terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Censo, ondas de calor e crise Ianomâmi marcaram o país em 2023

A retrospectiva dos acontecimentos que marcaram o ano de 2023 no Brasil passa por momentos de tragédias climáticas, escolares e discussões sobre direitos de povos originários. A preocupação com a redução no desmatamento da Amazônia também marcaram o ano. Além disso, os brasileiros conferiram detalhes sobre as características de sua população, por meio da publicação do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2023. Confira alguns destaques:

·        Janeiro

O ano começou com o início da gestão do presidente da república eleito em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De forma inédita, a faixa presidencial não foi passada a Lula pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro dia de 2023. A quebra do rito, no entanto, não impediu a transição do poder. Um grupo oito de pessoas representativas da sociedade brasileira subiu a rampa e passou a faixa ao presidente Lula. 

Dias após a transição de poder, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro protagonizaram cenas de invasão e depredação da Praça dos Três Poderes. Houve destruição de prédios públicos, como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Os atos de vandalismo ocorreram no dia 8 de janeiro deste ano.

Dias após as manifestações, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de investigações contra pessoas que de alguma forma tiveram envolvimento com o 8 de Janeiro. Com base nessas investigações, ao longo do ano, houve prisões e operações de busca e apreensão. 

O mês de janeiro também foi marcado por tragédia na comunidade indígena dos Ianomâmis. Na terra onde vive essa tribo, localizada em Roraima, o grupo sofreu com casos de desnutrição, falta de acesso a medicamentos, violência e riscos à saúde por causa de ações de garimpeiros ilegais.

Esse quadro fez com que o governo federal decretasse estado de calamidade pública àquela região. O presidente Lula foi ao local no dia 21/1, ao lado de Sônia Guajajara, a nova ministra dos Povos Indígenas.

Além do estado de calamidade, a visita à terra Ianomâmi foi palco para que o governo anunciasse medidas de fomento à saúde daquela população e de maior fiscalização contra o garimpo ilegal.

·        Fevereiro

Em tom carnavalesco, o mês de fevereiro chegou como um alívio aos foliões sedentos por uma aglomeração ao som de blocos de rua, trios elétricos e samba. Neste período, porém, algumas regiões do país, como o Litoral Norte de São Paulo, registraram chuvas além do previsto. Como consequência dessas precipitações, algumas cidades tiveram casos de desabamentos e mortes.

São Sebastião, foi o município mais afetado pela tempestade. De acordo com o Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres (Cemaden), as chuvas que caíram no sábado (19/2) e no domingo (20/2) resultaram no acumulado de 626 mm em São Sebastião.

Nesse mesmo período, no litoral paulista, também foi registrado durante o fim de semana um acumulado de 337 mm em Ilhabela, 335 mm em Ubatuba e 234 mm em Caraguatatuba. Um milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado.

·        Março

Temas relacionados à educação marcaram as discussões dos brasileiros no mês de março. No ensino escolar, a violência tomou conta do noticiário após um aluno de 17 anos invadir uma escola em São Paulo e esfaquear a professora Elizabeth Tenreiro. A educadora tinha 71 anos e era querida por alunos e funcionários do colégio. Elizabeth era funcionária aposentada do Instituto Adolfo Lutz e, desde 2013, atuava como professora.

Sobre o caso, a Secretaria de Educação de São Paulo informou que apreendeu o estudante que cometeu o ataque e que toda a comunidade escolar receberia apoio psicológico.

Também em março, estudantes de uma faculdade particular de Bauru, em São Paulo, gravaram um vídeo para ridicularizar uma colega do curso universitário. O motivo da "zoação" foi o fato de a aluna ter mais de 40 anos de idade.

·        Abril

Abril também foi marcado por um ato de violência a um centro de ensino. O ataque ocorreu na manhã do dia 5 de abril. Um homem invadiu uma creche particular em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, e matou quatro crianças. O crime ocorreu na unidade de ensino Cantinho Bom Pastor, que fica localizada na rua dos Caçadores, no bairro Velha.

O autor do atentado, um homem de 25 anos, foi preso e responde por quatro homicídios quadruplamente qualificados e cinco tentativas de homicídio qualificadas. O processo tramita em segredo de justiça. Os ataques à creche em Blumenau e à escola em São Paulo levantaram, no país, um clima de apreensão a possíveis ataques futuros.

Ainda em abril, chuvas assolaram o Maranhão. O excesso de precipitações deixou pelo menos 8 mil famílias desabrigadas em todo o estado.

·        Maio

No mês de maio o brasileiro teve contato com os primeiros dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No recorte por cor ou raça, o IBGE verificou que a taxa de desocupação, no primeiro trimestre deste ano, era de 11,3% entre os que se autodeclaravam pretos, 10,1% entre os pardos e 6,8% entre os brancos.

No campo de gênero e desemprego, as mulheres ficaram em 10,8%, enquanto entre os homens o índice foi de 7,2%.

·        Junho

Enquanto maio foi mês de divulgação de dados de emprego, o IBGE publicou as informações do Censo Demográfico 2022 em junho. Os dados mostraram que, de 2010 a 2022, a população do Brasil cresceu 6,5% e chegou a 203,1 milhões de pessoas.

Neste período também houve uma mudança de concentração de gente nas cidades, como foi o caso da diminuição da população de algumas capitais para o avanço de pessoas ao interior do país.

Um exemplo disso é o caso de Salvador. A primeira capital do Brasil, segundo o Censo 2022, diminuiu sua população em 9,63%. Além de Salvador, metrópoles como Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Belém (PA), Porto Alegre (RS) e Rio de Janeiro (RJ) também apresentaram diminuição populacional.

