Mulher de Ronnie Lessa desmente a versão do ex-PM reformado, acusado de
atirar em Marielle e Anderson
O homem acusado de ter atirado na vereadora Marielle
Franco e no motorista Anderson Gomes perdeu um álibi. Em novo depoimento, a
mulher de Ronnie Lessa desmentiu a versão dele de que tinha ficado em casa na
noite do crime. Esse depoimento contribuiu para que Élcio de Queiroz, outro
réu, fechasse acordo de delação e contasse detalhes sobre o assassinato.
O homem que a polícia fluminense prendeu na
segunda-feira (24), em consequência da delação de Élcio, não está mais no Rio
de Janeiro.
Maxwell Simões foi transferido na tarde desta
terça-feira (25) para um presídio de segurança máxima em Brasília e, por
determinação da Justiça, vai ficar em uma cela individual.
O ex-bombeiro foi preso na segunda-feira (24)
acusado de participar do plano para matar a vereadora Marielle Franco, do PSOL,
e de ajudar os assassinos a se desfazerem do carro usado no crime. Maxwell é
amigo de Ronnie Lessa, o ex-PM reformado que está preso acusado de ter feito os
disparos contra Marielle e Anderson Gomes, e foi citado na delação de Élcio de
Queiroz.
No vídeo a que o Jornal Nacional teve acesso, Élcio
falou por duas horas e meia sobre os assassinatos. A Polícia Federal diz que o
que Élcio contou foi comprovado por um grande conjunto de provas e elas foram
fundamentais para Élcio decidir quebrar o pacto de silêncio com o amigo e comparsa
Ronnie Lessa.
“Eu conheço o Ronnie há mais de 30 anos. Ele é
padrinho de consideração do meu filho Patrick. Então, nossa relação é nesse
sentido, de família. Eu sou amigo da família dele, ele é amigo da minha
família”, contou Élcio na delação.
Além da amizade, segundo investigadores, Lessa
usava mentiras para que Élcio não confessasse o crime. Uma delas era dizer que
não tinha pesquisado sobre Marielle na internet, o que seria uma prova de que
ela estava sendo monitorada.
Mas o Ministério Público e a Polícia Federal
comprovaram que Lessa pagou para ter acesso a um site privado de dados pessoais
e fez pesquisas sobre os CPFs de Marielle e da filha e de um endereço que a
vereadora tinha visitado dois dias antes do crime.
A descoberta foi possível porque os investigadores
fizeram uma nova análise dos documentos e de um cartão de crédito apreendido na
casa de Ronnie Lessa, quando ele foi preso em março de 2019. Encontraram um
login que estava ligado ao nome, e-mail e CPF de Ronnie Lessa. Eles descobriram
também que dos seis cartões de créditos usados para pagar as pesquisas no site,
cinco estavam no nome de Lessa. Um deles era aquele cartão apreendido na casa
de Ronnie Lessa.
Lessa também negava que tivesse sido pago pelo
assassinato.
Élcio de Queiroz: “Jurava que não levou um centavo
nisso dali. Isso aí ele jurou de pé junto o tempo todo, entendeu?”
Delegado: “O senhor, hoje, olhando para trás, o
senhor acredita nessa versão de que ele não recebeu nada?”
Élcio: “Não”.
Delegado: “Por quê?”
Élcio: “Porque, depois do fato, vi um acréscimo
muito grande, como se diz, no patrimônio. Tinha a Evoque, comprou uma Dodge Ram
blindada, uma lancha”.
A versão dos dois sobre o que fizeram horas antes
do crime também foi desmentida pela investigação. Inclusive com um novo depoimento
da própria mulher de Ronnie Lessa, Elaine Lessa.
Desde a prisão, há quatro anos, Ronnie Lessa e
Élcio mantinham a versão de que em 14 de março de 2018, dia do crime, passaram
o fim de tarde e o começo da noite bebendo na casa de Lessa e só saíram para
ver um jogo em um bar.
Em novo depoimento, há dois meses, Elaine contou
que naquele dia permaneceu em casa, no máximo saiu para levar o filho no curso
de inglês na parte da tarde, aproximadamente às 15:30h; que na noite daquele
dia estava em casa, onde chegou com seu filho por volta das 18:30h; que nesse
momento ninguém estava lá, nem Ronnie e tampouco Élcio; que Ronnie só chegou
quando estava próximo de amanhecer, pois pouco tempo depois ela acordou para
levar seu filho na escola.
Investigadores dizem que foi depois de ser
confrontado com as novas provas que Élcio confessou que dirigiu o carro e que
Lessa atirou contra as vítimas.
Nesta terça-feira (25), o Ministério Público do Rio
informou que as cláusulas da delação de Élcio de Queiroz estão sob sigilo, mas
esclareceu que a pena do delator ainda será estabelecida em um futuro
julgamento e que não há acordo para que Élcio não enfrente um júri popular.
Veja
perguntas ainda sem resposta sobre o assassinato
PF e MPRJ afirmam já terem elucidado a dinâmica do
crime, mas ainda há perguntas sem resposta.
• Quem
mandou matar Marielle e por quê?
Os trechos revelados até agora da delação premiada
do ex-PM Élcio Queiroz, homologada pela Justiça, ainda não respondem à
principal pergunta sobre o atentado de cinco anos atrás.
O depoimento de Élcio foi fatiado em partes, e
apenas a segunda foi detalhada pelos investigadores — o Jornal Nacional mostrou
destaques do interrogatório.
A partir do que disse Élcio, a Polícia Federal (PF)
e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) afirmam não terem dúvidas da
dinâmica do ataque de 14 de março de 2018: a força-tarefa diz haver um conjunto
de provas que corrobora as declarações do ex-PM.
>>>>> Veja algumas questões ainda em
aberto sobre o atentado.
1. As
autoridades já sabem quem mandou matar Marielle?
2. Já se
sabe por que Marielle foi morta?
3. Já se
sabe quantas pessoas participaram do assassinato?
4. A
morte de Macalé foi queima de arquivo?
5. De
onde veio a arma do crime e onde ela está?
6. Alguém
atrapalhou as investigações?
7. A
Polícia Civil continuará no caso?
• 1. As
autoridades já sabem quem mandou matar Marielle?
Nas coletivas prestadas pelo ministro da Justiça,
Flávio Dino, e por delegados da Polícia Federal nesta segunda-feira, quase nada
foi dito sobre mandantes.
“Há um avanço, uma espécie de mudança de patamar da
investigação, e há elementos para a identificação dos mandantes do crime”,
disse Dino.
Como outras fatias da delação seguem sobre sigilo,
não é possível saber se Élcio apresentou nomes.
Mas já se sabe que o ex-PM Élcio Queiroz afirmou
que o sargento da Polícia Militar Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé,
executado em 2021, foi o intermediário entre a "missão" da execução
de Marielle e Ronnie Lessa. Não há menção, no entanto, a quem seria o mandante.
• 2. Já
se sabe por que Marielle foi morta?
Também pouco foi dito sobre motivações para o
crime.
“Os fatos até agora revelados e as novas provas
colhidas indicam que há forte vinculação desses homicídios com atuação das
milícias e do crime organizado no Rio de Janeiro. Isto é indiscutível. Até onde
vai isso? As novas etapas vão revelar”, afirmou o ministro da Justiça.
Maxwell Simões Corrêa, o Suel, preso em casa —
Foto: Reprodução/TV Globo
• 3. Já
se sabe quantas pessoas participaram do assassinato?
Três nomes surgiram na Operação Élpis: O
ex-bombeiro Suel, o PM Macalé e Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha.
Élcio afirma que houve uma tentativa de matar Marielle
no fim de 2017 em que Ronnie estava com Suel e Macalé — mas Suel, ao volante,
alegou um problema no Cobalt e desistiu.
Não se sabe se mais pessoas participaram do plano.
• 4. A
morte de Macalé foi queima de arquivo?
O policial militar Edmilson da Silva de Oliveira, o
Macalé, foi morto a tiros em 6 de novembro de 2021 em Bangu. Ele caminhava em
direção à sua BMW quando foi abordado por homens em um veículo branco.
O policial foi atingido por vários disparos e
morreu no local. Com ele havia uma pistola Glock, de calibre 45. Nem a arma e
nem os documentos do policial foram roubados na ação.
Não se sabem detalhes da investigação da morte
dele.
• 5. De
onde veio a arma do crime e onde ela está?
Élcio relatou na delação o que Ronnie lhe falou
sobre a origem da arma do crime. A submetralhadora MP5 teria sido levada
durante um incêndio no paiol do Bope nos anos 80. Ronnie teria comprado a arma
por tê-la usado em serviço à época em que serviu na unidade.
Mas a PF diz não ser possível comprovar essa tese.
Houve um incêndio no Bope em setembro de 1982, mas só há registro do
recebimento de MP5s na unidade três meses depois.
Já sobre o destino da submetralhadora, Élcio diz
não acreditar que a arma foi para o fundo do mar.
“Ele falou: ‘Eu serrei ela todinha”; eu não acredito,
mas ele falou que serrou ela todinha, pegou a embarcação lá na Barra da Tijuca,
foi numa parte mais funda que tem lá e jogou ali”, narrou Élcio.
