segunda-feira, 14 de abril de 2025

Recuo de Trump é derrota humilhante na guerra comercial contra a China

O novo recuo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na escalada tarifária contra a China marca uma derrota humilhante em sua guerra comercial. Conforme noticiou a agência Reuters neste sábado (12), a administração Trump decidiu poupar da tarifa de 125% alguns dos principais produtos importados do país asiático — entre eles, celulares, laptops, semicondutores e componentes eletrônicos.

A decisão foi oficializada pela agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP), que publicou uma lista de códigos tarifários isentos da sobretaxa. A medida vale retroativamente a partir de 5 de abril e afeta categorias amplas de produtos, como computadores, chips de memória, painéis de tela plana e dispositivos de processamento de dados.

Com essa medida, Trump tenta evitar um impacto ainda maior sobre os preços para o consumidor norte-americano. Em meio à alta da inflação, um iPhone topo de linha, por exemplo, poderia passar de US$ 1.599 para até US$ 2.300, caso a tarifa fosse integralmente aplicada, de acordo com estimativas de analistas citados pela Reuters.

Mesmo sem assumir publicamente o recuo, a decisão representa o reconhecimento tácito de que a cruzada protecionista conduzida pelo presidente — que tomou posse para seu segundo mandato em janeiro de 2025 — impõe custos pesados à economia dos EUA. Os produtos agora isentos incluem justamente os dois itens mais importados da China em 2024: smartphones (US$ 41,7 bilhões) e laptops (US$ 33,1 bilhões), segundo dados do Censo dos EUA.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, tentou contornar o constrangimento, afirmando em nota que Trump “deixou claro que os Estados Unidos não podem depender da China para fabricar tecnologias críticas”. Segundo ela, empresas como Apple, Nvidia e Taiwan Semiconductor estão acelerando a transferência de produção para o território americano. Mas, na prática, a isenção tarifária enfraquece o discurso nacionalista e revela as contradições de uma política que pretendia remodelar as cadeias globais de suprimento, mas colidiu com a realidade econômica e os interesses de grandes corporações.

Apesar da trégua pontual, Trump mantém tarifas de 20% sobre todas as importações da China relacionadas à crise do fentanil. Além disso, anunciou que lançará uma nova investigação de segurança nacional sobre o setor de semicondutores, o que pode resultar em mais tarifas no futuro.

A guerra comercial, que já dura anos, se intensificou nos últimos dias com a retaliação da China, que elevou suas próprias tarifas sobre produtos norte-americanos também para 125%. A tensão provocou instabilidade nos mercados financeiros: o ouro bateu recorde histórico, os rendimentos dos títulos do Tesouro registraram sua maior alta semanal desde 2001 e o dólar sofreu desvalorização significativa.

Ainda assim, Trump afirmou, durante o fim de semana em sua residência na Flórida, que está “confortável com tarifas altas contra a China” e que mantém um bom relacionamento com o presidente Xi Jinping. Ele demonstrou otimismo de que “algo positivo” possa surgir do conflito — embora os sinais econômicos indiquem o contrário.

O episódio aprofunda o desgaste político do presidente republicano, inclusive dentro de seu próprio partido. Com eleições legislativas previstas para 2026, cresce o temor entre aliados de que a insistência em uma guerra tarifária impopular possa custar o controle do Congresso para os democratas. Ao recuar diante da pressão de grandes empresas e consumidores, Trump expõe a fragilidade de sua estratégia comercial e acumula mais um revés em sua ambição de realinhar a ordem econômica global.

•        "A roda da história não pode ser revertida", diz Wang Yi, chanceler chinês

Durante encontro com o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, nesta sexta-feira (11), em Pequim, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, fez duras críticas à atuação dos Estados Unidos no cenário global. A declaração foi publicada originalmente pelo Global Times.

Wang Yi, que também integra o Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCC) e dirige o Escritório da Comissão de Assuntos Exteriores do Comitê Central, responsabilizou diretamente "uma certa grande potência" pela turbulência atual nas relações internacionais. Segundo ele, essa potência — uma referência clara aos Estados Unidos — estaria presa à "crença na supremacia da força", priorizando seus próprios interesses e promovendo o que chamou de "bullying unilateral".

“A comunidade internacional não pode ficar de braços cruzados, e os Estados Unidos não podem agir de forma arbitrária. A roda da história não pode ser revertida”, afirmou Wang Yi.

