As vítimas de influenciador acusado de
tráfico humano: 'Eles nos estuprou e estrangulou'
Duas mulheres afirmam
terem sido estupradas e estranguladas pelo controverso influenciador das redes
sociais Andrew Tate. Eles contaram suas experiências à BBC.
Outra mulher também
afirmou, pela primeira vez, ter sido estuprada pelo irmão mais novo de Tate,
Tristan – outro influenciador, com milhões de seguidores.
Os irmãos Tate têm 37
e 36 anos de idade. Eles foram acusados na Romênia de tráfico de pessoas e
formação de um grupo organizado para explorar mulheres sexualmente. Andrew Tate
também foi acusado de estupro.
Se forem considerados
culpados, os dois homens podem ser condenados a mais de 10 anos de prisão. Eles
negam terminantemente as acusações.
Andrew Tate está agora
em prisão domiciliar na Romênia. Além das acusações já existentes, os
promotores estão examinando novas denúncias contra ele, que incluem sexo com
menor de idade e tráfico de menores.
Os dois irmãos também
estão sendo investigados pelo tráfico de outras 34 mulheres.
Em um novo programa da
série BBC Panorama, duas mulheres britânicas que não estão envolvidas na ação
legal contra os irmãos Tate na Romênia forneceram relatos pessoais e detalhados
de suposta violência sexual e estupro por parte de Andrew Tate. Os relatos
datam de pelo menos 10 anos atrás, quando Tate morava em Luton, no sudeste da
Inglaterra.
Outra mulher britânica
também apresentou uma nova denúncia de estupro contra Tristan Tate. Ela conta
que ele colocou as mãos em volta da sua garganta na ocasião.
Anna (nome fictício)
afirma que saiu com Andrew Tate em Luton, em 2013. E, após alguns encontros,
ela conta que foi até a casa dele.
As meninas romenas
raptadas e traficadas para a prostituição1 fevereiro 2022
"Ele começou a me
beijar... e simplesmente olhava para o teto e dizia, 'estou me questionando se
devo estuprar você ou não'", segundo ela.
"Do nada, ele
simplesmente me agarrou pela garganta, me esmagou contra a cama e me
estrangulou com extrema força."
Anna conta que, então,
ele a estuprou.
Ela declarou que, após
o ataque, Tate enviou mensagens de texto e de voz perturbadoras sobre estupro e
violência sexual.
"Sou uma pessoa
ruim?", perguntou ele, em uma mensagem de voz. "Porque, quanto mais
você não gostava, mais eu me divertia."
Em uma mensagem de
texto, ele escreveu: "adoro estuprar você".
Anna conta que ele
também tentou disfarçar o episódio do estrangulamento como uma brincadeira:
"você realmente está tão ofendida porque eu estrangulei você um
pouquinho?"
A BBC perguntou a Tate
sobre as mensagens, mas ele se recusou a comentá-las.
Em 2014, Anna contou à
polícia local de Bedfordshire sobre o suposto ataque. Duas outras mulheres
fizeram acusações parecidas e a polícia do condado de Hertfordshire assumiu a
investigação.
Em 2019, o processo
foi enviado para o Serviço de Promotoria da Coroa britânica, que concluiu que
não havia evidências suficientes para apresentar acusações.
Outra mulher, Sienna
(também nome fictício), descreve uma história parecida. Ela conta que conheceu
Andrew Tate uma década atrás, em Luton.
"Nós nos demos
muito bem e bebemos um pouco", segundo ela. Sienna disse que teve o que
ela descreve como "uma noite comum, juntos".
Alguns meses depois,
ela conta que encontrou Tate novamente e que, naquela ocasião, ele a atacou.
"Nós fomos para o
meu quarto... e começamos a fazer sexo", ela conta. "Foi quando ele
colocou as suas mãos em volta da minha garganta."
Sienna afirma que foi
estrangulada, não conseguia respirar e desmaiou. Quando recobrou a consciência,
ela conta que ele ainda estava fazendo sexo com ela.
"Fiquei
totalmente apavorada", declarou ela. "Eu só me lembro de lutar para
respirar... foi estupro."
Na manhã seguinte,
Sienna conta que ficou com um dos olhos vermelhos.
"Um dos brancos
dos meus olhos ficou completamente vermelho – parece que é bastante comum em
casos de abuso doméstico quando há estrangulamento", afirma ela.
Um amigo de Sienna
confirmou à BBC que ela contou a ele sobre o incidente, na época. Ele também
declarou ter visto a lesão no olho.
Sienna não procurou a
polícia e diz que lamenta por isso.
Ao todo, a BBC conhece
cinco mulheres britânicas que afirmam terem sido estranguladas por Tate durante
o sexo. Entrevistado pelo programa BBC Panorama em junho do ano passado, ele
negou ter algum dia estrangulado ou mantido relações sexuais com mulheres sem
consentimento.
"Sei que nunca
machuquei ninguém", declarou ele. "Não é da minha natureza machucar
as pessoas."
Andrew Tate começou a
ficar famoso online na segunda metade da última década. Seus autoproclamados
vídeos misóginos no YouTube e no TikTok, além de postagens no Twitter, renderam
a ele milhões de seguidores e um perfil conhecido internacionalmente.
Sua mensagem se
destinava aos meninos e homens jovens. Segundo ele, as mulheres deveriam ser
dominadas.
