quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Repercute negativamente articulação para instalar CPI contra padre Julio Lancellotti

Uma onda de apoio ao padre Julio Lancellotti ocupou as redes sociais nesta quarta-feira (3), depois que o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) anunciou que articula a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que tem como um dos alvos a liderança religiosa.  

Em seu perfil no X/Twitter, o parlamentar associou Lancellotti, que atua há décadas em prol da população em situação de rua em São Paulo, a uma "máfia da miséria" ao comentar a instalação da CPI. Na imagem publicada, uma caricatura do padre carrega um rato nos ombros. 

Lancellotti afirmou, em seu perfil no Instagram, que não pertence a nenhuma organização da sociedade civil ou não governamental que possui convênio com a Prefeitura de São Paulo. A atividade da Pastoral de Rua, cujo coordenador é a liderança religiosa, é "uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão". 

Não é a primeira vez que Lancellotti é alvo de setores conservadores da Câmara Municipal de São Paulo e de movimentos de extrema direita. Em outubro de 2020, Arthur do Val, colega de Rubinho Nunes dentro do Movimento Brasil Livre (MBL), foi condenado pela Justiça após chamar Lancellotti de "cafetão da miséria". 

A Justiça também condenou, em agosto de 2022, o bolsonarista Luciano Hang por chamar o padre Julio de "hipócrita" e o acusá-lo de "defender bandidos". "É da turma do Lula. Hipocrisia pura. Temos que ensinar a pescar, e não dar o peixe. Cada dia que passa é mais malandro vivendo nas costas de quem trabalha", disse Hang. "Quem defende bandido, bandido é", acrescentou. 

A CPI, se instalada, terá como objetivo declarado investigar organizações não governamentais (ONGs) que supostamente fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a Cracolândia.

O pedido de abertura da CPI foi protocolado na Câmara Municipal em 6 de dezembro do ano passado. De acordo com apuração do jornal Folha de S.Paulo, o vereador Rubinho Nunes trabalha numa articulação para que a comissão seja instalada em fevereiro, após o fim do recesso parlamentar.

"Já tem as assinaturas. Eu protocolei a CPI com 25 assinaturas que eu coletei em 30 minutos no plenário, mas já tem o apoio de mais de 30 vereadores na Câmara e também tenho construído com as lideranças a abertura da CPI já no início do ano legislativa, em fevereiro”, disse Nunes à CNN Brasil. 

O Brasil de Fato tentou contato com o vereador, mas não obteve retorno. O espaço está aberto para posicionamento.

·        Repercussão 

Nas redes, a reação à notícia da articulação para a instalação da CPI foi negativa. O X/Twitter registrou, até o fim da tarde desta quarta-feira, mais de 70 mil posts sobre o assunto. 

o ministro das Relações Institucionais do governo Lula (PT), Alexandre Padilha, manifestou apoio e solidariedade ao padre Julio e classificou a proposta da CPI como "inacreditável". "A proposta de uma CPI contra o padre Julio Lancellotti é inacreditável e parece uma tentativa de perseguição a defensores da justiça social. Manifesto total solidariedade e apoio ao padre Julio, conhecido mundialmente por suas ações de caridade", escreveu. 

Um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, foi na mesma linha e afirmou a "instalação de uma CPI que é nitidamente uma tentativa de perseguição política ao padre Julio Lancellotti e todos aqueles que lutam pela justiça social". 

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) disse que é "inadmissível que a Câmara de Vereadores de São Paulo tente instalar uma CPI contra o padre Julio Lancellotti". "Enquanto a cidade está ao léu, tentam perseguir quem está ao lado da população, lutando por moradia digna, comida e políticas públicas efetivas", escreveu em seu perfil no X/Twitter. 

Fernanda Melchionna, deputada pelo PSOL do Rio Grande do Sul, escreveu que a "extrema direita, liderada por um dos fundadores do MBL" tenta instaurar "uma absurda CPI na Câmara de São Paulo para perseguir e tentar criminalizar o padre Julio".  

