Rodrigo Perez: A
verdadeira sorte de Lula é a biografia de Arthur Lira
Muito
se fala sobre a “sorte” do presidente Lula, o que para muitos explicaria o
sucesso, especialmente na economia, desses primeiros seis meses de governo.
Bom,
não tenho dúvida de que Lula é, de fato, um homem de sorte, de muita sorte.
Afinal,
Lula é o penúltimo filho de Dona Lindú, o sétimo entre oito irmãos. Nasceu no
sertão de Pernambuco em meados da década de 1940. Conseguiu sobreviver à
primeira infância, chegar à idade adulta e ainda ser eleito presidente da
República de um dos países mais importantes do mundo, e por três vezes.
Quando
tudo parecia perdido, um hacker de Araraquara, estelionatário especializado em
pequenos golpes, meio que sem querer tropeça no WhatsApp de Moro, Dallagnol e
cia. O resto é história bem conhecida, e recente o suficiente para ainda estar
viva na memória de todos nós.
Sujeito
de sorte, de muita sorte!!! Até mesmo os detratores de Lula concordam com isso.
Mas
aqui, neste texto, quero abordar outra manifestação da sorte política do
Presidente Lula, algo que vem sendo pouco falado na crítica política
especializada. Quero falar sobre Arthur Lira.
Mas
o que Arthur Lira tem a ver com a sorte política do presidente Lula? Tudo!
Explico.
Já
nos primeiros dias de governo, ficou claro que não seria o bolsonarismo a pedra
no sapato do governo Lula. O bolsonarismo queimou a largada já no 8 de janeiro,
gastando todas as fichas na tentativa de golpe. Ao fazê-lo, fez aposta de
altíssimo risco. Não tem meia vitória e nem meia derrota quando se tenta um
golpe de Estado.
Ou
Lula morderia a isca e decretaria a GLO, o que decretaria o fim de seu governo,
ou conseguiria resistir à ofensiva. Como o presidente leu perfeitamente o
cenário, acabou saindo ainda mais fortalecido da intentona bolsonarista.
De
lá pra cá, o bolsonarismo, acudo pela justiça, só faz barulho na internet e no
congresso nacional, sendo pouco efetivo em apresentar uma oposição
institucional que, de fato, crie problemas ao governo.
Mas
com Arthur Lira a situação é bem diferente. Em fevereiro, Lira foi reeleito
presidente da Câmara dos Deputados com a maior votação da história. Era a
consagração definitiva do líder político alagoano que durante o governo de Jair
Bolsonaro tomou para si a execução do orçamento federal, o que na prática lhe
transformou no homem mais poderoso da República.
Quando
começou o governo Lula, Lira estava convencido de que tinha condições de
chantagear o novo Presidente, colocando-lhe a faca no pescoço e exigindo o
mesmo poder que tinha antes. Foram várias entrevistas na imprensa, onde Lira,
altivo, dizia que o governo não tinha base no congresso, criticava a
“articulação política” do Palácio do Planalto. Falava grosso, transmitindo ao
país a imagem de um governo fraco que, em última instância, estaria em suas
mãos.
No
começo de junho, a jornalista Andréia Sadi chegou publicar no jornal “O Globo”
uma reportagem intitulada “O risco de Lula-Lira virar Dilma-Cunha”, em
escandaloso prognóstico de um futuro processo de impeachment que Lira poderia
abrir contra o presidente Lula. O texto de Sadi significava a naturalização do
golpismo que desestabiliza o país desde 2016, mas traduzia a atmosfera política
de Brasília.
De
um lado, Lira, todo poderoso com seu blocão com mais 200 parlamentares. Do
outro lado, Lula, enfraquecido, sem base de apoio no Congresso Nacional e com
sérios problemas na tal “articulação política”.
Em
um mês, o cenário se transformou profundamente.
No
lugar de entrevistas em tom ameaçador, Lira elogia publicamente o ministro
Fernando Haddad. Trabalha aos domingos, reunindo líderes para acelerar a
aprovação nas pautas de interesse do governo. No Twitter, defende a PL do CARF,
a PEC do arcabouço fiscal e a PEC da Reforma Tributária, todas estratégicas
para o governo.
O
Lira tigrão deu lugar ao Lira tchuchuca.
Mas
por que essa mudança tão brusca de comportamento?
A
explicação está na trajetória política de Arthur Lira, atravessada por inúmeros
escândalos de corrupção. Desvio de dinheiro na compra de equipamentos de
robótica para escolas públicas em Alagoas, rachadinha na Assembleia Legislativa
de Alagoas, dinheiro vivo apreendido com assessor no aeroporto de Congonhas,
denúncias de estupro e agressões à ex-esposa.
A
cueca de Lira está cheia de marcas de batom!!
Não
foi à toa que nas últimas semanas Lira foi acuado pela Polícia Federal e pelo
Supremo Tribunal Federal. Sua primeira reação foi gritar e esbravejar. Depois,
como político experiente que é, percebeu o que está, de fato, em jogo: uma
enorme lâmina de guilhotina está pendurada sobre seu pescoço, suspensa por um
fio muito frágil, que a qualquer momento pode se romper, ou ser rompido.
