Philipp
Lichterbeck: Criticar Lula não é apoiar Bolsonaro
Talvez
uns ou outras se surpreendam, mas também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
é um ser humano. E, como tal, comete erros. Portanto, pode-se, ou melhor,
deve-se criticar os erros dele. Isso não significa apoio ao bolsonarismo.
O
principal dever do jornalismo é acompanhar de forma crítica os poderosos. No
Brasil, muitos parecem não entender isso, também entre a esquerda. Toda crítica
a Lula vira uma blasfêmia, e a reação é consequentemente furiosa e exagerada. É
também o resultado do presidencialismo (nocivo em toda a América Latina) o qual
concentra todas as esperanças e todo o ódio numa única pessoa. A polarização
não deixa espaço para visões ponderadas.
• Um Brasil depois de Bolsonaro
Desde
janeiro, o poder político no Brasil está com Lula e, ainda bem, não mais com o
ex-presidente Jair Bolsonaro. Aleluia! É um grande mérito de Lula ter batido
Bolsonaro nas urnas e ter expulso a ele e a seu insuportável clã do Palácio do
Planalto.
Nunca
a diferença entre aparência e realidade fora tão grande: Bolsonaro, seus filhos
e esposa até hoje se apresentam como gente humilde e preocupada com o Brasil,
mas, na verdade, apenas visam o poder e o acúmulo de riqueza. Para isso,
utilizam todos os meios: perversão da fé cristã, mentiras, corrupção e
instrumentalização do aparelho do Estado para fins de desvio do patrimônio
público.
Bolsonaro
vai continuar sendo uma figura política desagradável. Vai continuar tentando
chamar a atenção com baderna, porque, de outra maneira, ninguém lhe dá ouvidos.
Sem baderna ele não existiria. Vai espalhar mentiras e tentar atiçar seus
apoiadores em motociatas sem sentido.
Mas
o poder de decisão não está mais com ele. Está com Lula, aquele que um dia
disse de si mesmo (já então andava na casa dos 70) que tinha "30 anos de
energia e 20 de tesão". Lula deve mesmo se sentir assim, e de fato não
deve haver no mundo muitas outras pessoas de 77 anos tão dinâmicas e
empreendedoras.
Contudo,
essa superestimação de si próprio aparentemente também o faz falar antes de se
informar, dirigir-se à imprensa antes de refletir. A experiência ensina que é
melhor calar quando as emoções afloram. Que é melhor dar um tempo quando se
está irritado com algo. E que é sempre bom buscar o conselho de gente de
confiança e bem informada.
Lula
parece ter outra visão. Ele é impulsivo, por exemplo, quando, em declarações à
revista Time, falou bobagens sobre a invasão criminosa da Ucrânia pela Rússia.
Ou quando comentou a investigação, a cargo da Polícia Federal, de planos do PCC
para matar o senador Sergio Moro.
• Reflexo da cultura política brasileira
Claro,
Lula também é um produto da cultura política brasileira, em que debates
construtivos costumam dar lugar a disputas pessoais, em que mais se provoca do
que se produz.
Mesmo
assim, deveria deixar de lado esse papel de "Papai do Brasil" que vai
"cuidar do povo", e parar de tentar resolver tudo sozinho. Uma
característica do poder é isolar quem o detêm por tempo demais. O poderoso
tende à prepotência, e quem está à sua volta não ousa mais dizer abertamente o
que pensa.
Entre
2003 e 2010, Lula liderou o que provavelmente foi um dos governos mais
bem-sucedidos da história do Brasil. Pela primeira vez, os pobres tiveram voz.
Ele deu às classes desfavorecidas a chance de ascensão social por meio da
educação, a economia floresceu, e o Brasil obteve importância política
internacional.
Essa
experiência sedimenta sua autoconfiança e sua convicção de que também desta vez
fará tudo certo. Ele levou para seu governo pessoas inteligentes, engajados e
sérias, o que só aumenta o contraste com a incompetência e o cinismo do governo
Bolsonaro.
Mas,
para garantir o poder, Lula também se cercou de algumas laranjas podres
(Juscelino Filho, Rui Costa, Renan Filho, Waldez Góes – todos suspeitos de
nepotismo ou até corrupção, a velha praga brasileira do patrimonialismo).
Chamar
a atenção para tudo isso não significa contribuir para o retorno do
bolsonarismo. Claro que as palavras do escritor Paulo Coelho ("governo
patético") foram exageradas e provavelmente motivadas por vaidade. Mas
também Lula precisa reconhecer que o mundo de 2023 não é mais o de 2003.
Lula
não deveria superestimar seu carisma, mas reconhecer que também comete erros,
ignorar um insuportável Sergio Moro, e confiar em seus bons ministros. Deveria
ter a amplitude de visão para entender que também as suas forças vão se esvair,
e aos poucos começar a preparar o terreno para um sucessor ou uma sucessora. Se
não, o bolsonarismo tem boas chances de voltar ao poder.
