Pedro Maciel: Bolsonaro e o bolsonarismo, inimigos mortais da
democracia
A
“Universidade do WhatsApp” é a única fonte de informações confiável para os
devotos do Inominável.
Como eu já
escrevi mantenho no meu WhatsApp algumas pessoas capturadas pela mediocridade
do ideário OlavoBolsonarismo; elas me servem como uma “fonte” de informação,
pois as mensagens dão a dimensão das mentiras que circulam nas redes sociais,
do mau-caratismo de quem as produz e da estupidez de quem as faz circular.
Uma das “verdades
absolutas” que os acadêmicos de WhatsApp divulgam é que o STF usurpa o poder
dos outros poderes e que há uma verdadeira “ditadura do judiciário”.
Será?
Penso que
não existe tal ditadura.
Há de fato
excessiva “judicialização da política”, que ocorre desde há muito tempo, e, há
episódios de “politização do Poder Judiciário”, como é o caso do método da
finada Lava-Jato, que transformou órgãos do Poder Judiciário em agentes
político-partidários, com atuação fortemente ideológica.
O que temos testemunhado
é a “teoria da democracia defensiva”, de Karl Loewenstein, sendo aplicada pelo
STF.
A aplicação
da teoria da “democracia defensiva ou militante” pelo STF escandaliza os
devotos do Incivilizado, afinal eles estão “convictos” de que o STF é um aparelho
comunista e os seus ministros são verdadeiros agentes da KGB, aliás, até o
Estadão dos Mesquita, a Folha dos Frias e a GLOBO dos Marinho, são aparelhos da
“esquerdalha” e seus donos “comunistas perigosos”.
Os
bolsonaristas são, apesar de muitos não se darem conta, agentes multiplicadores
do mal e de valores fascistas; não estou dizendo que são fascistas, mas que
foram capturados por uma narrativa que dissimula a visão autoritária e
autocrática de seu líder.
Bolsonaro é
ignorante, intolerante, agressivo, violento, indisciplinado, machista,
misógino, racista, transfóbico, homofóbico e não respeita as instituições;
tanto é verdade que, após vários malfeitos, ele foi expulso do Exército;
depois, em grau de recurso, conseguiu substituir a expulsão por uma saída pela
porta dos fundos, sem honras.
As
características de Bolsonaro foram toleradas por tempo demais.
A esse
respeito, é interessante lembrar o “sincericídio” de Joseph Goebbels, ministro
da Propaganda na Alemanha nazista que disse: “sempre será uma das melhores
piadas da democracia o fato de que ela dá aos seus inimigos mortais os meios
para destruir a si própria”, ou seja, gente como Bolsonaro sabe que nós
democratas tendemos a tolerar gente como eles e abusam da nossa boa-fé.
Bolsonaro e o
bolsonarismo são inimigos mortais da democracia.
Esse é o
paradoxo: a nossa ilimitada tolerância à ignorância, intolerância,
agressividade, à violência verbal e física e à indisciplina de gente como
Bolsonaro, quase acabaram com a democracia.
Em razão
desse perigoso paradoxo foi desenvolvida a teoria da “democracia defensiva” que
propõe que se instituam instrumentos capazes de impedir que visões totalitárias
ameacem a própria democracia.
Como assim?
Para entender é possível citar Popper novamente, ele tratou dos paradoxos da
liberdade e da democracia; para ele o chamado “paradoxo da liberdade” ocorre
quando a liberdade, no sentido de ausência de qualquer controle restritivo,
leva à maior restrição, pois torna os violentos livres para escravizarem os não
violentos.
Será que ao
armar seus devotos, inegavelmente violentos, Bolsonaro pretendia nos
escravizar?
O fato é que
Bolsonaro só não tornou-se um ditador porque o STF, ao aplicar a teoria da
democracia defensiva ou militante, impediu o golpe e porque as Forças Armadas
não embarcaram na aventura autoritária do Incivilizado.