"Os ataques contra Julio Lancellotti são de uma baixeza sem tamanho, perseguem uma pessoa que dedica a vida aos mais pobres e ao combate às injustiças.  Fomentam o ódio contra quem oferece o pão e trata com dignidade a população de rua", disse a parlamentar. 

O ator e humorista Marcelo Adnet também se posicionou em solidariedade ao padre Julio Lancellotti. Em seu perfil no X, ele disse que "o neofascismo avançou tanto no Brasil que hoje, em nome da morte, perseguimos aqueles que seguem os passos de Jesus Cristo". 

·        Craco Resiste 

Outro alvo da CPI é o Movimento Craco Resiste, que também atua com as pessoas em situação de vulnerabilidade no centro de São Paulo. Daniel Mello, membro do movimento, classificou a CPI como uma tentativa de tirar o foco da política municipal para tratar da Cracolândia. 

"É toda uma tentativa de intimidação, de tirar o foco da discussão. Desde o início da gestão [João] Doria, passando por [Bruno] Covas e Tarcísio [de Freitas, atual governador de São Paulo], está se apostando numa política de violência policial associada à internação, que é uma gastança de dinheiro público sem resultado para ninguém, que só piora a situação das pessoas pobres e do bairro, porque acirra um clima de conflito, violência e caos", afirma Mello.  

"O tráfico não diminuiu, a quantidade de pessoas em situação de rua só aumentou nesse período, e ficam tentando tirar o foco da transferência principalmente recursos públicos para entidades privadas, clínicas e comunidades terapêuticas", afirma. "Uma tentativa de tirar o foco da ineficiência do governo em cuidar e melhorar as condições de vida para o conjunto da população, atacando os movimentos sociais. A questão é se manter essa política de perfeição às pessoas pobres, usando de bodes criatórios os movimentos sociais." A despeito da tentativa de instalar a CPI, a expectativa do movimento é que isso não aconteça. "A gente pensa que o conjunto da Câmara de Vereadores vai entender que a cidade tem outras prioridades, vai buscar agir com mínima seriedade. Não tem nenhum fundamento. A gente acredita, ainda que tenha um perfil conservador, a Câmara, a gente espera que se trabalhe com o mínimo de fundamento, com o mínimo de seriedade", afirma.

·        Thammy Miranda assina CPI contra Padre Júlio, que o defendeu num sermão de ataques de bolsonaristas

A Câmara Municipal de São Paulo vai abrir uma CPI para investigar ONGs que trabalham com pessoas em situação de rua. Um dos alvos da investigação é o padre Júlio Lancellotti, vitima de uma perseguição cafajeste do vereador Rubinho Nunes (União), um dos fundadores do deplorável MBL.

Nunes jactou-se de já ter conseguido 25 assinaturas para essa canalhice. A ideia é pegar Boulos, candidato a prefeito, através do padre Júlio, já que os dois são muito próximos.

Entre os nomes que estão se prestando a essa palhaçada está o de Thammy Miranda (PL).

Em 2020, Miranda, que é trans, sofreu ataques pesados de bolsonaristas por estrelar uma campanha do Dia dos Pais promovida pela empresa de cosméticos Natura.

Quem saiu em sua defesa, veja só, foi o padre Júlio. Durante uma missa na paróquia São Miguel Arcanjo, ele provocou os fiéis.

“O que ofende a tal moral cristã? O pai trans que cuida de seu filho? Ou o abandono, a fome, o desrespeito, o veto ao Auxílio Emergencial às mães que criam seus filhos sozinhas?”, questionou.

“Não vou me definir como comunista, nem conservador, nem nada. Sou progressista”, disse Thammy, na época, enquanto era massacrado por gente como Eduardo Bolsonaro.

“Use a cabeça. Não seja gado. Seja pessoa. Leia”, disse Lancelotti no sermão.

Está em Timóteo: “Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios”.

