Sarampo:
saiba quais são os sintomas, transmissão, tratamento e prevenção
Na
quinta-feira (17), a Secretaria Municipal da Saúde (SMS-SP) confirmou o
primeiro caso de sarampo na capital paulista em 2025. A vítima é um homem de 31
anos que havia recebido as doses completas da vacina contra a doença na
infância.
De
acordo com a SMS, o paciente viajou recentemente para Jacarezinho, no Paraná, e
os primeiros sintomas – febre, manchas vermelhas pelo corpo e tosse – surgiram
no dia 2 de abril. Apesar da infecção, o histórico de vacinação contribuiu para
que a evolução do quadro clínico fosse mais branda, permitindo a recuperação em
isolamento domiciliar e sem necessidade de internação.
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O que é sarampo?
O
sarampo, uma das doenças infecciosas mais contagiosas do mundo, pode causar
complicações sérias – como cegueira, pneumonia ou encefalite, inchaço do
cérebro – e até mesmo ser fatal, especialmente em crianças menores de 5 anos.
No
geral, estima-se que até 3 em cada 1.000 crianças infectadas com sarampo
morrerão de complicações respiratórias e neurológicas. “Se uma família tiver
preocupações, eu a convido a entrar em contato com o médico de seu filho para
que possam conversar e obter informações sobre o sarampo e a vacinação contra o
sarampo”, diz Melissa Stockwell, professora de pediatria do Vagelos College of
Physicians and Surgeons da Universidade Columbia.
A
melhor proteção contra o sarampo é a vacinação contra o vírus.
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Três sinais de alerta do sarampo
No
início, o sarampo pode causar sintomas que podem parecer semelhantes aos de
outras doenças respiratórias, como a gripe ou o resfriado comum.
“No
início do sarampo, é muito difícil diferenciar o sarampo de outras doenças
respiratórias comuns. Existem três sinais que ocorrem juntos: tosse;
conjuntivite, ou olhos vermelhos; e coriza, que é um termo para um nariz muito
congestionado ou entupido”, disse Glenn Fennelly, especialista em doenças
infecciosas pediátricas e vice-presidente assistente de saúde global da Texas
Tech Health El Paso. “Se você vir esses três juntos, isso é motivo de
preocupação”, comentaele.
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Outros
sintomas importantes do sarampo incluem febre alta que pode chegar a mais de 40
graus Celsius, erupção cutânea avermelhada e irregular característica do
sarampo e manchas de Koplik, que são pequenas manchas brancas que podem
aparecer dentro da boca dois ou três dias após o início dos sintomas.
“Embora
alguns dos sintomas do sarampo em sua fase inicial possam se sobrepor a outros
vírus respiratórios, como coriza, tosse e febre, os casos típicos de sarampo
têm uma erupção cutânea marcante”, que geralmente começa três a cinco dias após
o início dos outros sintomas, disse Stockwell.
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Como o sarampo se espalha?
O vírus
do sarampo se espalha através da tosse, espirros e respiração do mesmo ar que
foi respirado por alguém infectado com sarampo. O vírus pode permanecer no ar
ou em superfícies por até duas horas – mesmo depois que a pessoa infectada saiu
do ambiente.
Estima-se
que uma pessoa infectada com sarampo pode infectar 9 em cada 10 de seus
contatos próximos, se esses contatos não estiverem vacinados. O sarampo é tão
contagioso em parte porque uma pessoa infectada pode transmitir o vírus a
outras pessoas mesmo antes de saber que o tem – de quatro dias antes a quatro
dias após o aparecimento da erupção cutânea.
“A
melhor proteção é que todos os pais imunizem seus filhos no momento em que a
imunização é recomendada, e isso começa com um ano de idade, com uma segunda
dose recomendada por volta dos 4 aos 6 anos de idade”, disse Fennelly.
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Você pode contrair sarampo se estiver vacinado?
A
vacina contra sarampo, caxumba e rubéola demonstrou ser segura e eficaz, disse
Fennelly. Uma dose é 93% eficaz contra o sarampo, e duas doses são 97%
eficazes.
