Analistas avançam resultado mais provável
das eleições dos EUA e a quem beneficia
A 60ª eleição
presidencial dos Estados Unidos está programada para hoje, 5 de novembro de
2024. Às vésperas deste evento houve muitas especulações sobre o possível
resultado e as consequências das eleições para o mundo.
Desta vez, o Partido
Democrata é representado pela vice-presidente Kamala Harris, enquanto o Partido
Republicano escolheu como seu candidato o ex-presidente Donald Trump.
A Sputnik entrevistou
vários especialistas sobre o assunto que, apesar da tensa corrida eleitoral,
avançaram possíveis resultados e explicaram as peculiaridades das eleições
atuais.
Para se tornar
presidente dos Estados Unidos, um candidato precisa de 270 votos dos chamados
grandes eleitores (ou seja, delegados) de um total de 538. Portanto, com
269-269, é possível um empate.
A diretora do Centro
de Estudos Norte-Americanos do Instituto Primakov de Economia Mundial e
Relações Internacionais da Academia de Ciências da Rússia, Viktoria Zhuravleva,
acredita que a probabilidade de um empate na eleição presidencial dos EUA é
extremamente baixa.
"Mesmo que
obtenham um número igual de votos eleitorais, há ainda uma boa probabilidade de
alguém obter mais votos no Colégio Eleitoral devido às diferenças de estado e
de população", disse ela.
Assim, ela indica o
fato de a eleição nos Estados Unidos não ser direta, ou seja, há um Colégio
Eleitoral dos eleitores designados por cada estado, que elege o presidente e o
vice-presidente após a votação popular.
No caso de a eleição
terminar com uma igualdade absoluta de votos dos eleitores, o futuro do cenário
político norte-americano vai ser decidido pela Câmara dos Representantes
(câmara baixa do parlamento), em janeiro, explicou Zhuravleva.
No entanto, ela
acrescentou que não houve nenhum caso desses na história moderna dos Estados
Unidos.
Falando sobre o
resultado possível, o cientista político austríaco Christian Machek disse à
Sputnik que a vitória de Donald Trump seria mais desejável para a Europa, dada
sua posição sobre o conflito ucraniano.
Machek afirma que,
qualquer que seja o resultado, o presidente norte-americano "tem uma
posição poderosa no mundo", pois as eleições dos Estados Unidos vão ter um
impacto não só na Europa, mas em todo o mundo.
Ele lembrou que a
posição do candidato republicano, Trump, é negociar o conflito o mais rápido
possível, ao contrário de Harris que "deu a entender que
continuaria".
O especialista
ressalta também a posição da chefe da Comissão Europeia, a autoridade executiva
da União Europeia (UE), Ursula von der Leyen, que é conhecida pelo constante
apoio ao atual governo ucraniano.
"Os europeus
querem paz. [...] Os países que não querem seguir as políticas de Ursula von
der Leyen estão mais propensos a apoiar Trump", explicou.
Esperando uma solução
pacífica, Machek citou as palavras do candidato republicano dizendo:
"Quero que as pessoas parem de morrer".
Ao mesmo tempo,
enquanto Donald Trump sabe o que defende, a candidata à presidência democrata,
Kamala Harris, ainda não definiu completamente o programa de sua campanha,
disse o vice-diretor do Centro de Estudos Europeus e Internacionais da Escola
Superior de Economia da Rússia, Dmitry Suslov.
Ele observou que a
candidata democrata, em comparação com Trump, quase não dá entrevistas porque
não tem nada a dizer, é incapaz de ter uma discussão livre.
Além disso, a
candidata democrata não consegue argumentar por que os fracassos e erros da
administração do presidente dos EUA, Joe Biden, não deveriam ser estendidos a
ela, que é vice-presidente dos EUA no momento.
Uma das ferramentas
usadas pelo Partido Democrata contra Trump é sua idade, disse Suslov, indicando
que a questão da idade e incapacidade mental de Biden foi um dos principais
pontos de discussão da campanha dos republicanos.