Enquanto algumas capitais reduziram sua população, outras aumentaram a quantidade de moradores. Um dos principais exemplos desse fenômeno é Brasília.

A capital federal, segundo os dados do IBGE, cresceu 9,6% em 12 anos, e se tornou a terceira maior cidade do Brasil. Outro exemplo mostrado pelo Censo foi João Pessoa. A capital da Paraíba, entre 2010 e 2022, aumentou sua população em 15,3%. Entre as capitais do Nordeste, João Pessoa também foi a que teve o maior crescimento na população.

·        Julho

Em julho, o IBGE divulgou informações sobre a população quilombola que vive no Brasil. Atualmente, segundo o Censo 2022, há há 1.327.802 pessoas quilombolas no país. Esse dado significa que 0,65% da população é quilombola.

Julho também foi o mês de divulgação da Constituição na língua indígena. Isso se deu com a tradução da Carta Magna à língua indígena nheengatu.

·        Agosto

O mês de agosto foi marcado pelo assassinato da líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, a mãe de santo Bernadete Pacífico. O Pitanga dos Palmares fica localizado na Bahia.

Ela foi assassinada com vários tiros dentro de sua casa e na presença de seus netos, que foram retirados da sala pouco antes de ouvirem a avó ser baleada. A Ialorixá já havia informado à presidente do STF que sofria ameaças há cerca de dois meses. Segundo relatos, ela denunciava a retirada de madeira ilegal do território do seu quilombo e isso teria motivado os assassinos.

Ainda em agosto, no dia 15, 29 milhões de pessoas ficaram sem energia por conta de uma falha na rede elétrica brasileira. Um atraso no tempo de resposta de equipamentos em usinas de energia causou um apagão que durou algumas horas e atingiu diversas regiões do país.

·        Setembro

Em setembro, o Rio Grande do Sul viveu episódios de ciclones e fortes chuvas. Foram registradas mortes e milhares de desalojados em diversas cidades gaúchas.

Enquanto o sul apresentou chuvas, outras regiões do país foram dominadas por ondas de calor em setembro. A cidade de Cuiabá, por exemplo, liderou o ranking das capitais mais quentes naquele mês e chegou a marcar 43º C.

Segundo o Inmet, a região Centro-Oeste foi a mais afetada pela onda de calor de setembro, e em vários outros estados a temperatura superou os 40ºC.

Também foi em setembro que a região da Amazônia enfrentou um período de seca extrema. Nesta época, cerca de 15 municípios do Amazonas registraram situação de emergência por causa da estiagem.

As cidades mais afetadas estavam localizadas nas proximidades dos rios Juruá e Solimões, nas regiões do Alto e Médio Solimões. Mais de 100 mil pessoas foram afetadas pela seca.

·        Outubro

Outra onda de calor assolou o Brasil em outubro. Temperaturas acima do normal foram registradas em diversos estados como Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins.

Outubro também foi o mês de divulgação de um relatório da Unicef que aponta que cerca de 31,9 milhões de crianças e adolescentes (60,3%) enfrentaram, em 2022, privações em direitos fundamentais, como alimentação, educação, informação, moradia, renda e saneamento. Por isso, a Unicef conclui que precisam ser implantadas políticas públicas mais eficazes.

O mês de outubro também ficou marcado pelo assassinato de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na orla do Rio de Janeiro. As vítimas participavam de um congresso internacional de ortopedia e receberam um total de 19 disparos no total. A maioria dos tiros foi pelas costas. 

Esse episódio ocorreu no dia 5 de outubro. Entre as vítimas, Diego Ralf de Souza Bomfim, 35 anos. Ele era irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Diego Bomfim levou 8 tiros. Além dele, morreram no local os médicos Marcos de Andrade Corsato, Perseu Ribeiro Almeida. 

A Polícia Civil, à época, afirmou que os médicos foram assassinados "por engano" por traficantes. Eles, na verdade, queriam matar um miliciano, nomeado Tailon de Alcântara Pereira Barbosa. De acordo com as investigações, Perseu Almeida teria sido confundido com Taillon Barbosa

O miliciano, no final de outubro, foi preso pela polícia. Já os traficantes foram assassinados a mando da facção criminosa Comando Vermelho.

·        Novembro

Ainda está calor por aí? Calma que já foi pior no mês de novembro. É que aquela onda de calor que assolou o país nos meses de setembro e outubro continuou em novembro.

Mato Grosso do Sul e Minas Gerais registraram as maiores temperaturas da onda de calor, com marcas acima de 43°C durante vários dias de novembro.

Outro fato que marcou o país em novembro foi a morte da jovem Ana Clara Benevides Machado. Ela morreu por exaustão térmica durante o primeiro show de Taylor Swift, no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro.

O caso da morte da fã da cantora norte-americana motivou o Ministério da Justiça e Segurança Pública a assinar uma portaria para que fossem garantidos tanto o acesso gratuito de garrafas de uso pessoal, contendo água para consumo no evento, como a disponibilização de bebedouros ou embalagens de água ao público.

·        Dezembro

O último mês do ano já começou com uma megaoperação da Polícia Federal contra um grupo suspeito de negociar a compra e venda de 43 mil armas para os chefes das maiores facções criminosas do país em três anos.

No dia 5/12, os agentes cumpriram 25 mandados de prisão preventiva, seis de prisão temporária e 52 mandados de busca e apreensão no Brasil, Estados Unidos e Paraguai. 

Este mês também foi marcado pelo rompimento de uma mina em Maceió. Explorada pela empresa Braskem, a mina de sal-gema — matéria-prima usada na fabricação de cloro, soda cáustica, ácido clorídrico e bicarbonato de sódio — cedeu 2,35 metros, com uma velocidade 0,52 cm por hora, pouco antes do rompimento.

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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