Não é
desarrazoado dizer que “tolerância ilimitada” pode ter como resultado a
destruição da democracia, se não estivermos preparados para defender uma
sociedade tolerante contra os ataques dos intolerantes.
Para Karl
Popper, um liberal, não se deve suprimir o direito à manifestação de filosofias
intolerantes, desde que seja possível contradizer racionalmente tais
manifestações e mantê-las controladas perante a opinião pública.
Entretanto,
a sociedade tem o direito de defender-se tais manifestações intolerantes,
inclusive por meio do uso da força, quando não for mais possível contrapô-las
por meio de argumentos racionais, o que é o caso do ex-deputado bolsonarista
Daniel Silveira e das manifestações de 12/12/2022, dos eventos de 24/12/2022 e
dos eventos trágicos de 8/1/2023.
Se a
tolerância, por um lado, permite que a democracia sobreviva, por outro lado,
quando excessiva pode levar a democracia a um ponto de estresse.
Por
quê?
Porque a
democracia tem como fundamento básico o respeito à diferença de ideias, ao
pluralismo político, à liberdade de expressão, que são justamente os meios de
que partidos autocráticos se valem para chegar ao poder e destruir o regime
democrático por dentro, como fez Hitler.
Para a
democracia para sobreviver, é imprescindível que se criem mecanismos legais a
fim de restringir a liberdade de grupos ou atores políticos que, por meio de
ideias totalitárias ou intolerantes, ameacem a própria democracia.
È possível
afirmar que se existissem tais mecanismos, Bolsonaro teria sido banido da
política-eleitoral, como foi banido do Exército.
Não pode
existir na quadra da Política pessoas que como Bolsonaro, diga, as seguintes
frases: "Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso." (1999); "O filho começa a
ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha,
eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu
pai me ensinou a ser homem.“ (2010); "Não empregaria mulheres com o mesmo
salário (...) tem muita mulher que é competente" (2016);
"Trabalhadores tem que escolher entre ter direitos ou emprego"
(2018); “O grande erro foi torturar e não matar” (no Clube Militar no Rio de
Janeiro em 2008); “Os gays não são semideuses. A maioria é fruto do consumo de
drogas” (2014); “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o
pavor de Dilma Rousseff” (2016); “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”
(2018); e disse no Programa CQC na Band em 2011 que seus filhos “não correm
risco de namorar negras ou virar gays porque foram muito bem-educados”.
E esse
incivilizado e intolerante foi presidente do Brasil porque tolerou-se a sua
incivilidade por tempo demais, a ponto de ele ser corresponsável pela morte de
milhares de pessoas durante a pandemia de COVID e ser, presumivelmente, o
organizador e incentivador de uma tentativa de golpe de Estado.
Em razão
disso tudo é fundamental essa gente toda ser investigada, denunciada,
processada, condenada e presa.
E
#Viva_o_STF
Essas são as
reflexões.
Justificativas
linguístico-filosóficas para o emprego do termo bolsonarismo. Por Jair de Souza
Muita gente tem reclamado do uso do termo
“bolsonarismo” para fazer referência à corrente política de extrema direita que
começou a ganhar destaque em nosso país a partir de meados da década passada.
O que se costuma alegar para justificar tal
contrariedade é, fundamentalmente, o fato de que a pessoa de cujo nome o termo
se deriva não contaria com a envergadura requerida para ser reconhecido como o
idealizador de uma corrente de pensamento político. De acordo com quem levanta
esta objeção, não é justo que um sujeito tão inculto, tosco, falto de caráter e
desprovido de qualquer brilhantismo intelectual venha a gozar de uma
importância tão significativa a ponto de ter seu próprio nome servindo como
base para a designação de uma linha de visão política, seja ela de que
orientação for.
