sexta-feira, 31 de março de 2023

A estratégia dos EUA para combater influência de China e Rússia na África

Primeiro, o secretário de Estado dos EUA fez uma viagem à África. Agora é a vez da vice-presidente. E no final do ano está prevista a visita do próprio presidente americano, Joe Biden.

Essas visitas dos mais altos funcionários do governo dos EUA indicam que os EUA avaliam que precisam aprofundar suas relações com o continente.

Tudo isso está acontecendo no contexto da crescente concorrência de outras potências globais, especialmente China e Rússia.

A vice-presidente Kamala Harris iniciou sua viagem de nove dias em Gana nesta semana, com visitas na sequência à Tanzânia e depois à Zâmbia.

Gana, que está focada em fortalecer os laços com a diáspora africana e também em manter seu histórico de várias mudanças pacíficas e democráticas de poder, representa a plataforma ideal para Harris.

A sua viagem, segundo um comunicado oficial, é feita com vista a "dar continuidade" à cúpula EUA-África realizada em dezembro em Washington, onde o Presidente Joe Biden declarou que os EUA vão "com tudo para ajudar no futuro de África".

É justamente esse futuro — impulsionado por uma população jovem e crescente, bem como pelos imensos recursos naturais do continente — que atraiu várias outras nações poderosas competindo por influência.

Enquanto a visita do secretário de Estado Anthony Blinken à Etiópia e ao Níger se concentrou nas preocupações de segurança desses países, a viagem da vice-presidente a levará a países que enfrentam sérias dificuldades econômicas.

A economia de Gana, que já passou por um período de prosperidade, está enfrentando sua crise financeira mais difícil em décadas.

O país busca reestruturar sua dívida em meio a uma inflação de mais de 50%. O ministro das Finanças, Ken Ofori-Atta, esteve recentemente em Pequim, em negociações com o governo chinês.

"Até agora, as reuniões na China foram positivas e encorajadoras", escreveu o ministro das Finanças no Twitter, expressando otimismo de que obteria garantias estrangeiras "muito em breve".

As garantias são necessárias para ter acesso ao apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Não está claro que tipo de ajuda Kamala Harris poderia oferecer a Gana, mas os EUA estão sob pressão para ajudar o país de alguma forma.

•        'EUA são amigos, como China e Rússia'

O economista e professor de finanças da Universidade de Gana, Godfred Alufar Bokpin, não acredita que a visita trará "dividendos imediatos" para ajudar a aliviar os problemas econômicos do país.

"Ter a China a bordo é difícil", disse ele, observando que a visita de Harris foi "muito importante" para Gana, pois "leva nosso relacionamento com os EUA a outro nível".

O economista disse à BBC que o interesse dos EUA no país "é bom", mas está preocupado com o que descreveu como "condições comerciais desfavoráveis" aos países credores.

A Zâmbia encontra-se numa situação semelhante à de Gana.

A nação é rica em cobre. Mas tornou-se o primeiro país africano a deixar de pagar sua dívida quando a pandemia de covid chegou.

A Zâmbia está em longas discussões com a China para reestruturar sua dívida e também solicitou apoio do FMI.

A agência de notícias Reuters citou um alto funcionário dos EUA dizendo que a vice-presidente americana "discutirá as melhores maneiras pelas quais a comunidade internacional poderia lidar com as dificuldades de crédito enfrentadas por Gana e Zâmbia".

Como o professor Bokpin, o analista zambiano Sishuwa Sishuwa acredita que a China exerce mais influência quando se trata de reestruturação da dívida. Embora os EUA queiram se projetar como um parceiro mais confiável.

Há um sentimento crescente no continente de que a África deve ser livre para escolher suas relações com o resto do mundo.

"A Zâmbia vê os EUA da mesma forma que vê a China e a Rússia: como amigos", diz Sishuwa à BBC.

"Quando um país busca apoio da China, ou da Rússia, ou dos EUA, isso não deve ser interpretado como esnobando um ou outro grande bloco de poder."

Ele acrescentou que as tentativas de buscar relações exclusivas com países africanos podem ser contraproducentes e insustentáveis.

Isso coincide com o que disse o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa durante uma visita a Washington no ano passado: "Ninguém deve nos dizer com quem temos que fazer parceria".

Altos funcionários dos EUA disseram à BBC que não têm intenção de dizer aos países africanos de quem devem ser amigos.

No entanto, os EUA têm interesse em destacar o foco na democracia nas relações com os países africanos, assunto que a vice-presidente deve abordar durante sua visita.

O presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, pretende co-organizar uma cúpula de democracia virtual com outros quatro líderes, incluindo Biden, logo após receber Kamala Harris em seu país.

A democracia é um dos princípios que, segundo os EUA, norteiam as suas relações com o continente, e que distinguem os EUA da China e da Rússia.

