sexta-feira, 7 de julho de 2023

PARA DEFENDER JOVEM PAN, MBL INCITA ATAQUES AO SLEEPING GIANTS COM INSINUAÇÕES DE PEDOFILIA

O SLEEPING GIANTS BRASIL foi atacado de forma orquestrada por integrantes do Movimento Brasil Livre, o MBL, nas redes sociais.  Os ataques começaram a partir do cofundador Renan Santos, que cavou uma mentira sobre o grupo: ele disse que a bandeira do orgulho LGBT, usada no perfil das redes sociais, incitava a “sexualização de crianças” – uma maneira de tentar associar o grupo à pedofilia.

“Eles falarem de defesa de crianças com esse logotipo que, inclusa essa bandeirinha, usada em todos os eventos que buscam sexualizar as crianças, é falta total e completa de vergonha na cara. Uma demonstração óbvia do cinismo dessa gente maldita”, esbravejou Santos em um vídeo. Logo depois, outros integrantes insistiram na mesma tese criando um ataque em massa.

Há uma semana, o Sleeping Giants repercutiu em suas redes sociais o caso do uso do aplicativo Discord para prática de violência sexual e incitamento de suicídio e automutilação entre jovens. A foto de perfil mostrava as cores da bandeira LGBTQIA+, em homenagem ao Dia Internacional do Orgulho LGBT, comemorado no dia 28 de junho.

A irritação do MBL contra o Sleeping Giants cresceu por dois casos nos quais o grupo se posicionou e se articulou de forma organizada. O primeiro, a campanha favorável do grupo ao PL 2630, o PL das Fake News – que busca, entre outros pontos, criminalizar ações mentirosas publicadas nas redes sociais. E a segunda, pela perda financeira da Jovem Pan, após o movimento #DesmonetizaJovemPan para que empresas deixem de patrocinar a rede. O Intercept mostrou que a Jovem Pan teve um prejuízo de R$ 838 mil com a perda de anúncios após o início dessa campanha.

Desde 2020, quando foi criado, o Sleeping Giants impulsiona campanhas como essa para que empresas deixem de colocar dinheiro em canais e veículos que propaguem desinformação e discursos de ódio.

A última derrota financeira da Jovem Pan foi a saída dos anúncios da CNA Escola de Idiomas. O Sleeping Giants cutucou a empresa no Twitter e teve uma resposta positiva. O contra-ataque veio também pelas redes sociais. Perfis em defesa da emissora e apoiadores do MBL, entre eles Arthur do Val, partiram para cima da escola, com o argumento cravado por Santos de que o Sleeping Giants, por colocar em seus perfis a bandeira LGBTQIA+, apoiava a sexualização de crianças.

Esse clamor da direita contra o Sleeping Giants, no entanto, nem sempre é tão real assim. Segundo pesquisa do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a Twist Systems, startup de data science, divulgada em 2020, as hashtags que tentam atacar as marcas, após elas aderirem à campanha do Sleeping Giants, eram impulsionadas por robôs.

Nós procuramos Renan Santos, do MBL, mas não tivemos resposta. O Sleeping Giants respondeu apenas que “de praxe, o grupo não responde aos ataques de fake news”.

•        Ataque a Felipe Neto

Na mesma semana, Amanda Vettorazzo, ex-assessora de Fernando Holiday e também do MBL, tentou ainda associar um antigo desafeto, o youtuber Felipe Neto, aos denunciados por estupro do Discord. Ele encontrou no portfólio de Gabriel Barreto Vilares, preso após ser denunciado por abusar sexualmente de meninas menores de idade, um vídeo do canal de Neto editado por ele.

Pelo Twitter, o youtuber explicou que, em 2020, contratou uma empresa para um trabalho freelancer de edição de vídeos sobre o jogo Minecraft. E um dos funcionários desta empresa era o Vilares. Segundo Neto, por ser um trabalho terceirizado, ele nunca soube da participação do contratado e nem sequer chegou a conhecê-lo.

A tática do MBL de insinuar ou taxar abertamente seus adversários de pedófilos não é nova. Santos e seu parceiro Kim Kataguiri, deputado federal, do União Brasil, já foram condenados a pagar indenização ao casal Caetano Veloso e Paula Lavigne. Ambos acusaram o cantor de pedofilia por diversas vezes em seus posts.

Arthur do Val, ex-membro do MBL e ex-deputado estadual de São Paulo  – que renunciou ao mandato após o vazamento de áudios em que fazia insinuações sexuais às ucranianas após viajar para o país em Guerra – se valeu da mesma estratégia contra o padre Júlio Lancellotti.

Segundo reportagem da revista Piauí, dois ex-integrantes do MBL contaram sobre a armação de do Val para denunciar o padre por pedofilia. Um dos assessores do youtuber, Guto Zacarias, criou o perfil falso de um adolescente de 16 anos para trocar mensagens de teor sexual com Lancellotti. Do Val recebeu um vídeo com a suposta conversa, “vazada” de uma denúncia anônima na delegacia, e falou abertamente sobre o caso – ele concorreria à Prefeitura de São Paulo naquele ano.

A polícia investigou, descobriu a farsa e arquivou o processo. Os advogados do padre garantem que houve manipulação nas mensagens e que seu cliente nunca interagiu com o perfil.

•        Em defesa da Jovem Pan

No ano passado, a Jovem Pan entrou com um processo contra o Sleeping Giants após a campanha de desmonetização. Os advogados da rede pediam a remoção imediata de todo conteúdo utilizado na #DesmonetizaJovemPan, além de solicitar que a justiça proibisse novos atos com objetivo de impactar as finanças da empresa, afastando “antigos, atuais e futuros patrocinadores”.

O Tribunal de Justiça de São Paulo, no entanto, não acatou em primeira instância a liminar proposta pela emissora para barrar a campanha do Sleeping Giants Brasil. A Jovem Pan, então, entrou com um recurso pedindo a suspensão imediata – o que foi novamente negado pela justiça.

Em 2023, mais uma vez, a emissora solicitou abertura de inquérito no Departamento Estadual de Investigações Criminais, em São Paulo. A Jovem Pan acusava o Sleeping Giants de difamação. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou o arquivamento do inquérito policial no último dia 29 de junho. O magistrado entendeu que não havia nenhum indício mínimo de crime.

Ainda que MBL e Jovem Pan tenham se desentendido no passado, os liberais entendem a necessidade de manutenção da emissora. Em um vídeo, Renan Santos saiu em defesa da rede.

“O que eu posso cravar é que, ao longo de 2021 e 2022, era quase diário algum ataque [da JP] ao MBL. Às vezes eu não tinha nem fôlego para gravar tanto vídeo. Não tenho nenhuma razão para… Os caras conseguiram cavar um espaço de oposição!”, defendeu Santos. “[Se perder a concessão] Você vai fortalecer uma revista Oeste, uma CNN governista, uma Globo News governista, vai fortalecer a rádio Bandeirantes, que tem como maior expoente um Reinaldo Azevedo. O MBL ganha um pouco… qual é, galera, vamos abrir a cabeça.”

 

Fonte: Por Carol Castro, em The Intercept

 

Nenhum comentário: