sexta-feira, 7 de julho de 2023

Rodrigo Perez: A verdadeira sorte de Lula é a biografia de Arthur Lira

Muito se fala sobre a “sorte” do presidente Lula, o que para muitos explicaria o sucesso, especialmente na economia, desses primeiros seis meses de governo.

Bom, não tenho dúvida de que Lula é, de fato, um homem de sorte, de muita sorte.

Afinal, Lula é o penúltimo filho de Dona Lindú, o sétimo entre oito irmãos. Nasceu no sertão de Pernambuco em meados da década de 1940. Conseguiu sobreviver à primeira infância, chegar à idade adulta e ainda ser eleito presidente da República de um dos países mais importantes do mundo, e por três vezes.

Quando tudo parecia perdido, um hacker de Araraquara, estelionatário especializado em pequenos golpes, meio que sem querer tropeça no WhatsApp de Moro, Dallagnol e cia. O resto é história bem conhecida, e recente o suficiente para ainda estar viva na memória de todos nós.

Sujeito de sorte, de muita sorte!!! Até mesmo os detratores de Lula concordam com isso.

Mas aqui, neste texto, quero abordar outra manifestação da sorte política do Presidente Lula, algo que vem sendo pouco falado na crítica política especializada. Quero falar sobre Arthur Lira.

Mas o que Arthur Lira tem a ver com a sorte política do presidente Lula? Tudo! Explico.

Já nos primeiros dias de governo, ficou claro que não seria o bolsonarismo a pedra no sapato do governo Lula. O bolsonarismo queimou a largada já no 8 de janeiro, gastando todas as fichas na tentativa de golpe. Ao fazê-lo, fez aposta de altíssimo risco. Não tem meia vitória e nem meia derrota quando se tenta um golpe de Estado.

Ou Lula morderia a isca e decretaria a GLO, o que decretaria o fim de seu governo, ou conseguiria resistir à ofensiva. Como o presidente leu perfeitamente o cenário, acabou saindo ainda mais fortalecido da intentona bolsonarista.

De lá pra cá, o bolsonarismo, acudo pela justiça, só faz barulho na internet e no congresso nacional, sendo pouco efetivo em apresentar uma oposição institucional que, de fato, crie problemas ao governo.

Mas com Arthur Lira a situação é bem diferente. Em fevereiro, Lira foi reeleito presidente da Câmara dos Deputados com a maior votação da história. Era a consagração definitiva do líder político alagoano que durante o governo de Jair Bolsonaro tomou para si a execução do orçamento federal, o que na prática lhe transformou no homem mais poderoso da República.

Quando começou o governo Lula, Lira estava convencido de que tinha condições de chantagear o novo Presidente, colocando-lhe a faca no pescoço e exigindo o mesmo poder que tinha antes. Foram várias entrevistas na imprensa, onde Lira, altivo, dizia que o governo não tinha base no congresso, criticava a “articulação política” do Palácio do Planalto. Falava grosso, transmitindo ao país a imagem de um governo fraco que, em última instância, estaria em suas mãos.

No começo de junho, a jornalista Andréia Sadi chegou publicar no jornal “O Globo” uma reportagem intitulada “O risco de Lula-Lira virar Dilma-Cunha”, em escandaloso prognóstico de um futuro processo de impeachment que Lira poderia abrir contra o presidente Lula. O texto de Sadi significava a naturalização do golpismo que desestabiliza o país desde 2016, mas traduzia a atmosfera política de Brasília.

De um lado, Lira, todo poderoso com seu blocão com mais 200 parlamentares. Do outro lado, Lula, enfraquecido, sem base de apoio no Congresso Nacional e com sérios problemas na tal “articulação política”.

Em um mês, o cenário se transformou profundamente.

No lugar de entrevistas em tom ameaçador, Lira elogia publicamente o ministro Fernando Haddad. Trabalha aos domingos, reunindo líderes para acelerar a aprovação nas pautas de interesse do governo. No Twitter, defende a PL do CARF, a PEC do arcabouço fiscal e a PEC da Reforma Tributária, todas estratégicas para o governo.

O Lira tigrão deu lugar ao Lira tchuchuca.

Mas por que essa mudança tão brusca de comportamento?

A explicação está na trajetória política de Arthur Lira, atravessada por inúmeros escândalos de corrupção. Desvio de dinheiro na compra de equipamentos de robótica para escolas públicas em Alagoas, rachadinha na Assembleia Legislativa de Alagoas, dinheiro vivo apreendido com assessor no aeroporto de Congonhas, denúncias de estupro e agressões à ex-esposa.

A cueca de Lira está cheia de marcas de batom!!

