segunda-feira, 3 de abril de 2023

Estudo genético pode explicar por que mulheres desenvolvem Alzheimer mais do que homens

Uma equipe de pesquisa identificou um gene que parece aumentar o risco de Alzheimer em mulheres, fornecendo uma nova pista potencial sobre por que mais mulheres do que homens são diagnosticadas com a doença.

O gene, O6-Metilguanina-DNA-metiltransferase, ou MGMT, desempenha um papel importante na forma como o corpo repara danos ao genes em homens e mulheres. Mas, até então, pesquisadores não encontraram uma associação entre MGMT e Alzheimer em homens.

“É uma descoberta específica para mulheres — talvez uma das associações mais fortes de um fator de risco genético para a doença de Alzheimer em mulheres”, disse a coautora sênior do estudo, Lindsay Farrer, chefe de genética biomédica da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston.

Dois terços dos 6,5 milhões de americanos que vivem atualmente com a doença cerebral devastadora são mulheres, de acordo com a Associação de Alzheimer. É uma tendência que vale em todo o mundo.

“As mulheres, devido a fatores de risco genéticos únicos, como APOE ε4 e MGMT, e fatores de risco específicos do sexo, como a redução repentina do estrogênio durante a transição da perimenopausa, podem estar na via rápida em direção à doença, enquanto os homens estão sentados trânsito”, disse Richard Isaacson, diretor da Clínica de Prevenção de Alzheimer da Faculdade de Medicina Schmidt da Universidade Atlântica da Flória, que não esteve envolvido no estudo.

O gene APOE ε4 é considerado o fator de risco mais forte para o desenvolvimento futuro da doença de Alzheimer em pessoas com mais de 65 anos, o que é “especialmente verdadeiro para as mulheres, que são mais afetadas pelo APOE ε4 do que os homens”, disse Isaacson.

No entanto, muitas mulheres com APOE ε4 não desenvolvem Alzheimer, enquanto mulheres sem o gene ainda podem desenvolver a doença.

“Talvez o MGMT seja uma peça importante do quebra-cabeça de previsão de risco para essas mulheres, mas são necessários mais estudos”, disse Isaacson.

•        Uma descoberta de sorte

A descoberta da existência do novo gene foi feita em dois grupos de pessoas completamente separados. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Chicago estava analisando a composição genética de um pequeno grupo de mulheres Irmãos Hutterian que vivem em comunidade na zona rural de Montana e Dakota do Sul.

Os huteritas são uma população fechada que se casam entre suas próprias fileiras e mantêm extensos registros genealógicos, tornando-os uma excelente escolha para pesquisa genética.

“O ambiente relativamente uniforme junto à variação genética reduzida nos huteritas aumentam nosso poder de encontrar associações em amostras menores do que as necessárias para estudos na população em geral”, disse a coautora do estudo e presidente de genética humana da Universidade de Chicago, Carole Ober, em um comunicado.

Quando a nova associação com a MGMT apareceu em sua análise, Ober procurou Farrer, de Boston, para ver se ele poderia ajudar a replicar suas descobertas.

Farrer, que estava no meio de uma enorme análise genética de mais de 10 mil mulheres do estudo do Alzheimer’s Disease Genetics Consortium, ficou surpreso com a ligação.

“Eu disse a ela que encontramos exatamente o mesmo gene em nossa análise”, disse Farrer. “Dois estudos diferentes iniciados independentemente um do outro encontraram por acaso o mesmo gene, o que para mim adiciona muita confiança de que a descoberta é robusta”.

O estudo combinado foi publicado na revista científica Alzheimer’s Disease & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association.

•        Um fator de risco para mulheres sem APOE ε4

A equipe de pesquisa comparou os resultados ao tecido cerebral masculino autopsiado e não encontrou associação entre o gene MGMT e a doença de Alzheimer em homens.

Quando examinaram o MGMT via epigenética, que é o que acontece quando um gene é ativado ou desativado por comportamentos e fatores ambientais, os pesquisadores descobriram que sua expressão em mulheres estava significativamente associada ao desenvolvimento de beta-amiloide e tau, duas proteínas que são características da doença de Alzheimer.

A associação entre MGMT e placas amiloides e emaranhados de tau foi “mais pronunciada em mulheres que não têm APOE ε4”, disse Farrer.

Considerada uma proteína essencial, a função primária da APOE é “movimentar o colesterol pelo corpo e, sem isso, você estaria em apuros”, disse Farrer.

No entanto, estudos descobriram que a variação APOE ε4 pode resultar no depósito de mais acúmulo de ácidos graxos do que os outros membros da família APOE, levando os cientistas a acreditar que existe uma ligação entre o colesterol para a doença de Alzheimer.

De fato, um estudo de Farrer, publicado em março, descobriu que ter colesterol alto e açúcar no sangue aos 30 anos pode aumentar o risco de doença de Alzheimer décadas mais tarde na vida.

“Existem muitos caminhos para a doença de Alzheimer. Há a via lipídica, ou colesterol, que agora está bem estabelecida na doença de Alzheimer, e APOE ε4 é uma parte disso”, disse Farrer.

“E há a via inflamatória, que é comum a todas as doenças crônicas. Com MGMT, podemos estar olhando para uma via adicional de alguma forma relacionada ao reparo do DNA, ou talvez a MGMT participe de uma dessas outras vias e ninguém sabe ainda como”, acrescentou.

