Quem é Pavel Durov, o bilionário russo
criador do Telegram preso na França
Pavel Valeryevich
Durov, conhecido como "Mark Zuckerberg russo" por seu perfil
tecnológico, riqueza e idade, é também um pioneiro na tecnologia.
Assim como o americano
criador do Facebook, Durov fundou duas redes sociais de grande importância: o
VKontakte, a maior rede social da Rússia, que lançou aos 22 anos, e o Telegram,
um dos serviços de mensagens instantâneas mais populares do mundo.
O sucesso de ambos os
projetos fez de Durov um dos ícones tecnológicos mais influentes globalmente, e
ele é um empresário reconhecido aos 39 anos.
Segundo a revista
americana Forbes, sua fortuna pessoal é de US$ 15,5 bilhões (cerca de R$ 85
bilhões).
No último fim de
semana, no entanto, Durov foi detido pouco depois de seu jato particular
aterrissar no aeroporto Le Bourget, em Paris. Ele é acusado de não tomar
medidas para impedir o uso criminoso do Telegram.
As autoridades
francesas emitiram um mandado de prisão contra Durov como parte de uma
investigação sobre acusações de fraude, tráfico de drogas, crime organizado,
lavagem de dinheiro, promoção de terrorismo e abuso sexual infantil.
A polícia alega que
Durov é cúmplice desses crimes porque se recusou a moderar o conteúdo da
plataforma. Ele pode enfrentar acusações criminais na França.
Em um comunicado
divulgado no domingo (25/8), o Telegram afirmou que "cumpre com as leis da
UE, incluindo a Lei de Serviços Digitais" e que a moderação de seus
conteúdos "segue os padrões da indústria e melhora continuamente".
A nota ressaltou que
Durov "não tem nada a esconder" e que "é absurdo afirmar que uma
plataforma ou seu proprietário são responsáveis pelos abusos que ocorrem
nela".
Janis Sarts, diretor
do Centro de Excelência em Comunicação Estratégica da Otan (Organização do
Tratado do Atlântico Norte), aliança militar ocidental, declarou à agência de
notícias Leta: "Embora seja difícil entender as razões exatas para a
prisão de Durov, é inegável que o Telegram tem sido utilizado para várias
atividades ilegais."
O advogado de Durov,
Dmitry Agranovsky, qualificou a detenção como "absolutamente
ridícula" e um ataque à liberdade de expressão.
• Estilo minimalista e 'pai de 100 filhos'
Durov nasceu em 1984
em Leningrado (hoje São Petersburgo) e vive em Dubai, onde também estão
localizadas as sedes do Telegram.
Além da cidadania
russa e dos Emirados Árabes Unidos, ele possui passaporte francês.
Na infância,
frequentou a St. Petersburg Academic Gymnasium, uma escola renomada por seu
foco em Matemática e Ciências.
Mais tarde, estudou
Matemática Aplicada e Ciências da Computação na Universidade Estatal de São
Petersburgo.
Foi nesse período que
surgiu sua primeira grande ideia: um fórum de estudantes chamado spbgu.ru, que
permitia discussões acadêmicas e compartilhamento de informações.
Pouco dado a
entrevistas, Durov afirmou em uma conversa no início deste ano que o Telegram
deve continuar sendo uma "plataforma neutra" e não se envolver na
"geopolítica".
Douglas C. Youvan,
ex-professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e autor do livro
The Russian Jesus: A Beacon of Digital Freedom in an Age of Surveillance
("O Jesus Russo: um farol de liberdade digital em uma era de
vigilância", em tradução livre), diz: "Durov ganhou uma reputação de
ascetismo [filosofia de vida na qual se realizam certas práticas visando ao
desenvolvimento espiritual] e disciplina que vai além de suas conquistas
profissionais".
E acrescenta:
"Ele (Pavel) é conhecido por seu estilo de vida minimalista, que evita o
consumo de álcool, cafeína e alimentos processados, e segue um rigoroso regime
pessoal focado na clareza mental e na saúde física".
Segundo a Forbes,
Durov, que tem cinco filhos com duas ex-namoradas, recentemente afirmou ter
doado esperma que lhe permitiu ser pai de 100 filhos.
• Mensagens criptografadas
O Telegram tem 900
milhões de usuários ativos mensais e é uma das principais plataformas de redes
sociais, após Facebook, YouTube, WhatsApp, Instagram, TikTok e WeChat.
O aplicativo foi
pioneiro no uso de criptografia para mensagens, uma característica que seus
rivais acabaram copiando.
Durov teve a ideia de
criar um aplicativo de mensagens criptografadas quando enfrentou a pressão das
autoridades russas para entregar dados pessoais dos usuários ucranianos da rede
social Vkontakte — a versão russa do Facebook — e a solicitação para fechar
grupos críticos ao governo russo.