•        Ceticismo na África

A China segue uma política de não interferir nos assuntos políticos internos dos países, estratégia que tem facilitado suas relações com líderes autocráticos.

E a presença da Rússia em países africanos que sofreram golpes recentes —Burkina Faso e Mali — azedou as relações entre eles e o Ocidente, especialmente a França, ex-potência colonial que manteve laços estreitos com os dois países.

Sem dúvida, a invasão da Ucrânia pela Rússia produziu nas nações ocidentais um senso de urgência adicional para ganhar a confiança de mais países africanos. A votação na ONU para condenar a invasão dividiu as nações africanas, que responderam por metade das abstenções, incluindo a Tanzânia, que também está no roteiro de Kamala Harris.

A vice-presidente dos EUA — a primeira mulher a ocupar esse cargo em seu país — se reunirá com a presidente Samia Suluhu Hassan, a primeira mulher presidente da Tanzânia.

Esta experiência compartilhada de pioneirismo na política de suas respectivas nações está gerando entusiasmo na Tanzânia.

Muitos também estão apontando para a visita como um endosso do progresso que o país africano está fazendo e sua crescente visibilidade no mapa global.

Não faz muito tempo que a Tanzânia era uma espécie de pária sob a presidência de John Magufuli, que era visto como alguém com tendências autocráticas, controlando as atividades da oposição e da mídia independente.

Harris é a pessoa de mais alto escalão do governo Biden a visitar a África e a quinta pessoa a fazê-lo desde a cúpula EUA-África em dezembro.

Outros incluíram a secretária do Tesouro, Janet Yellen, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, a primeira-dama Jill Biden e o secretário de Estado, Antony Blinken.

Mas diante do interesse renovado, o continente exige que seja tratado com justiça.

O professor Bokpin, de Gana, indicou que havia um certo nível de ceticismo sobre o aumento do interesse na África.

"Acredita-se que uma remodelação da África está em jogo", referindo-se à subdivisão do continente pelas nações europeias no final do século 19, que gerou décadas de colonialismo e exploração.

"Esta relação precisa enfatizar o respeito mútuo", acrescentou.

 

       EUA pedem que UE sancione empresa chinesa de satélites por suposta ajuda à Rússia, diz mídia

 

Os EUA estão instando a União Europeia (UE) e outros aliados a sancionar uma empresa chinesa de satélites por supostamente apoiar a operação militar especial da Rússia na Ucrânia, segundo fontes familiarizadas com o assunto.

De acordo com a agência Bloomberg, a Spacety China foi atingida por sanções dos Estados Unidos em janeiro devido a alegações de que a empresa teria fornecido imagens de satélite de locais na Ucrânia que facilitariam as operações de combate do Grupo Wagner, que luta ao lado de Moscou. As imagens teriam sido enviadas para a empresa de tecnologia russa Terra Tech antes de serem transferidas para o grupo, alega um documento emitido pelos EUA.

Embora os países ocidentais, em especial a UE, tenham alinhado em coordenação muitas de suas sanções relacionadas à Rússia com os EUA, a empresa chinesa de satélites ainda não foi sancionada pelo bloco europeu.

"Se uma empresa não está sendo sancionada atualmente, isso significa que não há vontade, não há necessidade ou não há evidências suficientes para que os 27 Estados-membros da UE concordem em sancionar uma pessoa ou entidade", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da UE, Peter Stano. Segundo o porta-voz, isso não quer dizer que a empresa não possa ser sancionada no futuro.

Diferentemente de como ocorre nos EUA, a UE baseia suas sanções em evidências de código aberto para que possibilite recurso, a quem quer que seja afetado por elas, ante um tribunal.

Para uma das fontes do portal de notícias, é provável que razões de natureza técnica ou legal tenham impedido que a empresa fosse sancionada pelo bloco.

Muitas imagens de satélite estão disponíveis ao público gratuitamente, mas as chamadas imagens de satélite de radar de abertura sintética que Spacety supostamente transferiu para a Rússia permitem que áreas de interesse sejam monitoradas em uma resolução muito alta, quase em tempo real, o que facilita potenciais ataques de precisão.

Apesar das alegações norte-americanas, não há evidências de que a China esteja dando qualquer tipo de suporte à operação russa.

Na última terça-feira (21), o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, declarou em entrevista que os aliados ainda não viram nenhuma prova de que a China possa estar envolvida no conflito, participação esta que Pequim nega ressaltando a importância de esforços diplomáticos para o fim pacífico das hostilidades.

Até o momento, a empresa ainda não se manifestou sobre o caso.

 

       Mídia: EUA mudam status de 'país em desenvolvimento' da China para promover reforma interna

 

A aprovação pela câmara baixa do Congresso dos EUA de um projeto de lei que exige a revogação do status de "país em desenvolvimento" da China mostra que Washington pretende dificultar o crescimento da China, cita o jornal China Daily especialistas.

