sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Pedro Maciel: Não é sobre ideologia, é sobre ética

É comum que amigos e conhecidos próximos digam que tenho divergências ideológicas com Bolsonaro.

Evidentemente estamos em campos distintos no que diz respeito ao espectro ideológico, ele de extrema-direita e paquerando o fascismo e eu, com toda a minha desimportância, à esquerda, contudo, o mal-estar que o sujeito que ocupou a presidência por quatro longuíssimos anos me causa decorre de razões éticas. 

Explico.

Ética diz respeito aos limites para a ação humana e à identificação, num conjunto de possibilidades, das que são corretas, estou falando das coisas práticas da vida. É a ética que submete meios e fins ao crivo do aceitável e todo o comportamento de Jair Bolsonaro não passa pelo meu crivo ético. Bolsonaro apoiou a ditadura no Brasil e é saudoso dela; disse, pelo menos uma vez, que ao invés de torturar a ditadura deveria ter matado "uns 30  mil"; afirmou que apoia a tortura; elogiou mais de uma vez o ditador pedófilo Alfredo Stroessner, cuja ditadura  matou 459 pessoas, desapareceram outras tantas, 18.722 foram torturadas e 19.862 foram presas, de acordo com a Comissão da Verdade do país; elogiou o ditador Pinochet, que matou mais de 3 mil chilenos e torturou milhares de prisioneiros e forçou 200 mil chilenos ao exílio.

Essas razões bastam para o Inominável não me servir, nem às pessoas éticas, mas estranhamente pessoas boas seguem defendendo o pior presidente da história do país.

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Faltaria ética aos seus apoiadores?

Não cabe a mim julgar, contudo, acredito que a ética, quaisquer que sejam os adjetivos que se lhe agreguem, está sempre referida ao reconhecimento de limites às possibilidades. Noutras palavras, “...a ideia de que o possível não se autolegitima pertence à essência do agir ético, que pertence às entranhas do próprio ato de filosofar. Nesse sentido, ética é limite.”, como escreveu Bianca Antunes Cortes, Doutora e Pesquisadora Adjunta da Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

A ética está originariamente ligada à noção da possibilidade de se definir. O campo da ética se entende então como a esfera das causas do agir humano, das forças determinantes dos cursos desse agir.

E, sem qualquer dúvida, ao capitão, que foi tocado do exército, falta limites, falta ética, tanto que, ainda deputado, teve a cara-de-pau de, na tribuna da câmara dos deputados, defender as milicias e os milicianos.

As milicias são grupos de marginais que, valendo-se da ausência do Estado, geralmente em comunidades periféricas, transformam os moradores em reféns da sua proteção, pela qual cobram. 

A milicia funciona na base da oferta/venda de segurança e de serviços no lugar do Estado ou de empresas privadas, de modo que a região, comunidade ou favela se torne dependente da milícia e, basicamente, quem não paga, não está seguro, podendo até ser morto como um recado aos demais moradores que tenham oposição a essa dinâmica. Se em uma época a milícia era querida pela população, hoje a visão já é diferente. Essas vivências foram retratadas no filme Tropa de Elite, inspirado na baixada fluminense e em favelas da Zone Oeste do Rio de Janeiro.

A milicia e os milicianos são, segundo o Bolsonaro e seus filhos, dignos de confiança e de homenagens. Tanto é verdade que Flávio Bolsonaro, o “01”, concedeu uma medalha a um miliciano envolvido no assassinato da vereadora Mariela Franco; seus filhos e ele empregaram em seus gabinetes milicianos e parentes desses.

Sejamos cordatos, é impossível a uma pessoa ética, considerar que Bolsonaro seja alternativa para alguma coisa.

Lembremos que Bolsonaro, o corrupto, manteve por mais de vinte (20) anos uma empregada doméstica cuidando de sua casa de praia paga como dinheiro público (a famosa Val do Açaí); ele, racista que é, disse que seus filhos não namorariam negras "porque foram bem-educados".

Seria possivel listar ideológicas e discordâncias na condução da economia, mas a figura abjeta de Bolsonaro sequer passa pelo meu crivo ético.

Dispenso a convivência com quem: apoia ditaduras, ditadores; faz apologia da tortura e a apoia; ou deseja a morte de pessoas apenas porque elas pensam diferente.

