Moro foi a decretação de quatro prisões de ofício.
O caso mais grave foi
a interceptação de uma escuta clandestina na cela em que Youssef estava detido.
Foi aberto um inquérito e houve uma perseguição implacável contra um delegado
profissional que tocou o caso. A pressão foi comandada pelo juiz Sérgio Moro e
pelo procurador Januário Paludo. Na sindicância, esse fato foi expressamente
admitido pelo delegado Moscardo Grillo, principal suspeito de ter colocado o
gravador na cela..
Um primeiro juiz
recusou-se a arquivar o caso. Um segundo, Nivaldo Brunoni arquivou, a pedido de
Paludo. A defesa de Youssef só teve acesso a partir do curto período em que o
juiz Eduardo Appio assumiu a 13a Vara.
Agora, o advogado
Figueiredo Bastos afirma ter plena confiança no trabalho que está sendo tocado
pela PF. Não por coincidência, Moscardo
Grillo pediu afastamento da PF.
Antes da Lava Jato, os
dois padrinhos de Moro eram o Ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de
Justiça e o próprio Teori Zavaski. Mais tarde, Dipp arrependeu-se do espaço
aberto para Moro. Dipp chegou a abrir representação na corregedoria do TRF4 para
investigar Moro. Mas foi arquivada.
O inquérito arquivado
tem, pelo menos, uma bomba de alto teor: os grampos efetuados pelo advogado
Roberto Bertholdo no telefone de Moro, que comprovaria as relações obscuras
entre ele e Carlos Zucolotto, compadre e sócio de Rosângela Moro em um
escritório de advocacia.
Tony Garcia cita suposto agente da Abin
como interlocutor de Moro
Em depoimento à
Polícia Federal (PF), o ex-deputado e empresário Antônio Celso Garcia, o Tony
Garcia, cita um nome que pode ser o elo para se desvendar toda a ação da
suposta "organização criminosa" comandada por Sergio Moro (União-PR)
para coação, chantagem e constrangimento ilegal de autoridades que não
coadunassem com os métodos da Lava Jato.
Ao relatar que aceitou
atuar como agente infiltrado de Moro, ao assinar o acordo de delação premiada,
o ex-deputado contou que o então juiz listou algumas tarefas que ele deveria
cumprir.
No entanto, para não
levantar suspeitas, Moro teria orientado que a interlocução com o ex-deputado
seria feita por um suposto "agente da Abin", a Agência Brasileira de
Informação.
"Tony Garcia
revelou que Sergio Moro o orientou a se encontrar com uma pessoa que se dizia
agente da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), que se nominava como
Wagner, porém, ostentava outros documentos com nomes diferentes".
A informação consta no
relatório da PF, citado na decisão do ministro Dias Toffoli que autorizou a
abertura de inquérito para investigar Moro, a esposa, a deputada Rosângela Wolf
Moro (União-SP) e procuradores da Lava Jato sobre as denúncias feitas por Garcia.
No depoimento, o
ex-deputado diz ter se encontrado com Wagner "umas sessenta vezes".
"Ocasiões em que 'cumpria' como parte das 'missões' dadas por Sergio Moro,
no mais das vezes, entregando números de telefones de pessoas a serem investigadas,
as quais seriam objetos de interceptação telefônica".
Segundo a PF, Garcia
diz ter presenciado "Wagner" registrando em filmagem encontro entre
investigados e teria entregado mídias com provas.
"[Garcia] Também
apontou a necessidade de diligências no sentido de se identificar a pessoa que
se apresentou como Wagner e quais os atos investigativos por ele
praticados", diz a PF.
A polícia diz ainda
que Garcia entregou uma "vasta documentação" como prova, que tem mais
de 7 mil páginas.
