Corrupção: Carlos Bolsonaro deve ser
denunciado pelo MP por esquema de "rachadinhas"
O Ministério Público
do Rio de Janeiro pode denunciar a qualquer momento o vereador Carlos Bolsonaro
(PL-RJ), filho "02" de Jair Bolsonaro (PL), por comandar um esquema
de corrupção sobre as chamadas "rachadinhas" em seu gabinete na Câmara
Municipal do Rio de Janeiro.
Segundo a coluna de
Guilherme Amado, no portal Metrópoles nesta terça-feira (28), todas as partes -
incluindo Carlos e os 26 assessores investigados - já se manifestaram no
processo, que corre em segredo de Justiça.
Em fevereiro deste
ano, os promotores finalizaram o relatório da perícia da quebra de sigilo do
vereador e dos assessores e abriu espaço para manifestação dos envolvidos.
Laudo do Laboratório
de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do MP-RJ comprovou
a movimentação atípica a partir da análise das contas de Jorge Luiz Fernandes,
que desde 2018 atua como chefe de Gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara do
Rio.
Fernandes é
primeiro-sargento da Marinha, está reformado desde setembro de 2005, e recebe
um salário de R$ 25.332,57 da Câmara do Rio de Janeiro.
Segundo o MP-RJ,
Fernandes recebeu um total de R$ 2,014 milhões em créditos provenientes das
contas de outros seis servidores nomeados pelo filho de Jair Bolsonaro.
O documento constatou
que, entre 2009 e 2018, Fernandes recebeu créditos dos seguintes funcionários:
Juciara da Conceição Raimundo (R$ 647 mil, em 219 lançamentos), Andrea Cristina
da Cruz Martins (R$ 101 mil, em 11 lançamentos), Regina Célia Sobral Fernandes
(R$ 814 mil, 304 lançamentos), Alexander Florindo Batista Júnior (R$ 212 mil,
em 53 lançamentos), Thiago Medeiros da Silva (R$ 52 mil, em 18 lançamentos) e
Norma Rosa Fernandes Freitas (R$ 185 mil, em 83 lançamentos).
O chefe de gabinete de
Carlos também fez 858 saques com valores superiores a R$ 500, de acordo com
laudo do MP-RJ.
Além disso, os
investigadores comprovaram que Fernandes usou dinheiro de suas contas para
pagar despesas pessoais de Carlos.
Segundo o MP-RJ, a
movimentação financeira é a prova mais consistente na investigação sobre o
esquema de corrupção.
• Cargos comissionados
Além de Fernandes, ao
menos quatro investigados pelo MP-RJ no caso seguem trabalhando como assessores
de Carlos Bolsonaro.
Um deles é Alexander
Florindo Baptista, que, segundo o MP do Rio, repassou um montante de R$ 212 mil
para Fernandes entre 2015 e 2018. O salário dele é de R$ 17.391,99 na Câmara
Municipal do Rio.
Thiago Medeiros da
Silva, com remuneração de R$ 18.000 da Câmara, exerce desde 2014 o cargo de
consultor no gabinete de Carlos. Ele é investigado pelo MP do Rio por ter
repassado R$ 52.800, em 52 lançamentos, para o chefe de gabinete do vereador
entre 2015 e 2018.
Edir Barbosa Góes, com
salário de R$ 12 mil, foi o único que sobrou de sua família no gabinete de
Carlos Bolsonaro. Ele é investigado pelo MP por colocar a família para
trabalhar no gabinete como supostos funcionários fantasmas. O assessor, a
mulher, os filhos e a irmã sacaram um total de R$ 4.743.072 entre 2005 e 2019.
• Ponta do iceberg
A investigação sobre
as rachadinhas no gabinete de Carlos Bolsonaro é a ponta do iceberg do esquema
de corrupção do clã, que fez Bolsonaro enriquecer em mais de três décadas
atuando como político.
Embora o MP-RJ tenha
focado a investigação atual a partir de 2009, o esquema das rachadinhas no
gabinete de Carlos teria começado no primeiro mandato do vereador, em 2001.
Em 2000, Carlos foi
emancipado pelo pai para que vencesse a mãe na disputa a uma vaga na Câmara do
Rio.
À época, Bolsonaro
havia se separado de Rogéria Nantes - mãe de Carlos, Flávio e Eduardo - para
ficar com Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan, que foi alçada a chefe de
gabinete do filho "02", então com 17 anos.
"Quando o Carlos
foi eleito, era uma criança. Vivia no gabinete dele jogando videogame, à época.
Com 17, 18 anos, tanto que foi ela que assumiu a chefia do gabinete do Carlos.
Foi onde ela [Ana Cristina] começou com isso [rachadinhas]", contou Marcelo
Luiz Nogueira dos Santos, ex-funcionário do clã em entrevista em setembro de
2021.
Ana Cristina teria
sido a primeira operadora do esquema de rachadinha, que anos depois foi montado
também no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio
de Janeiro (Alerj).
Na Alerj, Ana Cristina
replicou o modelo de corrupção criado no gabinete de Carlos, que foi comandado
anos depois pelo ex-PM Fabrício de Queiroz.