É inegável que, se os critérios a respeitar nesta
questão forem realmente os mencionados no parágrafo anterior, seríamos forçados
a reconhecer que os que levantam essa objeção estão cobertos de razão. Não há
dúvidas de que o ex-capitão que é visto como a Alma Mater do bolsonarismo pode
ser considerado um dos políticos mais abjetos de que se tem notícia no cenário
político brasileiro desde tempos imemoriais. Afora a circunstância de ter sido
eternamente arredio ao trabalho, ele jamais se envolveu em nenhuma atividade
que não fosse exclusivamente em seu próprio benefício. Além do mais, sua
cultura e sua capacidade intelectual nunca foram seus pontos fortes, muito pelo
contrário.
Em vista do que expusemos até o momento, não
deveríamos evitar recorrer a essa designação daqui para frente? Não está mais
do que evidente que alguém com qualificações tão escabrosas não é merecedor de
ser fonte para a nomeação de nenhuma força atuante no jogo social?
Bem, embora eu tenha ciência de que vou frustrar as
expectativas de várias pessoas, quero deixar bem claro que sou favorável a que
não apenas continuemos a empregar a expressão, senão que passemos a utilizá-la
com muito mais frequência. As justificativas para este meu posicionamento é o
que vou me esforçar por explicar nas seguintes linhas.
Em primeiro lugar, precisamos entender que, neste
caso específico, esta expressão não tem o objetivo de louvar aquele de quem ela
etimologicamente se derivou, e sim o de desmascarar a todos os que engendraram
a monstruosidade e depravação que ela carrega consigo. Em outras palavras, ao
escrevê-la ou proferi-la oralmente e vinculá-la com certas pessoas ou grupos,
nossa intenção é revelar toda a podridão que caracteriza aos que com ela estão
associados. De modo nenhum almejamos equiparar um energúmeno a um filósofo
gestador de uma nova maneira de sentir e refletir o mundo em que estamos
inseridos, ou seja, devemos considerar sua aplicação como uma severa punição
daqueles que são, em realidade, os responsáveis pela existência de todas as
mazelas que o termo simboliza e transmite.
Não nos iludamos, não foi o ex-capitão miliciano o
inventor das monstruosidades com as quais sua imagem está indissoluvelmente
ligada. A bem da verdade, ele é o fruto mais completo de toda a sordidez comportamental e de caráter que vem marcando
nossas classes dominantes desde os primórdios de nossa constituição como
sociedade. Portanto, mesmo sem ser criador de nada, sua figura reflete todas as
aberrações cultivadas e praticadas pelos setores que sempre agiram como
senhores absolutos de tudo e de todos.
À continuação, vamos tentar expor e elucidar as
principais características do bolsonarismo.
Em sua base, está um furibundo ódio contra as
maiorias populares e uma profunda aversão a tudo que possa favorecer as camadas
mais despossuídas. Em consequência, sempre houve uma enorme resistência a
qualquer medida que viesse a contribuir para diminuir o nível de desigualdade
social. Este traço tem se evidenciado em nossas terras desde os primórdios da
colonização europeia.
Não podemos nos esquecer que, com a chegada dos
colonos portugueses, instalou-se por aqui um regime de cruel exploração, com a
coisificação da mão de obra aborígene e daquela trazida da África na condição
de escravos. No entanto, com o passar do tempo, este ódio ao povo não deixou de
existir. Tão somente adquiriu novas facetas e até se acentuou. Hoje em dia,
esta ira histórica contra os menos privilegiados continua presente e permanece
como um dos fundamentos de nossos exploradores e, como não poderia deixar de
ser, do bolsonarismo.
Em segundo lugar, mas não menos importante para sua
constituição, está a hipocrisia. Seria impossível definir o bolsonarismo sem
levar em conta este fator. Porém, uma vez mais, não foi o ex-capitão e nem seus
aduladores mais achegados os introdutores do hábito de fingir e falsear
posicionamentos para levar vantagens na vida política de nosso país.
Poderíamos, sim, dizer que o bolsonarismo conseguiu a proeza de sintetizar e
potencializar quase todas as variantes de hipocrisia que há muito vêm sendo
destiladas em profusão por nossas classes dominantes. Em suma, ele tão somente
se transformou no desaguadouro natural das variadas torrentes de manipulação
farsante de cunhos pseudo-nacionalista, pseudo-moral, pseudo-cristão, entre
outros, oriundas dos eternos sanguessugas da nação brasileira.
