sexta-feira, 7 de julho de 2023

TSE deve cassar família Bolsonaro inteirinha

A inelegibilidade de Jair Bolsonaro é só a “ponta do iceberg” de uma série de reveses que ainda virão nas diversas instâncias judiciais, avaliam aliados de Jair Bolsonaro ouvidos reservadamente pela equipe da coluna.

No entorno do ex-presidente, predomina a leitura de que o pior ainda está por vir, após a condenação imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

No Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo, o PL já dá como certa a aplicação de uma multa para ressarcir os cofres públicos dos gastos da reunião com embaixadores, marcada por ataques infundados contra as urnas eletrônicas. Pelo mesmo episódio, o TSE já afastou o ex-presidente do processo eleitoral pelos próximos oito anos.

As projeções de aliados incluem o indiciamento do próprio Bolsonaro no caso das milionárias joias sauditas e novos desdobramentos do inquérito das milícias digitais, das fake news e dos atos golpistas de 8 janeiro, além do aprofundamento da apuração sobre fraude na carteira de vacinação, com novas quebras de sigilo e operações de busca e apreensão que possam constranger o ex-ocupante do Palácio do Planalto e sua família.

Há também o receio com a saída de Augusto Aras do comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), e sua substituição por um subprocurador que não sirva mais de blindagem ao clã Bolsonaro. O mandato de Aras se encerra em setembro, mas sua sucessão já vem movimentando os bastidores.

Um dos temores de aliados de Bolsonaro é que um novo chefe da PGR, indicado por Lula, apresente denúncias contra o ex-presidente no âmbito das investigações que seguem no STF sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, podendo resultar até em sua condenação na esfera criminal.

E, como se não faltassem problemas, há ainda as outras 15 ações que aguardam julgamento no TSE e apuram abusos cometidos na última campanha eleitoral.

Uma delas, movida pela coligação de Lula, é monitorada com particular apreensão pelos bolsonaristas: a que acusa o ex-presidente, seus três filhos parlamentares – o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) – e dezenas de outros apoiadores de promoverem um “ecossistema de desinformação” nas redes sociais para difundir fake news e “manipular a opinião pública”.

Ao acionar o TSE, em outubro do ano passado, o PT já pediu o compartilhamento das provas colhidas pelo STF no âmbito do inquérito das milícias digitais.

O partido de Lula rechaça uma série de tuítes publicados por bolsonaristas, entre eles os que levantaram falsas acusações de fraude contra as urnas e associaram a legenda a uma organização criminosa e à morte do ex-prefeito Celso Daniel.

A campanha de Lula pediu a punição não apenas de Bolsonaro e seu candidato a vice, o general Braga Netto, mas também de quem mais tenha “contribuído para os atos abusivos”. A ação ainda está em estágio inicial, mas deve ganhar celeridade antes de o ministro Benedito Gonçalves deixar a Corregedoria do TSE em novembro.

“Já detectei esse mesmo temor em vários segmentos da direita e mesmo da centro-direita: a percepção de que estaria em curso um projeto de decapitação em série das lideranças liberais e conservadoras”, disse à equipe da coluna o cientista político Paulo Kramer, que ajudou na formulação do plano de governo bolsonarista de 2018.

“Apesar de suas deficiências, Bolsonaro é o maior líder conservador da História do Brasil em todos os tempos. É provável que muita gente o siga mais como a um ‘ídolo’ do que como a um verdadeiro líder. Mas a liderança política estável exige uma base organizacional e partidária de que o bolsonarismo ainda carece.”

Há, contudo, uma divergência entre aliados sobre o exato tamanho do iceberg e qual seria exatamente o seu fundo – mais precisamente, quais os riscos de uma prisão do ex-presidente da República.

Integrantes do PL e da equipe jurídica de Bolsonaro minimizam as chances de uma medida tão drástica, alertando para o potencial de uma decisão nesse sentido provocar tumulto nas ruas, gerar instabilidade e incendiar o país.

Mas um interlocutor frequente de Bolsonaro, mais pessimista, já diz aguardar o ex-presidente na cadeia até o fim do ano. “Bolsonaro vai perder tudo e está morto até 2030”, desabafa.

 

       Farra dos voos do clã Bolsonaro: em áudio, oficial do GSI cita ordem para atender pedidos

 

O coronel Eduardo Bacelar, chefe de transporte aéreo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), disse em áudio que a política de voos da FAB (Força Aérea Brasileira) era de “total atendimento” dos pedidos do gabinete de Jair Bolsonaro (PL).

