Rui Costa e a Casa Civil ganharam apelidos nada amigáveis no
governo Lula
À frente da Casa
Civil, o ministro Rui Costa tem acumulado desgastes na relação com integrantes
do governo ao longo de um ano e sete meses de administração petista. A fama de centralizador,
intransigente e de ter um “difícil temperamento” já rendeu a ele – e por
extensão, à própria pasta– uma série de apelidos por parte de seus colegas,
insatisfeitos com a atuação do homem de confiança do presidente Lula.
Uma das principais
queixas nos bastidores é a de que Costa teria privilegiado na sua rotina de
trabalho audiências com o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge
Messias, e ministros da área econômica, como Fernando Haddad (Fazenda), Simone
Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação) – e relegado a segundo
plano ministérios de baixo orçamento ou menor projeção. Esses acabam
despachando com a secretária-executiva, Miriam Belchior.
PRIMEIRO-MINISTRO
Tanto poder nas mãos
de Costa, que despacha no quarto andar do Palácio do Planalto, um piso acima do
gabinete de Lula, lhe deu o apelido “primeiro-ministro”, “reizinho” e “Rui
Corta” entre autoridades do primeiro escalão do poder Executivo.
No governo e no
Congresso, o ministro é responsabilizado pela paralisação de projetos como a
reabertura da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)
e do programa das passagens aéreas a R$ 200.
No caso da comissão,
que tem entre suas funções emitir pareceres sobre indenizações a familiares e
mobilizar esforços para localizar os restos mortais das vítimas do regime
militar, a Casa Civil exigiu uma nova manifestação da Justiça, mesmo após o
ministério já ter o dado o sinal verde à reinstalação do grupo, em outubro do
ano passado.
RESISTÊNCIA
A alegação era a de
que, com a saída de Flávio Dino e a posse de Ricardo Lewandowski, era
necessário que a nova gestão também opinasse sobre a medida, que enfrentou
resistência dentro do governo por conta do potencial de tensionar a relação com
as Forças Armadas.
A manobra foi
interpretada como forma de ganhar tempo e adiar uma definição sobre o retorno
do grupo, que só foi oficializado no início deste mês, após mais de um ano de
impasse.
Já o programa “Voa
Brasil”, que previa passagens a R$ 200 para aposentados, servidores públicos e
estudantes, virou um problema para o Planalto, e acabou não sendo lançado até
hoje.
FALTA
DINHEIRO
Nesse caso, o temor de
Costa é que, como não há dinheiro do governo federal para subsidiar as
passagens, também não há garantias de que a oferta de passagens mais baratas
vai mesmo se concretizar, conforme informou o Globo.
A questão foi
informada ao presidente Lula, que alfinetou o então ministro de Portos e
Aeroportos, Márcio França, na reunião ministerial em que ele lançou o projeto.
“Qualquer genialidade
que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a
Casa Civil. Para que a Casa civil discuta com a presidência da República e que
a gente possa chamar o autor da genialidade e a gente então anuncie como se
fosse uma coisa do governo”, disse o presidente em março do ano passado.
MUITAS
CRÍTICAS
Apesar de Costa contar
com a ampla defesa e a confiança de Lula, as críticas a ele se multiplicam.
“O problema é que o
Rui Costa não cobra. Na verdade, o que os ministros reclamam é de uma falta de
coordenação e de comando por parte da Casa Civil, que só sabe dificultar o
acesso ao presidente e embarreirar de forma injustificada e até grosseira
iniciativas dos colegas. É a Casa Funil”, resumiu um integrante do governo
ouvido reservadamente pela equipe da coluna.
“Ele não tem paciência
para ouvir”, disse outro interlocutor que pediu para não ser identificado, e
que reclama de ver o ministro da Casa Civil distraído com o celular nas
audiências privadas.
Uma das principais
lideranças petistas na Bahia, Costa governou o estado de 2015 a 2023 e pretende
disputar o Senado em 2026.
DESABAFO
“Quando cheguei em
Brasília, me incomodava com esse tipo de observação e aí um assessor meu, que
tem muitos anos aqui, disse ‘Não se incomode com isso, não, não tem nada de
pessoal, é a função, o ministério’. Todos vão sempre responsabilizar a Casa
Civil, mesmo que não seja responsabilidade…”
Em meio ao fogo
cruzado nos bastidores do governo, Lula recorreu às suas tradicionais metáforas
futebolísticas: Rui Costa e Miriam Belchior formam, na Casa Civil, uma
dupla muito melhor do que Romário e Bebeto. Eles não deixam nada escapar,
nenhum ministro conta uma mentira para mim sem que eles me falem. Por isso, às
vezes, vocês ouvem que o Rui Costa tem divergência com ministros do governo.
Isso é muito importante porque a presença do Rui Costa na Casa Civil é a
certeza de que ninguém vai tentar me dar uma rasteira”, discursou Lula em Feira
de Santana.
Outra certeza é a de
que não faltam caneladas do próprio time petista no “capitão” da Casa Civil.
¨ Novo PAC, sob controle de Rui Costa, não decola e frustra
expectativas de Lula
Às vésperas de
completar um ano do seu lançamento, o novo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) ainda não trouxe os ganhos políticos esperados para o
governo. Gestado para impulsionar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, ser um símbolo do terceiro mandato do petista e transformar o país em
um canteiro de obras, o programa não conseguiu criar uma marca de entregas e
enfrenta desconhecimento por parte da população.
No Palácio do
Planalto, há um sentimento de decepção pelo inexpressivo impacto político do
programa, comandado pelo chefe da Casa Civil, Rui Costa. E uma avaliação de que
parte das obras e projetos tocados dentro PAC levam apenas a ganhos indiretos
pelo governo e nem sempre são associados ao programa.