• MDB contrata pesquisa para definir
posicionamento durante o governo Lula
O
MDB decidiu contratar uma pesquisa qualitativa para definir seu posicionamento
durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Serão
20 grupos de eleitores pesquisados, sendo metade de petistas e metade de
bolsonaristas. O partido quer saber qual sua imagem na população e com quais
valores é normalmente associado.
O
MDB está investindo na proposta de ser um “ponto de equilíbrio” no conturbado
cenário político nacional.
Também
haverá questionamentos sobre qual foi o impacto da candidatura presidencial de
Simone Tebet (MS) no ano passado, bem como a imagem de algumas das principais
lideranças partidárias, como ministros, senadores, governadores e prefeitos de
capitais.
1 em cada 4 eleitores de Lula acha que
ele fez menos do que o esperado, diz Datafolha
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez até aqui pelo país menos do que o
esperado na opinião de 1 em cada 4 pessoas que declaram ter votado nele,
segundo pesquisa Datafolha. A fatia dos que veem expectativas frustradas é de
25% entre eleitores do petista e de 51% na média geral.
A
maior parte dos que votaram em Lula, no entanto, indica estar satisfeita com os
três primeiros meses de governo.
Para
37%, o mandatário fez o que era esperado dele -índice superior ao resultado
geral, de 25%, aferido em um universo que inclui eleitores do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) e aqueles que votaram em branco, anularam ou não
compareceram às urnas no segundo turno das eleições.
Uma
parcela de 34% dos eleitores de Lula diz que ele fez até aqui mais do que era
esperado, avaliação mais positiva do que a da média, que fica em 18%.
A
segmentação dos dados entre os apoiadores dos dois políticos que polarizam o
cenário nacional mostra os que apertaram 13 na urna sendo mais condescendentes
com o governo. Já os que preferiam o candidato do número 22 exibem,
naturalmente, pessimismo maior.
Lula
e Bolsonaro protagonizaram a mais acirrada disputa desde a redemocratização,
com o petista vencendo com a margem de votos mais apertada da história, apenas
1,8 ponto percentual à frente do rival.
A
pesquisa do Datafolha ouviu 2.028 pessoas acima dos 16 anos, em 126 municípios
espalhados pelo país, entre quarta (29) e quinta-feira (30).
A
margem de erro geral é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Nos
recortes de voto declarado, as margens são de 3 pontos entre eleitores de Lula
e de 4 pontos entre os de Bolsonaro.
Segundo
o levantamento, o governo Lula é considerado ótimo ou bom por 38% dos
brasileiros, percentual que cresce para 71% entre os que votaram no líder do PT
e cai para 7% entre os que preferiram o candidato à reeleição.
A
gestão é ruim ou péssima para 29% dos entrevistados em geral, avaliação
compartilhada por 3% dos eleitores de Lula e 60% dos de Bolsonaro. Os índices
da classificação regular são mais parelhos: 30% na média, 24% entre lulistas e
30% entre bolsonaristas.
Embora
o otimismo se destaque entre as opiniões dos lulistas, números da pesquisa
permitem concluir que nem tudo vindo do presidente tem agradado ao grupo.
Um
sinal amarelo emitido pelos que o apoiaram aparece na pergunta sobre as
atitudes de Lula. Para 23% deles, o mandatário se comporta como um presidente
da República na maioria das vezes, mas em algumas não. Na média, 24% pensam
assim. No eleitorado bolsonarista, são 20%.
A
maior parte dos eleitores do petista (66%), contudo, afirma que ele tem um
comportamento condizente com o cargo em todas as ocasiões. No universo geral de
pessoas ouvidas, 37% acham isso também. Entre os que votaram em Bolsonaro, o
índice despenca a 10%.
E,
enquanto 18% dos entrevistados totais dizem que Lula não tem postura de
presidente em nenhuma situação, apenas 4% dos que votaram nele têm a mesma
percepção. Entre bolsonaristas, a taxa vai a 35%.
O
petista acumula desgastes por gestos como a ilação de que a descoberta de um
plano do PCC para cometer um ataque contra o senador Sergio Moro (União
Brasil-PR) foi uma “armação” do ex-juiz da Operação Lava Jato. Na véspera, Lula
disse que, quando preso em Curitiba, ficava pensando em maneiras de “foder” com
a vida de Moro.
Outro
capítulo da pesquisa expõe certo grau de ceticismo com a capacidade de cumprir
promessas.
Apoiadores
do petista, na maioria (54%), acham que ele vai entregar tudo o que prometeu
durante a campanha (28% pensam assim na média). Mas 42% dos que votaram nele
afirmam que Lula vai honrar só parte das promessas (ante 50% no geral). Por
fim, 3% dizem que nenhuma será cumprida (21% no total).
