quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Moisés Mendes: Vai sobrar para as Fátimas de Ribeirão Preto

Já há um candidato ao título de Fátima de Tubarão dos incendiários. Lucas Vieira de Lima foi preso em Bom Jardim, Goiás, e confessou que ateou fogo em áreas de terra da região por “questões políticas”.

Lucas já tem o álibi de que é doente mental e não soube dizer direito qual teria sido a motivação política. Fátima de Tubarão, com total controle da sua mente, falante e articulada, gravou vídeo no 8 de janeiro dizendo que iria derrubar Alexandre de Moraes.

Por que Lucas pode vir a ser uma Fátima de Tubarão? Porque figuras comuns e aparentemente avulsas, como ele e ela, podem formar, como aconteceu na invasão de Brasília, grupos mobilizados para provocar caos e desordem.

E, no fim, podem continuar parecendo avulsas, mesmo que a Justiça diga que não são. E bem no fim, quando o Judiciário se manifesta, só eles e elas, os manezinhos e as Fátimas, acabam sendo condenados.

Em Brasília, juntaram-se mais de 5 mil na invasão, e estavam todos ali, no mesmo espaço, destruindo e gravando vídeos no Planalto, no Supremo e no Congresso. Nas queimadas, eles estão escondidos e dispersos, criando focos de fogaréus mas nem tão perto uns dos outros.

É improvável, na invasão e nas queimadas, que patriotas do 8 de janeiro e incendiários dos canaviais tenham tido a mesma ideia, no mesmo momento, sem ninguém para juntá-los e planejar e financiar suas ações.

É impossível que o acaso tenha multiplicado por 10 os incêndios em São Paulo nessa época. Não é apressado quem concluir que incendiários e patriotas são aparentados. E que os incêndios são parte dos esforços para rearticulação do fascismo.

Assim como não são avulsos com cada um lutando por si os 48 presos no 8 de janeiro que disputam algum cargo político nas eleições municipais. Eles têm suporte de partidos e fazem parte de mais uma tentativa de vitimização e organização dos que se acham perseguidos por Alexandre de Moraes.

Entre os 48 candidatos, 14 usam o ‘sobrenome’ Patriota, com P maiúsculo, para reafirmar a condição com que se identificaram em bloqueios de estradas, em acampamentos e na depredação de Brasília.

Um dos que foram presos e usam o apelido de patriota é candidato a prefeito de Itajaí, a cidade catarinense com o maior núcleo de acampados golpistas do país, no entorno de quartéis, depois da eleição. O Rio Grande do Sul tem três candidatas às Câmaras Municipais que usam o sobrenome Patriota.

A afronta dos patriotas ao sistema de Justiça se junta a afrontadores que voltam a atacar o STF, como Silas Malafaia, Monark, Marcos Do Val, Glenn Greenwald e Eduardo Girão. E como outros afrontadores que não são vistos por quem só olha para as capitais, mas reproduzem em pequenas cidades a mesma agressividade dos que falam, durante a campanha eleitoral, em nome do bolsonarismo.

A extrema direita pôs as unhas de fora de novo porque seus líderes continuam impunes e à vontade e se dedicam aos preparativos para a aglomeração de 7 de setembro organizada por Malafaia.

Os incendiários são os patriotas do agro que se juntam aos patriotas das cidades para anunciar de novo que não temem polícia, Ministério Público e Judiciário.

Podemos nos preparar para uma situação em que teremos versões de Fátimas de Ribeirão Preto, com prisões e até condenações, mas sem o julgamento dos seus líderes e financiadores. Sempre sobra para as Fátimas e os manés.

 

•        Queimadas em São Paulo: 81% dos focos de calor foram em áreas de plantação e pastagem. Por Bruno Fonseca e Giovana Girardi

O estado de São Paulo queimou. Tal como vinha acontecendo na Amazônia e Centro-Oeste, o território paulista foi varrido por queimadas na penúltima semana de agosto. A quantidade de focos foi tão grande que estabeleceu um novo recorde: agosto de 2024 se tornou o maior registro histórico de focos ativos de calor no estado desde o início das medições do satélite de referência, em 1998, há quase três décadas.