Lira
entendeu que não pode apostar alto demais, que não consegue mais pedir muito e
que o melhor a fazer é se contentar com o que tem e não atrapalhar a vida do
governo. Sabe que se se exagerar na ousadia, poder ter o mesmo destino político
de Eduardo Cunha.
Lira
está fragilizado pela própria biografia. Essa é a sorte de Lula.
Um
adversário politicamente morto não serve pra nada. Porém, fragilizado e
precisando negociar diariamente sua sobrevivência, pode ser muito útil.
Buscando
inspiração do vocabulário utilizado por Maquiavel, que nos ensinou a pensar a
política em termos modernos, poderíamos dizer que a falta de virtude de Lira
significa a boa fortuna de Lula.
Entenda os elos de Lira com escândalo de
kits de robótica
A
Justiça Federal de Alagoas determinou nesta quarta-feira (05/07) o envio ao
Supremo Tribunal Federal (STF) da investigação de supostas fraudes em contratos
de kits de robótica para escolas de Alagoas, após encontrar indícios da
participação do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), nos
crimes apurados.
"Havendo
indícios da participação nos delitos ora investigados de um congressista, a
competência deste Juízo de 1º grau se encerra", afirmou o juiz federal
substituto Roney Raimundo Leão Otilio, da 2ª Vara da Justiça Federal de
Alagoas, referindo-se a Lira. Membros do Congresso possuem foro privilegiado e,
portanto, cabe ao STF julgá-los.
Em
sua decisão, o juiz cita três documentos encontrados pela PF que contêm os
nomes de Lira e de seu ex-assessor Luciano Cavalcante: "um recibo de
lavagens de veículo; um termo de autorização de entrega de veículo; um
formulário de autorização de viagem outorgado por Arthur César Pereira de Lira
em favor de Luciano Ferreira Cavalcante, a respeito de adolescente filho do
primeiro".
O
juiz cita ainda um "documento apreendido em posse de Wanderson (motorista
de Luciano Cavalcante) com manuscritos diversos descrevendo possível controle
de despesas pessoais" e "anotações de possíveis despesas de Arthur
Lira, de seus familiares e de pessoas de sua relação".
A
assessoria de Lira afirmou que não vai comentar a decisão.
• Pagamentos ligados ao nome
"Arthur"
No
âmbito da operação Hefesto, que mira desvios nos contratos de kits de robótica
para escolas alagoanas e teve início em 2022, a Polícia Federal havia
solicitado, no fim de junho, que a investigação fosse enviada ao Supremo, após
serem encontradas anotações de uma série de pagamentos atrelados ao nome de "Arthur",
uma suposta referência ao presidente da Câmara dos Deputados.
As
anotações foram apreendidas pela PF em endereços ligados a Cavalcante e listam
R$ 834 mil em valores pagos de dezembro de 2022 a março de 2023. Desse total,
pelo menos R$ 650 mil são anotados junto com o nome "Arthur". O
documento contém data, valor, destinatário do gasto e nome a quem a despesa
está atrelada. Pelo menos 30 pagamentos estão com a referência a um
"homônimo" do deputado.
Cabe
ao ministro Luís Roberto Barroso determinar o rumo da apuração. A
Procuradoria-Geral da República também havia solicitado o envio do caso a
instâncias superiores.
• Indícios de superfaturamento e lavagem
de dinheiro
A
investigação da PF apura indícios de superfaturamento e lavagem de dinheiro com
recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) destinados a
43 municípios de Alagoas para a compra de kits de aulas de robótica para
escolas públicas. A PF descobriu que a fornecedora do equipamento chegou a
cobrar de uma prefeitura R$ 14 mil por produto após comprá-lo por R$ 2.700 em
São Paulo.
O
caso foi inicialmente revelado por reportagens do jornal Folha de S.Paulo em
abril de 2022, que abordaram a suspeita de superfaturamento e que o esquema
teria participação de aliados de Lira.
O
caso envolve R$ 26 milhões destinados pelo governo federal para sete cidades de
Alagoas adquirirem kits robótica, apesar de apresentarem com graves
deficiências de infraestrutura educacional. Todas as cidades tinham contrato
com a mesma empresa, a Megalic, de Edmundo Catunda e Roberta Melo. Os recursos
federais, que foram liberados com velocidade incomum, eram das chamadas emendas
de relator, parte do Orçamento da União controlada por Arthur Lira.
O
esquema já era alvo de uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU)
desde 2022, quando o órgão determinou a suspensão dos contratos.
As
investigações também têm como alvo um policial civil e empresário de Alagoas
suspeito de receber repasses da Megalic. Em um dos escritórios de Murilo
Nogueira em Maceió, policiais encontraram um cofre com R$ 3,5 milhões em
dinheiro vivo.