Aqui no
Brasil, o imunizante SCR, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola,
alcançou coberturas vacinais expressivas em 2024, ultrapassando os 95% tanto na
primeira quanto na segunda dose. As orientações oficiais dizem que as crianças
devem receber duas doses da vacina tríplice viral entre os 12 e 15 meses. Essas
duas doses geralmente protegem as pessoas contra o sarampo por toda a vida.
Mas a
vacina pode ser tomada mais tarde, se necessário. Para crianças mais velhas,
adolescentes e adultos não vacinados ou sem comprovação de doses aplicadas, a
SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) recomenda duas doses, com intervalo
de um a dois meses.
Como a
vacina não é 100% eficaz, quanto mais o sarampo se espalha, maior o risco de
uma pessoa vacinada ser infectada se for exposta ao vírus. No entanto, os
sintomas da doença são geralmente mais leves em pessoas vacinadas, e elas
também são menos propensas a transmiti-la a outras pessoas.
As
orientações do CDC também indicam que, se alguém for exposto ao sarampo,
receber a vacina MMR dentro de 72 horas pode induzir alguma proteção ou
resultar em uma doença menos grave. Crianças mais velhas ou adultos podem ser
vacinados se não receberam a vacina quando crianças.
Antes
da introdução da vacina contra o sarampo em 1963, o vírus causava cerca de 2,6
milhões de mortes por ano em todo o mundo. Em 2023, a Organização Mundial da
Saúde estimou que houve 107.500 mortes por sarampo, principalmente em países
com baixa vacinação.
“As
vacinas contra o sarampo são seguras e eficazes. Não há nenhum estudo validado
que mostre qualquer ligação com o autismo”, disse Fennelly. “Que as vacinas
contra o sarampo são seguras foi demonstrado pelos milhões de crianças que as
receberam sem complicações. O que os pais devem temer, no caso do sarampo em
particular, não é a vacina, mas a doença, que pode ser devastadora.”
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Como o sarampo é tratado
Não
existe uma terapia antiviral específica para o sarampo, mas algumas das
complicações associadas à doença podem ser tratadas. “Infelizmente, não há
tratamento para o sarampo”, relata Stockwell.
“Às
vezes, o sarampo pode resultar em uma infecção secundária, como uma infecção de
ouvido ou pneumonia, que precisa de tratamento com antibióticos”, acrescenta
ela. “Finalmente, a vitamina A pode ser uma terapia adjuvante importante para o
sarampo, que pode ajudar a proteger contra doenças graves e alguns dos efeitos
adversos do sarampo.”
Fennelly
observa que o sarampo é um vírus “fortemente imunossupressor”, o que significa
que enfraquece o sistema imunológico da pessoa infectada, e infecções
bacterianas, como a pneumonia bacteriana, são uma das principais causas de
morte relacionada ao sarampo. “As crianças podem ter infecções bacterianas no
trato respiratório que exigem tratamento com antibióticos”, disse Fennelly.
Além
disso, “qualquer criança que esteja doente o suficiente para ser hospitalizada
provavelmente receberá altas doses de vitamina A”, diz. “A vitamina A
demonstrou ter um impacto muito forte durante o sarampo agudo e, para crianças
muito doentes, pode levar a uma redução de 50% na mortalidade.”
Pessoas
cujos médicos dizem que devem ficar em casa podem ser tratadas com medicamentos
para baixar a febre, repouso e muita hidratação. “É importante isolar a criança
durante o período em que ela pode estar contagiosa e manter contato próximo com
o pediatra”, disse Fennelly. “Se uma criança começar a ficar excessivamente
sonolenta ou muito irritadiça, esses seriam motivos para entrar em contato
novamente com o pediatra.”
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O sarampo pode ser fatal?