• TSE se prepara para julgar mais duas
ações contra Bolsonaro
Jair Bolsonaro,
declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode sofrer ainda
este ano mais duas condenações. Isso porque há duas ações contra o
ex-presidente que serão pautadas por Cármen Lúcia a partir do dia 3 de junho,
quando a ministra assume a presidência da Corte, sucedendo o ministro Alexandre
de Moraes.
Moraes encerra seu
período como presidente do TSE no final desta semana e, como as ações não foram
incluídas na pauta, caberá a Cármen Lúcia fazê-lo.
Tratam-se de duas
Ações de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) protocoladas pelo PT e PDT no
âmbito das eleições de 2022 que acusam Bolsonaro e seu candidato a
vice-presidente à época, o general Walter Braga Netto, de abuso de poder
político e econômico, uso indevido dos meios de comunicação e desvio de função.
O motivo é o fato de
Bolsonaro, naquele ano, ter utilizado o o funeral da Rainha Elizabeth II, na
Embaixada Brasileira em Londres, e a 77ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York,
como palanques políticos, fazendo discursos de conotação eleitoral.
Ambas as ações já
tiveram seus relatórios concluídos pelo relator, ministro Raul Araújo, e estão
liberadas para julgamento. A expectativa é que Cármen Lúcia defina as datas das
análises já na próxima semana.
• Bolsonaro vai ao STF contra
inelegibilidade
A defesa de Jair
Bolsonaro não desistiu e já prepara um recurso a ser apresentado ao Supremo
Tribunal Federal (STF) na tentativa de reverter a inelegibilidade do
ex-presidente, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho de
2023 e, depois, em outubro do mesmo ano.
A decisão em recorrer
ao STF vem após o ministro Alexandre de Moraes negar, no âmbito do TSE, o
último recurso que os advogados de Bolsonaro poderiam apresentar contra a
decisão. O despacho do ministro negando a reversão da inelegibilidade é de
sexta-feira (24) e foi tornado público no domingo (26).
Bolsonaro e seu
candidato a vice nas eleições de 2022, Walter Souza Braga Netto, foram
declarados inelegíveis por 8 anos após julgamento de uma ação que os acusava de
abuso de poder político e econômico nas celebrações do Bicentenário da
Independência, em 7 de setembro do mesmo ano.
Os advogados do
ex-presidente apresentarão novo recurso ao STF no prazo de três dias após a
publicação da decisão do TSE. As chances do Supremo reverter e inelegibilidade,
entretanto, são praticamente nulas, visto que a a Corte não costuma a reformar
sentenças da Justiça Eleitoral.
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Entenda
Foi publicada neste
domingo (26) uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que impõe nova derrota ao ex-presidente Jair
Bolsonaro e ao general Walter Braga Netto, seu ex-candidato à vice-presidência
em 2022. O magistrado negou um recurso da defesa dos bolsonaristas contra a
condenação da chapa à inelegibilidade por abuso de poder político e econômico.
A decisão é de sexta-feira (24).
O trâmite diz respeito
a ação protocolada pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) que acusa
Bolsonaro de se beneficiar politicamente das comemorações do Bicentenário da
Independência do Brasil em 7 de setembro de 2022, praticamente às vésperas das
apertadas eleições daquele ano. Na ocasião, o então presidente praticamente
transformou o evento num comício, com forte apoio do agronegócio e atividades
em Brasília e no Rio de Janeiro.
O recurso
extraordinário dos advogados da chapa pedia que o caso fosse encaminhado ao
Supremo Tribunal Federal, a fim de tentar uma reavaliação da sentença. No
entanto, em análise do TSE, foi rejeitado por questões processuais.
“A controvérsia foi
decidida com base nas peculiaridades do caso concreto, de modo que alterar a
conclusão do acórdão recorrido pressupõe revolvimento do conjunto
fático-probatório dos autos, providência que se revela incompatível com o
Recurso Extraordinário”, escreveu Moraes.
Apesar da decisão, a
defesa de Bolsonaro ainda pode recorrer ao STF. Mesmo que o faça, as chances de
obter uma reavaliação das sentenças são baixas, sobretudo levando em conta que
Bolsonaro usou o 7 de setembro reiteradas vezes durante seu mandato para atacar
a Corte.
O caso foi julgado no
TSE em outubro do ano passado e, por um placar de 5 a 2, a chapa de Bolsonaro e
Braga Netto acumulou uma segunda condenação à inelegibilidade. Além disso,
também foram condenados ao pagamento de multas: R$ 425,6 mil para Bolsonaro e
R$ 212,8 mil para Braga Netto.
A primeira condenação
que deixou o ex-presidente inelegível ocorreu em junho de 2023, também por
abuso de poder político. Na ocasião, uma ação do PDT apontou a famigerada
reunião com embaixadores em Brasília e sua transmissão ao vivo pela TV Brasil
como as causas desse abuso de poder político. No evento, Bolsonaro voltou a
difundir narrativas conspiratórias sobre as eleições e a já iminente vitória
eleitoral de Lula (PT). Ele foi condenado à inelegibilidade e perda de direitos
políticos até 2030.
A segunda condenação
não se soma à primeira. Ou seja, mesmo condenado pela segunda vez, a pena de
Bolsonaro segue a mesma.
Fonte: Fórum
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