Mais
recentemente, um relatório da PF destacou que foram descobertas anotações
mostrando valores ao lado do nome "Arthur" e datas das transações. Em
uma delas, consta o valor de R$ 100 mil. Em outra, é possível ver um registro
com data de 15 de abril com o valor de R$ 30 mil, também sem mais
especificações. Há também o valor de R$ 3.652 associado a um hotel luxuoso e ao
mesmo nome do deputado. A informação foi revelada neste domingo pela revista
Piauí.
Na
lista de pagamentos também há elementos indicando a relação dos valores com o
próprio presidente da Câmara. Uma das anotações indica o pagamento de
fisioterapia do Bill, como é conhecido o pai de Arthur Lira.
A
lista também inclui um pagamento de R$ 4.500 ligado a "Arthur" para
"revisão Hilux". De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, a
campanha de Lira usou na eleição de 2022 um picape Hilux que também foi usado
para transportar dinheiro em Maceió.
Nas
anotações encontradas pelos investigadores da PF, há registros de gastos para
revisão de um Amarok em fevereiro passado, além da anotação de compra de pneus
para um automóvel Saveiro — Lira informou ter uma Saveiro em sua prestações de
bens à Justiça Eleitoral nas últimas eleições.
"Pagamentos
têm origem nos ganhos"
O
presidente da Câmara, que não é investigado no caso, afirmou através de sua
assessoria de imprensa que toda movimentação financeira e pagamentos de
despesas, "seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria, tem
origem nos seus ganhos como agropecuarista e na remuneração como deputado
federal".
O
advogado André Callegari, que defende Luciano Cavalcante, ex-assessor do
deputado, afirmou não ter tido "acesso integral aos autos do inquérito e
diligências já realizadas, o que impede qualquer manifestação, vez que não se
sabe a motivação da operação deflagrada".
O
ex-auxiliar legislativo foi exonerado do cargo que exercia na liderança do PP
na Câmara, após após ser alvo no início deste mês de operação de busca e
apreensão na operação Hefesto.
Em
Brasília, ele é conhecido como o braço direito de Lira. A filha dele é sócia do
filho de Lira em uma empresa de intermediação de publicidade em mídias e ambos
tiveram atuação em contratos milionários do governo federal.
Os
investigadores também acharam anotações de valores relacionados ao nome
"Arthur" com o motorista de Luciano, Wanderson de Oliveira. São
listados 11 pagamentos de cerca de R$ 265 mil entre abril e maio de 2023.
Segundo
a revista Piauí, em depoimento à PF o motorista disse que os pagamentos foram
feitos a pedido de Luciano, que também seria o proprietário do veículo Corolla
usado por ele e onde as anotações foram encontradas.
Gilmar suspende inquérito que liga Arthur
Lira a fraudes de robótica
O
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a suspensão da
Operação Hefesto - apuração sobre fraudes na compra de kits de robótica por 43
prefeituras de Alagoas que lança suspeitas sobre o presidente da Câmara dos
Deputados Arthur Lira (PP). O decano acolheu um pedido da defesa e viu possível
‘violação à prerrogativa de foro’ do parlamentar. Com o despacho, a tramitação
das apurações fica suspensa até que a Segunda Turma da Corte máxima analise
todas as alegações de Lira.
O
despacho foi assinado nesta quinta-feira, 6, dia D da votação da reforma
tributária na Câmara. Prioridade do governo Lula, essa pauta estava travada.
Como mostrou o Estadão, Lira pretende colocar o tema em discussão no plenário
ainda hoje, a partir das 18h.
Nesta
quarta, 5, o juiz federal substituto Roney Raimundo Leão Otilio, da 2ª Vara da
Justiça Federal de Alagoas, remeteu ao STF os autos da Operação Hefesto. O
magistrado destacou que a Polícia Federal encontrou documentos com ex-assessor
do presidente da Câmara, Luciano Cavalcante, e um motorista que apontam
‘indícios’ de envolvimento de Lira com os desvios de R$ 8,1 milhões sob
suspeita.
A
Operação Hefesto investiga suposto direcionamento e superfaturamento de
contratos para a compra de equipamentos de robótica para escolas públicas, custeados
com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE). As
fraudes teriam ocorrido entre 2019 e 2022.
A
fase ostensiva da investigação foi aberta no dia 1º de junho, na mira de uma
série de aliados de Lira, em especial Luciano Cavalcante, ex-assessor do
presidente da Câmara dos Deputados. Durante a ofensiva, os agentes apreenderam
mais de R$ 4,4 milhões. Foram vasculhados 27 endereços de investigados.
Durante
as diligências, a PF encontrou três documentos com os nomes de Lira e de seu
ex-assessor: ‘um recibo de lavagens de veículo; um termo de autorização de
entrega de veículo; um formulário de autorização de viagem outorgado por Arthur
César Pereira de Lira em favor de Luciano Ferreira Cavalcante, a respeito de
adolescente filho do primeiro’.
Fonte:
Fórum/Deutsche Welle/Agencia Estado/Reuters
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