Recuo
de Trump é derrota humilhante na guerra comercial contra a China
O novo
recuo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na escalada tarifária
contra a China marca uma derrota humilhante em sua guerra comercial. Conforme
noticiou a agência Reuters neste sábado (12), a administração Trump decidiu
poupar da tarifa de 125% alguns dos principais produtos importados do país
asiático — entre eles, celulares, laptops, semicondutores e componentes
eletrônicos.
A
decisão foi oficializada pela agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos
EUA (CBP), que publicou uma lista de códigos tarifários isentos da sobretaxa. A
medida vale retroativamente a partir de 5 de abril e afeta categorias amplas de
produtos, como computadores, chips de memória, painéis de tela plana e
dispositivos de processamento de dados.
Com
essa medida, Trump tenta evitar um impacto ainda maior sobre os preços para o
consumidor norte-americano. Em meio à alta da inflação, um iPhone topo de
linha, por exemplo, poderia passar de US$ 1.599 para até US$ 2.300, caso a
tarifa fosse integralmente aplicada, de acordo com estimativas de analistas
citados pela Reuters.
Mesmo
sem assumir publicamente o recuo, a decisão representa o reconhecimento tácito
de que a cruzada protecionista conduzida pelo presidente — que tomou posse para
seu segundo mandato em janeiro de 2025 — impõe custos pesados à economia dos
EUA. Os produtos agora isentos incluem justamente os dois itens mais importados
da China em 2024: smartphones (US$ 41,7 bilhões) e laptops (US$ 33,1 bilhões),
segundo dados do Censo dos EUA.
A
porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, tentou contornar o constrangimento,
afirmando em nota que Trump “deixou claro que os Estados Unidos não podem
depender da China para fabricar tecnologias críticas”. Segundo ela, empresas
como Apple, Nvidia e Taiwan Semiconductor estão acelerando a transferência de
produção para o território americano. Mas, na prática, a isenção tarifária
enfraquece o discurso nacionalista e revela as contradições de uma política que
pretendia remodelar as cadeias globais de suprimento, mas colidiu com a
realidade econômica e os interesses de grandes corporações.
Apesar
da trégua pontual, Trump mantém tarifas de 20% sobre todas as importações da
China relacionadas à crise do fentanil. Além disso, anunciou que lançará uma
nova investigação de segurança nacional sobre o setor de semicondutores, o que
pode resultar em mais tarifas no futuro.
A
guerra comercial, que já dura anos, se intensificou nos últimos dias com a
retaliação da China, que elevou suas próprias tarifas sobre produtos
norte-americanos também para 125%. A tensão provocou instabilidade nos mercados
financeiros: o ouro bateu recorde histórico, os rendimentos dos títulos do
Tesouro registraram sua maior alta semanal desde 2001 e o dólar sofreu
desvalorização significativa.
Ainda
assim, Trump afirmou, durante o fim de semana em sua residência na Flórida, que
está “confortável com tarifas altas contra a China” e que mantém um bom
relacionamento com o presidente Xi Jinping. Ele demonstrou otimismo de que
“algo positivo” possa surgir do conflito — embora os sinais econômicos indiquem
o contrário.
O
episódio aprofunda o desgaste político do presidente republicano, inclusive
dentro de seu próprio partido. Com eleições legislativas previstas para 2026,
cresce o temor entre aliados de que a insistência em uma guerra tarifária
impopular possa custar o controle do Congresso para os democratas. Ao recuar
diante da pressão de grandes empresas e consumidores, Trump expõe a fragilidade
de sua estratégia comercial e acumula mais um revés em sua ambição de realinhar
a ordem econômica global.
• "A roda da história não pode ser
revertida", diz Wang Yi, chanceler chinês
Durante
encontro com o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), Rafael Mariano Grossi, nesta sexta-feira (11), em Pequim, o ministro
das Relações Exteriores da China, Wang Yi, fez duras críticas à atuação dos
Estados Unidos no cenário global. A declaração foi publicada originalmente pelo
Global Times.
Wang
Yi, que também integra o Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista
da China (PCC) e dirige o Escritório da Comissão de Assuntos Exteriores do
Comitê Central, responsabilizou diretamente "uma certa grande
potência" pela turbulência atual nas relações internacionais. Segundo ele,
essa potência — uma referência clara aos Estados Unidos — estaria presa à
"crença na supremacia da força", priorizando seus próprios interesses
e promovendo o que chamou de "bullying unilateral".
“A
comunidade internacional não pode ficar de braços cruzados, e os Estados Unidos
não podem agir de forma arbitrária. A roda da história não pode ser revertida”,
afirmou Wang Yi.