Os investigadores
dizem ainda que os relatos de Garcia narram a prática de diversos crimes
cometidos no âmbito da Operação Lava Jato, como:
Suposta existência de
medidas invasivas no âmbito da Operação Lava Jato, como a determinação de
tarefas ilícitas a Tony Garcia constantes de seu termo de colaboração premiada,
tais como a determinação para realização de escutas ambientais e a exigência de
entrega de gravações clandestinas de eventos que não guardam relação com o
objeto de seu acordo;
Suposta cooptação de
colaboradores pré-selecionados;
Existência de supostas
negociações espúrias visando a homologação de acordos de colaboração premiada
direcionados
Eventual existência de
chantagens, coações, ameaças e constrangimentos para manutenção do acordo de
colaboração premiada de Antônio Celso Garcia.
Sobre o último item, o
ex-deputado relatou que "a todo momento havia intimidações de que, caso
ele não colaborasse da maneira exigida, o acordo seria rescindido, com a
consequente prisão de Tony Garcia e de seus familiares, além da expropriação de
seus bens".
A PF ainda afirma que
"pontuou que os fatos narrados por Tony Garcia é consonante com o narrado
por Alberto youssef, que envolveu a alocação de uma escuta ambiental
clandestina na cela que ocupava na Superintendência da Polícia Federal no
Paraná, ao que tudo indica, para gravá-lo em conversas com seus
advogados".
O processo contra
Moro, Rosângela e procuradores da Lava Jato foi mantido em segredo de Justiça
por Dias Toffoli.
• Moro infiltrou policial em escritório de
Tony Garcia
De acordo com a
denúncia do ex-deputado Tony Garcia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal
(STF) em uma decisão datada de 15 de dezembro de 2004, que sucedeu a assinatura
do acordo de colaboração de Garcia, o ex-juiz Sergio Moro determinou a
instalação de escutas no escritório do empresário e que um policial federal
atuasse infiltrado no local, como se fosse um secretário do ex-parlamentar. As
informações são da jornalista Daniela Lima, na Globo News.
Segundo a denúncia de
Tony Garcia, tal estrutura permitiu que o ex-juiz grampeasse autoridades com
foro, incluindo o então presidente do Tribunal de Contas em 2005.
Ao G1, Sergio Moro
refutou as acusações e afirmou que nenhuma autoridade com foro foi investigada
e que nunca solicitou gravações.
No entanto, na decisão
do ex-juiz Sergio Moro, está detalhado todo o aparato fornecido a Tony, que
alega ter sido usado por Moro para obter informações sobre ministros do STJ,
conselheiros do TCE e também desembargadores do TRF-4.
Na decisão, Moro
determina:
"a) instalação de
equipamento de escuta ambiental, preferivelmente áudio e vídeo, com capacidade
para gravação por períodos longos, em duas salas e em estabelecimentos
distintos".
"b) A provável
utilização, por um período de cerca de seis meses, de um agente policial
infiltrado como secretário de escritório de prestação de serviços".
De acordo com
informações dos investigadores que atuam com o ministro Dias Toffoli, o
conteúdo das gravações era entregue em mãos a Moro e tais gravações não
passavam pelo Ministério Público.
Em nota, Moro nega e
afirma que Tony Garcia é um "criminoso". "Tony Garcia é um criminoso
condenado. Não existe, nem nunca existiu, gravação de magistrados, nem nunca
foi solicitado por ele gravações de autoridades com foro. As suspeitas eram
principalmente de tráfico de influência, envolvendo terceiros que haviam pedido
dinheiro a pretexto de entregá-lo a autoridades sem que estas participassem dos
ilícitos. Uma das pessoas investigadas, aliás, foi condenada exatamente por
este crime. Nenhuma autoridade com foro foi investigada. É oportuno lembrar que
os depoimentos foram colhidos perante a autoridade judiciária na presença de
representantes do Ministério Público e de defesa. Vale ressaltar que esses
fatos ocorreram em 2004 e 2005, portanto, há mais de 17 anos."