"Agora, os
democratas já estão dizendo: 'Vejam, há um candidato idoso que está prestes a
ficar tão velho quanto Joe Biden em 2021 e depois, e, por outro lado, aqui
temos uma nova Kamala Harris'."
Entretanto, Suslov
sublinha que Trump não mostra sinais de incapacidade de articular seus
pensamentos.
No sábado (2), o
jornal The Washington Post, citando autoridades europeias informou que os
países da Europa estão se preparando para mudanças na política mundial com a
provável vitória de Trump.
¨ Por que apuração dos votos da eleição dos EUA tem tudo para dar
problema
Faltam poucas horas
para que as urnas comecem a fechar nas eleições americanas de 2024,
mas já há uma expectativa de que o processo de contagem de votos que se seguirá
seja lento e tumultuado. Ou seja, a apuração do resultado deve se arrastar por
alguns dias.
É o que afirmam à BBC
News Brasil observadores eleitorais que se dedicaram nas últimas semanas a
avaliar e reforçar a integridade e segurança do sistema e que passarão os
próximos dias fiscalizando o trabalho dos oficiais eleitorais.
Uma série de fatores
explica o pouco otimismo destes profissionais em ver um processo eleitoral
ordeiro e tranquilo: a falta de regras e padrões eleitorais nacionais, lentidão
na apuração em Estados-chave, possível comportamento antidemocrático dos próprios
candidatos, a chance de haver correntes de desinformação, e a possibilidade
razoável de judicialização da disputa.
Além, é claro, do
histórico de descrédito eleitoral de 2020, quando quase metade do país se
convenceu de que as eleições tinham sido fraudadas, graças às infundadas
declarações do então presidente Donald Trump e de seus
aliados, derrotados naquele pleito.
O processo desaguou
numa inédita invasão de apoiadores de Trump ao
Capitólio no momento em que o Congresso certificava a vitória do democrata Joe
Biden, em 6 de janeiro de 2021. Até por isso, há um clima de tensão e ansiedade
em relação aos dias que sucedem o pleito, marcado para 5 de novembro.
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Federalismo
Alguns dos problemas
devem acontecer por características próprias à corrida eleitoral nos EUA. A
eleição presidencial é indireta, via Colégio Eleitoral. Cada Estado tem um
número de delegados eleitorais - semelhante ao número de congressistas que
possuem.
Há, no total, 538
delegados e vence o candidato que conquistar 270 deles. Na maior parte dos
Estados, quem vencer no voto popular leva todos os delegados que o Estado
possui - Maine e Nebraska são exceções à essa regra.
Cada Estado conduz a
votação e a apuração segundo suas próprias regras, em mais uma expressão do
federalismo que define o país.
“Mas o que era
historicamente uma força tem se mostrado a grande debilidade do sistema, a
falta de uma autoridade central, pra racionalizar o processo”, afirmou um dos
observadores eleitorais em campo nos EUA que conversou com a BBC News Brasil
sob anonimato por não ter autorização de sua organização para comentar fora dos
relatórios técnicos.
Ainda segundo esse
profissional, que atua em eleições tanto na América do Norte quanto na América
Latina, o que se vê nos EUA é uma discrepância muito grande entre procedimentos
e padrões de conduta no processo eleitoral.
“Enquanto a Califórnia
segue um padrão ouro, com enorme garantia de participação dos eleitores, e
facilidades para que o voto seja concretizado com tranquilidade e conforto, a
Carolina do Norte é o oposto, forçando seus eleitores a enfrentarem enormes filas
pra votar e lembrando o que se vê de menos avançado em países latinos”,
exemplifica o profissional.
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Recontagem
São sete os
Estados-pêndulos, aqueles que oscilam entre candidatos republicanos e
democratas, nos quais a disputa se concentra em 2024. As pesquisas eleitorais
sugerem um cenário extremamente acirrado entre a democrata Kamala Harris e o
republicano Donald Trump pela Casa Branca.