O
chanceler criticou ainda a imposição de tarifas comerciais por parte de
Washington em várias regiões do mundo, acusando o governo norte-americano, hoje
comandado pelo presidente Donald Trump em seu segundo mandato, de desprezar
abertamente o sistema multilateral de comércio e as regras internacionais
estabelecidas. “Os EUA estão escancaradamente colocando seus próprios
interesses acima dos da comunidade internacional”, disse.
Wang Yi
ressaltou que a resistência chinesa à política de força visa não apenas
proteger os direitos e interesses legítimos da China, mas também salvaguardar
os interesses compartilhados da humanidade. “Trata-se de impedir que o mundo
volte à lei da selva”, alertou.
O
ministro aproveitou a ocasião para destacar a importância do 80º aniversário da
fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), que será celebrado este ano.
Ele afirmou que a China, como membro permanente do Conselho de Segurança da
ONU, pretende aproveitar essa data simbólica para reforçar seu compromisso com
a ordem internacional baseada no direito internacional e com o sistema
multilateral liderado pelas Nações Unidas.
“Estamos
dispostos a trabalhar com todos os países para combater quaisquer tentativas de
reverter o curso da história e sabotar as normas globais”, concluiu Wang Yi,
reafirmando a disposição da China de atuar como um país responsável no cenário
internacional.
A
reunião com Rafael Grossi ocorre num momento em que Pequim busca fortalecer sua
posição diplomática diante das crescentes tensões comerciais e estratégicas com
os Estados Unidos, reforçando seu discurso em defesa da multipolaridade e da
estabilidade institucional global.
• Tarso Genro: “A tarefa agora é como
derrotar Trump e sua estratégia neocolonial”
Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o
ex-ministro da Justiça Tarso Genro apresentou uma leitura crítica sobre o
significado político do trumpismo. Segundo ele, diferentemente da forma como a
grande imprensa costuma enquadrar o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump não age apenas por impulsos erráticos ou traços de personalidade. Para
Tarso, trata-se da representação mais explícita de um projeto histórico de
dominação. “Essa loucura tem método. Ela tem objetivos. Ela representa um
projeto”, afirmou.
A seu
ver, reduzir as ações de Trump a manifestações neuróticas ou desvios de
comportamento é uma estratégia que mascara o modelo que ele representa. “Eu
tenho uma opinião um pouco diferente da que está circulando pela mídia
tradicional. Essa forma de tratar o Trump, como um sujeito que age ao sabor de
impulsos, como um sociopata exibicionista, naturaliza o modelo que ele
representa”, disse. “A forma grosseira com que ele atua é apenas a expressão de
algo que sempre existiu na política externa dos Estados Unidos.”
Tarso
destaca que há um processo metódico na atuação de Trump e que ele encarna um
padrão de intervenção norte-americana no mundo. “É a continuidade de uma lógica
de império que se manifesta desde a Guerra Fria”, afirmou. Nesse sentido, Trump
atualizaria — com mais brutalidade — uma trajetória histórica dos EUA, cujo
arcabouço teórico pode ser associado à doutrina da “tolerância repressiva”
formulada por Henry Kissinger. Segundo Tarso, essa política consistia em
aceitar a influência de adversários em certas regiões do globo, enquanto se
reprimia duramente experiências revolucionárias e movimentos de libertação.
“O
precedente está na Guerra do Vietnã e nas políticas que foram desenvolvidas a
partir daquela teoria. A Guerra do Vietnã foi a grande derrota estratégica da
política americana”, recordou, apontando que o apoio à libertação nacional
vinha não só da União Soviética, mas também de democracias europeias
simpatizantes com causas anticoloniais. Ao mencionar que o Vietnã de hoje se
transformou em uma potência asiática, ele apontou que esse tipo de derrota
expôs as fragilidades da estratégia imperial estadunidense.
Para o
ex-ministro, a atual crise do capitalismo global alterou os eixos de dominação.
“Saiu das dificuldades do modelo produtivo tradicional e se concentrou no
mercado. As relações de produção cederam lugar às relações de troca e de
intercâmbio internacional, onde reina o capital financeiro”, observou. “A
dominação do capital financeiro tem endereço, tem lugares certos, tem
proprietários. Em última análise, são eles que fazem o ordenamento mundial.”
Apesar
de reconhecer em Trump traços de comportamento que poderiam ser classificados
como patológicos, ele adverte: “Trump é sim um irresponsável e também um ser
meio patológico, meio sociopático, mas isso não é uma novidade na política
americana. É a política americana como ela sempre foi, apenas expressa de forma
mais rude.”