Sabemos que o bolsonarismo foi gestado nas casernas
e nos círculos de militares retirados inconformados com a possibilidade de
acerto de contas com a Comissão da Verdade criada por Dilma Rousseff. Para
ganhar musculatura, se apropriaram das cores de nossa bandeira e dos símbolos
nacionais.
Por isso, tornou-se corriqueiro em manifestações
bolsonaristas o vestir camisetas verde-amarelas de nossa seleção de futebol,
cantar o hino nacional e bradar loas à Pátria. Tudo isso para justificar a
entrega de nossas reservas petrolíferas às multinacionais gringas, o
desmantelamento e inviabilização da Petrobrás, a privatização e transferência
da Eletrobrás a grupos capitalistas estrangeiros e nacionais, e por aí vai. Ou
seja, nunca antes os símbolos da Pátria tinham sido manipulados tão
descaradamente para favorecer nossa espoliação e submissão aos desígnios de
potências estrangeiras. Porém, o bolsonarismo foi reflexo e consequência de um
espírito entreguista de longa data, e não a razão causante do mesmo.
Como exemplo do moralismo hipócrita que permeia os
meios de comunicação corporativos do Brasil, é fundamental observar como esses
órgãos atuaram para ancorar e fortalecer o lavajatismo-morismo e sua pretensa
luta contra a corrupção. Agora, já está mais do que comprovado que o
lavajatismo-morismo foi um dos mais nefastos instrumentos arquitetados pelas
forças do imperialismo e do grande capital local para travar o avanço de nosso
país pelos caminhos da soberania nacional. Sob o pretexto de combater a
corrupção, esses meios se lançaram com tudo na campanha de endeusamento do
ex-juiz suspeito Sérgio Moro e a justificação de todas as arbitrariedades por
ele cometidas.
Além de destruir grande parte da infraestrutura
industrial do Brasil, de causar e expandir a miséria como nunca antes a todos
os rincões de nossa pátria, o lavajatismo-morismo acabou se mostrando como uma
das mais insidiosas máquinas de
corrupção de toda nossa história, estando envolvido em desvios ilegais que
ultrapassariam a casa dos dois bilhões de reais. Em outras palavras, o
lavajatismo-morismo levava em seu bojo a hipocrisia típica de nossas classes
dominantes. Cresceu e se nutriu com base no apoio total e articulado da rede
Globo e do restante da mídia corporativa.
Atuou sempre em consonância com os interesses das classes que o
patrocinaram. Em decorrência, como não podia deixar de ser, o
lavajatismo-morismo ajudou a abrir as portas para a chegada do bolsonarismo ao
comando do Estado.
Para sacramentar essa questão da hipocrisia, convém
escrever algumas palavras sobre a mais significativa fonte de sustentação
numérica de massas do bolsonarismo: as igrejas ditas evangélicas, mormente as
neopentecostais.
Neste caso, temos o mais flagrante descaramento de
ver como se usa o nome de Jesus para defender tudo aquilo contra o que o
próprio Jesus lutou durante toda sua vida. Os capitalistas donos dessas igrejas
não se envergonham de passar a seus seguidores a ideia de um Jesus avarento,
sequioso por dinheiro, vingativo, guerreirista e profundamente preconceituoso.
Ou seja, procuram transformar a imagem de Jesus em algo completamente contrário
ao que Jesus foi. São essas igrejas que dão ao bolsonarismo uma certa
expressividade numérica junto ao povo. Essas igrejas neopentecostais
bolsonaristas recebem aos que vão a procura da bondade de Jesus e procuram
reencaminhá-los na rota do diabo.
Por tudo o que argumentamos até este ponto,
defendemos que o termo bolsonarismo continue sendo usado para fazer referência
a toda a podridão de nossas classes dominantes. Entendo isto como uma maneira
de puni-los por todo o mal que vêm causando a nosso povo.
Fonte: Brasil 247
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