Andreza:
Zambelli terá o mandato cassado e ninguém irá ao seu 'enterro'
A
deputada federal Carla Zambelli certamente terá o mandato cassado após
perseguir um homem com arma em punho na véspera da eleição de 2022 em São
Paulo, e ninguém irá agora em seu 'enterro' na política, declarou a colunista
Andreza Matais na edição do UOL News deste domingo.
“A
Zambelli está muito reservada nos últimos dias. Não tenho dúvida de que a
Zambelli vai ter o mandato cassado e ninguém vai no enterro dela. Se eu fosse a
Zambelli já renunciaria ao mandato para evitar colocar isso no currículo, mas
certamente ela vai ter o mandato cassado.”
“A
Zambelli já foi do lado da esquerda agora, depois passou para a direita, então
dá para esperar um pouco de tudo de uma pessoa que puxa uma arma e sai correndo
atrás de uma pessoa pelas ruas de São Paulo por conta de uma discussão no calor
das eleições.” - Andreza Matais.
Zambelli
se disse arrependida pelo episódio que proporcionou nas ruas de São Paulo e se
vê também abandonada por Jair Bolsonaro, de quem era uma das principais aliadas
à época.
“O
bolsonarismo já abandonou a Zambelli há muito tempo, porque eles colocam sim na
conta da derrota do Bolsonaro esse episódio nos Jardins e pode ser colocado sim
na conta, é óbvio que não foi o único fator que levou a derrota do Bolsonaro,
mas vamos lembrar que a diferença dele para o Lula foi muito pequena.”
“Então
o Lula não ganhou a eleição, foi o Bolsonaro quem perdeu a eleição, foi o único
presidente derrotado depois do instituto da reeleição, e esse foi um dos
fatores que colaborou para que isso ocorresse, porque a gente estava muito na
espera da eleição.”
“Pegou
um eleitorado que estava um pouco disposto a votar no Bolsonaro, que não queria
o Lula, mas ficou bastante assustado com um ato tão extremado assim da
Zambelli, que sempre foi uma pessoa muito próxima ao Bolsonaro, o marido dela
também trabalhava com o Bolsonaro.”
“Ela
não foi abandonada agora, já foi há muito tempo. Ela está fazendo esse discurso
para provavelmente tentar chamar a atenção do Bolsonaro e mandar algum recado.
Nesse sentido, essa desconfiança pode ter até alguma razão.” - Andreza Matais
A
colunista do UOL finalizou sua análise declarando que nos próximos dias será
possível saber qual rumo definido em conversas nos bastidores, a partir da
reação de Carla Zambelli,
“É
assim que funciona um pouco o jogo da política. Você começa a dar alguns
recados, algumas sinalizações assim, e se ela ficar quietinha daqui uns dias é
porque essas conversas de bastidores aconteceram. Senão, quem sabe ela pode vir
a contribuir com o país, contando coisas que certamente ela viu ocorrer e
participou desse período tão conturbado da história do país.”
“A
cassação da Zambelli ocorrendo, o cálculo político da eleição de São Paulo vai
ser todo refeito. A Zambelli foi a deputada do PL com o maior número de votos
em São Paulo, quase 1 milhão de votos, então você, eleitor, quando for votar,
não pode deixar para escolher o seu candidato na última hora, pegando o
santinho no meio da rua, eu gosto sempre de reforçar isso, porque a gente
esquece em quem votou, por que votou, quais foram as nossas escolhas.” - Andreza
Matais.
¨
Zambelli se diz arrependida de perseguição armada e
afirma ter sido abandonada por Bolsonaro
Deputada
federal pelo PL de São Paulo, Carla Zambelli afirmou que se arrepende do
episódio em que perseguiu um homem com uma arma em punho na véspera do segundo
turno das eleições de 2022, em São Paulo. "Devia ter entrado no carro e
ido embora", declarou a parlamentar em entrevista. ao jornal Folha de
S.Paulo.
O
incidente ocorreu na região dos Jardins, na capital paulista, e foi registrado
em vídeo, gerando ampla repercussão à época. Zambelli perseguiu Araújo sob a
ameaça de uma arma, um caso que se tornou símbolo das tensões políticas daquele
período. Agora, a deputada enfrenta uma possível condenação no Supremo Tribunal
Federal (STF), que já formou maioria para sentenciá-la a cinco anos e três
meses de prisão em regime semiaberto, além da perda de seu mandato. O
julgamento, no entanto, está suspenso.
