Continuidade da proibição do cigarro
eletrônico é positiva para o Brasil se manter no trilho da redução de tabagismo
Os cigarros
eletrônicos foram apresentados pela indústria do tabaco com o argumento de que
eles seriam menos viciantes, quando comparados com o cigarro e, por isso, uma
alternativa ao tabagismo. Por sua vez, a inalação deste produto não só é
nociva, como estudos apontam que os vapes, como são conhecidos, podem entregar
até vinte vezes mais nicotina que o cigarro comum. Entre os principais riscos à
saúde do uso dos dispositivos eletrônicos estão o câncer de pulmão, infarto,
AVC e doenças coronarianas grave.
Em países como Reino
Unido e Estados Unidos, onde houve a liberação, foi apresentado um aumento do
tabagismo entre adolescentes e criação, o que gerou uma crise de saúde e um
movimento a favor da revisão da liberação. No Brasil, a comercialização de cigarro
eletrônica é proibida desde 2009 e a Sociedade Brasileira de Cirurgia
Oncológica (SBCO) celebra a decisão da Anvisa, anunciada na última semana, de
manter o veto ao produto. O Brasil é referência mundial no combate ao tabagismo
e a posição mantém o país neste caminho, que é alinhado ao relatório da OMS,
que apontou que 150 países estão reduzindo com êxito o consumo de tabaco.
“De acordo com o
presidente da SBCO, Rodrigo Nascimento, cirurgião oncológico do Hospital de
Base, de Brasília, a queda da taxa de uso de tabaco entre jovens é positiva.
“Mesmo com essa queda, as mortes relacionadas ao tabagismo permanecem elevadas.
Manter a proibição da comercialização de vapes evita que o Brasil retroceda nas
políticas públicas de combate ao tabagismo”, afirma.
REDUÇÃO
GLOBAL DE TABAGISMO
A tendência global é
de declínio contínuo nas taxas de consumo de tabaco, de acordo com o mais
recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 1 em cada 5
adultos em todo o mundo consome tabaco, em comparação com 1 em cada 3 em 2000.
No entanto, apesar dos esforços globais, a redução relativa desde 2010 até 2022
foi de 25%.
Divulgado em meados de
janeiro, o "WHO global report on trends in prevalence
of tobacco use 2000–2030" indica que a
média de 30% de redução global estabelecida pelo Plano de Ação Global da
Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir a prevalência do tabaco pode
não ser atingida até 2025. O documento aponta que 150 países estão reduzindo
com êxito o consumo de tabaco. No entanto, embora os números de fumantes venham
caindo continuamente, o mundo chegará a uma redução relativa de 25% no consumo
de tabaco até 2025, não alcançando a meta global voluntária de 30%
Apenas 56 países em
todo o mundo atingirão essa meta, quatro países a menos em comparação ao relatório
de 2021. O Brasil obteve uma redução relativa de 35% desde 2010 e a Holanda
está prestes a atingir a meta de 30%. O relatório ressalta que a taxa média de
uso de tabaco entre jovens de 15 a 24 anos diminuiu de pouco mais de 20% em
2000 para cerca de 13% em 2022, com projeção de atingir 12% em 2030.
Além disso, o número
total de usuários de tabaco para ambos os sexos vem diminuindo ao longo do
tempo, passando de 1,362 bilhão em 2000 para 1,245 bilhão em 2022, com uma
expectativa de redução contínua para 1,20 bilhão até 2025. Em 2000,
aproximadamente uma em cada seis mulheres (16,3%) com 15 anos ou mais eram
usuárias atuais de algum tipo de tabaco. Até 2025, a taxa é projetada para
diminuir para 6,7% e posteriormente para 5,7% até 2030.
Em 2000, a proporção
de homens usando qualquer forma de tabaco era três vezes maior do que a
proporção de mulheres usuárias. Até 2022, a taxa para os homens era mais de
quatro vezes maior do que a taxa para as mulheres. Espera-se que essa lacuna
aumente ainda mais e atinja pouco mais de cinco vezes até 2030. Apesar da
tendência de queda no uso de tabaco, o relatório destaca que o número de mortes
relacionadas ao tabagismo permanecerá alto por muitas décadas.
“O relatório da OMS
evidencia a importância contínua de monitorar e agir contra o tabagismo em
todas as suas formas, especialmente entre os jovens, ressaltando a necessidade
de cooperação internacional na busca por um mundo livre do tabaco. Deve ser um
compromisso de todos, profissionais da saúde, sociedades médicas, instituições
e governos”, disse o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro,
presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.
BRASIL, UMA REFERÊNCIA
- Desde 1989, o Brasil experimenta uma notável diminuição nas taxas de
tabagismo entre adultos, resultado das políticas de controle implementadas
desde então. Em 1989, 34,8% dos adultos eram fumantes (Pesquisa Nacional sobre
Saúde e Nutrição - PNSN). Trinta anos depois, em 2019, a Pesquisa Nacional de
Saúde (PNS) revelou uma queda para 12,6%. No período de 1989 a 2010, houve uma
queda de 46%, evitando aproximadamente 420 mil mortes, conforme estudo
publicado na revista PLOS Medicine, em 2012.
Em 2021, o inquérito
telefônico Vigitel, feito em 26 capitais brasileiras, registrou uma taxa de
9,1% de fumantes adultos no Brasil, com uma variação de 11,8% entre homens e
6,7% entre mulheres. O Covitel, inquérito nacional que abrangeu o primeiro
trimestre de 2022, apontou algumas variações regionais. A região Norte viu uma
redução significativa, passando de 12,1% para 8,0%. No entanto, houve
estabilidade nas demais regiões, evidenciando a importância contínua das
políticas de controle do tabaco. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar
(PeNSE) de 2019 mostra que 6,8% dos alunos de
13 a 17 anos eram fumantes, sendo maior entre os meninos (7,1%). Embora tenha
havido um leve aumento em comparação com 2015, as políticas de prevenção
parecem impactar positivamente.