Sergio Moro mandou
instalar escutas no escritório do ex-deputado Tony Garcia e que um policial
federal atuasse infiltrado no local. A estrutura permitiu que ele grampeasse
autoridades com foro, como o então presidente do Tribunal de Contas do
Estado.pic.twitter.com/0mCcE4Qslq — Lázaro Rosa ???? (@lazarorosa25) October 2,
2023
Por meio de suas redes
sociais, Sergio Moro atacou a Globo News e afirmou que o canal "reverbera
as mentiras de um condenado".
O G1 reverbera as
mentiras de um criminoso condenado, Tony Garcia, para fabricar um falso
escândalo sobre supostos fatos de 2004 e 2005, ou seja DE QUASE 20 ANOS ATRAS!
As investigações conduzidas pelo MPF e executadas pela PF foram sobre tráfico
de influência e escuta ilegal e… — Sergio Moro (@SF_Moro) October 2, 2023
• Tony Garcia: "há mais provas"
O empresário e ex-deputado estadual paranaense
Tony Garcia, que alega ter desempenhado o papel de "agente
infiltrado" de Sergio Moro durante o período em que o senador era juiz em
Curitiba (PR), disse em entrevista exclusiva ao Jornal da Fórum, da TV Fórum,
nesta sexta-feira (29), que há "muito mais" provas contra o
ex-magistrado no "depósito" da 13ª Vara Federal.
"Vivia com a faca
no pescoço (...) Eu era um agente infiltrado contrato ilegalmente pela
Justiça", disparou Tony Garcia em conversa com os jornalistas Renato Rovai
e Miguel do Rosário.
Recentemente, Tony
Garcia entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um conjunto de documentos
explosivos que revelam uma suposta tentativa de Moro de investigar ilegalmente
desembargadores, juízes e ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
incluindo o uso de grampos.
Os documentos em
questão fazem parte de um acordo de colaboração premiada firmado entre Tony
Garcia e Sergio Moro em 2004, logo após o empresário ser preso no âmbito de uma
investigação contra o Consórcio Garibaldi. O acordo serviria para Garcia se
livrar da prisão. Até recentemente, esses documentos estavam sob sigilo na 13ª
Vara Federal de Curitiba, mas o juiz Eduardo Appio decidiu levantar este
sigilo, permitindo que Tony Garcia tivesse acesso. Agora, esses materiais foram
entregues pelo ex-deputado estadual ao STF com o objetivo de anular as ações de
Moro contra ele.
No conjunto de
documentos estão registradas cerca de 30 tarefas que foram designadas a Tony
Garcia por Moro como parte do acordo para evitar sua prisão. Estas tarefas
incluíam investigações de autoridades paranaenses com foro privilegiado,
utilizando métodos questionáveis, uma vez que essas investigações estavam,
legalmente, fora da alçada de atuação de Moro enquanto juiz. O material
entregue ao STF inclui até mesmo registros de conversas telefônicas entre Moro
e Garcia, nas quais o ex-juiz pressiona pela execução das tarefas consideradas
ilegais.
• Mais provas contra Moro
Na entrevista ao
Jornal da Fórum, Tony Garcia disse que esta é apenas uma parte das provas
contra Moro, pois outros materiais que provariam as missões ilegais que o
ex-juiz designou a ele estariam "no depósito" da 13ª Vara Federal - e
o acesso a esta outra leva de documentos não teria sido liberado.
"Isso estava nas
gavetas da Vara do Moro e Gabriela [Hardt, também juíza]. Não tiramos tudo
deste esqueleto, tem muita coisa no depósito físico da vara deles que a gente
não conseguiu acesso ainda. E a gente sabe que tem disquetes, tem um monte de coisas
dessas tarefas que fiz", revelou o ex-deputado.
"Demos um passo
(...), mas precisava pegar o resto de provas que estavam no depósito. Prova
física que nem a Gabriela e nem o Moro nos deram acesso. Pode ter a gravação da
festa da cueca, todos os procedimentos ilegais que eu fiz de gravar deputados.