Na segunda-feira (27), a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou por unanimidade um projeto de lei que exige que o Departamento de Estado dos EUA defenda que as organizações internacionais mudem o status da China de país em desenvolvimento para um país de renda média alta, país de renda alta ou país desenvolvido.

"A mudança mostra a intenção de alguns políticos em Washington de impedir o desenvolvimento da China e manter a hegemonia global dos EUA", cita o artigo o especialista do Instituto Nacional de Estratégia Internacional da China Xu Liping.

Ele acrescentou que o próprio país deve iniciar qualquer mudança em seu status em vez de deixar outro país determiná-lo, dizendo que a aprovação do projeto de lei foi "ilógica e refletiu motivos ulteriores".

Segundo outro especialista, Zhao Yongsheng, não há uma definição universal do que é um país desenvolvido, nem de um país em desenvolvimento.

"Os critérios variam de fatores econômicos como o PIB per capita a fatores não econômicos como a expectativa média de vida, níveis de educação e desenvolvimento tecnológico", disse ele à edição.

O China Daily também refere a pesquisadora do Instituto de Estudos Americanos Wei Nanzhi, que acredita que esse passo é um "velho truque" dos EUA que é mais importante para a política interna desse país.

"O governo dos Estados Unidos gosta de criar um forte inimigo externo para promover uma reforma interna. Trata-se, de fato, de uma mobilização interna com um sinal de alerta subjacente para os americanos: a China é um inimigo perigoso, e devemos nos unir para resolver nossos problemas internos", disse ela.

 

       Resposta da China à crise na Ucrânia vai determinar suas relações com a UE, diz von der Leyen

 

A reação da China à atual crise na Ucrânia será um "fator determinante" para as relações entre a União Europeia (UE) e Pequim, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante seu discurso sobre as relações UE-China no think tank Mercator Institute for China Studies.

De acordo com von der Leyen, o relacionamento da UE com Pequim é muito importante e vai ser "um fator determinante para nossa futura prosperidade e segurança nacional". A líder europeia enfatizou que a união acredita que é extremamente importante manter abertas as linhas de comunicação com a China.

"Precisamos reforçar as instituições e sistemas nos quais os países podem competir e cooperar e dos quais eles se beneficiam, por isso é de vital importância garantir a estabilidade diplomática e a comunicação aberta com a China", disse von der Leyen durante seu discurso.

Ainda segundo a presidente da comissão, a UE quer reduzir os riscos nas relações com Pequim.

"Precisamos nos concentrar em reduzir os riscos, não nos separar, e isso é parte da razão pela qual em breve estarei visitando Pequim junto com o presidente [francês Emmanuel] Macron, gerenciando esse relacionamento e tendo uma troca aberta e franca com nossas contrapartes chinesas é a chave para uma parte fundamental do que eu chamaria de redução de riscos por meio da diplomacia de nosso relacionamento com a China", acrescentou a líder política.

•        China avisa contra corrida armamentista em meio ao desenvolvimento do AUKUS

O pacto de segurança, formado em 2021 pela Austrália, o Reino Unido e os EUA, é visto pela China como continuando a "mentalidade da Guerra Fria" e a tentativa de construir uma nova OTAN.

A cooperação submarina nuclear entre Austrália, EUA e o Reino Unido pode desencadear uma corrida armamentista, advertiu na quinta-feira (30) o Ministério das Relações Exteriores da China, citado pela agência britânica Reuters.

"Uma vez aberta a 'caixa de pandora', o equilíbrio estratégico regional será perturbado, a segurança regional será seriamente ameaçada", disse Tan Kefei, porta-voz do Ministério de Defesa chinês, em um briefing à mídia.

A Austrália, EUA e o Reino Unido revelaram neste março detalhes de um plano para fornecer a Camberra submarinos de ataque movidos a energia nuclear a partir do início da década de 2030, para contrariar a China no Indo-Pacífico.

"A China se opõe firmemente ao estabelecimento da chamada 'parceria trilateral de segurança' entre os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália. Este pequeno círculo dominado pela mentalidade da Guerra Fria é inútil e extremamente prejudicial", disse Tan.

Tan acrescentou que tal cooperação era uma extensão da política de dissuasão nuclear de países individuais, uma ferramenta de jogo para construir uma "versão Ásia-Pacífico da OTAN", e que ela afetou seriamente a paz e a estabilidade na região.

Em setembro de 2021 Camberra, Londres e Washington formaram o pacto AUKUS, que prevê a entrega de submarinos movidos a energia nuclear à Austrália até 2040. O plano é visto por muitos como visando a China.

 

Fonte: BBC News na África/Sputnik Brasil

 

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