Em um vídeo, ele
declarou que as mulheres são "intrinsecamente preguiçosas" e
acrescentou: "Não há como você mergulhar na realidade e não ser
sexista."
As autoridades
britânicas acusaram Tate de difundir misoginia online.
Seus vídeos também
demonstravam o estilo de vida extravagante que ele afirmava ter na Romênia.
Acredita-se que Andrew
e Tristan Tate tenham se mudado para o país do leste europeu perto de 2016.
Antes, eles mantinham um negócio de webcams em Luton, com mulheres que
conversavam e ficavam nuas online por dinheiro.
A Romênia tem uma das
maiores indústrias de webcams do mundo, que emprega mais de meio milhão de
pessoas. A mudança dos irmãos aparentemente fez os negócios decolarem.
Em certo momento,
Andrew Tate afirmou que ganhava 400 mil libras (cerca de R$ 2,92 milhões) por
mês com as webcams e que "75 mulheres trabalhavam para ele no pico".
Mas, quando conversou
com a BBC no ano passado, ele minimizou a ostentação, alegando que houve
exageros e mentiras.
O negócio de
entretenimento adulto é parte central da ação criminal apresentada contra eles
na Romênia.
Os promotores afirmam
que os irmãos traficavam mulheres para o país – em outras palavras, eles as
recrutavam e providenciavam seu transporte e acomodação na capital romena,
Bucareste, para que fossem exploradas.
Duas das mulheres
indicadas no processo foram levadas do Reino Unido para a Romênia. E outra
mulher britânica, que não está envolvida nos processos legais, contou ao
programa BBC Panorama sobre sua experiência trabalhando para os irmãos Tate.
Falando ao público
pela primeira vez, Daisy (nome fictício) contou que, em 2017, ela namorava
Tristan Tate no Reino Unido. Ele então a incentivou a trabalhar para os
negócios de webcam dos irmãos em Bucareste.
A BBC teve acesso a
evidências de que Tristan reservou o voo dela para a capital da Romênia.
Daisy viajou de livre
e espontânea vontade, sabendo e concordando em se envolver com o negócio de
webcams. Ela descreve um ambiente controlador, em que ela e outras pessoas
moravam e trabalhavam juntas.
"A meninas tinham
seus próprios quartos, mas não era seu espaço pessoal", ela conta.
"Tudo era de Tristan e Andrew. Os quartos em que as meninas trabalhavam
eram os mesmos quartos onde os irmãos dormiam."
Havia regras rigorosas
para todas as mulheres, segundo Daisy. Quase todos os aspectos das suas vidas
eram monitorados.
Este relato é
confirmado por uma modelo online romena, que também conversou com a BBC.
"Raluca" afirma que estava na contabilidade dos irmãos Tate em 2021.
Ela conta que "controle e manipulação" eram primordiais no seu modelo
de negócios.
A maioria das modelos
que trabalhavam com os irmãos Tate "namorava com eles", segundo
Raluca. Ela também afirma que algumas delas eram mulheres levadas do Reino
Unido.
Os promotores romenos
afirmam possuir declarações de três mulheres, que descrevem se sentirem
"controladas" pelos irmãos. No processo, algumas das mulheres afirmam
que não podiam sair de casa "sozinhas".
Quando Andrew Tate
conversou com a BBC no ano passado, ele negou as acusações e afirmou que as
mulheres trabalhavam por conta própria. Segundo ele, seu papel era apenas
"ajudá-las a encontrar um operador de câmera".
Daisy conta que,
alguns dias depois de chegar à Romênia, ela rompeu com Tristan Tate, mas que
ele não parou de tentar fazer sexo com ela.
"Eu disse 'não'
para ele 10 a 15 vezes, que eu não queria", ela conta. Ele colocou as mãos
na sua garganta e a estuprou, segundo ela.
Daisy não apresentou
acusação à polícia.
A BBC conversou com um
de seus amigos. Ele declarou que, depois que Daisy voltou para o Reino Unido,
ela estava preocupada e disse a ele que Tristan Tate havia sido sexualmente
agressivo com ela.
A BBC perguntou a
Tristan Tate sobre todas as acusações contra ele, mas ele não fez comentários.
Os problemas dos
irmãos Tate com a Justiça se aprofundaram este ano. Além das acusações
existentes na Romênia e da nova investigação anunciada em agosto, eles
enfrentam diversas ameaças legais fora do país.
No Reino Unido, a
polícia de Bedfordshire iniciou procedimentos de extradição contra os dois
irmãos, sob acusações de estupro e tráfico de pessoas, no período de 2012 a
2015. Nenhum dos casos está relacionado às mulheres entrevistadas pela BBC.
Paralelamente, em uma
ação civil movida pela polícia dos condados ingleses de Devon e da Cornualha,
um magistrado deverá decidir em outubro se os irmãos Tate devem milhões em
sonegação de impostos sobre seus negócios online.
Sienna e Anna também
estão processando Andrew Tate. Sua ação deve receber uma audiência na Alta
Corte de Londres.
Elas e mais duas
mulheres o acusam de estupro e violência sexual. Ele pretende contestar as
acusações.
A BBC questionou Tate
sobre todas estas acusações recentes, mas ele se recusou a enviar comentários.
No ano passado, ele declarou:
"Aguardo
ansiosamente que a verdade venha à tona. Aguardo ansiosamente que a verdade
seja disparada pela BBC, de que Andrew Tate foi considerado inocente, porque
nunca fiz nada de errado."
Fonte: BBC Panorama
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