Ferramenta pode prever risco de demência e
depressão, diz estudo
Cientistas anunciaram
em dezembro a criação bem-sucedida do Brain Care Score, uma ferramenta para
avaliar o risco de demência ou AVC sem procedimentos médicos.
Essa pontuação, que
também ajuda pacientes e médicos a identificar mudanças de estilo de vida
benéficas, agora pode ser capaz de prever as chances de desenvolver depressão
mais tarde na vida, de acordo com um novo estudo.
O Brain Care Score, ou
BCS, de 21 pontos, refere-se ao desempenho de uma pessoa em 12 fatores
relacionados à saúde física, estilo de vida e componentes socioemocionais da
saúde. Ter uma pontuação BCS mais alta foi associada a um menor risco de
desenvolver depressão na “velhice”, definida como idade igual ou superior a 60
anos, de acordo com o estudo publicado na terça-feira (23) na revista Frontiers
in Psychiatry.
“O Brain Care Score é
uma ferramenta simples projetada para ajudar qualquer pessoa no mundo a
responder à pergunta: ‘O que posso fazer para cuidar melhor do meu cérebro?’”
diz o autor do estudo, Jonathan Rosand, cofundador do McCance Center for Brain
Health no Massachusetts General Hospital e principal desenvolvedor do BCS, em
um comunicado à imprensa.
“Este artigo fornece
evidências convincentes de que aumentar seu BCS não só provavelmente tornará
seu cérebro mais saudável e mais resistente a doenças como demência e AVC, mas
também oferece a esperança de proteção contra a depressão”, acrescenta Rosand,
professor de neurologia na Harvard Medical School em Boston.
Os quatro componentes
físicos do BCS são pressão arterial, colesterol, hemoglobina A1c e índice de
massa corporal, enquanto os cinco fatores de estilo de vida são nutrição,
consumo de álcool, atividades aeróbicas, sono e tabagismo. Os três aspectos
socioemocionais referem-se a relacionamentos, gerenciamento de estresse e
sentido na vida. Quanto maior a pontuação de um participante, menor o risco de
doenças cerebrais.
Até um terço ou mais
das pessoas com mais de 60 anos experimentam depressão na velhice, cujo risco
pode ser influenciado por hábitos de estilo de vida, segundo os autores do
estudo.
A equipe usou dados de
saúde de mais de 350.000 pessoas que foram recrutadas para o estudo UK Biobank
entre 2006 e 2010 e participaram de avaliações de acompanhamento três vezes ao
longo da próxima década ou mais. O estudo UK Biobank acompanhou os resultados
de saúde de mais de 500.000 pessoas geralmente entre 40 e 69 anos no Reino
Unido por pelo menos 10 anos.
Para os participantes
do novo estudo, cada diferença positiva de cinco pontos em seu BCS foi
associada a um risco 33% menor de depressão na velhice, bem como a um risco
composto 27% menor de depressão, demência e AVC na velhice ao longo de um
período médio de acompanhamento de 13 anos.
“As pessoas pensam no
crânio como um fator de separação para o cérebro, (como se) o cérebro fosse uma
coisa individual”, afirma Richard Isaacson, neurologista preventivo do
Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, que não participou do
estudo.
“Mas é claro, com base
neste estudo e em outros, que se podemos nos manter fisicamente ativos, comer
uma dieta saudável, minimizar o tabagismo e o álcool, manter um peso saudável e
permanecer socialmente engajados, haverá benefícios subsequentes — não apenas
para a saúde vascular e demência, mas também para a saúde mental e emocional”,
completa.
• A importância do cuidado cerebral ao
longo da vida
Os autores também
encontraram uma ligação substancial entre o BCS basal e o risco de depressão
entre aqueles com menos de 50 anos — o que consideraram surpreendente, já que
esperavam que apenas os adultos mais velhos tivessem alterações
neurodegenerativas e inflamatórias que podem levar à depressão, demência e AVC.
Mas a associação entre
adultos mais jovens está alinhada com a trajetória de vida de outras doenças
associadas à idade, segundo Isaacson.
“No nosso consultório
de prevenção de Alzheimer, temos atendido pessoas a partir dos 25 anos,” diz.
“Esse achado não me
surpreende, porque há fatores de risco na vida precoce, na meia-idade e na
velhice para demência. (Para) a doença de Alzheimer, por exemplo, a patologia
começa no cérebro décadas antes dos sintomas de perda de memória. Se uma pessoa
tem 65 anos e é diagnosticada com demência, isso significa que a doença começou
no cérebro dela entre os 35 e 45 anos.”
O processo é
semelhante para um ataque cardíaco ou AVC que um adulto mais velho experimenta
após ter colesterol alto na casa dos 30, segundo o pesquisador — portanto, os
achados reforçam a importância de cuidar do cérebro ao longo de toda a vida.