Um áudio obtido pelo Metrópoles mostra que, bem no início da farra das viagens aéreas do clã Bolsonaro com aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), havia um estímulo da alta cúpula da Aeronáutica para “atendimento total” das solicitações vindas do gabinete do então presidente da República.

Quem envia a mensagem é o coronel da Aeronáutica Eduardo Alexandre Bacelar, então coordenador-geral de Transporte Aéreo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência. Segundo ele, seria uma forma de agradar o então presidente e resgatar a confiança dele e do gabinete na FAB, que, diz ele, estava abalada após um sargento ter sido preso na Espanha em 2019 com 39 quilos de cocaína transportados no avião da comitiva presidencial.

O áudio foi enviado pelo coronel no primeiro semestre de 2019 para os militares envolvidos diretamente no gerenciamento das aeronaves usadas pela Presidência. Na ocasião, Bacelar passava orientações com base em um entendimento vindo de uma conversa com outro integrante do alto escalão da FAB, o brigadeiro Pedro Luís Farcic. O brigadeiro era chefe de gabinete do então comandante da Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez.

O chefe do transporte aéreo do GSI fala em tom professoral ao se dirigir aos colegas de menor patente. A mensagem foi entendida, evidentemente, como uma ordem. Bacelar diz: “Conversando com o brigadeiro Farcic, eu estou entendendo ali que a política é de total atendimento das solicitações (do gabinete do presidente)”.

Ele prossegue: “Até mesmo, acredito eu, para tentar restabelecer um contato de mais confiança ali e de cooperação com a Presidência, que ficou um pouco abalado com esses episódios todos, né? Com certeza, nossa situação, Força Aérea, está um pouco fragilizada, né, com o gabinete, com o próprio PR (presidente da República), pelas questões que surgiram devido àquela c* do Silva Rodrigues (Manuel Silva Rodrigues, o sargento preso no caso da cocaína)“.

Antes dessa instrução, o mesmo áudio trata de outro assunto que interessava ao gabinete presidencial: a disponibilização de aeronaves para missões de preparação das viagens de Bolsonaro.

Como o Metrópoles mostrou nesta quarta-feira (5/7), listas de passageiros mantidas sob sigilo e um conjunto de mensagens internas do GSI mostram que, durante o governo Bolsonaro, a então família presidencial usou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para participar de eventos privados, como cultos religiosos, e para transportar amigos, parentes, pastores e até uma cadela de estimação do deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro.

Com base em dados oficiais do GSI relativos aos quatro anos em que Bolsonaro esteve no Palácio do Planalto, a reportagem mapeou mais de 70 viagens da família — todas feitas sem que o próprio Bolsonaro estivesse a bordo.

Para além de informações sobre essas viagens, como detalhes dos deslocamentos e as listas detalhadas dos passageiros convidados, mensagens de um grupo de WhatsApp usado como canal oficial de comunicação pelos funcionários do GSI encarregados de providenciar os jatinhos revelam que os pedidos eram tratados como ordens — tudo sob a coordenação de altos oficiais das Forças Armadas que chefiavam o setor. O áudio, agora, ajuda a entender que a orientação para que as demandas fossem atendidas vinha de cima.

CLÃ BOLSONARO

Familiares de Bolsonaro usaram aeronaves oficiais sem o presidente ao menos 70 vezes.

A ex-primeira-dama Michelle e os filhos Carlos e Jair Renan foram os que mais utilizaram os voos.

Até cachorra de Eduardo Bolsonaro pegou carona em avião da FAB. “Informei a ele que no último embarque a casinha de transporte não passa na porta, causando transtornos”, disse um militar em mensagem sobre a cachorra, o que indicaria que ela já havia voado mais de uma vez.

•        Qual a regra para uso de avião da FAB?

Voos são reservados a altas autoridades, como vice-presidente da República, presidentes do Senado, Câmara e STF (Supremo Tribunal Federal), ministros de Estado e comandantes das Forças Armadas, segundo decreto assinado por Bolsonaro.

O decreto não se aplica ao presidente da República e são excluídas também as “comitivas presidenciais ou as equipes de apoio a viagens presidenciais”.

Os pedidos para entrar nos voos também devem obedecer uma ordem de prioridade.

Entram nesse critério, de acordo com a regulamentação, “motivo de emergência médica”, “segurança” e “viagem a serviço”.