É comum ouvirmos que as palavras de um líder, refletem no comportamento dos liderados; se isso for verdade Bolsonaro é um líder incendiário e mau, pois, como escreveu Roberto Bartholo é Professor Titular da UFRJ, citado Bianca Antunes Cortes: “[nossa] simples existência nos chama à responsabilidade”.O inominável revelou-se um líder carismático, representa a extrema-direita - que estava escondidinha - e deu voz a um exército de imbecis, intoxicados pelo neopentecostalíssimo – especialmente pela Teologia da Prosperidade -, e pela lógica ultraliberal que há quatro décadas despeja ideologia na cabeça das pessoas, travestindo-a de “visão técnica”.

Senti que precisava escrever isso e deixar claro que -, a minha divergência é ética.

Ademais, não tenho certeza se o bolsonarismo é uma ideologia ou criação de Mary Shelley, uma colagem de discursos que vão desde a hipócrita pauta de costumes do neopentecostalismo, passando pela lógica destruidora de vidas do ultraliberalismo e com o desejo indisfarçado de descredibilizar toda a institucionalidade para implantar um regime autocrático.

Pergunto, sem instituições, boas ou ruins, o que nos restaria além da barbárie e de um governo autoritário?

É isso.

 

Ø  Brasil importa mais lixo cultural: ódio. Por Eduardo Guimarães

 

Ao longo da história deste nosso lindo e hospitaleiro paraíso tropical, vimos importando lixo cultural e ideológico insistentemente. Todavia, nos últimos anos chegamos ao paroxismo da prática. Armamentismo e chacinas em escolas, extremismo político ineditamente bizarro, fanatismo religioso ultrapotente e, agora, ódio no modo "amor pela guerra".

Não ouse pedir paz. Não ouse pedir que Israel pare de jogar mísseis nos palestinos e que o Hamas pare de jogar mísseis em Israel. Já foi decretado que você é obrigado a tomar partido. Você não tem o direito de dizer que não quer que a guerra continue. 

Sim, é isso mesmo. A nova droga cultural que estamos importando em contêineres fechados faz com que quem diz que a guerra deve continuar até exterminar o outro lado seja um pacifista e aquele que diz que é preciso um cessar-fogo seja "belicista", "genocida", "racista", "escroto" etc. E fica muito fácil essa premissa maluca se estabelecer porque os dois lados só querem continuar guerreando em... PAZ (?!). 

Um lado diz que não existe guerra porque Israel está armado até os dentes e o outro está desarmado e sendo submetido a genocídio, o que é a mais pura verdade.  Porém, o que é que o Hamas joga nos israelenses? Flores? Claro que boa parte dos palestinos não apoia o Hamas, mas boa parte dos israelenses tampouco apoia Netanyahu e os sionistas...

Uma boa definição para guerra é: conflito em que um joga  mísseis no outro. Infelizmente, os palestinos estão no meio de tudo isso. Os dois lados, Hamas e Israel, usam-nos como escudos.

O presidente da República Federativa do Brasil se recusa a apoiar formalmente algum dos lados, apesar de, atualmente, a direita apoiar Israel e a esquerda apoiar o Hamas e/ou a Palestina. Não peçam a qualquer pessoa sensata que tome partido nessa loucura. 

Ah, mas morreram palestinos. Sim, como morreram isralenses. Mas morreram muito mais palestinos. Sim, é verdadeira essa contabilidade macabra. Os israelenses têm muito mais meios de  matar e o Hamas tem muito menos. Mas e se fosse ao contrário, o Hamas usaria esse maior poder de matar? Quando atira mísseis em Israel ele não quer ferir inocentes? 

Perguntemos aos reféns que o grupo islâmico fez... Eis, então, o derradeiro argumento de um dos lados: os palestinos não mataram ninguém. Infelizmente, serem alvos dos mísseis israelenses faz com que até suas crianças ataquem com pequenas e débeis facas qualquer israelense que virem pela frente. Mas são crianças, Eduardo! São mulheres, crianças e idosos desarmados ou mal-armados...  

Claro que são, e é claro que crianças não matarão soldados armados até os dentes. Porém, porém, porém... Isso denota que há, sim, muito apoio ao Hamas entre os palestinos, assim como há muito apoio entre os israelenses aos crimes de Israel. O que fazer, então? Vamos para a solução, por favor. 

Opção 1 - Israel se rende ao Hamas e sai do seu território. Seus 9,4 milhões de habitantes se espalham novamente pelo mundo, sem pátria de novo. 

Opção 2 - O Hamas se rende a Israel e seus 2,3 milhões de cidadãos iniciam um êxodo pelo Oriente, buscando subempregos para subsistirem de forma igual ou pior que antes. Ou podem ficar onde estão passando toda sorte de privações e opressão enquanto o Hamas se rende. Afinal, jamais conseguiu melhorar a vida de seu povo atirando mísseis em Israel. 