 

Ø  Arquidiocese de SP diz estar “perplexa” com CPI contra padre Júlio

 

A Arquidiocese de São Paulo expressou, nesta quarta-feira (3), sua “perplexidade” diante das notícias relacionadas à possível instalação da CPI das ONGs pela Câmara Municipal de São Paulo. A instituição destaca que esta CPI parece ser, na prática, uma comissão direcionada ao Padre Júlio Lancellotti, ao movimento A Craco Resiste e ao Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto.

A Arquidiocese ressaltou o relevante trabalho desempenhado pelo Padre Júlio Lancellotti como Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. Ele coordena, articula e anima diversos serviços pastorais dedicados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade.

“Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade”, destacou a Arquidiocese.

O pedido de abertura da CPI foi apresentado em 6 de dezembro pelo vereador Rubinho Nunes (União), ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL). Nesta legislatura, há mais de 40 solicitações de comissões parlamentares, exigindo um acordo para priorização.

No requerimento, Nunes justifica a CPI tem “finalidade de investigar as Organizações Não Governamentais (ONGs) que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia”.

De acordo com o vereador, “a atuação dessas ONGs não está isenta de fiscalização, sendo necessária a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), até porque, algumas delas frequentemente recebem financiamento público para realizar suas atividades”.

“As CPIS são instrumentos legítimos do Poder Legislativo, que tem toda a autoridade e prerrogativa para implantá-las segundo o ritual de cada esfera do poder. Mas elas têm que ter um fim, um foco específico que, no caso, são as ONGS que prestam assistência à população da Cracolândia. Eu não faço parte de nenhuma ONG. Então, quem tem que ser investigado é o poder público e as ONGs com as quais se estabelece convênios”, completou.

 

Ø  Padre Júlio usa vídeo de bispo chamado de "comunista" pela Ditadura e se antecipa à CPI

 

Alvo de perseguição do vereador Rubinho Nunes (União), um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), que articulou junto à cúpula da Câmara Municipal de São Paulo a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)padre Júlio Lancellotti resgatou um vídeo antigo de Dom Hélder Câmara para se antecipar sobre a explicação que terá que prestar sobre sua atuação junto ao povo pobre que vive na região central da capital paulista.

Lancellotti vem sendo perseguido pelo fundador do MBL, Rubinho Nunes, que tenta levar o trabalho feito pelo padre para o centro dos debates das eleições municipais.

Partido de Rubinho, o União já decidiu apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), na tentativa à reeleição. A legenda ainda tem como pré-candidato o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), também fundador do MBL.

Para responder ao questionamento do vereador, que já conseguiu apoiar para instalar a CPI em fevereiro, Lancellotti relembrou as palavras de Dom Hélder, um dos fundadores da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e símbolo de resistência ao regime militar.

Dom Hélder foi classificado como "demagogo" e "comunistas" dias após o golpe, quando divulgou um manifesto apoiando a ação católica operária no Recife. O bispo também foi proibido de dar entrevistas e a mídia liberal, alinhada aos militares, não podiam sequer falar no nome do religioso.

Em entrevista em 1987, após a redemocratização, Dom Helder, explicou os motivos do ódio que a Ditadura nutria contra ele.

"Houve um tempo em que aqui, no Brasil, era assim: se um leigo, uma religiosa, um padre, um bispo trabalhava diretamente com o povo, 'meu Deus é um santo', 'é uma santa religiosa'", disse.

"Mas, quando a pessoa mesmo continuando a ajudar o pobre tinha a audácia de falar em justiça. Já viu palavra mais perigosa: justiça. Falar em promoção humana. Imediatamente era chamado de comunista", emenda o bispo.

Dom Hélder, no entanto, errou ao colocar dizer que isso teria ficado no passado. "Hoje isto é ridículo", disse o religioso, sem saber que mais adiante o mesmo discurso seria ressuscitado por adoradores da mesma Ditadura.

 

Fonte: Brasil de Fato/DCM/Fórum

 

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