segunda-feira, 14 de abril de 2025

Por que China se mantém firme na guerra de tarifas com Trump

Qual é o motivo pelo qual Pequim não está cedendo a Donald Trump em relação às tarifas? A resposta é que não precisa.

Os líderes da China diriam que não estão inclinados a ceder a um valentão, mas também têm uma capacidade de fazer isso muito além de qualquer outro país do mundo.

Antes do início da guerra tarifária, a China tinha um volume enorme de vendas para os Estados Unidos, mas, para contextualizar, isso equivale a apenas 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos pela economia de um país.

Dito isso, o Partido Comunista claramente preferiria não se envolver em uma guerra comercial com os EUA em um momento em que tem lutado para resolver seus problemas econômicos próprios consideráveis, após anos de crise imobiliária, dívida regional exagerada e desemprego persistente entre os jovens.

No entanto, apesar disso, o governo disse à sua população que está em uma posição forte para resistir aos ataques dos EUA.

O país asiático também sabe que suas próprias tarifas claramente prejudicarão os exportadores americanos.

Trump tem se gabado para seus apoiadores de que seria fácil forçar a China à submissão simplesmente impondo tarifas ao país, mas isso se provou extremamente enganoso.

Pequim não vai se render.

Xi Jinping disse que seu país e a UE devem 'resistir conjuntamente às práticas unilaterais de intimidação' do governo Trump — Foto: GETTY IMAGES

O líder chinês, Xi Jinping, disse ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, na sexta-feira (11), que seu país e a União Europeia deveriam "resistir conjuntamente às práticas unilaterais de intimidação" do governo Trump.

Sánchez, por sua vez, disse que as tensões comerciais da China com os EUA não devem impedir a cooperação da potência asiática com a Europa.

O encontro ocorreu na capital chinesa horas antes de Pequim aumentar novamente suas tarifas sobre produtos dos EUA – embora tenha dito que não responderá a novos aumentos de tarifas dos EUA.

Na próxima semana, Xi visitará Malásia, Vietnã e Camboja. Todos esses países foram duramente atingidos pelas tarifas de Trump.

Ministros chineses têm se encontrado com suas contrapartes da África do Sul, Arábia Saudita e Índia, discutindo uma maior cooperação comercial.

Além disso, China e União Europeia estariam em negociações sobre a possível remoção das tarifas europeias sobre carros chineses, que seriam substituídas por um preço mínimo, a fim de conter uma nova rodada de dumping (venda de produtos a preços abaixo do custo de produção, com o objetivo de dominar um mercado).

Em resumo, para onde quer que se olhe, é possível ver que a China tem opções.

E analistas afirmam que esses aumentos tarifários mútuos entre as duas superpotências estão se tornando quase insignificantes, visto que já ultrapassaram o ponto de impedir grande parte do comércio entre elas.

Assim, os aumentos tarifários recíprocos em ambas as direções tornaram-se mais simbólicos.

Em postagem no X, Mao Ning citou Mao e acrescentou nas próprias palavras: 'A China nunca blefa — e percebemos quem o faz' — Foto: Reprodução

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, publicou, nos últimos dois dias, imagens do ex-presidente chinês Mao Tsé-Tung nas redes sociais, incluindo uma filmagem dos tempos da Guerra da Coreia, quando o líder da Revolução Chinesa disse aos EUA que "não importa quanto tempo esta guerra dure, nunca cederemos".

Acima disso, ela publicou seus próprios comentários, dizendo: "Somos chineses. Não temos medo de provocações. Não vamos recuar."

Quando o governo chinês recorre ao camarada Mao, você sabe que eles estão falando sério.

¨      “Acreditar na China é acreditar no amanhã”: o emocionante editorial do jornal chinês

“Oásis de certeza” injeta confiança, impulso e energia positiva na economia global.

“Acreditar na China” se tornou uma expressão-chave nesta primavera.

Declarações como “para nós, há oportunidades em todas as cidades chinesas” e “o ecossistema de inovação científica e tecnológica da China impulsiona o desenvolvimento global coordenado” marcaram os encontros anuais de três fóruns de alto nível — o Fórum de Desenvolvimento da China, o Fórum de Boao para a Ásia e o Fórum de Zhongguancun — realizados consecutivamente nas últimas semanas. A mensagem que ganhou consenso internacional: há motivos concretos para otimismo quanto às perspectivas da China.

A multinacional farmacêutica AstraZeneca anunciou a instalação de seu sexto centro global de pesquisa e desenvolvimento em Pequim. Em Xangai, o distrito de Pudong recebeu 13 novas sedes regionais de empresas multinacionais e quatro novos centros de P&D financiados por estrangeiros. Altos executivos globais têm visitado o país em grande número. Ir à China voltou a ser uma escolha estratégica para investidores estrangeiros.

