quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Matías Ferrari: Quanto tempo durará a lua de mel de Javier Milei?

Na Casa Rosada, há o reconhecimento de que se aproximam “meses difíceis”, que serão vistos nos números de aceitação da gestão e da figura presidencial. Nesta última, tem como base a tática de se queimar os navios na largada. Para uma ala do governo libertário, abril e maio podem ser meses cruciais.

Os meses de abril e maio estão marcados de vermelho no calendário do Governo. Pelo cálculo feito por um setor do gabinete, nesta época do ano os efeitos negativos sobre os bolsos trazidos pela combinação do ajuste brutal e da desvalorização anunciada nas primeiras semanas de governo deveriam começar a ser revertidos. “Entre abril e maio a economia deverá começar a se recuperar, tendo deixado o pior para trás”, especulam na Casa Rosada. Ou seja, nessas datas deverá ocorrer a famosa “recuperação” da economia, na qual apostam, acrescentando uma suposta estabilidade em questões inflacionárias. A imagem presidencial, entendem, estará em grande parte ligada a esse destino, e pelo menos numa ala da Casa Rosada não deixam de olhar com desconfiança para a possibilidade de uma ruptura abrupta da lua-de-mel caso as coisas não corram como previsto. “Temos que estar atentos à forma de sustentar o apoio popular com que começamos, até que se percebam os primeiros sinais de melhoria”, afirmam.

Segundo as sondagens que chegam a Rosada, o presidente ainda mantém os números de aprovação com que iniciou a gestão. Em todo o caso, pelo menos um setor do governo pede “humildade” e dá como exemplo o colapso da imagem positiva que Alberto Fernández sofreu. Principalmente, receiam o calor dos efeitos negativos que a motosserra terá sobre a classe média e os setores populares. “Temos alguns meses muito maus pela frente”, reconhecem, e asseguram que o Governo terá de trabalhar para sustentar a imagem presidencial até que a economia recupere e a inflação baixe a partir de abril e maio”, insistem. 

Em outro setor da administração libertária, também estavam de olho no que chamam de um “verão quente”, em referência a mobilizações de rua como a que a CGT liderará durante a greve geral convocada para 24 de janeiro. Este grupo dentro do governo está empenhado em construir um diálogo que permita negociações com os atores sociais e políticos da oposição, o que teria para Milei o benefício de arrefecer as ruas e não adicionar mais lenha ao fogo da crise econômica. Neste contexto, admitem que declarações do presidente, como aquelas em que acusou os legisladores da oposição de “quererem cobrar subornos” não ajudam a construir pontes. “Isso gerou raiva”, reconhecem.  

Além dos números que a Casa Rosada administra -alguns dão a Milei uma imagem 75% positiva-, outras pesquisas publicadas no final do ano, como a de Zuban e Córdoba, mostram uma queda sistemática no apoio popular ao presidente. De acordo com essa pesquisa, Milei sofre um declínio diário que o levou a ter uma imagem negativa de 55% após 20 dias de governo. As causas da deterioração vão desde as consequências das primeiras medidas econômicas até a subjugação das instituições democráticas que levaram ao decreto 70/23, que varreu os direitos laborais e do consumidor, e a “Lei Ônibus” que o Congresso começa a discutir esta semana. Segundo os autores do relatório, será “a perda de diferencial positivo mais acelerada que já registamos”. “Ousamos até dizer que é provavelmente a mais acelerada de toda a história da região. Nunca se viu uma queda tão pronunciada em tão pouco tempo”, acrescentaram. Esta posição é compartilhada por vários pesquisadores.

·        Avançando antes da tempestade

Neste contexto, o governo não parece disposto a recuar em nenhuma das medidas que geram maior resistência. A mensagem que se ouve é que será “tudo ou nada”. A ideia de Milei é clara: os pacotes tinham que ser enviados todos juntos antes que as quedas dos quadros econômicos impactem a imagem presidencial e percam o consenso. 

Segundo fontes da Casa Rosada, o apoio que acreditam ter as medidas do DNU baseia-se no seu caráter “anti-corporativo”. Em todo o caso, admitem que nem todas têm os mesmos graus de consenso, razão pela qual muitas medidas foram mesmo adiadas para uma segunda fase. O próprio Federico Sturzenegger – neste momento um ministro sem pasta – avançou algo neste sentido, quando disse que em breve haverá novos DNUs. Especula-se que alguns conteriam artigos com as medidas contidas na Mega-Lei que não passam pelo filtro do Congresso.

“O presidente quer que todo o pacote seja aprovado porque expressa a direção que quer dar à sua administração”, repetem na Rosada e insistem que “tudo foi enviado de uma vez para dar um sinal claro de onde acreditamos que o governo tem ir, e pela situação de emergência em que nos encontramos.”

No governo, insistem que há medidas “que nos dão uma imagem 75% positiva do presidente”, semelhante à que Alberto Fernández tinha no início do seu mandato. Os principais responsáveis ​​por apoiá-lo são o chamado Grupo Marlboro, que inclui o conselheiro estrela Santiago Caputo, mas também a irmã do presidente, Karina Milei. Resta saber se estes números sobreviverão ao turbilhão social de cortes com recessão que o próprio governo admite que chegará.

