Em busca
de maior Autonomia Tecnológica
A
economia brasileira, apesar de ser uma das maiores do mundo (8ª.) e possuir
avanços superiores em setores como agricultura, mineração, extração de petróleo
e aviação, ainda apresenta lacunas tecnológicas em várias indústrias
estratégicas. Nestas áreas, o Brasil depende de multinacionais para atrair
investimentos, transferir tecnologia, ou precisa importar produtos e
tecnologias avançadas para suprir as demandas do mercado interno.
Por
exemplo, em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), embora o país tenha
uma indústria de software crescente e um setor de startups em expansão, ainda
depende de multinacionais para o fornecimento de hardware, semicondutores, e
tecnologias avançadas de comunicação, como equipamentos para redes 5G. Grande
parte dos equipamentos de telecomunicações, componentes eletrônicos e sistemas
de computação avançada são importados, com destaque para países como Estados
Unidos, China, e Taiwan, dominantes do mercado global de semicondutores.
O
Brasil tem uma indústria farmacêutica especializada na produção de medicamentos
genéricos, mas ainda dependente de multinacionais para o desenvolvimento de
medicamentos inovadores, vacinas, e biotecnologias avançadas. O país importa
grande parte dos insumos farmacêuticos ativos (IFAs) e tecnologias para a
produção de biomedicamentos. A pandemia de COVID-19 ressaltou essa dependência,
quando o Brasil teve de importar vacinas e materiais para sua produção.
A
produção de semicondutores é crucial para várias indústrias, incluindo
eletrônicos, automotiva, e telecomunicações. O Brasil não possui uma indústria
relevante de semicondutores e depende de importações para suprir a demanda.
Semicondutores
são importados principalmente de países asiáticos dominantes da produção
mundial. O Brasil precisa atrair multinacionais ou desenvolver capacidades
locais para reduzir essa dependência.
Quanto
às Tecnologias de Energia Renovável Avançada, embora o Brasil seja um líder
mundial em energia hidrelétrica e tenha uma base crescente de energia eólica e
solar, a produção de equipamentos de alta tecnologia para esses setores, como
turbinas eólicas e painéis solares de última geração, depende de empresas
multinacionais. Equipamentos e tecnologias avançadas, como inversores solares,
turbinas de alta eficiência, e tecnologias de armazenamento de energia, são
importados de países como Alemanha, China, e Estados Unidos.
A
Embraer é um destaque na aviação regional, mas o Brasil depende de
multinacionais para tecnologias de ponta na Indústria de Defesa Aeroespacial,
como sistemas de radar, mísseis, satélites, e aeronaves de combate avançadas.
Para desenvolver capacidades mais avançadas, o Brasil precisa importar ou
firmar parcerias com empresas de países como Estados Unidos, Israel, e Rússia.
Têm tecnologias mais avançadas nesses setores.
A
indústria automotiva brasileira é de grande porte, mas a produção de veículos
elétricos, híbridos e autônomos, requerem tecnologias avançadas. Aqui está em
estágio inicial. A maioria das tecnologias relacionadas a baterias de lítio,
motores elétricos, e sistemas de inteligência artificial para veículos
autônomos são importadas de países como China, Alemanha, e Japão.
A
nanotecnologia é uma área emergente com aplicações em setores como medicina,
eletrônicos, e materiais avançados. No entanto, o Brasil não desenvolveu
plenamente essa indústria e depende de importações e parcerias para avançar.
Equipamentos, materiais e know-how em nanotecnologia são importados, com
destaque para parcerias com empresas e instituições de pesquisa de países como
Estados Unidos, Japão, e Alemanha.
O
Brasil tem feito avanços em inteligência artificial, principalmente em setores
de serviços e fintechs, mas depende de tecnologias estrangeiras para aplicações
mais avançadas em robótica, automação industrial, e inteligência artificial
aplicada. A maioria dos sistemas avançados de robótica e plataformas de IA
utilizadas em indústrias brasileiras são desenvolvidas por empresas
estrangeiras, em geral, dos mesmos países antes citados.
A
economia brasileira, apesar de seus avanços em várias indústrias, depende de
tecnologias estrangeiras e da presença de multinacionais em setores
estratégicos. A importação de produtos e a atração de empresas globais são
essenciais para preencher essas lacunas, enquanto o país trabalha para
desenvolver suas capacidades tecnológicas e reduzir a dependência externa a
longo prazo. Iniciativas de políticas públicas voltadas para inovação, pesquisa
e desenvolvimento, assim como parcerias internacionais, serão cruciais para
fortalecer a base tecnológica brasileira nessas áreas.