 

       Braga Netto candidato a prefeito leva Paes para direita

 

A articulação do PL para lançar o general da reserva Walter Braga Netto à prefeitura do Rio acirrou a concorrência entre aliados do atual chefe do Executivo, Eduardo Paes (PSD), para se viabilizarem como candidatos a vice na chapa dele em 2024. A avaliação de interlocutores do prefeito é que a consolidação de um adversário identificado com Jair Bolsonaro (PL) demandará do postulante à reeleição acenos a eleitores conservadores, além de esfriar o pleito do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de indicar o vice. Paes tem sinalizado preferência por limitar a escolha a políticos de seu núcleo próximo, dispostos a estreitar relações com a direita.

No núcleo duro de Paes, dois nomes despontam como os mais cotados para compor a chapa: o deputado federal Pedro Paulo, presidente em exercício do PSD no Rio, e o presidente da Câmara Municipal da capital, Carlo Caiado. Correm por fora o deputado federal licenciado Daniel Soranz e o advogado Felipe Santa Cruz, ambos do PSD.

Deputado federal e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá pondera que Paes teria que mostrar um excesso de força política e popularidade para emplacar uma chapa puro-sangue, mas reconhece o caminho para um nome fora da esquerda:

— A questão do vice é essencial para o Eduardo. O PT vai pleitear a vaga, mas tendo a consciência de que nosso objetivo é ganhar a eleição. Caso se perceba, numa avaliação em conjunto, que determinado perfil é mais viável, vamos atuar com senso de colaboração.

•        Os mais cotados

# Pedro Paulo: Deputado federal e ex-secretário municipal de Fazenda, é um dos aliados mais próximos de Paes, o que gera ressalvas de outros siglas à sua presença na chapa. Priorizando temas, como a adequação de aeroportos no Rio e o arcabouço fiscal, que podem atrair eleitores de maior poder aquisitivo, distantes do PT.

# Carlo Caiado: Presidente da Câmara Municipal do Rio e aliado histórico da família do ex-prefeito Cesar Maia, estreitou relações com Paes no ano passado. Vem fazendo pontes com vários segmentos, como líderes evangélicos, que já apoiaram o atual prefeito e hoje se mantêm mais distantes.

# Daniel Soranz: Reassumiu em maio a secretaria municipal de Saúde, cargo que lhe deu projeção na campanha de vacinação contra a Covid-19 em 2021. Assim como Pedro Paulo, é homem de confiança de Paes.

# Felipe Santa Cruz: Ex-presidente da OAB, ingressou na política guiado por Paes e concorreu a vice-governador na chapa de Rodrigo Neves (PDT) em 2022. Mantêm diálogo com siglas de esquerda, como PT e PDT.

A avaliação de três aliados de Paes ouvidos pelo GLOBO é que Pedro Paulo desfruta da confiança do prefeito, atributo crucial para a montagem da chapa — já que, na visão desses interlocutores, ele calcula se reeleger e depois concorrer ao governo do estado em 2026, passando a capital ao vice. Com mandato voltado à pauta econômica, Pedro Paulo acenaria a um eleitor de maior poder aquisitivo que, para um correligionário de Paes, pode ter se afastado do prefeito após o apoio a Lula no ano passado.

O parlamentar, no entanto, simbolizaria um comportamento “exclusivista” de Paes, já que sua trajetória política é vinculada ao prefeito. No início do ano, em reação a uma tentativa de atenuar esse vínculo, parlamentares do União Brasil criticaram a articulação —negada depois por Paes —para que Pedro Paulo se filiasse à sigla para disputar a vice.

Já Caiado estreitou a relação com Paes em 2022, quando migrou do União para o PSD. O vereador mantém canais com lideranças evangélicas que se afastaram do atual prefeito. Um dos interlocutores de Caiado é o pastor Silas Malafaia, apoiador de Bolsonaro.

Soranz, secretário de Saúde, se notabilizou pela campanha de vacinação na pandemia da Covid-19. Santa Cruz tem o melhor diálogo com partidos de esquerda, como PT e PDT.

No campo do bolsonarismo, Braga Netto ganhou fôlego após ser absolvido no mesmo julgamento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou Bolsonaro à inelegibilidade, devido a ataques ao sistema eleitoral. O militar foi vice na chapa de Bolsonaro.

O nome de Braga Netto cresceu no PL desde que Bolsonaro vetou a candidatura do filho, o senador Flávio Bolsonaro. Mesmo numa eventual derrota, Braga Netto ficaria em evidência para disputar o estado em 2026.

 

Fonte: O Globo/Metrópoles

 

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