Opção 3 - Os dois lados sentam à mesa de negociação, como fizeram Yasser Arafat e Yitzhak Rabin em 1993. O mundo foi surpreendido pela notícia do consenso, pois, em Israel, ainda era proibido manter qualquer tipo de contato com a OLP. Mas o acordo ocorreu. Depois, foi rompido. 

Mas um mau acordo sempre será melhor que uma "boa" briga. E teremos como tentar, desta vez, fazer o armistício ser mantido. Estou sonhando? Tudo bem. Não posso resolver nem todos meus próprios problemas, mas posso, ao menos, alertar para o fato de que, por aqui, a adesão furiosa ao extremismo israelo-palestino está contaminando as pessoas. 

Todo lixo cultural e ideológico que o Brasil andou importando está fazendo estragos. Extremismo político, fanatismo religioso e armamentismo estão matando a rodo por aqui. E, agora, uma nova droga chega ao "mercado"

Neste dia em que escrevo, cataloguei vários pedidos de simpatizantes dos palestinos e dos israelenses nas redes exortando os outros a "tocarem o terror" contra os adversários ideológicos. Está no Twitter ou em qualquer rede social.

E não é só aqui. Na madrugada de terça (31/10) para quarta (1/11), as ruas de Paris apareceram pichadas com Estrelas de Davi, segundo a Rádio França Internacional (RFi). Com que finalidade fizeram isso, a de enviar presentes ao moradores das casas marcadas? E os locais habitados por muçulmanos e árabes, também não estão sujeitos a violência? 

Aqui, no Brasil, temos essas etnias e o ódio entre os simpatizantes de um e de outro lado só faz aumentar. Na enorme comunidade do meu Canal no YouTube, com centenas de  milhares de membros, as brigas se acirram em escala geométrica. Quanto tempo levará até que um dos lados (ou ambos) coloquem alguma loucura dessas em prática?

 

Ø  Zambelli faz postagem nazista que compara palestinos a ratos

 

A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) publicou nesta quinta-feira (2) na rede social X, antigo Twitter, uma postagem em que os palestinos foram comparados a ratos. "Isso é inaceitável", reagiu o perfil Palestina Hoy (Palestina Hoje). A parlamentar recorreu à Bíblia para justificar a publicação. "Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão. Isaías 40:31".

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para o genocídio contra palestinos e destacou a necessidade de um cessar-fogo no Oriente Médio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 21 mil pessoas (israelenses e palestinos) ficaram feridas desde o dia 7 de outubro. 

Na Faixa de Gaza, que fica entre Israel, na Ásia, e o Egito, na África, mais de 10.584 edifícios foram destruídos desde o dia 7 de outubro. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 14 dos 36 hospitais de Gaza não estão funcionando, além de dois centros especializados de saúde que também estão inoperantes.

Integrantes do Hamas lançaram um ataque com foguetes contra Israel a partir da Faixa de Gaza, matando e sequestrando pessoas em comunidades israelenses vizinhas em 7 de outubro. Israel lançou ataques retaliatórios e ordenou um bloqueio completo da Faixa de Gaza, lar de mais de 2 milhões de pessoas, cortando o fornecimento de água, comida e combustível. O bloqueio foi posteriormente aliviado para permitir a entrada de caminhões com ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

 

Ø  Deputado expulso do PL por fazer o L com ministros de Lula junta-se ao MDB

 

Yury do Paredão, deputado do Ceará que foi desligado do PL em julho por fazer um gesto de apoio ao presidente Lula em uma foto com ministros de Estado, ingressou no MDB. 

"Com muita alegria comunico a minha filiação ao MDB, partido que tem história na defesa da democracia brasileira. Agradeço ao Gov. @helderbarbalho, Pres. @Baleia_Rossi, Líder e Amigo @bulhoesjr e ao @Eunicio pela calorosa recepção. Registro a minha gratidão e admiração ao ministro @CamiloSantanaCE e ao governador do Ceará, @elmanooficial. Sigo em frente com diálogo e trabalhando arduamente por ações que tragam alegria e bem-estar para os cearenses e brasileiros", escreveu Yury do Paredão na rede social X. 

A foto que causou a revolta de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, foi tirada durante um compromisso de Yury do Paredão com os ministros Paulo Pimenta (Comunicação Social) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) em julho. 

 

Fonte: Brasil 247

 

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