quinta-feira, 25 de julho de 2024

Ferramenta pode prever risco de demência e depressão, diz estudo

Cientistas anunciaram em dezembro a criação bem-sucedida do Brain Care Score, uma ferramenta para avaliar o risco de demência ou AVC sem procedimentos médicos.

Essa pontuação, que também ajuda pacientes e médicos a identificar mudanças de estilo de vida benéficas, agora pode ser capaz de prever as chances de desenvolver depressão mais tarde na vida, de acordo com um novo estudo.

O Brain Care Score, ou BCS, de 21 pontos, refere-se ao desempenho de uma pessoa em 12 fatores relacionados à saúde física, estilo de vida e componentes socioemocionais da saúde. Ter uma pontuação BCS mais alta foi associada a um menor risco de desenvolver depressão na “velhice”, definida como idade igual ou superior a 60 anos, de acordo com o estudo publicado na terça-feira (23) na revista Frontiers in Psychiatry.

“O Brain Care Score é uma ferramenta simples projetada para ajudar qualquer pessoa no mundo a responder à pergunta: ‘O que posso fazer para cuidar melhor do meu cérebro?’” diz o autor do estudo, Jonathan Rosand, cofundador do McCance Center for Brain Health no Massachusetts General Hospital e principal desenvolvedor do BCS, em um comunicado à imprensa.

“Este artigo fornece evidências convincentes de que aumentar seu BCS não só provavelmente tornará seu cérebro mais saudável e mais resistente a doenças como demência e AVC, mas também oferece a esperança de proteção contra a depressão”, acrescenta Rosand, professor de neurologia na Harvard Medical School em Boston.

Os quatro componentes físicos do BCS são pressão arterial, colesterol, hemoglobina A1c e índice de massa corporal, enquanto os cinco fatores de estilo de vida são nutrição, consumo de álcool, atividades aeróbicas, sono e tabagismo. Os três aspectos socioemocionais referem-se a relacionamentos, gerenciamento de estresse e sentido na vida. Quanto maior a pontuação de um participante, menor o risco de doenças cerebrais.

Até um terço ou mais das pessoas com mais de 60 anos experimentam depressão na velhice, cujo risco pode ser influenciado por hábitos de estilo de vida, segundo os autores do estudo.

A equipe usou dados de saúde de mais de 350.000 pessoas que foram recrutadas para o estudo UK Biobank entre 2006 e 2010 e participaram de avaliações de acompanhamento três vezes ao longo da próxima década ou mais. O estudo UK Biobank acompanhou os resultados de saúde de mais de 500.000 pessoas geralmente entre 40 e 69 anos no Reino Unido por pelo menos 10 anos.

Para os participantes do novo estudo, cada diferença positiva de cinco pontos em seu BCS foi associada a um risco 33% menor de depressão na velhice, bem como a um risco composto 27% menor de depressão, demência e AVC na velhice ao longo de um período médio de acompanhamento de 13 anos.

“As pessoas pensam no crânio como um fator de separação para o cérebro, (como se) o cérebro fosse uma coisa individual”, afirma Richard Isaacson, neurologista preventivo do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, que não participou do estudo.

“Mas é claro, com base neste estudo e em outros, que se podemos nos manter fisicamente ativos, comer uma dieta saudável, minimizar o tabagismo e o álcool, manter um peso saudável e permanecer socialmente engajados, haverá benefícios subsequentes — não apenas para a saúde vascular e demência, mas também para a saúde mental e emocional”, completa.

•        A importância do cuidado cerebral ao longo da vida

Os autores também encontraram uma ligação substancial entre o BCS basal e o risco de depressão entre aqueles com menos de 50 anos — o que consideraram surpreendente, já que esperavam que apenas os adultos mais velhos tivessem alterações neurodegenerativas e inflamatórias que podem levar à depressão, demência e AVC.

Mas a associação entre adultos mais jovens está alinhada com a trajetória de vida de outras doenças associadas à idade, segundo Isaacson.

“No nosso consultório de prevenção de Alzheimer, temos atendido pessoas a partir dos 25 anos,” diz.

“Esse achado não me surpreende, porque há fatores de risco na vida precoce, na meia-idade e na velhice para demência. (Para) a doença de Alzheimer, por exemplo, a patologia começa no cérebro décadas antes dos sintomas de perda de memória. Se uma pessoa tem 65 anos e é diagnosticada com demência, isso significa que a doença começou no cérebro dela entre os 35 e 45 anos.”

O processo é semelhante para um ataque cardíaco ou AVC que um adulto mais velho experimenta após ter colesterol alto na casa dos 30, segundo o pesquisador — portanto, os achados reforçam a importância de cuidar do cérebro ao longo de toda a vida.