“Ele tinha muito carinho por essa arma, e ele ficou
feliz por ter conseguido pegar — aquela história toda do Batalhão de Operações
Especiais, que ele usou essa arma quando era novinho”, emendou.
• 6.
Alguém atrapalhou as investigações?
O próprio Suel já tinha sido preso em junho de 2020
por esse motivo — mas pela Polícia Civil do RJ.
No entanto, nem a PF nem o MPRJ falaram nas
coletivas desta segunda-feira se mais alguém impôs obstáculos à investigação.
• 7. A
Polícia Civil continuará no caso?
Oficialmente, o inquérito não foi federalizado. No
fim de fevereiro deste ano, o Ministério da Justiça determinou a abertura de um
inquérito da PF para investigar o assassinato da vereadora.
No despacho de abertura do inquérito, constava que
a PF apuraria “todas as circunstâncias que envolveram a prática do crime”
previamente identificado, além de outros que “porventura forem constatados no
curso da investigação”.
Mas isso não excluiu a Polícia Civil do caso, que
não foi encerrado.
Cinco delegados da instituição estiveram à frente
da investigação, além de mais de dez promotores de uma força-tarefa do MPRJ.
MP diz
que acordo de delação de Élcio Queiroz não o tira de júri popular nem reduz
pena
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ)
afirmou em nota divulgada nesta terça-feira (25) que o acordo de delação
premiada de Élcio Queiroz está em sigilo, e que é inconstitucional que ele
deixe de ser julgado pelo Tribunal do Júri.
A informação consta em reportagem do g1 que aponta
os benefícios acordados com delator.
O ex-PM é réu pelo assassinato da vereadora
Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de assassinato
da assessora Fernanda Chaves – única sobrevivente do atentado em 14 de março de
2018.
Na delação, ele admitiu que dirigiu o carro usado
no crime e atribuiu ao amigo e ex-PM Ronnie Lessa a autoria dos disparos.
Segundo a nota do MP, uma cláusula que retirasse
Élcio do júri popular "feriria a própria Constituição da República,
retirando dos Srs. Jurados competência que ali lhes foi assegurada".
O MP diz ainda que "pode assegurar que o
acordo não estipula nenhuma redução de pena" e que é "certo que o
colaborador cumprirá toda aquela que vier a ser fixada em futuro julgamento,
respeitado o limite do artigo 75 do Código Penal". O artigo determina que
o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior
a 40 anos.
Na nota, o MP não informou se há alguma cláusula
que especifique se Élcio ficará detido em presídio federal ou estadual. Nesta
terça, um dia após a operação baseada em sua delação, ele foi transferido para
uma unidade de segurança máxima.
Polícia
Federal pode oferecer acordo de delação a Ronnie Lessa
Após a delação do ex-policial militar Élcio de
Queiroz, suspeito do atentado em que morreram a vereadora Marielle Franco e o
motorista Anderson Gomes em 2018, abriu-se a possibilidade de que Ronnie Lessa
também celebre acordo com a Polícia Federal (PF) para fornecer novas
informações sobre o caso.
Fonte ouvida afirmou que a delação de Queiroz –
que, assim como Lessa, está preso desde 2019 – trouxe novos indícios robustos
sobre a morte de Marielle, criando condições para que Lessa faça o acordo e dê
novas informações sobre o crime.
Como revelado pela colunista Bela Megale no jornal
“O Globo”, Lessa já havia demonstrado interesse em fazer uma delação. Agora,
com as novas informações dadas por Élcio, que foram cruzadas pela PF e pelo
Ministério Público (MP), a situação de Lessa se complicou.
Nesse novo cenário, caso o acordo aconteça, ele
deverá ter nível de rigor igual ou maior ao do celebrado por Élcio Queiroz –
exigindo, por exemplo, que Lessa traga informações ou indícios novos sobre o
mandante ou os mandantes do crime contra Marielle.
• Delação
de Élcio
Na segunda-feira (25), foram divulgados trechos de
delação premiada feitas por Élcio de Queiroz em abril deste ano. No depoimento,
já homologado pela Justiça, Queiroz afirmou que era o motorista do carro usado
no ataque, e que os tiros contra Marielle e Anderson foram disparados por
Ronnie Lessa.
Ele também afirmou que o ex-bombeiro Maxwell Simões
Corrêa, o Suel, fez campanas para vigiar Marielle e seria um dos participantes
da emboscada, mas acabou substituído por Queiroz. Suel foi preso também na
segunda na operação Élpis, que investiga os homicídios de Marielle e Anderson,
além da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves, que também estava
no veículo.
Queiroz também deu novos detalhes sobre o
planejamento e a execução do crime. Segundo a força-tarefa que investiga o
caso, há um conjunto de provas que corrobora as declarações do ex-PM.
Fonte: g1
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