As
diferenças de percepção também ficam nítidas no cruzamento entre a opção feita
na eleição e as respostas sobre o futuro do governo. A gestão, daqui para a
frente, será ótima ou boa na avaliação de 50% dos entrevistados em geral, de
84% dos eleitores de Lula e de 17% dos de Bolsonaro.
O
prognóstico é de um futuro ruim ou péssimo para 21% da população na média, para
2% dos apoiadores do petista e para 44% dos simpatizantes de seu adversário na
corrida de 2022.
Eleitores
de Lula convergem com o resultado geral na discussão sobre os setores em que o
governo federal se saiu bem, aqueles em que teve desempenho ruim e as questões
que deve priorizar.
O
auxílio aos povos indígenas e o combate à fome e à miséria são as duas áreas
mais citadas de maneira positiva. Já as mais problemáticas são economia, saúde
e segurança pública. E os temas que demandam prioridade são saúde, educação,
estímulo ao emprego e enfrentamento à pobreza.
• Lula vai bem em questão indígena e
combate à fome e derrapa na economia
A
largada do terceiro governo Lula foi boa na atenção aos indígenas e no combate
à fome e à miséria, mas patinou na economia, na saúde e na segurança pública.
É
o que mostra a avaliação dos eleitores brasileiros em pesquisa do Datafolha
sobre os três primeiros meses do novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
como presidente. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Os
itens selecionados foram aqueles que tiveram acima de 10% de citações na
pesquisa estimulada, que pediu aos entrevistados que indicassem em quais das
áreas listadas o governo Lula até aqui foi bem ou foi mal.
A
atenção aos indígenas registrou 16% de menções positivas, uma consequência
direta da crise dos yanomami em Roraima, que ganhou grande destaque no começo
do ano e em que o governo agiu com bastante visibilidade -se o problema em si
será resolvido, o tempo dirá.
Na
sequência veio o combate à miséria, visto por 12% como ponto para Lula. O tema
é o centro de sua retórica desde as campanhas anteriores e os dois governos
(2003-2010) que comandou, e logo que assumiu o presidente recriou o Bolsa
Família em seu formato original.
Do
lado positivo, logo abaixo vieram cultura (8%) e promoção da igualdade racial
(7%), pontos que foram relegados ao segundo ou terceiro plano sob o governo de
Jair Bolsonaro (PL) e cuja defesa é usualmente associada ao campo que se
autodenomina progressista, à esquerda. Não por acaso, ambas as áreas ganharam
ministérios próprios sob Lula, o que explica a avaliação.
Depois,
dentro da margem de erro, vêm o combate ao desemprego (6%), a defesa dos
direitos humanos e a saúde (5%), educação e relações exteriores (4%). A
economia só foi vista como bem atendida por 3%. Não citaram nenhum ponto
positivo 13%, e 5% não souberam responder.
Na
mão inversa, é a economia quem domina as menções negativas. Consideram que Lula
vai mal nessa área, onde tenta acertar o rumo apresentando o arcabouço fiscal,
15%. Já a saúde e a segurança pública são citados por 12%, enquanto combate ao
desemprego e à corrupção são apontados por 10%.
Em
um degrau abaixo, empatado no limite da margem de erro, vem a educação (6%).
Depois, combate à miséria (4%) e uma série de outros temas. Não viram nenhuma
área desatendida 7%, enquanto 10% não responderam.
Quando
questionados acerca das prioridades nacionais, os eleitores ouvidos refletem a
avaliação de políticos acerca do estado de humor do país após três anos de
pandemia do novo coronavírus. Durante a campanha eleitoral, ressurgiu a defesa
de temas tradicionais como saúde e educação, além da economia.
Entre
aliados de Bolsonaro, é consensual a avaliação de que o comportamento
negacionista do ex-presidente diante da Covid-19 foi fatal para sua pretensão
de reeleição.
O
combate à corrupção prevalente nas preocupações nacionais nos anos de auge da
Operação Lava Jato, de 2014 a 2019, foi deixado de lado do centro dos discursos
de campanha.
Assim,
sem surpresa a saúde lidera com folga o ranking de prioridades, com 32% de
menções na pesquisa estimulada, embora o índice tenha caído dez pontos desde
dezembro, quando o Datafolha fez o mesmo questionamento.
Educação
vem a seguir, com 16%, com combate ao desemprego marcando 12% e à miséria, 10%.
A economia em geral (8%) empata com a segurança pública (7%), enquanto o
combate à corrupção marca 4%.
O
Datafolha ouviu, nos dias 29 e 30 de março, 2.028 pessoas com mais de 16 anos
em 126 municípios.
Fonte:
Deutsche Welle/FolhaPress
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