Há meses, com algumas
oscilações numéricas para um lado ou o outro, as sondagens têm mostrado ambos
em virtual empate técnico. E isso deve também complicar a apuração.
“A contagem de votos
pode levar de alguns dias a algumas semanas. Vai depender se teremos disputas
muito apertadas em mais de um Estado. Quanto mais Estados com margens estreitas
de vitória, mais deve demorar”, afirmou à BBC News Brasil David Carroll, diretor
do Programa de Democracia do Carter Center, que trabalha diretamente nas
eleições americanas.
Em alguns Estados
decisivos, há recontagem obrigatória a depender do tamanho da diferença de
votos entre um candidato e outro. No Arizona e na Pensilvânia, por exemplo, se
a distância é igual ou menor a 0,5% dos votos totais no Estado, há recontagem
obrigatória.
A Pensilvânia também
permite pedidos de recontagem por seção eleitoral, desde que ao menos três
eleitores apresentem a demanda com justificativa sobre suspeita de fraude. No
Michigan, a lei determina nova contagem se a diferença for menor que dois mil
votos. E no Wisconsin, a recontagem é automática se a margem de vitória for
inferior a 0,25% dos votos.
Já Nevada, Carolina do
Norte, Wisconsin e Geórgia também permitem que candidatos peçam recontagem sob
algumas condições, como bancar os custos do processo e apresentar justificativa
crível de fraude ou erro de processamento.
Na Geórgia, segundo
Carroll, o Carter Center compõe com outras organizações uma comissão
observadora que fará a auditoria da contagem de votos e não descarta uma
recontagem total das cédulas do Estado, caso a disputa esteja muito apertada.
Em 2020, 5 milhões de
votos foram contados manualmente ali - um processo que se arrastou por alguns
dias. O então presidente Donald Trump pressionou pública e privadamente as
autoridades locais por recontagens que pudessem contestar a apertadíssima vitória
de Biden no Estado.
Tornou-se famoso um
telefonema do republicano com o chefe do sistema eleitoral estadual em que ele
pede que o servidor “encontre 11.780 votos” favoráveis a Trump, o que viraria o
Estado para os republicanos. Por causa disso, ele enfrenta um processo criminal,
ainda sem veredicto.
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O risco do ‘já ganhei’
Observadores
eleitorais notam que é altamente improvável que os dois maiores Estados
decisivos, Geórgia (16 delegados) e Pensilvânia (19 delegados), tenham
resultados já apurados na noite da eleição, dia 5/11. O esperado é que eles
finalizem o trabalho na sexta-feira subsequente, 8/11.
“Mas é muito provável
que um dos candidatos tente já clamar vitória na própria terça, diante de um
quadro de vantagem parcial, e tente caracterizar uma possível virada, quando os
números de Pensilvânia e Geórgia chegarem, como uma fraude eleitoral”, disse um
dos observadores ouvidos pela reportagem.
Em 2020, algo parecido
aconteceu. Na noite da eleição, diretamente da Casa Branca, o então presidente
Donald Trump afirmou que era o vencedor do pleito. Mas a contabilização total
dos votos e divulgação do resultado final, que contrariava o que disse Trump,
só sairia cinco dias mais tarde.
“Segue sendo possível
que Trump incentive seus apoiadores a semear o caos em torno dos processos de
contagem e certificação de votos, tentando assim questionar os resultados e
criar um pretexto para procedimentos extraordinários para resolver uma eleição
disputada a seu favor” afirma Michael Wahid Hanna, chefe do programa sobre EUA
da consultoria International Crisis Group.
Carroll também
vislumbra a possibilidade de que algo parecido se repita agora. Para ele, o
maior problema é que isso impulsione uma rede de informações falsas que levem
as pessoas ao descrédito em relação ao processo eleitoral.