Não foi à toa que nas últimas semanas Lira foi acuado pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal. Sua primeira reação foi gritar e esbravejar. Depois, como político experiente que é, percebeu o que está, de fato, em jogo: uma enorme lâmina de guilhotina está pendurada sobre seu pescoço, suspensa por um fio muito frágil, que a qualquer momento pode se romper, ou ser rompido.

Lira entendeu que não pode apostar alto demais, que não consegue mais pedir muito e que o melhor a fazer é se contentar com o que tem e não atrapalhar a vida do governo. Sabe que se se exagerar na ousadia, poder ter o mesmo destino político de Eduardo Cunha.

Lira está fragilizado pela própria biografia. Essa é a sorte de Lula.

Um adversário politicamente morto não serve pra nada. Porém, fragilizado e precisando negociar diariamente sua sobrevivência, pode ser muito útil.

Buscando inspiração do vocabulário utilizado por Maquiavel, que nos ensinou a pensar a política em termos modernos, poderíamos dizer que a falta de virtude de Lira significa a boa fortuna de Lula.

 

       Entenda os elos de Lira com escândalo de kits de robótica

 

A Justiça Federal de Alagoas determinou nesta quarta-feira (05/07) o envio ao Supremo Tribunal Federal (STF) da investigação de supostas fraudes em contratos de kits de robótica para escolas de Alagoas, após encontrar indícios da participação do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), nos crimes apurados.

"Havendo indícios da participação nos delitos ora investigados de um congressista, a competência deste Juízo de 1º grau se encerra", afirmou o juiz federal substituto Roney Raimundo Leão Otilio, da 2ª Vara da Justiça Federal de Alagoas, referindo-se a Lira. Membros do Congresso possuem foro privilegiado e, portanto, cabe ao STF julgá-los.

Em sua decisão, o juiz cita três documentos encontrados pela PF que contêm os nomes de Lira e de seu ex-assessor Luciano Cavalcante: "um recibo de lavagens de veículo; um termo de autorização de entrega de veículo; um formulário de autorização de viagem outorgado por Arthur César Pereira de Lira em favor de Luciano Ferreira Cavalcante, a respeito de adolescente filho do primeiro".

O juiz cita ainda um "documento apreendido em posse de Wanderson (motorista de Luciano Cavalcante) com manuscritos diversos descrevendo possível controle de despesas pessoais" e "anotações de possíveis despesas de Arthur Lira, de seus familiares e de pessoas de sua relação".

A assessoria de Lira afirmou que não vai comentar a decisão.

•        Pagamentos ligados ao nome "Arthur"

No âmbito da operação Hefesto, que mira desvios nos contratos de kits de robótica para escolas alagoanas e teve início em 2022, a Polícia Federal havia solicitado, no fim de junho, que a investigação fosse enviada ao Supremo, após serem encontradas anotações de uma série de pagamentos atrelados ao nome de "Arthur", uma suposta referência ao presidente da Câmara dos Deputados.

As anotações foram apreendidas pela PF em endereços ligados a Cavalcante e listam R$ 834 mil em valores pagos de dezembro de 2022 a março de 2023. Desse total, pelo menos R$ 650 mil são anotados junto com o nome "Arthur". O documento contém data, valor, destinatário do gasto e nome a quem a despesa está atrelada. Pelo menos 30 pagamentos estão com a referência a um "homônimo" do deputado.

Cabe ao ministro Luís Roberto Barroso determinar o rumo da apuração. A Procuradoria-Geral da República também havia solicitado o envio do caso a instâncias superiores.

•        Indícios de superfaturamento e lavagem de dinheiro

A investigação da PF apura indícios de superfaturamento e lavagem de dinheiro com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) destinados a 43 municípios de Alagoas para a compra de kits de aulas de robótica para escolas públicas. A PF descobriu que a fornecedora do equipamento chegou a cobrar de uma prefeitura R$ 14 mil por produto após comprá-lo por R$ 2.700 em São Paulo.

O caso foi inicialmente revelado por reportagens do jornal Folha de S.Paulo em abril de 2022, que abordaram a suspeita de superfaturamento e que o esquema teria participação de aliados de Lira.

O caso envolve R$ 26 milhões destinados pelo governo federal para sete cidades de Alagoas adquirirem kits robótica, apesar de apresentarem com graves deficiências de infraestrutura educacional. Todas as cidades tinham contrato com a mesma empresa, a Megalic, de Edmundo Catunda e Roberta Melo. Os recursos federais, que foram liberados com velocidade incomum, eram das chamadas emendas de relator, parte do Orçamento da União controlada por Arthur Lira.

O esquema já era alvo de uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) desde 2022, quando o órgão determinou a suspensão dos contratos.

As investigações também têm como alvo um policial civil e empresário de Alagoas suspeito de receber repasses da Megalic. Em um dos escritórios de Murilo Nogueira em Maceió, policiais encontraram um cofre com R$ 3,5 milhões em dinheiro vivo.