O chanceler criticou ainda a imposição de tarifas comerciais por parte de Washington em várias regiões do mundo, acusando o governo norte-americano, hoje comandado pelo presidente Donald Trump em seu segundo mandato, de desprezar abertamente o sistema multilateral de comércio e as regras internacionais estabelecidas. “Os EUA estão escancaradamente colocando seus próprios interesses acima dos da comunidade internacional”, disse.

Wang Yi ressaltou que a resistência chinesa à política de força visa não apenas proteger os direitos e interesses legítimos da China, mas também salvaguardar os interesses compartilhados da humanidade. “Trata-se de impedir que o mundo volte à lei da selva”, alertou.

O ministro aproveitou a ocasião para destacar a importância do 80º aniversário da fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), que será celebrado este ano. Ele afirmou que a China, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, pretende aproveitar essa data simbólica para reforçar seu compromisso com a ordem internacional baseada no direito internacional e com o sistema multilateral liderado pelas Nações Unidas.

“Estamos dispostos a trabalhar com todos os países para combater quaisquer tentativas de reverter o curso da história e sabotar as normas globais”, concluiu Wang Yi, reafirmando a disposição da China de atuar como um país responsável no cenário internacional.

A reunião com Rafael Grossi ocorre num momento em que Pequim busca fortalecer sua posição diplomática diante das crescentes tensões comerciais e estratégicas com os Estados Unidos, reforçando seu discurso em defesa da multipolaridade e da estabilidade institucional global.

•        Tarso Genro: “A tarefa agora é como derrotar Trump e sua estratégia neocolonial”

 Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro apresentou uma leitura crítica sobre o significado político do trumpismo. Segundo ele, diferentemente da forma como a grande imprensa costuma enquadrar o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump não age apenas por impulsos erráticos ou traços de personalidade. Para Tarso, trata-se da representação mais explícita de um projeto histórico de dominação. “Essa loucura tem método. Ela tem objetivos. Ela representa um projeto”, afirmou.

A seu ver, reduzir as ações de Trump a manifestações neuróticas ou desvios de comportamento é uma estratégia que mascara o modelo que ele representa. “Eu tenho uma opinião um pouco diferente da que está circulando pela mídia tradicional. Essa forma de tratar o Trump, como um sujeito que age ao sabor de impulsos, como um sociopata exibicionista, naturaliza o modelo que ele representa”, disse. “A forma grosseira com que ele atua é apenas a expressão de algo que sempre existiu na política externa dos Estados Unidos.”

Tarso destaca que há um processo metódico na atuação de Trump e que ele encarna um padrão de intervenção norte-americana no mundo. “É a continuidade de uma lógica de império que se manifesta desde a Guerra Fria”, afirmou. Nesse sentido, Trump atualizaria — com mais brutalidade — uma trajetória histórica dos EUA, cujo arcabouço teórico pode ser associado à doutrina da “tolerância repressiva” formulada por Henry Kissinger. Segundo Tarso, essa política consistia em aceitar a influência de adversários em certas regiões do globo, enquanto se reprimia duramente experiências revolucionárias e movimentos de libertação.

“O precedente está na Guerra do Vietnã e nas políticas que foram desenvolvidas a partir daquela teoria. A Guerra do Vietnã foi a grande derrota estratégica da política americana”, recordou, apontando que o apoio à libertação nacional vinha não só da União Soviética, mas também de democracias europeias simpatizantes com causas anticoloniais. Ao mencionar que o Vietnã de hoje se transformou em uma potência asiática, ele apontou que esse tipo de derrota expôs as fragilidades da estratégia imperial estadunidense.

Para o ex-ministro, a atual crise do capitalismo global alterou os eixos de dominação. “Saiu das dificuldades do modelo produtivo tradicional e se concentrou no mercado. As relações de produção cederam lugar às relações de troca e de intercâmbio internacional, onde reina o capital financeiro”, observou. “A dominação do capital financeiro tem endereço, tem lugares certos, tem proprietários. Em última análise, são eles que fazem o ordenamento mundial.”

Apesar de reconhecer em Trump traços de comportamento que poderiam ser classificados como patológicos, ele adverte: “Trump é sim um irresponsável e também um ser meio patológico, meio sociopático, mas isso não é uma novidade na política americana. É a política americana como ela sempre foi, apenas expressa de forma mais rude.”