Outro risco é que a
crença em um resultado falso inflame eleitores dispostos a cometer atos de
violência. Uma pesquisa feita em abril passado pela PBS NewsHour/NPR/Marist
indicou que um em cada cinco adultos nos EUA concordam com a ideia de que os
americanos podem ter que recorrer à violência para colocar seu país de volta no
rumo certo.
“Em Wisconsin e no
Arizona temos notícias de que foram criados quase bunkers para proteger as
áreas de apuração eleitoral”, disse um dos observadores ouvido pela reportagem.
O Arizona se tornou um
dos pontos de maior tensão do país. Em Maricopa County, o condado que
compreende a cidade de Phoenix e que se mostrou crucial em 2020, oficiais
eleitorais passaram a receber ameaças constantes. Trump os acusou de fraudar o
resultado, o que teria motivado ataques de seus apoiadores.
Há atualmente ao menos
cinco processos por ameaças contra os trabalhadores eleitorais do Arizona junto
ao Departamento de Justiça.
Em 2022, nas eleições
legislativas de meio de mandato, como as a ameaças persistiam, o condado
convocou seis vezes mais policiais do que em 2020 e protegeu o centro eleitoral
com barricadas, cavalaria e até mesmo um helicóptero.
Todas essas precauções
devem ser não só repetidas como superadas em 2024. No início do mês passado, um
homem foi preso por disparar tiros contra o Comitê Democrata em Phoenix -
ninguém se feriu.
Recentemente, o
secretário de Estado do Arizona, a mais alta autoridade eleitoral local,
admitiu que nos últimos quatro anos ele “quase sempre se apresentou em público
usando um colete à prova de balas”.
E em outubro, caixas
de correios com votos foram incendiadas e danificadas não só no Arizona, como
em Massachussets, Washington e Oregon. Algumas centenas de votos foram perdidas
e o caso segue sob investigação.
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A judicialização da disputa
Não é apenas provável
que juízes sejam chamados a arbitrar nas eleições de 2024 como, na verdade,
este é um processo que já vai avançado.
Nos 50 Estados, há
quase duas centenas de ações judiciais já movidas, seja para contestar regras,
seja para esclarecer pontos da disputa.
Na Geórgia, por
exemplo, um dos Estados mais disputados em 2020, a Assembleia Legislativa
chegou a aprovar uma lei que obrigava que “os funcionários contassem
manualmente o número de votos depositados em cada local de votação no dia da
eleição” para que, depois, esses mesmos números fossem confrontados com
contagens em máquina - algo que prometia não apenas atrasar o processo como
gerar desconfianças em série pela possibilidade de erros humanos na contagem
manual de algo em torno de cinco milhões de votos.
E mesma lei também
permitia que os oficiais eleitorais se recusassem a certificar o resultado
aferido no Estado. A regra acabou derrubada na Justiça um pouco antes do pleito
atual.
Em outra ação, a
procuradoria da Pensilvânia contesta legalmente uma iniciativa do bilionário
Elon Musk, dono da plataforma X (ex-Twitter), de doar US$ 1 milhão por dia para
um eleitor de Estado-pêndulo sorteado entre os nomes de pessoas que assinarem
um manifesto pró-armas e liberdade de expressão patrocinado pelo comitê ação
política de Musk, criado para apoiar a candidatura Trump.
Nos EUA é ilegal pagar
para que uma pessoa vote (o voto não é obrigatório), e trocar remuneração pela
escolha de um candidato. Musk nega que esteja fazendo isso ao premiar quem
subscreveu seu abaixo-assinado.
Convocado a se
explicar na Corte na semana passada, Musk não compareceu à audiência. Agora,
ele está sujeito a uma condição coercitiva e é incerto que decisão poderia
surgir após as eleições deste processo.
Fonte: Sputnik
Brasil/BBC News Mundo/Brasi 247
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