Para
o Brasil alcançar certa autonomia tecnológica, é necessário implementar uma
série de ações coordenadas e políticas estratégicas desde a formação de capital
humano até o desenvolvimento de infraestrutura e fomento à inovação.
A
base para qualquer desenvolvimento tecnológico é educação e capacitação de
capital humano em quantidade e qualidade. É crucial investir na qualidade da
Educação Básica, especialmente em áreas como Matemática e Ciências Exatas, além
da alfabetização digital. A Educação Superior também deve ser fortalecida, com
ênfase em Engenharia, Ciências da Computação, Biotecnologia, e outras áreas
técnicas críticas.
É
essencial expandir a formação de pesquisadores, engenheiros e técnicos
especializados. Programas de pós-graduação devem ser ampliados e alinhados com
as demandas tecnológicas estratégicas do país.
Com
o avanço rápido da tecnologia, é necessário promover programas de educação
continuada e requalificação profissional para garantir a força de trabalho se
manter atualizada e capaz de lidar com novas tecnologias.
O
governo deve oferecer incentivos fiscais e subsídios para empresas investirem
em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), criando um ambiente
favorável para a inovação. Políticas públicas (como a Lei do Bem: Lei
11.196/2005) oferecem benefícios fiscais para empresas investidoras em
pesquisa.
Cabe
promover colaborações entre universidades, centros de pesquisa e o setor
privado para desenvolver tecnologias e soluções inovadoras. As Parcerias
Público-Privadas (PPPs) ajudam a transformar descobertas científicas em
produtos e serviços comercializáveis. Necessita desenvolver e expandir parques
tecnológicos, incubadoras e aceleradoras de startups para apoiar a criação e
crescimento de empresas de base tecnológica.
Um
objetivo chave é ampliar e modernizar a infraestrutura de telecomunicações,
garantindo acesso universal à internet de alta velocidade e expandindo as redes
de fibra óptica, 5G e outras tecnologias de comunicação essenciais. Investir na
criação e modernização de centros de pesquisa e laboratórios com infraestrutura
avançada propicia apoiar pesquisas em áreas estratégicas, como biotecnologia,
nanotecnologia, inteligência artificial, e energia renovável.
A
Nova Indústria Brasil, isto é, a política de reindustrialização),é norteada por
metas aspiracionais relacionadas a cada uma de suas seis missões.
1 –
A garantia da segurança alimentar e nutricional dos brasileiros passa pelo
fortalecimento das cadeias agroindustriais (missão 1).
2 –
Na área da saúde (missão 2), a meta é ampliar a participação da produção no
país de 42% para 70% das necessidades nacionais em medicamentos, vacinas,
equipamentos e dispositivos médicos.
3 –
Para melhoria do bem-estar das pessoas nas cidades (missão 3), investirá em
infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis.
4 –
Para tornar a indústria mais moderna e disruptiva, há a meta de transformar
digitalmente (missão 4) 90% do total das empresas industriais brasileiras (hoje
são 23,5%) digitalizadas e triplicar a participação da produção nacional nos
segmentos de novas tecnologias.
5 –
Entre as metas estabelecidas com foco na bieconomia, descarbonização e
transição e segurança energéticas (missão 5) está a de ampliar em 50% a
participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes —
atualmente os combustíveis verdes representam 21,4% dessa matriz.
6 –
Por fim, na área da defesa (missão 6), pretende-se alcançar autonomia na
produção de 50% das tecnologias críticas de maneira a fortalecer a soberania
nacional.
Em
síntese, alcançar autonomia tecnológica no Brasil requer uma abordagem
multidisciplinar e integrada, envolvendo educação, infraestrutura, políticas
públicas, incentivos financeiros e colaboração internacional. A construção de
um ambiente favorável à inovação, combinado com o desenvolvimento de
capacidades internas em áreas estratégicas, permitirá ao país não apenas
reduzir sua dependência de tecnologias estrangeiras, mas também posicionar-se
como um líder global em setores chave.
Fonte:
Por Fernando Nogueira da Costa, em A Terra é Redonda
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