Mais recentemente, um relatório da PF destacou que foram descobertas anotações mostrando valores ao lado do nome "Arthur" e datas das transações. Em uma delas, consta o valor de R$ 100 mil. Em outra, é possível ver um registro com data de 15 de abril com o valor de R$ 30 mil, também sem mais especificações. Há também o valor de R$ 3.652 associado a um hotel luxuoso e ao mesmo nome do deputado. A informação foi revelada neste domingo pela revista Piauí.

Na lista de pagamentos também há elementos indicando a relação dos valores com o próprio presidente da Câmara. Uma das anotações indica o pagamento de fisioterapia do Bill, como é conhecido o pai de Arthur Lira.

A lista também inclui um pagamento de R$ 4.500 ligado a "Arthur" para "revisão Hilux". De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, a campanha de Lira usou na eleição de 2022 um picape Hilux que também foi usado para transportar dinheiro em Maceió.

Nas anotações encontradas pelos investigadores da PF, há registros de gastos para revisão de um Amarok em fevereiro passado, além da anotação de compra de pneus para um automóvel Saveiro — Lira informou ter uma Saveiro em sua prestações de bens à Justiça Eleitoral nas últimas eleições.

"Pagamentos têm origem nos ganhos"

O presidente da Câmara, que não é investigado no caso, afirmou através de sua assessoria de imprensa que toda movimentação financeira e pagamentos de despesas, "seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria, tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e na remuneração como deputado federal".

O advogado André Callegari, que defende Luciano Cavalcante, ex-assessor do deputado, afirmou não ter tido "acesso integral aos autos do inquérito e diligências já realizadas, o que impede qualquer manifestação, vez que não se sabe a motivação da operação deflagrada".

O ex-auxiliar legislativo foi exonerado do cargo que exercia na liderança do PP na Câmara, após após ser alvo no início deste mês de operação de busca e apreensão na operação Hefesto.

Em Brasília, ele é conhecido como o braço direito de Lira. A filha dele é sócia do filho de Lira em uma empresa de intermediação de publicidade em mídias e ambos tiveram atuação em contratos milionários do governo federal.

Os investigadores também acharam anotações de valores relacionados ao nome "Arthur" com o motorista de Luciano, Wanderson de Oliveira. São listados 11 pagamentos de cerca de R$ 265 mil entre abril e maio de 2023.

Segundo a revista Piauí, em depoimento à PF o motorista disse que os pagamentos foram feitos a pedido de Luciano, que também seria o proprietário do veículo Corolla usado por ele e onde as anotações foram encontradas.

 

       Gilmar suspende inquérito que liga Arthur Lira a fraudes de robótica

 

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a suspensão da Operação Hefesto - apuração sobre fraudes na compra de kits de robótica por 43 prefeituras de Alagoas que lança suspeitas sobre o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP). O decano acolheu um pedido da defesa e viu possível ‘violação à prerrogativa de foro’ do parlamentar. Com o despacho, a tramitação das apurações fica suspensa até que a Segunda Turma da Corte máxima analise todas as alegações de Lira.

O despacho foi assinado nesta quinta-feira, 6, dia D da votação da reforma tributária na Câmara. Prioridade do governo Lula, essa pauta estava travada. Como mostrou o Estadão, Lira pretende colocar o tema em discussão no plenário ainda hoje, a partir das 18h.

Nesta quarta, 5, o juiz federal substituto Roney Raimundo Leão Otilio, da 2ª Vara da Justiça Federal de Alagoas, remeteu ao STF os autos da Operação Hefesto. O magistrado destacou que a Polícia Federal encontrou documentos com ex-assessor do presidente da Câmara, Luciano Cavalcante, e um motorista que apontam ‘indícios’ de envolvimento de Lira com os desvios de R$ 8,1 milhões sob suspeita.

A Operação Hefesto investiga suposto direcionamento e superfaturamento de contratos para a compra de equipamentos de robótica para escolas públicas, custeados com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE). As fraudes teriam ocorrido entre 2019 e 2022.

A fase ostensiva da investigação foi aberta no dia 1º de junho, na mira de uma série de aliados de Lira, em especial Luciano Cavalcante, ex-assessor do presidente da Câmara dos Deputados. Durante a ofensiva, os agentes apreenderam mais de R$ 4,4 milhões. Foram vasculhados 27 endereços de investigados.

Durante as diligências, a PF encontrou três documentos com os nomes de Lira e de seu ex-assessor: ‘um recibo de lavagens de veículo; um termo de autorização de entrega de veículo; um formulário de autorização de viagem outorgado por Arthur César Pereira de Lira em favor de Luciano Ferreira Cavalcante, a respeito de adolescente filho do primeiro’.

 

Fonte: Fórum/Deutsche Welle/Agencia Estado/Reuters

 

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