terça-feira, 1 de agosto de 2023

'Os fantasmas de Bakhmut': quem são os atiradores ucranianos de elite que tentam libertar cidade de russos

As forças da Ucrânia estão tentando retomar a cidade de Bakhmut, no leste do país. A BBC teve acesso exclusivo a uma equipe de atiradores de elite, conhecidos como "os fantasmas de Bakhmut", que estão conduzindo ataques noturnos na região.

Ghost (ou "Fantasma"), o comandante da equipe de atiradores, nos leva ao lugar que ele chama de "limite da existência" — sua base nos arredores da cidade.

"Ghost é o meu nome de guerra", ele me diz. "Quando começamos a trazer terror para Bakhmut, fomos chamados de 'os fantasmas de Bakhmut'."

A base do grupo fica ao alcance da artilharia russa. Ghost nem pestaneja com o estrondo de um projétil que cai nas proximidades.

"A artilharia sempre deixa as pessoas preocupadas", diz ele. "Você pode se esconder da artilharia, mas não de um franco-atirador".

A equipe de cerca de 20 soldados tem operado nos limites de Bakhmut nos últimos seis meses. Eles costumam mirar em alvos de alto valor.

Pergunto a Ghost quantos russos sua equipe já matou. Ele diz: "há um número confirmado — 524. Setenta e seis deles são meus". A equipe registra eletronicamente cada tiro através da mira de seu rifle.

Mas nem todo mundo está contando. Kuzia, o atirador desta noite, diz que isso "não é nada para se orgulhar. Não estamos matando pessoas, estamos destruindo o inimigo".

Antes da guerra, ele trabalhava em uma fábrica. Ele diz que nunca gostou de armas, mas se sentiu compelido a lutar quando a Rússia invadiu a Ucrânia.

Kuzia faz uma última verificação de seu rifle de precisão Barrett fabricado nos Estados Unidos: "Toda missão é perigosa. Quando cometemos um erro, o inimigo pode atingir você", diz ele. "Claro que estou com medo — só um idiota não estaria."

Na missão desta noite, ele será acompanhado por Taras, seu auxiliar para observação. Kusch é o piloto — que os levará o mais próximo possível da linha de frente. A partir daí, a equipe de dois homens terá que caminhar mais de um quilômetro para atingir o alvo. Ghost permanecerá na base, junto com o novato, conhecido simplesmente como "o Britânico".

O membro mais jovem da equipe recebeu o nome após receber seu treinamento inicial no Reino Unido. Ele ainda não teve sua primeira morte confirmada.

Ghost diz que escolheu a dedo cada membro da equipe, com base em sua "humanidade e patriotismo", e não em sua experiência e habilidades militares.

À medida que o crepúsculo se aproxima, a equipe sobe em seu carro Humvee blindado. Eu e o cinegrafista Moose Campbell iremos acompanhá-los até o ponto de desembarque.

Kusch, o motorista, nos conta que parte da rota segue sendo alvo da artilharia russa.

Quando ele liga o motor, toda a equipe faz o sinal da cruz. Kusch começa a tocar uma música em seu telefone. Ele diz que o rap ucraniano os anima. Mas também vai abafar o som do bombardeio.

A princípio é difícil ouvir as explosões próximas por causa do barulho do Humvee, que Kusch dirige em alta velocidade sobre caminhos esburacados. Mas ele aponta várias vezes para o céu e avisa, "fogo chegando". Há alguns estrondos nos arredores.

Passamos por meia dúzia de veículos blindados ucranianos destruídos que não tiveram sorte. Kusch aponta para campos minados em ambos os lados da pista de terra.

Vinte minutos depois, paramos abruptamente perto de uma casa em ruínas. A equipe de atiradores de dois homens abre as portas e desaparece rumo a árvores nos arredores. Kusch grita: "Deus esteja com você" antes de sair rapidamente.

Quando voltamos, há um clarão laranja e uma explosão mais alta. O Humvee começa a chacoalhar ainda mais. Kusch abre a porta, enquanto dirige, para olhar para trás e solta vários palavrões.