Análise inédita do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), obtida pela Agência Pública com exclusividade, mostra que a maioria absoluta desses focos aconteceu em áreas de plantação e pastagem. Um foco de calor é detectado pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) quando a temperatura no local passa dos 47 °C. A metodologia, segundo o órgão, elimina a maior parte de falsos registros, isto é, os que não têm relação com incêndios.

O levantamento, divulgado hoje, contabilizou os focos de calor entre os dias 22 e 24 de agosto, que foram as datas que tiveram mais registros. Foram 2,6 mil focos apenas nesses três dias. Segundo o estudo, 81,29% deles estavam em áreas de uso agropecuário como as ocupadas pela cana-de-açúcar e pela pastagem.

A pesquisa buscou identificar também a suspeita de que os focos teriam surgido todos ao mesmo tempo e conseguiu observar que, no dia 23, com imagens do satélite geoestacionário, o aparecimento das colunas de fumaça ocorreu no intervalo de 90 minutos, entre 10h30 e 12h. Já pelas imagens do satélite que capta focos de calor e passa sobre a região na parte da manhã e no final da tarde, é possível ver que, entre suas duas passagens, o número de focos foi de 25 para 1.886 no estado.

“O que conseguimos identificar é que as queimadas ocorreram de forma concomitante no dia 23, que foi o recorde de focos e bateu os focos da Amazônia inteira no mesmo dia. É difícil afirmar que houve um combinado, mas no mínimo é estranho. Uma anomalia muito grande, quando todos os olhos deveriam estar pra Amazônia”, avalia Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam.

•        A tempestade perfeita: pico de calor pode ter impulsionado incêndios causados pelo homem

A Pública levantou os dados de quantos desses focos de calor ocorreram dentro de fazendas registradas no estado. O resultado: mais da metade dos focos nos três dias aconteceu em fazendas privadas registradas no Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) federal.

No dia 23 de agosto, sexta-feira, quando houve o recorde de focos de calor, os satélites registraram 1.886 focos de calor. Mais da metade deles, 961, estava dentro dessas fazendas.

Para se ter uma ideia, no mesmo dia, foram apenas 11 focos de calor em terras públicas, como assentamentos.

A reportagem conversou com o chefe da Divisão de Programa Especial Queimadas do Inpe, Fabiano Morelli, que explicou que o histórico do combate ao fogo no Brasil aponta que a maioria absoluta dos casos de incêndios costuma ter origem humana, sejam elas acidentais ou intencionais. “Não houve registro de raios no período, o que afasta a possibilidade que uma tempestade tenha causado os incêndios”, disse.

Os dados consultados pela Pública mostram um crescimento de focos de calor registrados pelos satélites a partir das 13h da sexta-feira, dia 23. O número de focos cresce até eclodir por volta das 16h e 17h. A reportagem teve acesso a um vídeo produzido pelo Ipam que mostra focos de incêndio surgindo em diversos pontos do estado, simultaneamente, por volta desse horário.

Imagens de satélite mostram o aparecimento de focos de calor e cortinas de fumaça

Morelli explica que as condições meteorológicas da penúltima semana de agosto literalmente “inflamaram” para que os incêndios chegassem às proporções em que ocorreram. Ele detalha que, após um período mais frio, que aconteceu entre os dias 17 e 20, as temperaturas voltaram a subir para acima da média no período nos dias seguintes.

“Nos dias 22 e 23, chegamos a valores de temperatura máximas acima dos 35 °C. O aumento foi muito acima do que estava acontecendo. O calor sozinho não é fator para a ignição, mas, sim, para a propagação. Temperaturas muito altas, acima da média, potencializam ainda mais a propagação do fogo”, detalha Morelli.