 

Ø  COMEÇOU CEDO: Porta-voz posta “passagens pagas por Milei”, mas erro crasso indica “fraude”

 

Com uma de suas bravatas de campanha o novo presidente argentino, Javier Milei, se meteu numa enrascada sozinho e gerou o primeiro escândalo de mentiras em apenas três semanas na cadeira. Sempre com um discurso austero e demagógico, ele passou anos dizendo que não usaria de dinheiro do Estado se chegasse à presidência, e foi o que alegou, sem ninguém perguntar nada, quando viajou para Mar del Plata, na sexta-feira (29), para assistir à estreia de um espetáculo de sua namorada, a humorista Fátima Florez.

Milei chegou acompanhado de mais de 100 guarda-costas, com veículos blindados, e se hospedou num hotel de luxo da cidade litorânea, mas fez questão de propagar a história que ele e sua irmã, Karina Milei, que é secretária-geral da Presidência, voaram para lá pagando as passagens aéreas do próprio bolso. Inclusive, na noite de ontem (30), seu porta-voz divulgou os prints com a tal compra. Só que a mentira tem perna curta.

Nas imagens disponibilizadas pelo “vocero”, como é chamado o cargo de porta-voz em língua espanhola, a agência em que os bilhetes foram comprados é a ‘Optar’, uma empresa estatal que não vende passagens a pessoas físicas nem jurídicas de nenhum tipo. Ela tem como cliente exclusivo o governo argentino, que é o único no sistema que pode efetuar a compra, faturação e emissão de passagens.

Não há nenhum problema em Milei realizar uma agenda privada sendo presidente da nação e ter os custos bancados pelo Estado. É absolutamente legal e normal, mas sua sanha de usar um verniz moralista pode custar caro à sua imagem. Desde que a história de “arcar com os custos” da ida a Mar del Plata começou, peronistas, jornalistas e outros analistas políticos já estavam achando tudo muito estranho, uma vez que fontes internadas do governo, sob anonimato, já tinham dito que a compra tinha sido realizada da forma habitual, com o valor sendo pago pelos cofres públicos. “Foi um exagero desnecessário”, disse uma fonte peronista à imprensa argentina.

Funcionários que já trabalharam com o sistema de emissão de passagens compradas pela estatal ‘Optar’ também confirmaram, sem se identificarem, que é impossível efetuar uma compra no sistema da empresa pagando com recursos de uma pessoa física, o que endossa que os prints divulgados são uma fraude.

 

Ø  Maduro afirma que Venezuela tentará ingressar no Brics em 2024 no lugar da Argentina

 

Ao destacar a importância do Brics para "o futuro da humanidade", o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que tentará incorporar seu país como membro permanente do bloco durante a cúpula da Rússia, que será realizada em outubro deste ano.

As declarações foram dadas durante uma entrevista concedida ao jornalista espanhol Ignacio Ramonet, nesta segunda-feira (01/01), publicada pelo diário mexicano La Jornada, após o presidente ultradireitista da Argentina, Javier Milei, ter recusado o convite para aderir ao grupo.

O mandatário venezuelano indicou que seu país “aposta” no organismo “como parte desse novo mundo, do novo equilíbrio, do conceito geopolítico bolivariano de um mundo de equilíbrio, um mundo de iguais”. Além disso, enfatizou o papel da humanidade “para o desenvolvimento dos investimentos do Brics na Venezuela, de grandes mercados para os produtos venezuelanos e das relações diversificadas culturalmente, politicamente, institucionalmente, socialmente”.

Ao mencionar as cinco nações que fazem parte do bloco econômico — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — o presidente do país bolivariano afirmou que o grupo “já é uma potência econômica definitiva”.

Ele ainda reforçou seu "bom relacionamento" com os países-membros, chegando a mencionar um encontro que teve com Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), em setembro de 2023, em Xangai, e também ao citar que seu país já foi aceito como parceiro, em agosto, durante uma reunião na África do Sul, deixando claro que a Venezuela quer se integrar ao bloco.

"E espero que, na próxima cúpula russa [...] a Venezuela se junte ao Brics+ como membro permanente", declarou.

·        'Milei age contra os argentinos'

Maduro também criticou a renúncia do presidente argentino, Javier Milei, à adesão do bloco.

“Ao retirar a Argentina do Brics você está agindo contra os argentinos, contra o trabalhador argentino, contra o empresário argentino”, declarou o venezuelano, ao classificar a decisão do novo chefe de Estado um retrocesso e “uma das coisas mais desajeitadas e imbecis”. 

Maduro deu fortes declarações em relação ao que denominou de “projeto Milei”, afirmando ser “uma construção” para tirar a Argentina “do mundo multipolar” e “transformá-lo em um vassalo do mundo imperial unipolar”.

No primeiro dia de 2024, cinco novos países aderiram ao Brics: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O bloco também chamou a Argentina, mas o mandatário ultradireitista recusou o convite uma vez que pretende fortalecer as relações de Buenos Aires com os países do Ocidente, pelo que especialistas avaliam como um “olhar geopoliticamente elitista”.

Javier Milei também declarou, por meio de uma carta enviada aos dirigentes do bloco, que a incorporação no Brics “não é adequada” pois “a marca da política externa” do atual governo “difere em muitos casos do governo anterior”.

 

Fonte: Página 12/Fórum/La Jornada/Opera Mundi

 

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