Um estilhaço rasgou um dos pneus traseiros. O carro se arrasta de volta à base. Quando finalmente voltamos, ele nos mostra o grande pedaço de metal pontiagudo que rasgou o pneu.

Agora está escuro e o bombardeio diminuiu. Dentro de sua base, eles ficam apreensivos junto aos seus rádios, na espera de notícias da equipe de atiradores. Kusch e o Britânico andam de um lado para o outro.

Ghost faz uma ligação para sua filha de sete anos. Ela está no viva-voz quando grita animadamente: "Eu te amo, papai". É uma breve explosão de normalidade — mas ele já a ensinou como desmontar uma arma.

Sete horas depois, com pouco sono, é hora de buscar o atirador e seu auxiliar. Nós nos abrigamos no prédio enquanto há uma rajada de fogo inimigo. Em seguida, voltamos para o Humvee.

Desta vez está escuro, mas Kusch tenta dirigir usando apenas sua memória — evitando acender os faróis para chamar atenção. Outra parada abrupta e a equipe de atiradores de dois homens volta para dentro do Humvee.

O alívio é palpável quando voltamos à base deles.

Kuzia diz: "Um tiro, um alvo."

Mais tarde, eles nos mostram o vídeo do telescópio noturno. Eles dizem que era um metralhador russo que estava atirando nas tropas ucranianas perto da linha de frente.

Agora eles vão descansar até a missão da próxima noite. Kuzia diz: "Estou feliz por estar de volta e feliz por todos estarem vivos".

Nos últimos seis meses, vários membros da equipe ficaram feridos, incluindo o comandante Ghost. Mas nenhum deles foi morto.

Ghost diz que "cada viagem pode ser a última, mas estamos fazendo uma ação nobre".

Uma pequena equipe de atiradores não vencerá esta guerra, nem mesmo retomará Bakhmut. Mas eles acreditam que estão tendo um impacto na guerra.

Kusch diz que isso tem um efeito psicológico no inimigo — caçar um soldado russo por vez de um lugar que não pode ser visto e com um som que não pode ser ouvido.

 

Ø  Ex-assessor do Pentágono: Zelensky 'está zangado, furioso' após mísseis Himars falharem

 

O líder ucraniano enfrenta "desespero" em meio à eficácia da defesa antiaérea russa contra as armas de Kiev, na opinião do coronel americano Douglas McGregor.

O presidente ucraniano Vladimir Zelensky se encontra em uma situação desesperadora devido à interceptação e a destruição dos mísseis de lançadores múltiplos de foguetes Himars pelos sistemas de defesa antiaérea russos, disse o coronel Douglas McGregor, ex-assessor do chefe do Pentágono, em uma entrevista emitida na sexta-feira (28) no YouTube.

"O sistema de defesa antiaérea russo é magnífico, não consigo pensar em uma maneira melhor de descrevê-lo. [...] Ele consegue fazer com que os mísseis de lançadores múltiplos de foguetes sejam lançados em um único local. Ele consegue abater projéteis Himars e todos os tipos de mísseis. Acho que é essa sensação de desespero que estamos vendo em Zelensky. Ele está furioso, irritado e confuso", ressaltou ele ao canal London Real.

Segundo o especialista, o Exército da Rússia tornou o principal míssil ucraniano "inutilizável" com a ajuda de seus sistemas de defesa antiaérea. A falta de defesa por parte da OTAN e as perdas monstruosas em seu Exército também pioram sua situação, acrescentou McGregor.

"Ele está zangado, furioso, as perdas dentro do país são horríveis, e somente o dinheiro americano realmente sustenta esse governo ucraniano, ele o está sustentando. Seria mais humano acabar com isso", resumiu o especialista.

Em 22 de julho o Ministério da Defesa da Rússia informou que 15 sistemas Himars, três mísseis HARM e um míssil Storm Shadow foram interceptados com a ajuda de meios de defesa antiaérea.

 

Ø  Reino Unido treina 2.000 comandos da Ucrânia para invadir a Crimeia, diz mídia britânica

 

O aliado de Kiev está preparando as forças ucranianas para tomar a península antes do fim do ano, escreve o jornal britânico Daily Express.