“Ainda há muito a ser aprendido sobre quais caminhos contribuem para a depressão, demência e AVC na velhice”, afirma Sanjula Singh, primeira autora do estudo e instrutora do McCance Center for Brain Health, em um comunicado à imprensa. “Nossos resultados enfatizam a importância de uma visão holística do cérebro para entender melhor as conexões subjacentes entre diferentes doenças cerebrais.”

Se você é um adulto mais velho e está enfrentando depressão, saiba que ser aberto e buscar cuidados é crucial, segundo Isaacson.

“As gerações mais velhas podem ter sido condicionadas a simplesmente enfrentar isso, (pensando) que é uma questão de força de vontade,” diz. Mas isso nem sempre é o caso, de acordo com o pesquisador, então tente aceitar que você não está se sentindo bem e converse com seu médico sobre opções de tratamento, como terapia ou antidepressivos.

Estes últimos podem ter um benefício adicional para a sua função cognitiva à medida que você envelhece, já que algumas pesquisas iniciais começaram a indicar que alguns antidepressivos, como o escitalopram, podem retardar o acúmulo de proteína beta-amiloide no cérebro, acrescenta Isaacson. Uma quantidade elevada de amiloide é um sinal característico da doença de Alzheimer.

•        Ozempic pode reduzir risco de demência, segundo novo estudo

Uma nova pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade de Oxford, mostrou que medicamentos a base de semaglutida — como o Ozempic e o Wegovy, ambos da farmacêutica Novo Nordisk — estão relacionados a um menor risco de demência e menor dependência de nicotina. O estudo foi publicado no dia 10 de julho na revista científica eClinicalMedicine.

Os pesquisadores queriam entender se medicamentos para diabetes tipo 2 a base de semaglutida poderiam impactar negativamente a saúde neurológica e psiquiátrica. No entanto, eles descobriram que, na realidade, o remédio não apresentou riscos adicionais em comparação a outros medicamentos antidiabéticos, como também mostrou-se ser benéfico na proteção contra condições neurológicas e psiquiátricas.

Para realizar o estudo, os cientistas utilizaram dados de mais de 100 milhões de registros médicos de pacientes dos Estados Unidos, incluindo mais de 20 mil que estavam tomando semaglutida. A equipe descobriu que o medicamento não estava associado a um risco aumentado de demência, depressão ou ansiedade, em comparação a outros medicamentos antidiabéticos comuns.

Além disso, o trabalho descobriu que pessoas que usavam medicamentos com semaglutida tinham um risco menor de desenvolver problemas cognitivos e dependência de nicotina em comparação com quem não utilizava.

“Nossos resultados sugerem que o uso de semaglutida pode ir além do controle do diabetes, oferecendo potencialmente benefícios inesperados no tratamento e prevenção do declínio cognitivo e do abuso de substâncias”, afirma Riccardo De Giorgi, professor clínico da Universidade de Oxford e autor principal do estudo, em comunicado.

O pesquisador acrescenta, ainda, que as descobertas do estudo, se confirmadas, “podem ter implicações significativas para a saúde pública em termos de redução do déficit cognitivo e das taxas de tabagismo entre pacientes com diabetes”.

No entanto, a equipe enfatiza que ainda não está claro como a semaglutida pode estar causando esses efeitos positivos contra a demência e o vício em nicotina. Por isso, mais estudos são necessários para total compreensão desse mecanismo.

“Nosso estudo é observacional e esses resultados devem, portanto, ser replicados em um ensaio clínico randomizado para confirmar e estender nossas descobertas”, reitera Max Taquet, professor clínico da Universidade de Oxford e autor sênior do estudo. “No entanto, eles são boas notícias para pacientes com transtornos psiquiátricos, que apresentam risco aumentado de diabetes.”

<><> O que é Ozempic e para que serve?

Ozempic é o nome comercial do medicamento composto por semaglutida 1 mg, desenvolvido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk. Seu uso é indicado para o tratamento da diabetes tipo 2, mas tem sido popularmente utilizado off label (fora das indicações da bula) para perda de peso.

A semaglutida é uma droga da classe dos análogos do hormônio GLP-1, que atua na secreção da insulina pelo pâncreas, que exerce um papel importante na regulação da glicose no sangue. No entanto, a semaglutida também ajuda a promover uma maior sensação de saciedade, podendo atuar no processo de emagrecimento.

Inclusive, existe outro medicamento à base de semaglutida, mas em dose maior (2,4 mg), indicado para o tratamento da obesidade, o Wegovy. O medicamento foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2023 e está previsto para ser comercializado no Brasil em agosto deste ano.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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