•        Medicamento personalizado

As mulheres devem trabalhar com seus médicos para tentar identificar em qual caminho elas podem estar em relação à doença, aconselham os especialistas.

As intervenções podem incluir a manutenção da pressão arterial, colesterol e açúcar no sangue em faixas saudáveis, enquanto “considerando a terapia de reposição hormonal quando indicada, e defendendo um estilo de vida saudável para o cérebro, incluindo exercícios regulares, dieta mediterrânea, sono adequado e técnicas de redução do estresse”, disse Isaacson.

Em algum momento, cientistas poderão oferecer medicamentos mais personalizados para as mulheres, disse Kellyann Niotis, neurologista da Clínica de Prevenção de Alzheimer da Weill Cornell Medicine e NewYork-Presbyterian, que não esteve envolvida no estudo.

“Em breve poderemos oferecer às mulheres em risco avaliações mais avançadas, como testes genéticos abrangentes em um ambiente clínico, para avaliar mais adequadamente seu risco e desenvolver planos personalizados de redução de risco para proteção ideal do cérebro”, disse Niotis.

 

       Exame pode indicar diagnóstico de Alzheimer dez anos antes do início dos sintomas, sugere estudo

 

Um novo exame poderá otimizar o diagnóstico do Alzheimer em até dez anos antes do início dos sintomas. As causas da doença neurodegenerativa ainda não são totalmente esclarecidas pela ciência, mas acredita-se que seja geneticamente determinada.

Nas investigações sobre o Alzheimer, cientistas em todo o mundo se desdobram para estudar os chamados biomarcadores, que são indicadores mensuráveis do desenvolvimento de uma doença.

Pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia, desenvolveram um método que pode apontar uma forma hereditária da doença a partir de biomarcadores sanguíneos. Os resultados foram publicados no periódico científico Brain.

A progressão do Alzheimer está associada à perda de funções cognitivas, como memória, linguagem, planejamento e habilidades visuais-espaciais. O diagnóstico precoce da doença contribui para evitar a progressão rápida.

Dados recentes do Ministério da Saúde apontam que a prevalência em pessoas com 65 anos ou mais corresponde a mais da metade dos casos. Estima-se que cerca de 1,2 milhão de pessoas vivam com alguma forma de demência no Brasil.

Os primeiros sintomas podem aparecer alguns anos antes de chamar a atenção de familiares, mas são pontuais, como esquecimentos simples, troca de nomes, repetição da mesma história e mudanças no comportamento. A perda de memória recente é o principal sinal de alerta, segundo o Ministério da Saúde.

Por ser uma doença progressiva, os sintomas aumentam com o passar do tempo e começam a trazer irritabilidade, falhas na linguagem, prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no tempo. Nos casos mais graves, há perda da capacidade de realizar tarefas cotidianas.

A doença também pode vir acompanhada também de depressão, ansiedade e apatia. Por isso, o diagnóstico precoce aumenta as chances de retardar o processo e evitar a evolução rápida do Alzheimer.

O estudo recente aponta que os biomarcadores presentes no sangue emergentes da doença de Alzheimer podem ser ferramentas não invasivas para rastrear anormalidades precoces relacionadas à doença, como o acúmulo de proteínas beta-amilóide, emaranhados neurofibrilares e mecanismos como ativação glial e neurodegeneração.

No entanto, não está claro quais processos patológicos no sistema nervoso central podem ser detectados adequadamente por medições periféricas e se os biomarcadores plasmáticos são igualmente aplicáveis nas fases clínica e pré-clínica da doença.

No estudo, os especialistas avaliaram o tempo e o desempenho dos biomarcadores no sangue em portadores de mutações em comparação com não portadores na doença de Alzheimer. Foram analisadas 164 amostras de plasma sanguíneo, sendo 33 de pessoas com uma mutação que aumenta a disposição ao Alzheimer e de 42 parentes que não contavam com a predisposição genética.

Os resultados das análises apontaram que biomarcadores indicam a presença de alterações patológicas de maneira precoce em pacientes com a doença. O grupo identificou mudanças em uma proteína chamada glial fibrilar ácida (GFAP) cerca de dez anos antes do aparecimento dos sintomas característicos. Os especialistas verificaram também concentrações aumentadas de proteínas como a tau (P-tau181) e a leve de neurofilamento (NfL), relacionadas ao dano neuronal.

A amostragem foi realizada durante os anos de 1994 a 2018. Todos os biomarcadores foram analisados no Laboratório de Neuroquímica Clínica do Hospital Universitário Sahlgrenska, em Mölndal, na Suécia. O prazo do estudo permitiu a análise e detecção de alterações nas concentrações de proteínas no sangue de pessoas com a mutação uma década antes do início dos sinais da doença.

“Juntas, P-tau181, GFAP e NfL parecem ser biomarcadores viáveis para detectar diferentes patologias relacionadas à doença de Alzheimer já em indivíduos pré-sintomáticos. Curiosamente, alterações nas concentrações plasmáticas de GFAP foram detectadas antes de P-tau181 e NfL. Nossos resultados sugerem que o plasma GFAP pode refletir a patologia da doença de Alzheimer a montante do acúmulo de emaranhados e neurodegeneração”, diz trecho do artigo.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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