Os militares britânicos reuniram uma equipe de mais de 2.000 soldados ucranianos em um local de treinamento no sudoeste do Reino Unido para os treinar para uma possível invasão da Crimeia, informou no sábado (29) o jornal britânico Daily Express.

Os comandos, que deverão ser apoiados por ataques aéreos, terrestres e marítimos, uma vez posicionados, estão sendo treinados no Campo de Batalha de Okehampton, em Dartmoor, Inglaterra, para tentar tomar a península "antes do Natal", de acordo com uma fonte militar britânica.

O treinamento estaria sendo conduzido pelo Comando 42 da 3ª Brigada de Comandos de elite dos Fuzileiros Navais Reais, formada durante a Segunda Guerra Mundial e amplamente utilizada em conflitos posteriores, incluindo a Crise de Suez de 1956, a Guerra das Malvinas de 1982, a Guerra do Golfo de 1991, a Guerra no Afeganistão de 2001 e a invasão do Iraque em 2003.

"Podemos treiná-los em nossas táticas e mostrar como usar o equipamento, mas o sucesso virá da própria capacidade dos ucranianos de se adaptarem rapidamente e superarem os desafios", acrescentou a fonte com cautela.

"A operação para retomar [a Crimeia] será uma operação que empregará múltiplos ataques às forças russas", disse ela.

Espera-se que a força de comandos seja usada como a "ponta da lança" durante uma possível invasão, sendo apoiada por dois grupos de batalha adicionais.

As autoridades russas alertaram repetidamente Kiev e seus apoiadores na OTAN sobre as possíveis consequências de um ataque à Crimeia. Zaur Smirnov, representante da Missão Interétnica da Crimeia, contou à Sputnik que uma tentativa de tomar a península "se transformaria em um desastre para toda a Europa e, mais ainda, para a Ucrânia. A Rússia tem os meios e a força necessários para proteger sua soberania, mesmo que seja necessário tomar medidas extremas", disse ele.

 

Ø  Divisor de águas, por que o novo míssil russo é um perigo para a contraofensiva de Kiev?

 

A Rússia desenvolveu um helicóptero munido de um míssil com capacidades de disparo de posições longe do alcance de armas de defesa antiaérea. A Sputnik relatou os detalhes da nova arma.

A inteligência militar britânica caracterizou as operações do helicóptero de ataque Ka-52 em Zaporozhie como "um dos sistemas de armas russos mais influentes no setor" em relação às tentativas contínuas da Ucrânia de montar uma contraofensiva eficaz.

"Nos últimos meses, é muito provável que a Rússia tenha aumentado a força no sul com pelo menos um pequeno número de variantes novinhas em folha do Ka-52M: uma aeronave fortemente modificada, informada pelas lições da experiência russa na Síria", disse a Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa britânico em um briefing de quinta-feira (27).

"Outra melhoria importante na frota do Ka-52 é a integração de um novo míssil antitanque, o LMUR, que tem um alcance de aproximadamente 15 km. As tripulações do Ka-52 têm sido rápidas em explorar oportunidades para lançar essas armas além do alcance das defesas antiaéreas ucranianas", acrescentou a declaração.

·         O que é o LMUR?

O LMUR, acrônimo russo para Foguete Guiado Leve Multiuso, também conhecido como Izdelie 305, ou Produto 305, é um míssil lançado do ar, que pode ser usado de dia e noite, e em todos os climas, podendo ser transportado por uma série de helicópteros russos, incluindo o Kamov Ka-52, o caça-tanques Mil Mi-28 e uma variante Spetsnaz do transportador Mil Mi-8, conhecido como Mi-8AMTSh-VN.

O míssil de 105 kg é equipado com uma ogiva de fragmentação de alto explosivo de 25 kg e inclui um sistema de orientação por imagem térmica/satélite inercial, incluindo um canal de comunicação bidirecional para controle em tempo real e orientação manual. O míssil pode ser disparado para fora da linha de visão, em direção a coordenadas especificadas, sendo o termovisor usado para localizar e travar alvos no estágio final do voo.