A criptografia garante
que as mensagens só possam ser lidas no dispositivo que as envia e no que as
recebe.
A recusa em entregar
os dados solicitados pelas autoridades russas fez com que Durov deixasse seu
país em 2014 e perdesse o controle do VK.
A partir de então, ele
focou no desenvolvimento do Telegram, que fundou com seu irmão Nikolai em 2013.
Na plataforma, os
usuários podem se comunicar individualmente, formar grupos de até 200 mil
pessoas e criar "canais" de difusão que outros podem seguir e
comentar.
No Reino Unido, por
exemplo, o aplicativo foi criticado por abrigar canais de direita radical por
meio dos quais foram organizados os protestos violentos nas cidades inglesas no
início de agosto.
O Telegram removeu
alguns grupos, mas, de maneira geral, seu sistema de moderação de conteúdo
extremista e ilegal é considerado muito mais fraco do que o de outras empresas
de redes sociais e aplicativos de mensagens, segundo especialistas em
cibersegurança.
• Polêmica
A detenção de Durov
gerou várias reações.
Muitos o veem como um
firme defensor da liberdade de expressão e destacam seu compromisso com a
privacidade. Outros, no entanto, ressaltam seus estreitos laços com o Kremlin.
O especialista em
segurança da informação e vice-ministro de Política de Informação da Ucrânia,
Dmytro Zolotukhin, afirmou à BBC: "Ao contrário de muitas outras
celebridades que renunciaram à cidadania russa e foram depois perseguidas pelo
Kremlin, Durov conta com a proteção do governo russo".
Ele acrescentou:
"O Ministério das Relações Exteriores, a Duma [parlamento] e os deputados
estão defendendo Durov, assim como o Fundo Russo de Investimento Direto, que é
copropietário oficial do Telegram".
Vários funcionários
russos do alto escalão criticaram a prisão do empresário, afirmando que isso
demonstra uma "dupla moral" do Ocidente em relação à liberdade de
expressão e à democracia.
O ex-agente de
inteligência americano Edward Snowden, que vazou documentos secretos sobre
programas de vigilância global e vive exilado na Rússia desde 2013, também
defendeu Durov.
Em sua conta no X,
Snowden afirmou que a prisão de Durov "é um ataque aos direitos humanos
básicos de expressão e associação".
• Ao usar Pavel Durov como exemplo, líder
supremo do Irã pede 'regulamentação da Internet'
O líder supremo do
Irã, Ali Khamenei, citou a prisão do fundador do aplicativo de mensagens
Telegram na França como um exemplo de como outros países impuseram controles à
Internet.
Segundo Khamenei,
"é preciso haver leis para regular o ciberespaço. Todo mundo faz isso.
Olhe para os franceses, eles prenderam esse homem e o ameaçaram com 20 anos de
prisão por violar suas leis", disse Khamenei durante uma reunião com o
presidente Masoud Pezeshkian e seu gabinete, segundo a Reuters.
O Irã cobra
regularmente dos usuários da Internet com base nas postagens que eles
compartilham on-line.
"Alguns não
entendem ou não querem entender, mas eu já disse antes que o espaço virtual
precisa ser regulamentado para se transformar em uma oportunidade e não em uma
ameaça", acrescentou Khamenei.
Durante os debates
presidenciais, Pezeshkian criticou a filtragem da Internet, principalmente por
seu impacto na economia do país, já que muitas pequenas empresas dependem das
mídias sociais.
Teerã ficou em
terceiro lugar no mundo em número de vezes que desligou a Internet em 2023, de
acordo com o grupo de direitos digitais Access Now.
Isso incluiu o
desligamento de redes móveis, tanto nacionalmente quanto em áreas específicas,
além de bloquear o acesso ao Instagram e ao WhatsApp (plataformas pertencentes
à Meta cuja atividade é considerada extremista na Rússia), as únicas duas
grandes plataformas que ainda não estão sujeitas a proibições definitivas,
disse o Access Now, citado pela mídia.
Aeroporto de Paris-Le
Bourget em 24 de agosto. De acordo com a imprensa local, Durov, que também tem
cidadania francesa, estava na lista de procurados do país.
Ele pode ser
considerado envolvido em uma série de crimes, inclusive devido à recusa do
Telegram em cooperar com as autoridades do país.
O fundador do
aplicativo arrisca enfrentar acusações de terrorismo, tráfico de drogas,
fraude, lavagem de dinheiro, entre outras. De acordo com relatos da mídia, o
empresário pode pegar até 20 anos de prisão.
Fonte: BBC News
Mundo/Sputnik Brasil
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