Num momento de instabilidade na economia mundial, por que “acreditar na China” se tornou uma crença unânime?

“Abrir-se à China é abraçar oportunidades, acreditar na China é acreditar num amanhã melhor, investir na China é investir no futuro”, afirmou o presidente Xi Jinping ao receber representantes do setor empresarial internacional em Pequim, no dia 28 de março.

A confiança vem da certeza. Como um “oásis de estabilidade”, a China injeta impulso, segurança e energia positiva no desenvolvimento da economia global.

<><> Vantagem em inovação

Acreditar na China significa reconhecer que o país prioriza o desenvolvimento de alta qualidade e cultiva novas forças produtivas com base em suas realidades locais.

“É impressionante como a China continua surpreendendo o mundo”, declarou o ex-secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, expressando uma percepção comum entre analistas internacionais.

De “fábrica do mundo” a “laboratório de inovação”, a China acumulou força e potencial. Nos dois primeiros meses deste ano, a produção de robôs industriais aumentou 27%, a de trens-bala cresceu 64% e a de drones civis saltou 91,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Produtos inovadores, como soluções baseadas em inteligência artificial, também registraram crescimento acelerado.

Cada vez mais empresas estrangeiras enxergam a inovação como a principal oportunidade ao investir na China. “A China não é mais apenas um centro de manufatura — é uma potência global em inovação”, afirmou Stefan Hartung, presidente da Bosch.

O desenvolvimento chinês nunca se baseou em “comportamento predatório” para mudar as regras do jogo, mas sim na competição ativa de mercado e na busca de espaço por meio da inovação. O país já construiu mais de 30 mil fábricas inteligentes de nível básico, 1.200 de nível avançado e 230 de nível excelente — bases para uma transformação industrial profunda.

Acreditar na China também significa reconhecer seu compromisso com “o lado certo da história e do progresso da civilização humana”.

<><> Portas abertas, ainda mais

Em contraste com países que adotam o protecionismo e apostam em jogos de soma zero que ameaçam a ordem econômica internacional, a política de abertura em alto nível da China atende às necessidades das multinacionais de manter estáveis suas cadeias produtivas — e oferece um grau raro de previsibilidade em tempos turbulentos.

O mundo quer fazer amizade com a China porque admira seu conceito de coexistência harmoniosa. Esse espírito de desenvolvimento comum gerou cooperação concreta: nos montes nevados do Quirguistão, máquinas da ferrovia China-Quirguistão-Uzbequistão operam dia e noite; a partir do Porto de Chancay, no Peru, novas rotas para China foram abertas por Colômbia e Equador.

“Os interesses devem ser de todos” — essa é a visão e a prática da China.

Da ampliação de projetos-piloto em telecomunicações e biotecnologia à igualdade de condições entre empresas locais e estrangeiras em programas de renovação industrial; da expansão da “zona de isenção de visto” à tendência de viagens internacionais para a China nas redes sociais — o país se mantém aberto ao mundo e compartilha suas oportunidades de desenvolvimento.

“Cooperação internacional não é uma opção, é uma necessidade”, afirmou Mustafa Shenhu, presidente da Federação Mundial de Organizações de Engenharia.

A China busca promover sua abertura com solidez, não apenas aproveitando o mercado global para se desenvolver, mas também contribuindo com o crescimento comum. Essa tem sido uma diretriz consistente de sua política externa.

<><> Resiliência notável

Acreditar na China é confiar em sua capacidade de “crescer com o vento e a chuva, e se fortalecer nas adversidades”.

Apesar dos ventos contrários na economia global, o desempenho chinês revelou resiliência, reconhecida por veículos internacionais desde o ano passado.

A meta de crescimento de cerca de 5% foi considerada ousada num contexto de desaceleração e perda de confiança no mercado. Mas um pacote de medidas macroeconômicas eficazes conseguiu estabilizar a economia e revitalizar seu dinamismo.

O crescimento de 5%, difícil de alcançar, demonstrou à comunidade internacional a força da economia chinesa e suas perspectivas para um desenvolvimento de alta qualidade.

Em comparação com as dúvidas de 2024, a meta para este ano vem recebendo maior reconhecimento externo. Instituições financeiras internacionais apontam que a continuidade das políticas macroeconômicas eficazes somará fatores positivos e impulsionará a recuperação da economia chinesa.

Com uma base econômica sólida, mercado interno gigantesco e sistema industrial completo, a China está bem preparada para enfrentar os desafios. Como resumiu um convidado no Fórum de Desenvolvimento da China: “A China possui todos os elementos necessários para crescer no futuro.”

Com vantagens institucionais, potencial de mercado e vitalidade empresarial, a China seguirá firme ao cuidar bem dos seus próprios assuntos — e sairá ainda mais forte da tempestade.