Além
das conseqüências jurídicas, Zambelli também lida com o afastamento de aliados
políticos, incluindo Jair Bolsonaro, de quem foi uma das principais apoiadoras.
Bolsonaro atribuiu a ela parte da responsabilidade por sua derrota para Lula
(PT) em 2022, o que a deputada refuta. "Não só eu como outras pessoas
também perderam a amizade do presidente no momento que precisaram",
afirmou.
Com a
iminente decisão do STF, a situação da deputada se complica tanto no âmbito
legal quanto no político, tornando incerto seu futuro na câmara dos deputados e
na cena conservadora brasileira
¨ Penas de até 17 anos
para condenados do 8 de janeiro no STF são exageradas?
O ex-presidente
Jair Bolsonaro vai enfrentar um processo criminal no
Supremo Tribunal Federal (STF), suspeito de liderar uma tentativa de golpe
de Estado — e, caso seja considerado culpado de todos os crimes dos quais é
acusado, sua pena pode superar 40 anos de prisão.
Seu
prognóstico é considerado ruim no STF porque a Corte já condenou centenas de
pessoas por atentar contra o Estado Democrático de Direito, ao participarem dos
atos de 8 de janeiro de 2023, quando radicais
bolsonaristas depredaram as sedes dos Três Poderes.
Parte
desses condenados recebeu penas consideradas elevadas, de 14 a 17 anos de
prisão, algo que gera controvérsia entre juristas e divide os próprios
ministros do Supremo.
Durante
o julgamento que tornou Bolsonaro réu, o ministro Luiz Fux concordou com a
abertura do processo contra Bolsonaro, uma decisão unânime da Primeira Turma do
STF, mas usou seu voto para apontar possíveis excessos nas penas que vêm sendo
aplicadas nos casos do 8 de janeiro.
"Os
juízes, na sua vida, têm sempre de refletir dos erros e dos acertos. Até porque
os erros autenticam nossa humanidade. Então, é preciso que nós também tenhamos
essa capacidade de refletir", afirmou.
Ele
aproveitou sua manifestação para explicar por que pediu vista no julgamento de
Débora Rodrigues dos Santos, presa nos atos antidemocráticos e que ficou famosa
por ter pichado a frase "Perdeu, mané" na estátua da Justiça, que
fica em frente ao STF, durante os ataques. Moraes já votou pela condenação da
ré a 14 anos de prisão.
"Eu
vou fazer uma revisão dessa dosimetria [da pena]", afirmou, sobre o caso
da mulher.
"E
eu confesso que em determinadas ocasiões me deparo com pena exacerbada, e foi
por essa razão que eu pedi vista desse caso [da mulher], porque eu quero
analisar o contexto em que essa senhora se encontrava", disse Fux.
"Nós
julgamos sob violenta emoção após a verificação da tragédia do 8 de
janeiro", continuou.
Após
sua fala, o ministro Alexandre de Moraes, relator dos casos do 8 de janeiro,
respondeu a Fux. Ele argumentou que a mulher processada não teria apenas
pichado a estátua em frente ao STF.
"É
um absurdo as pessoas quererem comparar aquela conduta, de uma ré que estava há
muito tempo dentro dos quartéis, pedindo intervenção militar, que invadiu junto
com toda a turba, e, além disso, praticou esse dano qualificado, com uma
pichação de um muro", disse.
"Então,
a questão da dosimetria, eu e o ministro [Cristiano] Zanin, nós mesmos
divergimos em muitos casos na questão da dosimetria. Mas nós temos que admitir
os fatos. Lá não foi uma simples pichação", reforçou.
Moraes
apresentou um balanço das condenações e penas aplicadas até o momento nos casos
do 8 de janeiro, durante o julgamento de Bolsonaro.
Segundo
o ministro, houve 497 ações penais com condenações, com 240 pessoas recebendo
penas de até 1 ano de prisão, revertidas em medidas restritivas de direitos.
Já as
penas a partir de 14 anos atingiram 205 condenados até o momento.
- O que espear no
caso de Bolsonaro?
A
Primeira Turma do STF — formada pelos ministros por Moraes, Fux, Zanin, Cármen
Lúcia e Flávio Dino — decidiu nesta quarta-feira (26/03) tornar réu Bolsonaro e
mais sete ex-integrantes do seu governo, incluindo três generais do Exército —
Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo
Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da
Casa Civil).
Eles
fariam parte do que a Procuradoria-Geral da República (PGR) chamou de
"núcleo crucial" de uma trama golpista contra a vitória do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. Todos negam as acusações.