Embora
as mortes por sarampo sejam raras, existem algumas complicações do sarampo que
podem resultar em morte, especialmente em crianças pequenas. Quando a doença
progride para febre e erupção cutânea, “infelizmente, é aí que as complicações
começam”, disse o Dr. Peter Hotez, codiretor do Centro de Desenvolvimento de
Vacinas do Hospital Infantil do Texas e reitor da Escola Nacional de Medicina
Tropical do Baylor College of Medicine.
“A
erupção cutânea está acontecendo porque o vírus está entrando na corrente
sanguínea e indo para diferentes partes do corpo, e uma das complicações mais
temidas é a pneumonia por sarampo”, disse Hotez.
Especificamente,
1 em cada 20 crianças com sarampo desenvolverá pneumonia, a causa mais comum de
morte pela doença. Ele também aponta a encefalite e a desidratação por diarreia
como outras causas menos comuns de morte relacionada ao sarampo.
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Sarampo no Brasil
Em
2016, o Brasil recebeu a certificação da eliminação do vírus que causa o
sarampo.
Segundo
o Ministério da Saúde, nos anos de 2016 e 2017 não foram confirmados casos da
doença. No entanto, em 2018, com o grande fluxo migratório associado às baixas
coberturas vacinais, o vírus voltou a circular e, em 2019, o Brasil perdeu a
certificação de “país livre do vírus do sarampo”, ao registrar mais de 21,7 mil
casos.
Em
junho de 2022, o Brasil registrou o último caso endêmico de sarampo, no Amapá.
Com isso, em novembro do ano passado, a Organização Pan-Americana da Saúde
(Opas) voltou a certificar o Brasil como livre da circulação do vírus.
• Casos de sarampo preocupam, mas Brasil
ainda é país livre da doença
O
aumento de casos de sarampo no continente americano acende um alerta para o
Brasil, mas, por enquanto, os três casos confirmados aqui não comprometem o
certificado de país livre da doença, reconquistado no ano passado.
“Para a
gente perder essa recertificação, a gente tem que ter durante um ano, a partir
do primeiro caso, cadeias de transmissão com o mesmo genótipo do vírus
circulando”, explica a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios,
Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais da Fundação Oswaldo Cruz
(Tiocruz), Marilda Siqueira, O laboratório é credenciado como unidade de
referência regional para sarampo pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por
enquanto, o Ministério da Saúde confirmou somente casos esporádicos: dois no
Rio de Janeiro, em bebês gêmeos que ainda não tinham idade para se vacinar, e
um no Distrito Federal, em uma mulher adulta que provavelmente foi infectada em
uma viagem ao exterior.
Das 110
suspeitas notificadas até o dia 12 de março, 22 ainda estavam em investigação
nessa data, segundo a última atualização do painel epidemiológico da pasta.
Os
casos suspeitos de sarampo são de notificação compulsória, ou seja, devem ser
comunicados imediatamente às autoridades de saúde. Há um protocolo rígido para
quando são confirmados, que inclui a identificação e o monitoramento de todas
as pessoas que podem ter sido infectadas pelo doente, e o bloqueio vacinal, que
é o reforço da vacinação nos locais que essa pessoa frequentou, como escola e
local de trabalho.
“O
sarampo é causado por um dos vírus mais infecciosos que existem. Se alguém com
sarampo chega em um ambiente com baixa cobertura vacinal, o vírus é transmitido
para 17 pessoas, mais ou menos. Já o SARS-CoV, por exemplo, é transmitido para
duas pessoas, apesar de ser um vírus que também é muito transmissível”,
complementa a chefe do laboratório da Fiocruz.
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Casos nas Américas
O risco
se intensifica quando há surtos em outros países. Relatório da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas), divulgado em 24 de março, aponta que, este ano,
507 casos foram confirmados em outros países do continente, superando a
contagem de todo o ano passado. São 301 nos Estados Unidos, com duas mortes;
173 no Canadá; 22 no México e 11 na Argentina. A Opas avalia que o risco de
disseminação da doença, com ameaça à saúde, é alto.