Essa “tempestade perfeita” de temperaturas muito elevadas, ocorrendo justamente durante um período de seca, pode explicar em partes por que os incêndios conseguiram avançar por todo o estado de forma tão rápida. As alterações climáticas contribuem para a frequência de casos extremos de variação de temperatura.

“Há um cenário climático importante. Houve uma grande oscilação de extremos climáticos nos dias anteriores: onda de calor, depois frente fria, e voltou onda de calor e agora outra frente fria. Essa oscilação tão grande nesse período não é esperada. Isso tem impacto sobre a vegetação – seja ela plantada, cultura ou nativa. Num pico de frio, possíveis geadas deixam a vegetação seca. Logo em seguida, com a onda de calor, a temperatura sobe muito, mas o ar continua seco, ainda sem chuva. Tudo isso deixa a vegetação mais inflamável, perfeita para queimar. Quando se tem a faísca, é a tempestade perfeita “, comenta Alencar.

Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, o agronegócio foi justamente um dos mais afetados pelos incêndios. A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral do governo divulgou que as queimadas devem ter gerado um prejuízo de R$ 1 bilhão, afetando 3.837 propriedades em 144 municípios, segundo dados ainda preliminares. Ao todo, 48 cidades do estado estiveram com alerta máximo para incêndios na segunda-feira, dia 26. Já foram registradas duas mortes e 800 pessoas tiveram de deixar suas casas.

Já são quatro as pessoas presas suspeitas de terem provocado incêndios criminosos no estado.

“Se teve algum tipo orquestração pra queimar no mesmo período nos principais canaviais de São Paulo, não sei, mas, se teve, escolheram o momento muito propício. A paisagem tá muito inflamável”, completa Alencar.

 

•        Resposta às Fake News: MST não é responsável pelas queimadas em São Paulo

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem a público repudiar as falsas acusações que nos responsabilizam pelas recentes queimadas no interior de São Paulo, especificamente na região de Ribeirão Preto. Essas alegações sem fundamento têm como único objetivo desviar a atenção das verdadeiras causas dos incêndios e nos criminalizar por lutarmos por uma Reforma Agrária justa e sustentável.

As queimadas que ocorreram em áreas de produção canavieira são, na verdade, sintomas de um modelo de agronegócio insustentável que domina o campo brasileiro. Este modelo se sustenta pela concentração fundiária, o uso indiscriminado de agrotóxicos, a degradação das condições de trabalho e exploração dos recursos naturais.

Além disso, o agronegócio se beneficia diretamente de recursos públicos, muitas vezes em detrimento de políticas que poderiam fortalecer a agricultura familiar, a produção de alimentos saudáveis, sustentáveis, essenciais para a Soberania e Segurança Alimentar.

As queimadas e outros crimes ambientais cometidos pelo agronegócio são sentidos primeiramente, e de forma mais intensa, pela classe trabalhadora e pelas comunidades rurais.

As queimadas ocorridas na região de Ribeirão Preto são mais uma evidência do fracasso do modelo capitalista de produção que predomina no campo.

O MST reafirma seu compromisso com um projeto popular de uso e ocupação da terra, que propõe uma Reforma Agrária Popular voltada para a agroecologia. Este modelo busca destinar latifúndios improdutivos e áreas que cometem crimes ambientais para trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, promovendo uma relação sustentável com a natureza.

O MST espera que o Ministério Público, políticos locais das áreas atingidas e agentes da sociedade civil investiguem e cobrem do Estado investigação para que os envolvidos diretos neste crime sejam punidos na forma da lei.

Da mesma forma, o MST espera que as Áreas de Proteção Permanente (APPs) queimadas pelo incêndio criminoso sejam restauradas pelos responsáveis por sua conservação, não se tornando mais um triste exemplo de expansão agrícola do agronegócio sobre a natureza.

O MST segue firme em sua luta por um campo mais justo e sustentável e repudia qualquer tentativa de criminalização baseada em mentiras e desinformação.

ASS.:

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

26 de agosto de 2024

 

Fonte: Brasil 247/Agência Pública/Página do MST

 

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