O LMUR apresenta uma configuração de asa em X dupla, incluindo quatro aletas estabilizadoras maiores na parte traseira e quatro menores na parte dianteira. Duas das aletas traseiras são equipadas com um comunicador de dados. O cabeçote em forma de cúpula possui câmeras e equipamentos de sensores.

Os LMUR voam baixo, entre 100 e 600 metros acima do solo. Os mísseis voam a velocidades de até 230 m/s, ou 828 km/h, o que, quando combinado com seu voo em baixa altitude, dificulta sua detecção e destruição antes do impacto.

Os armamentos são fabricados pela KB Mashinostroenia, uma empresa estatal de defesa, ciência e design sediada na região de Moscou, mais conhecida pela produção do sistema de mísseis de curto alcance Iskander, além de uma variedade de sistemas de defesa antiaérea e antitanque soviéticos e russos, incluindo o Shturm, Ataka, Malyutka, Verba, Igla e Strela.

O LMUR apareceu pela primeira vez em fóruns militares na Rússia e no golfo Pérsico em 2021 e entrou ao serviço das Forças Armadas russas no terceiro trimestre de 2022. Houve uma produção de teste realizada em 2016-2017, e sabe-se que o sistema foi submetido a testes de combate na Síria contra alvos terroristas.

·         Existe um análogo no Ocidente?

Os EUA não têm um míssil com características comparáveis às do LMUR em serviço, embora existam vários análogos estrangeiros, incluindo o míssil guiado Spike "dispare e esqueça" de Israel, o Akeron MP da França e o míssil ar-superfície Nag da Índia. A orientação desses sistemas é menos sofisticada do que a do LMUR (geralmente limitada à capacidade de disparar e esquecer, sem correção manual de curso), e carregam ogivas menores.

·         Quais são as perspectivas do LMUR?

Um potencial divisor de águas, o LMUR é muito mais barato de produzir e colocar em combate do que os mísseis balísticos e de cruzeiro convencionais. Com uma capacidade de ser lançado de distâncias de até 15 km, o míssil tem o dobro do alcance de disparo da maioria das armas de defesa antiaérea fornecidas pela OTAN à Ucrânia, incluindo os Stinger (8 km) e os Gepard (5,5 km de seus canhões principais), o que o torna uma arma de afastamento eficaz.

Tal significa que o helicóptero que transporta o míssil pode disparar e retornar à base sem nunca ser ameaçado pelas defesas aéreas do adversário.

·         O que a inteligência britânica errou sobre o LMUR?

Dmitry Drozdenko, editor-chefe da Arsenal Otechestva (Arsenal da Pátria, em russo), uma revista russa on-line sobre temas militares, disse à Sputnik que o serviço de Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa do Reino Unido errou em considerar que a grande ogiva de fragmentação de alto explosivo do míssil significa que ele é mais bem utilizado contra efetivos, armaduras leves e cercas, e não tanto contra tanques.

"Ele é muito bom para derrotar um inimigo que esteja em algum tipo de abrigo ou prédio, porque enquanto as ogivas cumulativas como as do Vikhr ou Ataka são projetadas para romper a blindagem inimiga", neste caso do LMUR, "uma ogiva de fragmentação altamente explosiva voa e tem características de dano completamente diferentes. Porque o Vikhr e o Ataka farão um buraco e não terão muito efeito em uma sala grande. Já a ogiva de alto explosivo de 25 kg do LMUR destruirá tudo em seu interior", explicou Drozdenko.

Ele mencionou que o LMUR é o primeiro míssil russo capaz de disparar de acordo com o princípio "dispare e esqueça", diferente, por exemplo, do Vikhr e do Ataka, com os quais o alvo precisa ser iluminado constantemente por um feixe de laser, o que limita a capacidade de manobra do helicóptero.

"Se ocorrer um ataque contra ele [o Ka-52] nesse ponto, ele não poderá manobrar totalmente e deverá abandonar a orientação do míssil e deixar a área."

 

Fonte: BBC News em Bakhmut, no leste Ucrânia/Sputnik Brasil

 

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