quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Tarso Genro: ‘Os “bons empresários” e a transição climática’

O bolsonarismo contém ideologias fascistas, extremismos de direita na política e na economia, mas seu lado mais complexo nas catacumbas das redes é o lado que envolve o crime organizado

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Empresas como a Siemens, Basf, Allianz, BMW, Mercedes Benz, Krupp Porsche, Bosch, são “mega conglomerados econômicos” alemães beneficiados pelo “regime nazifascista (que usaram) força de trabalho escrava durante a Segunda Guerra Mundial” (…) “e seus proprietários, estreitamente ligados ao nazismo foram perdoados, tornando-se alguns dos homens mais ricos do mundo na segunda metade do Século XX”.

No mesmo texto, Pedro Campos menciona a obra de Edwin Black,[2] IBM e o Holocausto e também comenta o caso “emblemático” Wolkswagen, no Brasil, que, segundo informações registradas em pesquisas historiográficas, permitia que os seguranças da empresa cometessem violências físicas contra seus empregados, militantes do novo sindicalismo de resistência à ditadura, na sua unidade de São Bernardo do Campo.

No início do ano de 1963, o presidente João Goulart apresenta à nação o Plano Trienal de Desenvolvimento, organizado por Celso Furtado. Seu objetivo era ordenar o processo econômico e a ambição de, combatendo a inflação e racionalizando a máquina pública, dentro do contexto político daquele momento — gerar um surto de desenvolvimento e modernização do País. A FIESP no início apoiou o Plano, mas depois se afastou de Jango e ajudou a promover o golpe de 1964, motivada pela oposição que fazia às Reformas de Base, por supostamente terem inspiração comunista.

Afastado o “perigo comunista”, os “pensadores” (?) bolsonaristas inventaram o “marxismo cultural” como a ameaça que hoje substituiu a luta contra o comunismo, como ranço ideológico sem conceito. Faço estas observações para um registro: as técnicas e as tecnologias adotadas numa empresa — em qualquer sistema político — são produtos da práxis técnica e científica acumulada pelos humanos ao longo da história, mas suas normas de uso num determinado regime de produção, estão sob a direção, não dos empresários fundadores da empresa no passado, mas dos empresários e “CEOs” do presente.

O Brasil passou por uma pandemia com um presidente que debochava dos mortos imitando a respiração ofegante daquela parte contaminada do seu povo, que estava condenada a morrer. O presidente todos os dias exercia ilegalmente a medicina, no âmbito da saúde pública e depois tentou articular um golpe militar; para não sair do poder. Fez gastos ilegais imensos para tentar se reeleger e humilhou e envergonhou o país, perante todas as nações civilizadas. O que surpreende, portanto, não é a volta das empresas originárias do nazismo, mas muitos empresários do presente não se “antenarem” sobre o futuro, acossado pela transição climática e o aquecimento global.

O Rio Grande do Sul foi atacado pelo desastre climático e viu desembarcar no seu território um conjunto de militantes de extrema direita, que depreciavam de todos os esforços das autoridades sanitárias (“só o povo ajuda o povo”) e da comunhão das comunidades mais afetadas solidárias entre si e, especialmente, depreciavam da presença maciça das Forças Armadas, dos contingentes da Segurança Pública estadual e dos demais servidores dos três entes federados, que lutavam bravamente para diminuir o sofrimento do povo gaúcho.

Atualmente, estas mesmas forças políticas, dedicam-se a aviltar o STF, principalmente o Ministro Alexandre Moraes, mormente porque ele tem em suas mãos os processos judiciais contra os golpistas, que invadiram e depredaram propriedades federais na sua insânia golpista, e porque ele ousou dizer para “X”, que não somos uma República de Bananas. O Supremo apenas defende a força normativa da Constituição!

Como é sabido, o bolsonarismo contém ideologias fascistas, extremismos de direita na política e na economia, mas seu lado mais complexo nas catacumbas das redes é o lado que envolve o crime organizado nas suas várias instâncias de poder (teóricos e “práticos” influencers do autoritarismo em vários setores sociais), as religiões do dinheiro e do enriquecimento ilícito, os predadores e incendiários e acadêmicos de extrema direita — ligados a seitas nacionais e internacionais do “olavismo” recalcado — incandescentes de ódio aos diferentes de todos os tipos.

O conceito de “bom empresário” no sistema capitalista, como generalidade abstrata, tende para uma conclusão bastante simples: o “bom empresário” é aquele que tem e dirige uma empresa lucrativa. Como tal “sistema”, todavia, gera diversas formas de instituições empresariais — nos diversos ciclos históricos que elas adquirem num determinado período — é importante que se vá um pouco mais adiante na exploração do conceito.

Para compreendermos politicamente o fenômeno empresarial dentro da teoria da empresa moderna, originária da Primeira Revolução Industrial, precisamos ir um pouco mais adiante. Isso é necessário porque são diferentes as exigências políticas e morais, para o reconhecimento social do que é ser “um bom empresário”, nos diferentes regimes políticos. Assim como mudam as instituições dos regimes democráticos, cujas formas de legitimação do poder de estado evoluem com maior ou menor rapidez, em cada ciclo da economia global mudam as formas de reconhecimento social da empresa.

É claro que estes “estados” (como “situação” das empresas) têm diferentes modulações em cada época, mas cabe — sobre o tema — uma maior profundidade na exploração do assunto: num regime fascista, em termos de reconhecimento social, ser um “bom empresário” é diferente do que é ser um “bom empresário” no Estado social de direito; ou ainda, é diferente do que significa ser um “bom empresário” em qualquer Estado de direito, em que é exigida uma forte concentração de poder no Executivo em situações de guerra, como ocorreu principalmente na 2ª Guerra Mundial ou em casos de catástrofes naturais, que abalem a governabilidade em todo um território.