DIZ A
PESQUISA
Pesquisa Genial/Quaest
divulgada no início deste mês aponta que 51% da população ignora o Novo PAC. O
nível de desconhecimento em relação à política pública supera percentuais que a
aprovam (44%) e desaprovam (5%). Outros projetos, como o Farmácia Popular e o
Bolsa Família, mantêm índices de aprovação próximos a 80%.
Lançado com pompa no
Theatro Municipal, no Rio, em agosto do ano passado, o Novo PAC prevê
oficialmente R$ 1,7 trilhão em investimentos totais — parte será concretizada
depois do terceiro mandato de Lula — em projetos de setores como rodovias,
ferrovias, energia e petróleo.
A maior parcela desse
montante é composta por investimentos privados e financiamentos por bancos
públicos e outros agentes, incluindo projetos que independem da marca PAC e já
ocorrem continuamente no país, como obras de energia.
REUNIÃO
MENSAL
O programa não decolou
em popularidade mesmo sendo uma das prioridades diretas do presidente, que se
reúne uma vez por mês no Palácio do Planalto com a equipe responsável por
capitanear o PAC. Ele recebe um cardápio de sugestões de obras que podem ser lançadas
ou inauguradas com sua presença. No segundo semestre, o foco será em
lançamentos de projetos de drenagem, mobilidade urbana e água e esgoto.
Integrantes da Casa
Civil admitem que o PAC ainda não tem uma marca, ou uma obra-símbolo nacional,
como foi a Ferrovia Norte-Sul na primeira versão do programa, comandada pela
ex-presidente Dilma Rousseff — e que isso é um dos fatores que levariam ao desconhecimento
da população.
Foi com a alcunha de
“mãe do PAC” que Lula construiu a candidatura de Dilma para ser a sua sucessora
na eleição presidencial de 2010. A justificativa é de que dessa vez o programa
é mais pulverizado pelo país.
FERROVIA
NA BAHIA
Com o programa em
andamento, uma das apostas para alcançar mais visibilidade e construir essa
marca é a conclusão da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), primeira obra
anunciada a compor o Novo PAC, que tem 1,5 mil quilômetros.
A estrada de ferro vai
ligar Figueirópolis (TO) a Ilhéus (BA) e passa majoritariamente no meio da
Bahia, estado governado pelo PT e do qual Rui Costa foi governador até 2022. O
Orçamento deste ano prevê R$ 3,9 bilhões apenas para esta obra, de acordo com
dados de sistema do Ministério do Planejamento.
Com escassez de
recursos públicos para outros projetos dessa dimensão, a expectativa do governo
é criar “símbolos” em cada estado. Esse objetivo, porém, pode esbarrar nos
governadores, principalmente de oposição, que criticam o programa
reservadamente.
POUCAS
OBRAS
Uma das principais
queixas é que o Novo PAC tem poucas obras novas e muitas das intervenções
incluídas do pacote já estavam sendo tocadas. Também afirmam que o governo
federal tem cobrado eventos para divulgar as ações nos estados.
Há uma percepção no
Palácio do Planalto de que foi lançado um programa antigo, embora haja algumas
novidades no atual formato, como um foco maior para parcerias público-privadas
(PPPs).
Além disso, em
projetos de infraestrutura com possível impacto positivo da economia, o
entendimento no Executivo é de que os efeitos políticos só são sentidos nos
médio e longo prazos e muitas vezes não são necessariamente creditados ao
governo federal.
¨ Lula
contina a dizer que “o Brasil voltou”, mas não indica para onde está indo. Por Tainá Falcão
Desde que assumiu o
poder pela terceira vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem diante
de si dificuldades evidentes: olhar para o futuro e indicar um caminho. Sob o
slogan “O Brasil Voltou’” – criado pela Secretaria de Comunicação para elencar
os programas e investimentos –, Lula e seus 39 ministros demonstram se
preocupar mais com o passado do que com o futuro.
Os petistas continuam
a falar sobre um desmonte promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em
quase todas as áreas: saúde, educação, meio ambiente e cultura. E o futuro,
nada. Após um ano e meio de governo, no entanto, o governo Lula 3 patina para consolidar
uma marca para garantir e conquistar eleitores.
FRACASSOS
EM SÉRIE
Programas como o novo
PAC, por exemplo, ainda não emplacaram como nas gestões anteriores. Não à toa,
o presidente tem feito pressão, com direito a puxada pública de orelhas de
ministros.
Há poucos dias, por
exemplo, Lula reclamou das viagens internacionais de subordinados e pediu foco
para agendas dentro do país.
No que diz respeito à
economia, no entanto, a bronca se inverte. No primeiro ano do mandato, o foco
foi dizer que o governo aprovou uma agenda econômica robusta no Congresso, a
despeito das divergências com a maioria conservadora. Mas o fato é que o ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, pena para sustentar de pé uma das principais
propostas que o governo conseguiu aprovar no Congresso: o arcabouço fiscal.
CULPA DE
LULA
O impasse ocorre
porque o presidente insiste em questionar o corte de gastos. Na terça-feira
(17) mesmo, Lula voltou a falar se há necessidade de se cumprir a meta fiscal.
“Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas
mais importantes para fazer”, disse em entrevista à TV Record.
Na quarta e na
quinta-feira, a mesma conversa. E sua insistência em críticas ao mercado
financeiro também é foco constante de incêndio a ser apagado.
Por tudo isso, fica a
sensação de que Lula, em muitos momentos, desorganiza o governo e acaba
deixando ao sabor do vento a dúvida: o Brasil voltou, mas para onde está indo?
Fonte: O Globo/CNN
Brasil
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