O
último grande surto vivido no Brasil comprova como os vírus não conhecem
fronteiras. Em 2017, o Brasil estava recebendo muitos cidadãos da Venezuela,
onde os casos de sarampo estavam altos. No ano seguinte, os registros
explodiram nos estados próximos à fronteira, e começaram a surgir também em
outros locais.
“Os
culpados, por assim dizer, não foram os cidadãos da Venezuela. É porque naquela
época nós já estávamos com deficiência na nossa cobertura vacinal. Hoje em dia,
com todas as conexões que temos, principalmente através da aviação,
naturalmente esperamos, não só no Brasil, um número de casos importados todos
os anos. O que a gente não deve ter é essa grande batalha para não ter cadeias
de transmissão. A gente tem uma ferramenta poderosa na nossa mão que é a
vacina”, lembra Marilda Siqueira.
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Vacinação
A
vacina contra o Morbilivirus, causador do sarampo, foi desenvolvida na década
de 1960, mas a imunização só foi intensificada no Brasil a partir dos anos
1990, quando autoridades de todo o mundo decidiram concentrar esforços no
controle da doença, já que a maior preocupação anterior, a poliomielite, havia
sido erradicada. Antes disso, o sarampo matava cerca de 2,5 milhões de crianças
no mundo por ano.
Atualmente,
ela é aplicada no Sistema Único de Saúde (SUS) como parte do imunizante
Tríplice Viral, que também protege contra a caxumba e a rubéola. A primeira
dose deve ser aplicada aos 12 meses, e a segunda, aos 15. Em 2024, o Brasil atingiu a meta de cobertura
de 95% na primeira dose, mas menos de 80% dos bebês tomaram a segunda.
“A
eficácia dessa vacina é de 93% a 95%, o que significa que 5% a 7% das pessoas
não vão responder adequadamente. Então a gente faz a segunda dose por dois
motivos: para evitar essa falha primária e porque, com o passar do tempo, a
proteção diminui naturalmente, e o reforço prolonga essa proteção”, explica o
diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha.
Cunha
complementa que o Brasil continua superando outro agravante: “Durante a
pandemia, caiu muito a cobertura vacinal, então, vamos dizer, se a gente teve
70% de cobertura, significa que 30% daquelas crianças não foram vacinadas no
tempo correto. Se elas não foram vacinadas até agora, elas vão engrossar um
grupo de suscetíveis.”
Por
isso, pessoas de até 59 anos, que não se vacinaram ou não sabem se foram
imunizadas também devem procurar as unidades de saúde. Os dados das infecções
registradas este ano nas Américas mostram que o sarampo não é uma doença
exclusiva de crianças pequenas: quase metade dos infectados tem de 10 a 29
anos.
Ainda
que os adultos tenham menos chances de adoecer com gravidade, eles transmitem a
doença normalmente, inclusive para bebês menores de 1 ano e pessoas com alguma
imunodeficiência que não podem se vacinar. Mas, se a cobertura de 95% for
atingida para toda a população, nas duas doses, todos ficam protegidos pela
imunidade coletiva, já que a vacinação em altas taxas quebra a cadeia de
transmissão do vírus.
“O
sarampo é frequentemente descrito como o melhor sinal de que a vacinação não
vai bem em algum lugar, porque como ele é muito facilmente transmissível,
qualquer perda na imunidade coletiva já permite que pessoas suscetíveis
adoeçam, em especial, as crianças mais novas”, complementa a chefe de Saúde do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Luciana Phebo.
Ela
reforça que a queda na cobertura das vacinas de rotina, observada globalmente
durante a pandemia de covid-19, é uma causa fundamental para esse aumento de
casos de sarampo, mas também responsabiliza a hesitação vacinal, “que chegou a
ser considerada uma das principais ameaças à saúde pública global”.
O termo
significa o atraso ou a recusa em se vacinar, mesmo quando as vacinas estão
disponíveis. A principal causa da hesitação é a perda do medo da doença, mas
ela também pode acontecer quando as pessoas não estão bem informadas, e têm
medo ou dúvidas sobre a vacina, ou quando acreditam em discursos falsos.
Fonte:
CNN Brasil

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