Na primeira hipótese (a fascista) ser um bom empresário é se adequar de modo absoluto às finalidades totalitárias do Estado e aos seus desdobramentos imperiais-coloniais; na segunda hipótese (a do Estado Social de Direito), ser um bom empresário é saber combinar a busca da lucratividade da empresa com as funções sociais da propriedade; na terceira hipótese (no Estado de Direito submetido a uma guerra externa ou enfrentando catástrofes climáticas nacionais) é saber identificar a empresa com a sobrevivência da nação.

O dever do Estado, de defender a nação perante um inimigo externo — “natural” ou nacional — e de defender a nação e o bem-estar do seu povo, é o desafio principal com o qual a democracia se defronta nesta segunda e terceira hipóteses. Nelas são testadas, não só a funcionalidade estatal como a sua capacidade de defender o povo-constituinte, numa situação concreta que desafia a existência do país E é impossível assegurar à nação a possibilidade de construir conscientemente um futuro, sem ter na bússola a questão da transição climática o do aquecimento global, que assola todas as famílias, todas as classes e todas as nações.

 

¨      Economia: o triunfo da responsabilidade. Por Aldo Fornazieri

Na semana passada, analistas de mercado, economistas e lideranças políticas foram surpreendidos com o anúncio de que o PIB cresceu 1,4% no segundo bimestre, superando as projeções que estimavam um crescimento de 1%. O desempenho foi impulsionado principalmente pelo aumento do consumo das famílias e pelos investimentos em serviços e na indústria. O resultado é ainda mais positivo considerando a queda significativa do desemprego, o controle da inflação e o aumento do consumo.

Essa conjugação de fatores positivos não teria sido possível sem a insistente condução do Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, em buscar o equilíbrio fiscal sem sacrificar os programas sociais do governo. Ao mesmo tempo, o Banco Central acertou ao evitar que a inflação subisse, protegendo o poder de compra dos trabalhadores.

Haddad enfrentou desafios desde o início do governo Lula, sendo alvo de críticas tanto da direita política quanto de setores de esquerda, incluindo figuras do próprio PT. Agora, com os surpreendentes resultados, os críticos desapareceram. Suas teses econômicas, que associavam responsabilidade fiscal e monetária a baixo crescimento e alto desemprego, foram refutadas pela realidade.

Embora seja possível estabelecer correlações entre quase todos os indicadores econômicos, nem todas são causais. O crescimento do PIB brasileiro ocorre em um contexto de ajuste fiscal e aperto monetário, que gerou credibilidade na condução da política econômica. Esse fator foi essencial para atrair investimentos do setor privado e de investidores externos. Apesar de ainda estar longe do ideal, a continuidade dessa política responsável poderá elevar os níveis de investimento produtivo no futuro.

O Ministério da Fazenda conseguiu evitar duas armadilhas: de um lado, resistiu à pressão do mercado financeiro por cortes em programas sociais, realizando ajustes nos cadastros que moralizaram e otimizaram recursos; de outro, enfrentou a pressão dos que defendiam um aumento irresponsável de gastos em nome de um crescimento ilusório. Desde a crise financeira de 2008, as evidências demonstram que grandes déficits fiscais levam à estagnação econômica e outros problemas.

O crescimento econômico não se dá por meio de gastos públicos descontrolados, mas sim por uma responsabilidade fiscal equilibrada com a responsabilidade social. A política econômica atual busca esse equilíbrio ao incluir setores privilegiados, que historicamente não pagavam impostos, no sistema tributário. Essas elites, que em grande parte ainda mantêm isenções, perpetuam privilégios e desigualdades.

Ações coordenadas com o STF para barrar tentativas de desestabilização fiscal, além de reformas microeconômicas, como a melhora das condições de crédito, também contribuíram para o crescimento da indústria em setores estratégicos. Pode-se afirmar, sem margem de dúvida, que a política de austeridade fiscal de Haddad e Lula se contrapõe à irresponsabilidade econômica praticada durante o governo de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, que ampliaram o déficit público com manobras populistas.

A hipocrisia de setores que apoiam o bolsonarismo é evidente: enquanto cobram austeridade do governo Lula, foram coniventes com o descalabro fiscal promovido por Bolsonaro. Ao mesmo tempo, parte da esquerda, que deveria defender a igualdade, critica as políticas de Haddad como "austericídio", defendendo medidas que gerariam desconfiança e descontrole, prejudicando, em última análise, os trabalhadores.

Se a Fazenda e Lula tivessem cedido a essas pressões, o cenário econômico atual seria de baixo crescimento, inflação alta e desemprego elevado, similar ao que ocorreu em 2015-2016, levando o governo a uma possível derrota nas eleições de 2026. A Argentina é um exemplo de país atolado em uma crise causada por políticos irresponsáveis, que resultou na pobreza e miséria da população.

Ainda há muitos desafios para garantir que a economia siga em um caminho de crescimento sustentável, como o aumento da produtividade, maior volume de investimentos, qualificação da mão de obra, combate aos privilégios no setor público, ajustes na Previdência, melhoria da qualidade do gasto público e modernização tecnológica da indústria.

Neste momento, o mais importante é que a economia brasileira está assentada em bases sólidas e confiáveis. Isso estabelece parâmetros para a disputa presidencial de 2026. No entanto, é preciso reconhecer que o bom desempenho econômico não se traduz automaticamente em dividendos políticos. O grande desafio do governo é comunicar esses avanços de maneira eficaz, transformando o cenário positivo em benefícios eleitorais. Chegar às eleições de 2026 em boas condições econômicas e políticas será crucial para evitar retrocessos indesejáveis.

 

Fonte: A Terra é Redonda/Brasil 247

 

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