Estamos no caminho certo. E é preciso avançar com confiança.

Acreditar na China é, verdadeiramente, acreditar no amanhã.

¨      China diz que 'jamais' se curvará à pressão dos EUA e que governo americano deve parar com atitudes 'destrutivas'

Em meio à guerra de tarifas, o Ministério das Relações Exteriores da China informou nesta sexta-feira (11) que os Estados Unidos devem parar de ser "imprevisíveis" e "destrutivos" e que "jamais" se curvará à pressão feita pelo governo americano.

"Se os Estados Unidos realmente querem diálogo, devem parar com suas atitudes imprevisíveis e destrutivas", informou o ministério na rede social X.

Nesta sexta-feira, o governo chinês elevou para 125% as tarifas sobre as importações dos EUA, em resposta à taxação de 145%, decretada pelo presidente americanoDonald Trump, sobre itens chineses.

"Pelo bem do povo chinês e dos povos do mundo, e em nome da justiça e da equidade na ordem global, a China jamais se curvará à pressão dos Estados Unidos", disse o ministério.

Mais cedo, o premiê Li Qiang, que está na Espanha acompanhando o presidente Xi Jinping, disse:

"A imposição das chamadas tarifas recíprocas pelos EUA prejudicou seriamente a ordem econômica e comercial internacional, e causou grandes impactos negativos".

Em um comunicado divulgado pelo Ministério das Finanças, a Comissão Tarifária do governo chinês afirmou, também nesta sexta, que "vai ignorar", a partir de agora, qualquer nova alta de tarifas anunciada pelos Estados Unidos.

<><> Xi Jinping pede união contra guerra comercial dos EUA

Mais cedo, o presidente da China, Xi Jinping, também falou sobre tarifaço de Trump, em encontro com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez.

Xi intimou o país e a União Europeia a "cumprir suas responsabilidades internacionais".

"[Os países] devem manter a tendência de globalização econômica e o ambiente do comércio internacional e resistir conjuntamente ao unilateralismo e à intimidação. China e União Europeia devem não apenas resguardar seus próprios direitos e interesses legítimos, mas também a justiça e a equidade internacionais, bem como as regras e a ordem internacionais", disse.

O encontro dos dois líderes serviu para estreitar laços comerciais entre a Espanha e a China. Segundo o primeiro-ministro espanhol, os países assinaram acordos de cooperação nas áreas de ciência, tecnologia, educação e cinema.

<><> Entenda a guerra tarifária entre China e EUA

A guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo se intensificou na última semana, após o anúncio de novas medidas por Trump.

Na quarta-feira (2), o presidente americano detalhou a tabela de tarifas, variando de 10% a 50%, sobre produtos de mais de 180 países.

A medida entraria em vigor na quarta-feira seguinte (9), mas Trump anunciou uma "pausa" de 90 dias para todos os países, com exceção da China. Durante esse período, as tarifas seriam reduzidas para 10%.

Tarifas já em vigor, como as de 25% sobre aço e alumínio, continuam valendo e não são afetadas pela medida.

💲A China, alvo principal das novas medidas, foi um dos países mais penalizados. Os percentuais foram subindo progressivamente, ao longo dos dias, até atingir os atuais 145%.

  • A alíquota começou em 34%, que se somou aos 20% já cobrados em tarifas sobre os itens chineses.
  • Em resposta, Pequim impôs, na sexta (4), tarifas extras de também 34% sobre as importações americanas.
  • Trump, então, ameaçou cobrar taxas extras de 50% à China se o país não recuasse da retaliação na terça (8).
  • Como Pequim não desistiu, as tarifas subiram para 104%.
  • A resposta chinesa veio na manhã de quarta (9): o governo elevou as tarifas sobre os EUA de 34% para 84%.
  • Trump anunciou mais uma vez a elevação para a China, agora de 125%.
  • Na quinta (10), a Casa Branca explicou que as taxas de 125% se somariam à outra tarifa de 20% já aplicada anteriormente sobre a China, resultando numa alíquota total de 145%.
  • Como resposta, nesta sexta (11), Pequim elevou as tarifas sobre produtos americanos para 125%.

Também nesta sexta, a missão da China junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) informou que apresentou uma queixa adicional ao órgão contra as tarifas impostas pelos EUA.

"Em 10 de abril, os EUA emitiram uma ordem executiva anunciando um novo aumento das chamadas 'tarifas recíprocas' sobre produtos chineses. A China apresentou uma queixa à OMC contra as mais recentes medidas tarifárias dos EUA," disse o comunicado da missão chinesa, citando um porta-voz do Ministério do Comércio.

 

Fonte: BBC News Brasil/ People’s Daily via Global Times/g1

 

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