Procedimentos totalmente comandados pelo Moro, e não pelo Ministério
Público", prosseguiu.
• Quem é Tony Garcia
O empresário e
político paranaense Tony Garcia decidiu se rebelar contra Sergio Moro (UB-PR)
após fazer revelações bombásticas sobre a atuação do senador em sua época de
juiz.
O playboy paranaense
era conhecido por seus investimentos e por suas campanhas políticas ousadas:
ele quebrava a cabeça de manequins em peças publicitárias e chegou a concorrer
à Prefeitura de Curitiba. Na prática, foi deputado estadual em dois mandatos pelo
Paraná.
A vida luxuosa de Tony
sempre foi acompanhada de grandes figuras e celebridades, como Ayrton Senna,
Pelé e Xuxa. Mais noventista que isso, é difícil.
Mas Tony não ficou na
memória dos eleitores paranaenses. Na verdade, foi justamente em 2023 que
talvez tenha tomado sua principal decisão política.
Garcia era um delator
da Lava Jato. Seu primeiro contato com Moro e com os agentes do Ministério
Público foi em 2004, quando foi preso após ser acusado de fraudes do extinto
Consórcio Nacional Garibaldi.
Considerado um
'megadelator', Tony esteve envolvido nas delações contra Beto Richa, Eduardo
Cunha e outros figurões da política brasileira.
Contudo, em entrevista
recente a diversos portais de notícias, Tony decidiu revelar as ilegalidades
cometidas por Sergio Moro durante a Operação Lava Jato.
“Eu fui agente
infiltrado do Ministério Público, eu trabalhei por dois anos e meio,
diuturnamente, com 24 horas tendo um agente da inteligência da Polícia Federal
ao meu dispor para eu pedir segurança, para pedir interceptação de telefones,
de tudo que colaborasse com a Justiça”, afirmou Tony em entrevista à Veja.
Ele fez um depoimento
à juíza Gabriella Hardt na 13ª Vara Federal de Curitiba afirmando ter criado
provas ilegais contra diversas pessoas, incluindo o ex-governador Beto Richa.
Além disso, também
relata ter sido pivô em um esquema que chantageou os juízes do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) com imagens de desembargadores de cueca
em festas (e que Moro teria se beneficiado destes vídeos).
Agora, ele aguarda a
possibilidade de relatar suas denúncias contra o ex-juiz e atual senador
oficialmente. "Eu estou esperando até agora que a PGR ou que alguém de
direito me intime para eu poder falar", disse Garcia. "Tem coisas que
posso provar, mas o farei na Justiça. Para cada desmentido deles, eu vou
mostrar duas verdades."
Garcia disse ser
"agente infiltrado, que eu recebia as ordens diretas do Moro, que ele
pedia para eu ir sem advogado. Eu fui 40 vezes ao MPF, fiquei trabalhando para
eles, me fizeram de funcionário”, contou o ex-deputado, em entrevista à CNN.
“Ela [Hardt] passou por cima de tudo", completou.
Depois, o juiz
afastado da 13ª Vara, Eduardo Appio, que tem um caráter garantista, analisou o
conteúdo do depoimento e enviou a fala de Tony para o STF. Segundo Garcia,
Appio foi retirado do cargo após essa relação.
O ex-governador Beto
Richa (PSDB-PR) afirma ter sido vítima de um complô. "Em relação ao
contexto geral das declarações do sr. Tony Garcia, resta mais uma vez
comprovado que houve, como tenho dito desde o início, um conluio de versões
para tentar criminalizar alvos pré-escolhidos. Fui uma das vítimas dessas
narrativas criminosas produzidas no interior da Lava Jato", completou.
Sergio Moro nega que
as declarações de Tony Garcia sejam verdadeiras e disse que não existem provas
que sustentam a ação do empresário como um "agente infiltrado" da
Lava Jato dentro da política.
Fonte: Jornal
GGN/Fórum
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