Tarso conclui que o que está em jogo é mais do que uma figura excêntrica no poder. Trata-se de um sistema com raízes profundas. “Derrotar Trump é derrotar o modelo imperial-colonial que ele representa”, resumiu. E acrescentou: “Essa loucura está sendo medida. Está sendo compartilhada por milhões e milhões de pessoas no globo terrestre e também no seu país.”

•        Ao recuar no tarifaço, Trump isenta quase um quarto das importações da China

Em uma mudança de postura na guerra comercial, o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu retirar tarifas de importação sobre produtos chineses, incluindo celulares, computadores, televisores e semicondutores. Segundo levantamento feito pela CNN, os itens isentos corresponderam a US$ 104,5 bilhões em importações vindas da China em 2024 — o equivalente a 23,8% do total importado pelo país asiático no mesmo ano.

A lista contempla 20 categorias de produtos que estavam sujeitas à chamada tarifa recíproca: uma alíquota geral de 10% e uma sobretaxa de até 145% aplicada exclusivamente a itens chineses. Entre os produtos mais relevantes estão os aparelhos telefônicos, principal item importado da China há anos, que movimentaram US$ 50,8 bilhões no ano passado.

Também entraram na lista de isenção as máquinas para processamento automático de dados, como notebooks e servidores (US$ 36,2 bilhões), televisores (US$ 6,7 bilhões) e peças para equipamentos de escritório (US$ 6,5 bilhões).

Com essa medida, Trump tenta evitar um impacto ainda maior sobre os preços para o consumidor norte-americano. Em meio à alta da inflação, um iPhone topo de linha, por exemplo, poderia passar de US$ 1.599 para até US$ 2.300, caso a tarifa fosse integralmente aplicada, de acordo com estimativas de analistas citados pela Reuters.

•        Confiança do consumidor nos EUA desaba em abril com temor inflacionário no maior nível desde 1981

O sentimento de confiança econômica do consumidor norte-americano registrou uma forte queda em abril, em meio à escalada das expectativas inflacionárias. De acordo com levantamento da Universidade de Michigan, divulgado nesta sexta-feira (11) e repercutido pela CNBC, o índice de confiança caiu para 50,8 pontos, contra 57,0 em março.

O número ficou bem abaixo da estimativa consensual do mercado, que previa 54,6 pontos, e representa a segunda pior leitura da série histórica iniciada em 1952 — perdendo apenas para o recorde negativo de junho de 2022.

A pesquisa revela que os consumidores dos Estados Unidos estão cada vez mais apreensivos diante do aumento do custo de vida. A expectativa de inflação para os próximos 12 meses saltou de 5% em março para 6,7% em abril, alcançando o maior patamar desde novembro de 1981. Para o horizonte de cinco anos, a projeção também aumentou, passando de 4,1% para 4,4% — a mais elevada desde junho de 1991.

Além disso, outros indicadores também mostraram deterioração. O índice que mede as condições econômicas atuais recuou 11,4%, para 56,5 pontos, enquanto a avaliação das expectativas caiu para 47,2 pontos, uma queda de 10,3%. Na comparação anual, essas medidas recuaram 28,5% e 37,9%, respectivamente.

A diretora da pesquisa, Joanne Hsu, destacou que "os consumidores relatam múltiplos sinais de alerta que aumentam o risco de recessão: expectativas quanto às condições de negócios, finanças pessoais, rendimentos, inflação e mercado de trabalho continuam a se deteriorar neste mês". Ela também observou que a queda de confiança foi generalizada entre todas as faixas etárias, níveis de renda e orientações políticas.

Outro dado preocupante apontado pelo levantamento foi a percepção crescente de risco de desemprego, no nível mais alto desde 2009. A preocupação ocorre num momento em que há apreensão nos mercados quanto ao impacto das tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump, que podem impulsionar ainda mais a inflação e desacelerar o crescimento econômico.

Apesar disso, indicadores de preços ao consumidor e ao produtor divulgados na mesma semana sinalizaram certo alívio inflacionário em março. Contudo, economistas e autoridades do Federal Reserve alertam que as expectativas dos consumidores, se não controladas, podem influenciar o comportamento real dos preços.

A pesquisa da Universidade de Michigan foi realizada entre 25 de março e 8 de abril — um dia antes de Trump anunciar a suspensão temporária, por 90 dias, da imposição de tarifas agressivas a dezenas de parceiros comerciais dos EUA.

 

Fonte: Brasil 247

 

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