Tarso
conclui que o que está em jogo é mais do que uma figura excêntrica no poder.
Trata-se de um sistema com raízes profundas. “Derrotar Trump é derrotar o
modelo imperial-colonial que ele representa”, resumiu. E acrescentou: “Essa
loucura está sendo medida. Está sendo compartilhada por milhões e milhões de
pessoas no globo terrestre e também no seu país.”
• Ao recuar no tarifaço, Trump isenta
quase um quarto das importações da China
Em uma
mudança de postura na guerra comercial, o governo do presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, decidiu retirar tarifas de importação sobre produtos
chineses, incluindo celulares, computadores, televisores e semicondutores.
Segundo levantamento feito pela CNN, os itens isentos corresponderam a US$
104,5 bilhões em importações vindas da China em 2024 — o equivalente a 23,8% do
total importado pelo país asiático no mesmo ano.
A lista
contempla 20 categorias de produtos que estavam sujeitas à chamada tarifa
recíproca: uma alíquota geral de 10% e uma sobretaxa de até 145% aplicada
exclusivamente a itens chineses. Entre os produtos mais relevantes estão os
aparelhos telefônicos, principal item importado da China há anos, que
movimentaram US$ 50,8 bilhões no ano passado.
Também
entraram na lista de isenção as máquinas para processamento automático de
dados, como notebooks e servidores (US$ 36,2 bilhões), televisores (US$ 6,7
bilhões) e peças para equipamentos de escritório (US$ 6,5 bilhões).
Com
essa medida, Trump tenta evitar um impacto ainda maior sobre os preços para o
consumidor norte-americano. Em meio à alta da inflação, um iPhone topo de
linha, por exemplo, poderia passar de US$ 1.599 para até US$ 2.300, caso a
tarifa fosse integralmente aplicada, de acordo com estimativas de analistas
citados pela Reuters.
• Confiança do consumidor nos EUA desaba
em abril com temor inflacionário no maior nível desde 1981
O
sentimento de confiança econômica do consumidor norte-americano registrou uma
forte queda em abril, em meio à escalada das expectativas inflacionárias. De
acordo com levantamento da Universidade de Michigan, divulgado nesta
sexta-feira (11) e repercutido pela CNBC, o índice de confiança caiu para 50,8
pontos, contra 57,0 em março.
O
número ficou bem abaixo da estimativa consensual do mercado, que previa 54,6
pontos, e representa a segunda pior leitura da série histórica iniciada em 1952
— perdendo apenas para o recorde negativo de junho de 2022.
A
pesquisa revela que os consumidores dos Estados Unidos estão cada vez mais
apreensivos diante do aumento do custo de vida. A expectativa de inflação para
os próximos 12 meses saltou de 5% em março para 6,7% em abril, alcançando o
maior patamar desde novembro de 1981. Para o horizonte de cinco anos, a
projeção também aumentou, passando de 4,1% para 4,4% — a mais elevada desde
junho de 1991.
Além
disso, outros indicadores também mostraram deterioração. O índice que mede as
condições econômicas atuais recuou 11,4%, para 56,5 pontos, enquanto a
avaliação das expectativas caiu para 47,2 pontos, uma queda de 10,3%. Na
comparação anual, essas medidas recuaram 28,5% e 37,9%, respectivamente.
A
diretora da pesquisa, Joanne Hsu, destacou que "os consumidores relatam
múltiplos sinais de alerta que aumentam o risco de recessão: expectativas
quanto às condições de negócios, finanças pessoais, rendimentos, inflação e
mercado de trabalho continuam a se deteriorar neste mês". Ela também
observou que a queda de confiança foi generalizada entre todas as faixas
etárias, níveis de renda e orientações políticas.
Outro
dado preocupante apontado pelo levantamento foi a percepção crescente de risco
de desemprego, no nível mais alto desde 2009. A preocupação ocorre num momento
em que há apreensão nos mercados quanto ao impacto das tarifas anunciadas pelo
presidente Donald Trump, que podem impulsionar ainda mais a inflação e
desacelerar o crescimento econômico.
Apesar
disso, indicadores de preços ao consumidor e ao produtor divulgados na mesma
semana sinalizaram certo alívio inflacionário em março. Contudo, economistas e
autoridades do Federal Reserve alertam que as expectativas dos consumidores, se
não controladas, podem influenciar o comportamento real dos preços.
A
pesquisa da Universidade de Michigan foi realizada entre 25 de março e 8 de
abril — um dia antes de Trump anunciar a suspensão temporária, por 90 dias, da
imposição de tarifas agressivas a dezenas de parceiros comerciais dos EUA.
Fonte:
Brasil 247
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