“Ainda há muito a ser
aprendido sobre quais caminhos contribuem para a depressão, demência e AVC na
velhice”, afirma Sanjula Singh, primeira autora do estudo e instrutora do
McCance Center for Brain Health, em um comunicado à imprensa. “Nossos
resultados enfatizam a importância de uma visão holística do cérebro para
entender melhor as conexões subjacentes entre diferentes doenças cerebrais.”
Se você é um adulto
mais velho e está enfrentando depressão, saiba que ser aberto e buscar cuidados
é crucial, segundo Isaacson.
“As gerações mais
velhas podem ter sido condicionadas a simplesmente enfrentar isso, (pensando)
que é uma questão de força de vontade,” diz. Mas isso nem sempre é o caso, de
acordo com o pesquisador, então tente aceitar que você não está se sentindo bem
e converse com seu médico sobre opções de tratamento, como terapia ou
antidepressivos.
Estes últimos podem
ter um benefício adicional para a sua função cognitiva à medida que você
envelhece, já que algumas pesquisas iniciais começaram a indicar que alguns
antidepressivos, como o escitalopram, podem retardar o acúmulo de proteína
beta-amiloide no cérebro, acrescenta Isaacson. Uma quantidade elevada de
amiloide é um sinal característico da doença de Alzheimer.
• Ozempic pode reduzir risco de demência,
segundo novo estudo
Uma nova pesquisa,
conduzida por pesquisadores da Universidade de Oxford, mostrou que medicamentos
a base de semaglutida — como o Ozempic e o Wegovy, ambos da farmacêutica Novo
Nordisk — estão relacionados a um menor risco de demência e menor dependência
de nicotina. O estudo foi publicado no dia 10 de julho na revista científica
eClinicalMedicine.
Os pesquisadores
queriam entender se medicamentos para diabetes tipo 2 a base de semaglutida
poderiam impactar negativamente a saúde neurológica e psiquiátrica. No entanto,
eles descobriram que, na realidade, o remédio não apresentou riscos adicionais
em comparação a outros medicamentos antidiabéticos, como também mostrou-se ser
benéfico na proteção contra condições neurológicas e psiquiátricas.
Para realizar o
estudo, os cientistas utilizaram dados de mais de 100 milhões de registros
médicos de pacientes dos Estados Unidos, incluindo mais de 20 mil que estavam
tomando semaglutida. A equipe descobriu que o medicamento não estava associado
a um risco aumentado de demência, depressão ou ansiedade, em comparação a
outros medicamentos antidiabéticos comuns.
Além disso, o trabalho
descobriu que pessoas que usavam medicamentos com semaglutida tinham um risco
menor de desenvolver problemas cognitivos e dependência de nicotina em
comparação com quem não utilizava.
“Nossos resultados
sugerem que o uso de semaglutida pode ir além do controle do diabetes,
oferecendo potencialmente benefícios inesperados no tratamento e prevenção do
declínio cognitivo e do abuso de substâncias”, afirma Riccardo De Giorgi,
professor clínico da Universidade de Oxford e autor principal do estudo, em
comunicado.
O pesquisador
acrescenta, ainda, que as descobertas do estudo, se confirmadas, “podem ter
implicações significativas para a saúde pública em termos de redução do déficit
cognitivo e das taxas de tabagismo entre pacientes com diabetes”.
No entanto, a equipe
enfatiza que ainda não está claro como a semaglutida pode estar causando esses
efeitos positivos contra a demência e o vício em nicotina. Por isso, mais
estudos são necessários para total compreensão desse mecanismo.
“Nosso estudo é
observacional e esses resultados devem, portanto, ser replicados em um ensaio
clínico randomizado para confirmar e estender nossas descobertas”, reitera Max
Taquet, professor clínico da Universidade de Oxford e autor sênior do estudo.
“No entanto, eles são boas notícias para pacientes com transtornos
psiquiátricos, que apresentam risco aumentado de diabetes.”
<><> O que
é Ozempic e para que serve?
Ozempic é o nome
comercial do medicamento composto por semaglutida 1 mg, desenvolvido pela
farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk. Seu uso é indicado para o tratamento da
diabetes tipo 2, mas tem sido popularmente utilizado off label (fora das
indicações da bula) para perda de peso.
A semaglutida é uma
droga da classe dos análogos do hormônio GLP-1, que atua na secreção da
insulina pelo pâncreas, que exerce um papel importante na regulação da glicose
no sangue. No entanto, a semaglutida também ajuda a promover uma maior sensação
de saciedade, podendo atuar no processo de emagrecimento.
Inclusive, existe
outro medicamento à base de semaglutida, mas em dose maior (2,4 mg), indicado
para o tratamento da obesidade, o Wegovy. O medicamento foi aprovado pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2023 e está previsto para
ser comercializado no Brasil em agosto deste ano.
Fonte: CNN Brasil
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