Com a
abertura do processo, os oito réus responderão a acusações por cinco crimes:
golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito,
organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça
contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Segundo
a criminalista Marina Coelho Araújo, professora do Insper e vice-presidente do
Instituto dos Advogados de São Paulo, as penas máximas podem somar mais de 40
anos no caso de Bolsonaro, considerando que ele é apontado pela PGR como líder
principal da trama golpista.
"Não
é raro que o Judiciário aplique penas máximas, mas pode-se aplicar pena máxima
em um crime e em outro não", explicou.
Para o
professor de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Rafael Mafei, as altas
penas impostas pelo STF aos condenados pelos atos de 8 de janeiro indicam que o
ex-presidente receberá uma pena ainda maior, caso sua condenação como líder da
tentativa de golpe se confirme.
"Assumindo
que ele seja condenado por todos aqueles crimes pelos quais ele foi denunciado,
a gente começa falando de algo na casa dos 30 anos [de pena de prisão] pra
cima", ressalta.
Na sua
visão, a atuação do STF tem sido "muito importante" nos casos do 8 de
janeiro,
"Seria
muito trágico que esse ato não fosse exemplarmente punido. E acho muito
importante também que a punição não se limite a essas pessoas [presas no 8 de
janeiro], que foram instrumentalizadas para esse propósito de gerar um
benefício político para o Bolsonaro, para o Braga Netto, ajudar a viabilizar
uma intervenção militar ilegítima", ressalta.
Por
outro lado, Mafei considera legítimos alguns questionamentos sobre as penas
impostas aos condenados, sobretudo quanto à condenação simultânea pelos crimes
de golpe de Estado e de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático.
Na
visão de alguns juristas, é possível entender que ambos são crimes
subsidiários, ou seja, que caso ambos sejam cometidos, o mais grave (golpe de
Estado), "absorveria" o menos grave (abolição do Estado democrático
de direito) — então, a pessoa seria condenada apenas pelo primeiro.
- Divergências
entre ministros
Julgamentos
que têm ocorrido no plenário do STF sobre o 8 de janeiro têm divido os
ministros, mas a maioria tem apoiado as penas mais altas propostas por Moraes.
Em
geral, Zanin e Edson Fachin têm aceitado a condenação concomitante por crimes
de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito, mas proposto
penas menores.
Já o
presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, tem rejeitado essa condenação
simultânea, aceitando apenas a condenação por golpe de Estado.
Nunes
Marques e André Mendonça, por sua vez, criticam essa condenação simultânea e
costumam se posicionar pela absolvição dos réus.
Bolsonaro
será julgado na Primeira Turma, que é composta por cinco ministros: Moraes,
Fux, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Em meio
a esse debate, o próprio Bolsonaro tem se mostrado pessimista com seu futuro no
STF. Ele articula no Congresso a aprovação de uma lei de anistia que perdoaria
todos os condenados por atos relacionados ao 8 de janeiro de 2023, mas não há
ainda confirmação de votação da proposta.
Em ato
pela anistia realizado em 16 de março, no Rio de Janeiro, Bolsonaro reconheceu
o risco de receber uma pena elevada.
"O
que eles querem? É uma condenação. Se é 17 anos de prisão para as pessoas
humildes, é para justificar 28 anos para mim", disse sobre um caminhão de
som, na orla de Copacabana.
Para o
professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP) Pierpaolo
Bottini, é cedo para discutir qual pode vir a ser a dosimetria da pena de
Bolsonaro e dos outros sete réus, caso se confirmem as condenações.
"Quando
a gente está falando de dosimetria, estamos falando na culpabilidade de cada
um. Então, vamos ter que olhar para a participação de cada um, quais crimes ele
cometeu ou não, se houve dolo [intenção] ou não", disse.
"Isso
só dá para tratar no final do processo, depois de ouvir todas testemunhas e
produzir todas as provas", continuou.
Na
visão de Bottini, é possível que Bolsonaro e os demais réus sejam condenados
simultaneamente por tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado
Democrático de Direito, a depender das provas produzidas no processo criminal.
"Talvez
os réus tenham cometido os dois crimes. Ou seja, durante o governo Bolsonaro,
você tem um crime para abolir o Estado Democrático de Direito e, depois da
posse do novo regime [governo Lula], o crime de golpe de Estado, ao tentar
depor o governo democraticamente eleito", ressaltou.
Fonte:
UOL/Brasil 247/BBC News Brasil

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