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CINCO PERGUNTAS SOBRE TABAGISMO E CÂNCER
O cirurgião oncológico
Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO, comenta as dificuldades e
necessidades na luta pela redução do tabagismo e como isso pode impactar o
câncer.
·
1 - A maioria dos
países está reduzindo o consumo de tabaco, mas o mundo não alcançará a meta
global de redução de 30% até 2025. Por que é tão difícil?
Os fatores que impedem
o alcance das metas estão basicamente relacionados à legislação e aspectos
culturais em alguns países onde o hábito do tabagismo é muito comum. O fácil
acesso ao cigarro, a baixa carga econômica do tabaco no orçamento das famílias em
alguns lugares e a ausência de políticas públicas de saúde e de apoio para quem
quer parar são desafios. Algumas medidas propostas pela Organização Mundial da
Saúde, que envolvem conscientização e aumento de preços, já vêm sendo
implementadas no Brasil desde 1989, graças à visão e pioneirismo Instituto
Nacional do Câncer (INCA). O Programa Nacional de Controle do Tabagismo
brasileiro é exitoso e contribui para esses resultados positivos.
·
2 - Qual é a taxa de
redução do tabagismo no Brasil na incidência de cânceres relacionados ao
tabaco?
No Brasil, registramos
uma queda de 35% no consumo de tabaco de 2010 a 2022. É, sem dúvida, um fator
de risco muito importante e muitas pessoas podem ter deixado de adoecer por
terem largado o cigarro. No entanto, apesar dos avanços, ainda temos 162 mil mortes
anuais e gastos anuais na ordem R$ 125 bilhões de reais, ambos por doenças
ligadas ao tabaco. Tudo isso mostra a necessidade contínua de combate ao
tabagismo e conscientização. Monitorar de perto essas estatísticas é essencial
para fortalecer ainda mais as estratégias de prevenção, visando uma redução
mais expressiva nos casos de câncer associados ao consumo de tabaco.
·
3 - Além dos tumores
mais comuns relacionados ao tabagismo, como câncer de pulmão, boca, garganta e
bexiga, há outros?
Sim. Existem vários
tipos de câncer relacionados com tabagismo. Além destes, temos o o câncer de
esôfago e tumores do aparelho digestivo. Na verdade, a grande maioria dos tipos
de câncer está associada ao consumo do tabaco. A importância do controle do tabagismo
é fundamental na prevenção primária, considerando que os três principais
fatores de risco para câncer na humanidade são tabagismo, sedentarismo e
obesidade. O tabagismo é considerado o carcinógeno perfeito, participando de
várias etapas na formação das células e no desenvolvimento do câncer. O combate
ao uso do tabaco abrange desde a prevenção até a cessação do tabagismo em
pacientes com câncer, recomendada como parte eficaz do tratamento. Vale
ressaltar que o cigarro não causa apenas câncer, mas também doenças
respiratórias graves e cardiovasculares, abrangendo um amplo espectro de
condições que impactam significativamente a saúde.
·
4 - O relatório da OMS
menciona que a interferência da indústria do tabaco nas políticas de saúde tem
sido um desafio persistente. Afeta também os médicos?
Pela natureza da nossa
atividade, que é promover a saúde e salvar vidas, os profissionais da saúde não
são o foco desse lobby. A estratégia de ataque e influência da indústria
tabagista concentra-se principalmente nos ambientes políticos, como vimos recentemente
com o debate entorno do cigarro eletrônico que, felizmente, seguiu proibido
pela Anvisa. Os esforços visam diretamente os tomadores de decisão,
legisladores e formuladores de políticas públicas que moldam o arcabouço
jurídico do país. Nós, profissionais da saúde, e a população de modo geral,
precisamos estimular os agentes políticos a resistirem a esses assédios
destacando a importância de decisões regulatórias que desencorajem o consumo de
produtos prejudiciais à saúde, especialmente aqueles relacionados ao tabaco.
Essa colaboração entre profissionais de saúde e decisores políticos é essencial
para criar ambientes mais saudáveis e reduzir os impactos negativos do
tabagismo na sociedade.
·
5 - Quais medidas
devem ser implementadas para proteger a saúde das populações em face da
interferência da indústria do tabaco?
O Brasil realmente tem
uma regulamentação muito interessante nesse aspecto. Isso se deu graças ao
protagonismo e a importância INCA, que desde 1889 iniciou campanhas de combate
ao tabagismo. É importante manter o foco na proteção das pessoas que não
querem fumar, investir cada vez mais em políticas de saúde pública para quem
quer deixar o tabagismo e facilitar de acesso para quem deseja abandonar o
cigarro e seus derivados. Também é muito importante manter a proibição de
vínculo das propagandas da indústria tabagista com outros players de mercado,
como os festivais de música, e aumentar a carga tributária e o preço do
cigarro, fazendo com tenha impacto maior no orçamento das econômico nas
famílias. Devemos também investir nas campanhas de conscientização principalmente
junto às faixas etárias mais precoces, pois geralmente os
adolescentes tomam contato com o cigarro em média ao redor dos 16 anos ou
antes. Essas crianças têm que ser protegidas do acesso, porque é um vício
difícil de tratar e uma porta aberta para a dependência química.
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Sobre a SBCO
Fundada em 31 de maio
de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade
sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões
oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao
paciente com câncer. Sua missão é também promover educação médica continuada,
com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e
o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a
cirurgia oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Rodrigo
Nascimento Pinheiro (2023-2025).
Fonte: SENSU
Consultoria de Comunicação
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